agosto 17, 2006

Capítulo 219 – Rosnados nas trevas...os cães do inferno

Capítulo 219 Rosnados nas trevas...os cães do inferno

_ Nailo! Já que você adora seguir pegadas, veja se alguém passou por aqui na noite passada! Vamos lá pessoal, todos preparados! Vamos conferir cada uma das salas que nós limpamos, pra confirmar se elas continuam limpas! Anix, Legolas, usem essas suas orelhas pontudas antes de abrirmos as portas novamente! – ordenou o capitão com a voz firme e decidida de sempre.

Nailo abaixou-se para observar o piso mais de perto. Seus olhos percorreram rapidamente cada espaço em busca de pegadas suspeitas. Nada. Provavelmente ninguém havia passado por ali depois da chegada do grupo, ou então tinha sido hábil o suficiente para enganar os olhos treinados do elfo. Enquanto isso, Legolas e Anix iam mais à frente do grupo, colocando seus ouvidos em cada porta e abrindo cada uma delas ao constatar que atrás delas só havia o silêncio. Legolas ainda teve tempo para ir até a porta de entrada e recolher as duas flechas disparadas por ele na tarde d dia anterior. Estavam firmemente fincadas na porta, uma sobre a outra, alinhadas verticalmente. Squall caminhava, orgulhoso, com seu livro mágico transmutado em manopla, protegendo seu braço. Assim, pouco a pouco os heróis foram avançando em direção ao fundo do castelo, até chegarem à biblioteca, onde haviam derrotado aquele que se auto intitulada Eliot, o guardião.

_ Capitão! Acho que ao menos um de nós deveria retornar para a vila! Para avisar aos moradores que estamos bem! Hoje é o terceiro dia desde que deixamos a vila e, se eles seguirem suas ordens, partirão de lá ainda hoje! Temo que eles possam correr algum perigo se arriscando por essas estradas infestadas de monstros e bandidos! – Nailo parecia preocupado e inquieto.

_ Tem razão! Mas creio que não seja motivo para tanta preocupação! O forte não fica tão longe daqui assim, eles poderão com sorte encontrar alguma patrulha que esteja por perto! – Glorin tentava acalmar o ranger demonstrando segurança.

_ Eu sei, mas mesmo assim eu acho que a gente devia avisá-los! Se quiser eu posso capturar algum animal, um pássaro por exemplo, e mandá-lo até Carvalho Quebrado com uma mensagem amarrada na pata! – insistiu Nailo ainda perturbado.

_ Pode ser uma boa idéia! Mas, vamos fazer o seguinte! Vamos continuar mais um pouco e ver o que tem lá em cima! Se até a hora do almoço a gente não tiver conseguido terminar essa missão, então nós faremos alguma coisa! – disse o anão, resoluto.

_ Tudo bem então! Agora, com sua licença, eu quero verificar uma coisa dentro da biblioteca! – Nailo estava mais calmo com a decisão do capitão.

_ Está certo! Ficaremos esperando por você na porta! – concluiu o anão.

O ranger entrou na biblioteca escura, clareado apenas pela lanterna torta de Squall. Foi até o lugar onde tinha encontrado o misterioso livro vermelho que o atordoara na noite anterior. Olhou ao redor do espaço, agora vazio, ocupado pelo livro e teve a certeza de que ninguém tinha procurado pelo volume após ele ser retirado. Colocou o tomo de volta ao seu lugar. Tirou-o, recolocou-o várias vezes, mas nada acontecia. Mexeu nos livros ao redor, na esperança de acionar alguma alavanca secreta e abrir alguma passagem. Nada. Convencido de que não havia mais nada a fazer ali, desistiu, mas não antes de pegar mais dois livros para si, um sobre culinária e outro sobre arquitetura.

Lucano também entrou na biblioteca. Enquanto seu companheiro se certificava de que as armaduras animadas permaneciam aos pedaços dentro do baú, o clérigo arrancou um pedaço de madeira da cadeira golpeada por Nailo no momento do surgimento de sir Eliot. Lucano orou a Glórien, e pediu que sua deusa iluminasse o seu caminho. E o pedaço de madeira brilhou como uma tocha.

Squall apagou sua lanterna, não precisava mais desperdiçar óleo. O arco mágico de Legolas e o pedaço da cadeira forneciam luz mais que suficiente para o grupo. Neste momento, a manopla do feiticeiro se transformou novamente e voltou a ser o livro de magias de antes. Haviam se passado cerca de cinco minutos desde que eles tinham saído do quarto e Squall concluiu que aquele era o limite de tempo da transformação do tomo. Continuaram avançando, verificando cada uma das salas anteriormente exploradas. Passaram pela cozinha, que agora estava deserta. Entraram na área de repouso, onde Nailo limpou do chão os cacos de seu jarro de óleo. Olharam rapidamente para dentro do salão principal e continuaram, indo em direção à escada, em direção ao segundo andar do castelo.

