agosto 10, 2006


Capítulo 216 Vermes malditos

_ Vamos explorar este salão! Se algum pedaço de cadáver se mexer, destruam! – ordenou Glorin.

Rapidamente os heróis se dividiram dentro do aposento, vasculhando cada canto, conferindo o estado de cada cadáver. Nailo foi até a pilha de corpos no canto nordeste e começou a destruí-los com sua espada. A lâmina cortava os cadáveres um a um, até que só restasse um amontoado de carne picada no chão. Legolas, Anix e Squall reviravam as roupas dos mortos, buscando por tesouros e por pistas que pudessem lhes revelar as causas da morte de todas aquelas pessoas e da queda do castelo. Lucano percorria a sala vagarosamente, com sua mente concentrada, tentando localizar objetos mágicos no lugar. Não havia nada. Nenhuma aura mágica, nem mesmo dos restos de zumbis que ainda insistiam em se mexer, mesmo depois de picotados. Não havia passagens secretas, ao menos nenhuma que eles tivessem encontrado. Tesouros, só alguns talheres de prata sobre as mesas, cerca de uma dúzia, e míseras dez moedas de ouro dentro dos bolsos dos mortos. Nailo e Lucano dividiram o pequeno tesouro encontrado. Os heróis gastaram cerca de uma hora vasculhando toda a sala e destruindo os corpos. Ao final desse período, eles tinham dois novos caminhos a seguir.

Duas portas, uma a sudeste e outra a sudoeste, existiam dentro do cômodo. Ambas estavam fechadas e não possuíam entalhes ou outros detalhes que dessem pistas do que elas escondiam. Legolas foi até uma delas, a que ficava a leste, desconfiado. A porta estava voltada para a direção da entrada do castelo, despertando a curiosidade do arqueiro. Pediu silêncio a todos, sendo prontamente atendido sem questionamentos. Legolas girou a maçaneta e todos puderam ouvir o som de um frasco caindo no chão e se partindo em pedaços atrás da porta. O frasco que Nailo preparara para servir de alarme para o grupo. A porta conectava o salão real à sala de repouso onde as aparições haviam atacado os heróis e deixado Lucano seriamente debilitado. Restava agora apenas mais uma porta a ter seu conteúdo desvendado.

Glorin posicionou o grupo como um pelotão organizado, mandou todos prepararem suas armas e girou a maçaneta da porta. Estava aberta. O anão engoliu em seco, empurrou a porta com o pé e a atravessou escondido atrás do metal do escudo. E quase caiu inconsciente.

Um odor pútrido inundou as narinas do anão e dos elfos. A fedentina era tal que os jovens imediatamente se lembraram dos trogloditas de Khundrukar. Mas não eram trogloditas. Estavam em um corredor largo, de cerca de três metros, e tão longo quanto o salão anterior. Várias janelas altas se distribuíam pela parede esquerda do corredor. De forma semelhante ao salão real e a todos os outros aposentos do castelo, todas as janelas estavam devidamente lacradas com tábuas de madeira. No fundo existia um balcão de madeira baixo e largo. A luz da lanterna mostrou que existia um grande buraco de formato circular exatamente no centro do balcão de aonde parecia emanar toda aquela fetidez. Estavam em um banheiro. Um banheiro sujo e fedido. E há muito tempo abandonado. Sua fossa, sem receber os devidos cuidados há eras, exalava um cheiro fedorento e onipresente. Glorin tapou seu nariz largo e arredondado com as mãos e ordenou a saída do lugar.

_ Vamos embora deste lugar fedorento! Isso é só um banheiro abandonado, não tem nada de importante aqui! – a voz do anão soava estranha por causa do nariz tapado.

Imediatamente, todos saíram do lugar, retornando ao lugar onde o ar carregado de poeira e do aroma dos mortos parecia o ar fresco e puro das montanhas. Entretanto, Squall permaneceu dentro do banheiro.

