agosto 24, 2006

Capítulo 221 – Carniceiros

Capítulo 221 Carniceiros

_ As crianças!!!exclamou Legolas, correndo em direção à porta que estava mais próxima. Todos os outros ainda tentavam recuperar o fôlego após a difícil luta travada, quando Legolas girou a maçaneta da porta. Trancada. Sem hesitar, o arqueiro deu um forte chute na madeira, destruindo a tranca que a fechava e arrombando a porta.

A porta se abriu à direita, batendo numa parede próxima e retornando lentamente. Havia um salão, que se abria para frente e para a esquerda do arqueiro. Legolas esticou seu braço esquerdo iluminando o ambiente com seu arco, e deu uma espiada dentro da sala. Uma criatura de formato humanóide, com a pele ressecada e decomposta colada sobre os ossos desprovidos de carne, saltou sobre o aventureiro repentinamente. Legolas tentou se defender do ataque do monstro, que o agarrava e tentava devorá-lo, mas a criatura conseguiu ser mais ágil e abocanhou o pescoço do elfo.

Legolas cambaleou, sentiu suas pernas fraquejarem enquanto tentava recuar para o corredor. Seu pescoço jorrava sangue, enquanto o ser repugnante o mastigava. Seus músculos começaram a enrijecer lentamente, até que Legolas não conseguiu mais se mover. Estava à mercê da fera insana que o devorava como um abutre sobre a carne morta. Era um carniçal.

Um carniçal, uma criatura não viva totalmente bizarra que devorava carne. Um morto-vivo extremamente perigoso que possuía a capacidade de paralisar as vítimas de suas mordidas para devorá-las sem resistência. Um ser cuja monstruosidade era contagiosa e passava para aqueles que morriam sob suas mãos, transformando-os em novos carniçais dias depois da morte. Um terrível carniçal estava a devorar Legolas.

Glorin correu para socorrer Legolas, temendo perder um aliado e ganhar um novo inimigo. O escudo de aço se chocou contra o corpo do arqueiro, jogando-o no chão. O monstro saltou para o lado, soltando o corpo paralisado do elfo, e voltou suas atenções para o anão. Outros dois monstros saíram de dentro do quarto, movendo-se rapidamente e investindo contra os heróis que chegavam para ajudar.

O primeiro deles Tentou revidar o encontrão de Glorin. O anão protegeu seu corpo cansado com o escudo, escapando do ataque do inimigo. Enquanto o escudo do anão era arranhado e mordido, o segundo carniçal saltou sobre Squall, que se aproximava para ajudar o capitão. Os dentes podres e afiados da criatura se cravaram profundamente no ombro do feiticeiro. Squall tentou em vão repelir o ataque da criatura. Disparou seus poderosos projéteis de energia, ferindo gravemente o inimigo, mas já era tarde. Seus músculos endureceram, e ele também parou de se mexer. Já o monstro, continuava a atacar com suas presas.

À distância, Lucano disparava flechas sem parar, mas estas não conseguiram impedir os ataques das criaturas. A terceira delas corria para atacar Anix, que derramava uma poção de cura mágica na boca de Nailo, resgatando o amigo da beira da morte. Rapidamente, Anix disparou uma flecha, detendo o avanço da criatura temporariamente.

Nailo despertou, ainda zonzo, em meio à confusão e entendeu que a luta ainda não havia terminado. Rapidamente tomou outra poção mágica, enquanto Lucano lançava sobre ele uma magia de cura. O ranger assistia ao seu capitão combatendo freneticamente com a espada elétrica de Dekyon, cortando a carne ressecada dos carniçais que o cercavam. Viu Anix eletrocutar outro dos monstros com sua mágica, momentos antes de ser atacado por suas mandíbulas pestilentas e de ficar imóvel. Viu seus amigos Squall e Legolas completamente indefesos, da mesma forma que ele próprio já estivera ao enfrentar o verme dentro do banheiro do castelo. Era uma situação crítica. Sem perder tempo, mesmo não estando totalmente recuperado, o ranger se levantou do chão e golpeou a criatura que devorava Anix com sua espada bastarda. O monstro cambaleou para trás, com um largo rasgo em seu peito. Nailo sorriu, mas sabia que era cedo para comemorar ainda.

Exausto da luta contra o esqueleto, Glorin já não conseguia evitar os ataques dos monstros. As mandíbulas e as garras das criaturas rasgavam a carne do guerreiro e espalhavam seu sangue pelo piso de pedra. Os heróis viram o destemido capitão ser obrigado a recuar, tamanha era a gravidade de seus ferimentos. Lucano dava cobertura com suas flechas, enquanto seu comandante engolia rapidamente uma poção mágica entre um ataque e outro dos inimigos. Nailo também não se encontrava em situação melhor que a de seu líder. Ferido pelo carniçal, o ranger sabia que não resistiria por muito tempo ao poder paralisante da saliva repugnante da criatura. E sabia que, assim como ele, Glorin também não conseguiria resistir por muito mais tempo.