_ Quando nós formos embora, vou ficar com uma dessas armaduras para mim! – disse Legolas ao passar pelo corredor onde Nailo fora atacado pelas armaduras.

O bando parou diante da escada. Olharam para cima temerosos. Desejavam não encontrar nada de terrível lá em cima. Para prevenir qualquer problema, eles decidiram se preparar antes de avançar. Squall protegeu a si e a seu irmão convertendo a mana em um campo de força invisível para proteger seus corpos, enquanto Lucano orava, concentrado, abençoando o seu cantil de água. Com um punhado de pó de prata, raspado dos talheres recolhidos pelo grupo, Lucano transformou o simples líquido em água benta.

Subiram. Cada passo naquela escadaria macabra levava uma eternidade para passar. Nailo ia à frente segurando o pedaço de madeira brilhante, ao lado de Legolas com seu arco pronto para disparar a qualquer surpresa. Atrás vinham Glorin e Squall e por fim Lucano e Anix.

Quando a escada finalmente chegou ao fim, mais de seis metros acima do solo, os heróis estavam em um imenso salão. A escada ficava ao lado do que era a parede leste do local, bem no meio do salão que se abria para o oeste, norte e sul. Tinham mais de dez metros de largura e seu comprimento ia além dos olhos, perdido no meio da escuridão. Sabiam apenas que depois de uns dez metros, ele se abria ainda mais, tanto ao norte quanto ao sul, desembocando em um salão ainda muito maior. Não havia portas próximas, apenas as paredes decoradas com vários quadros que representavam belas paisagens e cenas cotidianas. E tudo estava em silêncio.

A imensa escuridão à frente do grupo era perturbadora. Eles não podiam ver muito além do que a luz de seus itens permitia, mas alguém, que espreitasse nas sombras, poderia estar observando-os, e preparando uma cilada mortal. Nailo olhou para os companheiros e todos assentiram com um gesto de cabeça. Prepararam suas armas e Nailo arremessou o pedaço luminoso de madeira que tinha em suas mãos. O bastão rodopiou, descrevendo um arco no ar. Os heróis puderam ver o teto do salão, a 6 metros do chão. A madeira caiu a uns 20 metros do grupo, iluminando o que antes era impossível de se ver. E tudo continuava em silêncio.

O corredor onde eles estavam terminava em outro maior ainda que seguia à esquerda e à direita. Era possível ver, ainda que com muita dificuldade, um outro corredor mais estreito, de uns 3 metros apenas, bem diante do grupo. E uma porta perdida nas sombras muito distante do grupo, à esquerda, também podia ser percebida. E o silêncio finalmente foi quebrado.

O rosnado furioso de vários animais chamou a atenção do grupo. Pareciam um bando de cães selvagens cercando uma presa. Nailo imediatamente pediu aos amigos que não ferissem os animais.

_ Se for algum animal, deixem-me tentar domá-lo antes de atacarem! Depois disso, caso eu não tenha sucesso, podem atacar à vontade! Mas primeiro vamos tentar evitar ferir animais inocentes! – pediu Nailo, tomando a frente do grupo e caminhando em direção à área iluminada.

_ Sinto muito, Nailo! Mas se aparecer alguma coisa pra nos atacar, seja animal, seja deste mundo ou não, receberá minhas flechas! Não vou deixar ninguém ferir alguém do grupo! – Legolas mirava seu arco para dar cobertura ao amigo que se afastava enquanto discordava decidido.

O ranger seguiu na direção dos rosnados. Embainhou suas espadas, pois esperava acalmar os cães e impedi-los de atacar o grupo. Esperava passar pelos cães sem ter que lutar, mas esqueceu-se de um detalhe relevante. Os cães do castelo não eram cachorros comuns. Eram cães infernais.

Nailo chegou até o meio do corredor, onde a madeira brilhava, iluminando tudo à sua volta. Os rosnados ficaram mais altos e mais próximos, até que ele viu, no limite do alcance de seus olhos, um grupo de animais bestiais correndo em disparada para atacá-lo. Eram quatro enormes cães, um deles quase tão grande quanto um cavalo. Tinham uma pelagem curta de cor amarronzada que lembrava ferrugem, presas e garras extremamente afiadas e olhos avermelhados que brilhavam como chamas. Eram os mastins de Thyatis. Feras terrivelmente perigosas e nem um pouco amistosas. Nailo estava em perigo.