_ Capitão, eu vou dar uma olhada no fundo do banheiro! Só pra ter certeza que não tem nada lá! – disse o feiticeiro tentando não respirar.

_ Eu vou com ele capitão! Só por precaução! – completou Nailo.

Glorin não deu resposta alguma. Apenas consentiu com movimento da cabeça e se afastou o mais rápido da fonte do fedor.

_ Squall! Prepare uma daquelas suas bolas de fogo! Se aparecer algum inimigo, lance-a mesmo que nós sejamos atingidos também!

_ Tudo bem, Nailo! Pode deixar comigo!

Os dois começaram a caminhar. A cada passo o cheiro ficava cada vês mais e mais forte. Era extremamente difícil conter a ânsia que sentiam ao permanecer naquela fedentina. Nailo pegou do chão uma pedra, um pequeno pedaço da laje que se desprendera do teto já envelhecido. Suas espadas estavam prontas para atacar qualquer coisa que se movesse. O ranger se aproximou da latrina, esticando o pescoço para olhar o que havia lá dentro, e soltou a pedra no largo buraco que servia de fossa. A pedra bateu em algo próximo, algo mole. Nailo chegou mais perto para olhar e viu uma massa verde e gosmenta dentro do buraco. A massa saiu do buraco tão rápida quanto um raio e revelou-se um monstro. Era um tipo de lagarta verde e muito grande coberta por um muco fétido e pegajoso. Possuía vários pares de patas que terminavam em afiadas unhas. Oito tentáculos longos se distribuíam logo abaixo da cabeça, terminando em apêndice cheios de protuberâncias que pareciam ventosas. Uma boca enorme e repleta de dentes afiados se abriu ameaçadoramente, enquanto um par de olhos insanos projetavam-se para fora da cabeça na direção de Nailo.

O ranger sequer teve tempo para reagir quando um dos tentáculos do monstro atingiu seu pescoço e o cobriu com o muco viscoso e nauseabundo. Squall se assustou, mas Nailo parecia confiante demais para isso. Manteve-se firme e imóvel, mesmo quando atacado. Nem um grito, nem uma piscada, nenhuma reação ou expressão de medo. Talvez Nailo estivesse tentando dar coragem a Squall para não se apavorar diante do monstro como fazia ao ver um morto-vivo. Talvez estivesse com o contra-ataque preparado para por um fim àquela criatura abusada. Era o que pensa Squall, sem suspeitar da terrível verdade.

Como combinado, o feiticeiro arremessou um pedaço de enxofre dentro da bocarra que rugia em sua direção e pronunciou as palavras que ele já conhecia tão bem. Uma explosão se formou, envolvendo os três num fogo devastador. Squall protegeu-se com as mãos, encolhendo o corpo para não ser queimado pelas chamas. Sorte ter deixado Cloud lá fora, pensou ele lembrando-se de seu fiel falcão. Nailo não se moveu. Continuou a encarar o monstro, com as duas espadas erguidas, como se não quisesse perdê-lo de vista. O monstro se encolheu para dentro da fossa rapidamente para depois se erguer mais veloz ainda e golpear Squall com todos os seus tentáculos nojentos. E, assim como seu companheiro, Squall parou de se mover. Estavam completamente paralisados.

_ Ouviram isso? Foi uma explosão! Aqueles dois estão com problemas! Vamos lá, rápido! – Glorin parou subitamente. Sua voz tinha era baixa e hesitante, era visível a sua preocupação. O anão se virou rapidamente e correu de volta para o banheiro acompanhado pelos demais. Ironicamente, a explosão que feriu seriamente o corpo de Nailo e Squall também foi a salvação para os dois.

O grupo invadiu o corredor com agressividade. Chegaram a tempo de presenciar o monstro saindo da latrina para atacar Nailo pelas costas com suas presas enormes. Outro monstro idêntico saiu de dentro da fossa e abocanhou a cabeça de Squall. Os dois nem se mexiam. Eram obrigados a testemunhar sem poder fazer nada enquanto os vermes os devoravam ainda vivos.