O anão já parecia fraco demais para continuar lutando, quando um dos inimigos caiu ao seu lado, com uma flecha cravada em suas costas. Era Legolas. O arqueiro já conseguia se mexer, mesmo com dificuldade, e sem hesitar já usara seu arco para liquidar com um dos inimigos. Glorin voltou a atacar, rasgando a barriga do carniçal que restava em pé ao seu lado. O monstro se contorceu e tentou recuar, mas Lucano disparou uma flecha certeira no olho da criatura, eliminando-a. O último inimigo caiu, segundos depois, empalado pela espada bastarda de Nailo. E enfim todos puderam descansar.

Com os inimigos mortos, o silêncio voltou a dominar o gigantesco corredor do castelo. Os aventureiros sentaram seus corpos cansados no chão, e sorveram um longo gole de seus cantis. Estavam exaustos. Pouco a pouco foram recolhendo suas coisas abandonadas no meio do chão. Lucano fazia curativos nos amigos, cobrindo os ferimentos com bandagens improvisadas. Repousaram pro quase trinta minutos, mesmo assim, ainda precisariam de uma longa noite de sono e de uma farta refeição para se recuperarem completamente. De todos, o que estava menos ferido era Anix. Mesmo assim era visível em seu rosto o cansaço que sentia. Além do descanso, Nailo aproveitou o tempo disponível para destruir o que restava do corpo do terrível Dekyon. Um a um o ranger destruiu todos os ossos que compunham o corpo esquelético do guerreiro. No final sobrou apenas uma pilha de ossos triturados (Legolas sorriu ao lembrar do que dissera ao monstro no início do combate) e seu equipamento mágico.

Todos os objetos portados pelo esqueleto possuíam poderes mágicos. Os heróis começaram a testar todos os itens, que agora eram seu tesouro. Legolas calçou as botas e se sentiu mais leve. O arqueiro correu e saltou e compreendeu que as botas o tornaram mais veloz e mais ágil para saltar. Legolas contentou-se com as botas e pôs-se a lustrá-las com esmero. Squall colocou o medalhão e sentiu seu corpo enrijecer rapidamente. Ele inicialmente ficou assustado, achando que ficaria novamente paralisado, mas depois percebeu que sua pele se modificava, tornando-se mais áspera, mais grossa. Como o feiticeiro já possuía um colar semelhante, deixou que Nailo ficasse com o novo colar. Lucano foi quem testou o anel. Ao colocá-lo em seu dedo, uma aura mágica translúcida se formou ao redor de seu corpo, revelando os poderes do anel. Era algo que todos ali já conheciam, o anel criava uma armadura mágica ao redor do usuário, para aumentar sua proteção. Lucano deixou o anel com Anix, que não utilizava armaduras ou escudos para se proteger, e decidiu pegar para si a armadura de Dekyon. Anix pegou o anel e o pendurou no pescoço, amarrado a um cordão, rejeitando os seus benefícios mágicos. Lucano vestiu a armadura, abandonando sua velha e castigada brunea. Era um camisão de anéis trançados, uma cota de malha, feita de um belo e resistente metal prateado conhecido por Mithral. O clérigo percebeu ao redor da vestimenta o mesmo tipo de aura que o anel possuía, indicando que ela possuía uma melhoria mágica em suas defesas. Além disso, ele sabia que uma aura mágica de transmutação envolvia a armadura, conforme disse Squall. Só restava saber que poder oculto ela possuía. Nailo ficou com o par de manoplas usado pelo esqueleto. Ao colocar as manoplas em suas mãos, o ranger sentiu-se mais forte do que realmente era. Não estava tão forte quanto há pouco, quando a magia de Squall lhe ampliara a força, mas sabia que, por menor que fosse aquele aumento na sua força, ele duraria indefinidamente enquanto o ranger estivesse usando as manoplas. Por fim, restavam a espada e o escudo. Como seu estimado machado havia ficado em pedaços, Glorin ficou com a espada para si. Sua lâmina faiscava como o céu no meio de uma tempestade, brilhando como um relâmpago. O anão também ficou com o escudo, já que ele parecia se melhor que aquele que ele possuía. Ao redor do escudo também existia uma tênue camada mágica de proteção, e uma aura de abjuração emanava com força do item, aguçando a curiosidade dos aventureiros. Mas, não havia tempo para perder com esses detalhes naquele momento. Precisavam encontrar as crianças e sabiam que não seria uma tarefa simples. Dekyon havia apontado pro fundo do castelo ao cair morto. Poderia estar apontando para as crianças, como prometera, ou para uma armadilha mortal. De qualquer forma, eles teriam que checar todos os cantos da fortaleza até encontrarem as crianças raptadas. Além disso, todos sentiam que o tão esperado encontro com “aquele de fala mansa” estava cada vez mais perto de acontecer. Finalmente iriam entender o que significavam as palavras de Enola e conheceriam a verdadeira face do inimigo. Desejavam que não fosse o temível Teztal, temiam que o quase invencível inimigo tivesse voltado dos mortos para se vingar. Também temiam que o capitão estivesse com razão ao suspeitar que o dono do castelo e dos mortos-vivos fosse um lich, ou um vampiro. Mesmo com suas mentes cheias de dúvidas e temores, os corajosos aventureiros se levantaram e, de posse de seus novos itens, partiram novamente, rumo ao perigo.

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