Os corpos dos monstros brilharam sob a luz da madeira no chão, revelando-os aos outros combatentes. Os quatro saltaram, vorazmente, sobre o corpo retraído de Nailo. O ranger curvou seu corpo para o lado, escapando do primeiro ataque. Chutou o focinho repugnante do segundo animal sem remorso, aquelas criaturas nada tinham a ver com sua deusa. O terceiro animal cravou suas presas profundamente na perna direita de Nailo. O último e maior deles deu um salto espantoso e posou seu corpanzil sobre o do elfo, abocanhando com força o seu ombro. A criatura largou sua presa rapidamente, ferida na boca por uma flecha congelante. Era Legolas. Sua perícia com o arco, aprendida durante um treinamento de anos lhe permitia mirar com precisão no alvo para causar o maior dano possível. Graças a ele, o terrível cão fora obrigado a soltar Nailo antes de conseguir causar um dano maior ainda a ele.

O restante do grupo também já tomava suas providências para enfrentar as criaturas. Lucano e Squall já tinham fortalecido seus corpos com suas mágicas e Anix já desaparecera, invisível, dos olhos das feras. Os pés de Glorin se moveram rapidamente, ganhando terreno até próximo de onde Nailo estava. O anão direcionou o punho cerrado na direção do inimigo mais próximo e, num grito de guerra feroz, lançou um poderoso raio congelante no rosto do animal. A criatura cambaleou meio atordoada e com o focinho congelado.

Legolas disparou mais duas vezes, criando a oportunidade para que seu amigo recuasse e tomasse uma poção mágica para curar seus ferimentos. A primeira flecha penetrou profundamente no olho esquerdo do maior dos mastins, perfurando-o. O projétil quase desapareceu dentro do crânio onde se cavava, depois explodiu. Voaram lascas de gelo e pedaços de carne e ossos por todos os lados, levando consigo metade da cabeça do animal. O monstro ganiu em dor e desespero e logo depois se calou, quando o segundo disparo atravessou o seu pescoço. O mastim caiu pesadamente no chão. Seu peito já não se movia.

Um novo clarão se formou, seguido de quatro explosões que atingiram o monstro que estava à esquerda do grupo. O animal tropeçou em suas próprias pernas, completamente desorientado. Anix apareceu logo em seguida, já sem o benefício da invisibilidade, próximo à fera atingida.

Graças aos amigos Nailo conseguira recuar para uma posição segura, onde pode cuidar de seus ferimentos mais graves. Agora era Glorin quem tomava a frente do grupo, rosnando de igual para igual contra os três monstros sobreviventes. As criaturas se aproximaram do anão com temor após ver a morte de seu líder. Abriram suas bocarras na direção pequeno homem. Havia fogo dentro delas. As chamas cresceram de forma magnífica, envolvendo Glorin num turbilhão de fogo que foi se expandindo até atingir Nailo. O ranger protegeu o rosto com os braços e inclinou seu corpo para trás, tentando escapar das chamas. Todos os outros fecharam os olhos por um instante, protegendo-os do brilho e do calor. Quando o turbilhão de fogo terminou, Nailo estava severamente ferido. Glorin, caído, à beira da morte.

Squall correu e se colocou entre o capitão e as bestas. Atacou-as com sua espada sem precisão alguma, sua prioridade era proteger o corpo de seu líder para que algum dos outros pudesse ajudá-lo. Lucano concluiu um feitiço de invocação, gritou o nome de sua deusa e um gigantesco lobo surgiu, magicamente, atrás dos mastins. O lobo agarrou um dos cães com sua enorme mandíbula, dando tempo para que o clérigo conseguisse rogar uma bênção sobre o anão. Glorin recobrou os sentidos, muito abalado, e agarrou novamente seu machado.

_ Bastardo! Vai me pagar! Tome isso! Frost Axe!!! – vociferou o anão, levantando-se apressadamente e desferindo um golpe com seu machado. A lâmina de madeira negra tornou-se prateada e cobriu-se de gelo. Desceu com violência na direção de um dos cães que encolheu o corpo, desviando do ataque. O machado continuou sua trajetória até parar, manchado de sangue, na perna do anão. Glorin praguejou e amaldiçoou o cão. Nailo correu para ajudá-lo, dando uma forte estocada no lombo do animal antes que ele pudesse revidar o ataque do anão.

Squall enfrentava os outros dois monstros corpo a corpo, quando sentiu um vento gelado passando ao lado de sua orelha. Viu uma flecha fincada no focinho de um dos monstros. Outra brisa gelada, desta vez do outro lado. Outra flecha certeira, desta vez no pescoço. E mais um inimigo tombado. O cão caiu ofegante e desfalecido, vivia seus últimos momentos de vida. Os outros dois também.