Sem pensar nas conseqüências, Glorin correu, urrando, na direção dos monstros. O machado arrancou um pedaço do todo da cabeça do que atacava Nailo, junto com um dos olhos telescópicos do monstro. O anão ergueu seu machado para desferir um novo ataque, mas não foi preciso. O corpo da criatura foi iluminado por uma luz alva que explodiu ao tocar o corpo asqueroso do monstro. A besta caiu pesadamente no chão, o anão olhou para trás e viu que tinha sido Anix. As mãos do mago apontavam diretamente para a criatura morta.

Assustado com a presença dos combatentes, o segundo monstro agarrou Squall com seus tentáculos e com sua boca repulsiva e o ergueu no ar. O monstro desapareceu dentro da latrina, levando o feiticeiro consigo. Squall via o fim se aproximando dele cada vez mais a medida que seu corpo era tragado para as profundezas. Então, sentiu as mãos de alguém o puxando para cima, salvando-o da morte certa. Era Legolas. O arqueiro estava sem seu arco, abandonara-o no chão para pegar o amigo antes que fosse tarde demais. Travava uma disputa de força com aquele ser repugnante pela vida de Squall. Enquanto isso, Lucano e Glorin tentavam entender o que acontecera ali. O clérigo chamava pelo ranger, mas este o ignorava. Parecia até que ele estava paralisado. E estava. Lucano encostou levemente no corpo de Nailo, e o jogou no chão, rijo como uma tábua. Glorin finalmente entendeu a grave situação e correu para ajudar Legolas.

Os dois juntaram suas forças e puxaram, trazendo Squall de volta à superfície. Mas, o monstro também emergiu das trevas, agarrado ao pescoço do elfo com suas presas. Os oito tentáculos serpentearam no ar rapidamente, atingindo Lucano, Legolas e Glorin. E Lucano também não se moveu mais.

Com o monstro exposto, Anix correu na sua direção entoando versos mágicos. Sua mão brilhou e faiscou, enquanto se aproximava da lagarta verde e gosmenta. Num movimento rápido a criatura golpeou o peito de Anix com um de seus tentáculos paralisantes. O mago resistiu bravamente e continuou avançando até toca na cabeça da criatura e descarregar um violento choque elétrico. Todos que estavam em contato com a criatura sofreram os efeitos da magia de Anix. Glorin, Legolas e principalmente Squall sentiram a corrente elétrica percorrendo seus corpos com violência. O monstro soltou Squall para tentar se defender e recebeu um golpe de machado que abriu seu crânio em duas partes. O monstro tombou morto, sangrando uma gosma esverdeada, enquanto Legolas se afastava com Squall.

O arqueiro deitou o companheiro no chão para tentar reanimá-lo, e percebeu que seus olhos já não tinham mais brilho. Legolas pôs o ouvido no peito do elfo caído e ouviu que seu coração batia cada vez mais fraco. Squall estava morrendo. Na tentativa de liquidar o monstro, seu próprio irmão quase acabara com sua vida. Legolas gritou desesperado para seus amigos, sem saber o que fazer para ajudar o feiticeiro. Velozmente as mãos do anão se moveram dentro de sua mochila, trazendo à luz um pequeno frasco dum líquido esverdeado. O capitão jogou o vidro para Legolas, que já sabia muito bem o que deveria fazer. Sem perder tempo Legolas abriu o recipiente e despejou seu conteúdo na boca semi aberta de Squall. Os olhos do feiticeiro recobraram a cor, e Legolas pode ouvir o coração de Squall voltando a bater com toda força. Squall estava salvo. Entretanto, ele, Nailo e Lucano ainda continuavam completamente paralisados, sem mover um músculo sequer que não fosse para respirar e manter o coração pulsando.

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