Anix mirou mais uma vez sua magia. Os projéteis luminosos explodiram a face do mastim que lutava contra o lobo de Lucano. O último inimigo caiu diante de Nailo, com o rosto desfigurado pelas explosões. Ainda respirava com dificuldade. O ranger girou a espada com força, decapitando o monstro, depois deu um chute na cabeça decepada, atirando-a nas trevas à frente do grupo. Os heróis pensaram que tudo havia terminado, mais uma batalha encerrada. Mas, não tiveram sequer tempo de respirar. A cabeça decepada do cachorro retornou rolando pelo chão.

_ Capitão, pegue! – Legolas jogou uma poção mágica para o líder do grupo e apontou seu arco para a escuridão.

_ Grande deusa, canalize vosso poder através deste servo e restaure o vigor de vosso filho! – disse Lucano fazendo uma prece a Glórien e lançando sobre o amigo o poder da sua deusa. As mãos de Lucano emitiram um brilho cálido que envolveu o corpo de Nailo, restituindo-lhe o vigor físico que havia sido absorvido pelos fantasmas no dia anterior.

Legolas avançou e chutou o pedaço de madeira que brilhava no chão. Todos os olhares se voltaram na direção do objeto, mas nem sinal do inimigo. Então eles ouviram um riso debochado que se aproximava junto com o som de passos pesados.

_ Preparem-se todos! – Disse Glorin, temeroso. O anão apoiou seu machado na parede e tirou a mochila das costas. Mexendo na bolsa, apanhou com as duas mãos dez pequenos frascos carregados de um líquido esverdeado. Alguns tinham um tom tão escuro que eram quase negros. – Nailo! Tome isso, depressa! Se tiver mais alguém ferido também, apresse-se! – e dizendo essas palavras, o pequenino tomou de um gole só o conteúdo de um dos frascos.

Nailo rapidamente repetiu o gesto de seu líder. Sentiu que o líquido eliminava a dor de seus ferimentos, e as próprias feridas se fechavam magicamente. Anix usou seu poder e desapareceu novamente. Squall pegou a varinha mágica e fez o mesmo que o seu irmão, não sem antes tentar acionar novamente seu livro mágico. Mais atrás, Lucano deu ordens ao lobo invocado por ele para que avançasse na direção do inimigo e usou sua magia para trazer um novo aliado para a batalha, um gigantesco gorila.

Legolas avançou até a luz, ficando ao lado do objeto brilhante no chão. Seus olhos buscavam pelo inimigo, mas não podiam alcançá-lo em meio ao negrume que se formava à sua frente. Squall se aproximou, invisível, e tentou detectar o inimigo com sua magia. Conseguiu. O feiticeiro sentiu a presença de várias auras mágicas além do alcance de seus olhos. E o anão pode ver o que se aproximava.

_Ou! Droga! É melhor você se preparar bem Nailo!­ – exclamou o anão, visivelmente perturbado, enquanto virava outra poção em sua boca.

Então, todos viram o que assustara o destemido anão. Um esqueleto se aproximava do grupo, com seu sorriso perturbador e seus olhos vermelhos brilhantes à mostra. Portava uma espada de lâmina longa e faiscante. No outro braço, um escudo circular de metal polido brilhava, com uma carranca assustadora cunhada sobre ele. Um camisão da mais fina cota de malha élfica repousava sobre o corpo esquelético da criatura. Sobre ela, um medalhão, feito a partir de uma grande escama de algum monstro desconhecido, chamava a atenção dos heróis. Manoplas prateadas, ornamentadas com desenhos diversos decoravam seus braços ósseos. Botas de couro puro calçavam seus pés e uma jóia prismática dum tom róseo rodopiava sobre seu crânio magicamente. E era tudo mágico. Squall, sentiu isso. E como se não bastasse todo esse equipamento para um simples esqueleto, diferentemente de todos os esqueletos já combatidos pelos heróis, ele falou.

_ Hehehehahahahaha!!! Então vocês chegaram até aqui! Eu os estava esperando! Esperando para matar todos vocês!!! Hehehehahahahaha!!! – disse o misterioso esqueleto entre uma risada e outra. Sua voz era alta e estridente e ecoava de forma assustadora por todo o corredor. Seu modo de falar demonstrava algo que era ainda mais perturbador. Demonstrava inteligência. Eles estavam diante de um esqueleto que falava e era inteligente, capacidades que aquele tipo de criatura não deveria possuir.

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