agosto 08, 2006

Capítulo 214 – Almoço no salão dos espíritos

Capítulo 214 Almoço no salão dos espíritos

_ Estão todos bem? Conseguem seguir adiante? Nailo, Lucano, vocês foram os dois que mais receberam ataques! Como vocês estão? – falava Glorin, afoito, enquanto recolhia seu machado do chão.

_ Eu estou bem capitão! – respondeu Nailo, um pouco menos ofegante.

_ Eu não capitão! Já utilizei quase todas as magias que Glórien me cedeu! Além disso, aquele espírito maligno sugou minhas forças de alguma maneira! Sinto-me muito fraco e cansado! – disse Lucano. Era visível o estado lastimável do clérigo. Seu rosto, outrora corado, agora tinha a tonalidade de uma vela ou uma folha em branco nova. Além disso ele falava com dificuldade, entre uma pausa e outra para retomar o fôlego. Parecia que o simples ato de conversar já bastava para deixá-lo exausto. Os heróis entenderam o terrível poder que aquelas aparições possuíam e agradeceram aos deuses por todos terem sobrevivido àquela luta terrível.

_ Estou vendo, garoto! Você está tão pálido quanto um defunto! Vamos descansar um pouco antes de seguirmos em frente! Se algum de vocês tiver alguma magia que possa ajudar o Lucano a se recuperar, esse é o momento de usá-la! – Glorin levou a mão ao ombro do jovem elfo, confortando-o com suas palavras. Lucano imediatamente se sentou no chão, completamente exausto.

_ Capitão! Por que nós não aproveitamos para comer? Já passa do meio-dia! – sugeriu Nailo, que olhava através da porta a posição do sol.

_ Boa idéia! Vamos comer então! O momento é propício para isso e... já sei Squall, não precisa falar nada! Ficaremos todos na parte iluminada pelo sol, onde estaremos protegidos de um novo ataque! Mas vocês não devem ir lá fora, pois no meio deste matagal pode ter algum outro perigo escondido!­ – o capitão aceitou a proposta do ranger prontamente, ordenando uma pausa para o almoço. Depois, interrompeu Squall com a mão estendida e sorriu como se soubesse o que o feiticeiro iria dizer, conduzindo todos os aventureiros para a luz solar que aquecia o piso rochoso do salão. E todos puderam, por alguns instantes, esquecer de suas armas, armaduras e tirar de suas mentes as tensas batalhas que viriam pela frente.

Era um raro momento em que os jovens podiam relaxar. Nem lhes passava pela cabeça os desafios que enfrentariam dentro de alguns instantes, tampouco os terríveis eventos que seriam desencadeados no futuro, caso fracassassem em sua missão.

Os olhos de Nailo e Lucano brilhavam como duas jóias, enquanto suas mãos apalpavam os tesouros reunidos pelos dois até o momento. Nailo deu a Lucano o colar prateado que tinha sido a causa do último combate. Como retribuição, o clérigo presenteou o ranger com os anéis encontrados em outro dos cadáveres. Legolas e Anix entretinham-se com quatro belíssimos quadros que adornavam as paredes da sala. Eram quadros muito antigos e bem confeccionados por algum autor desconhecido e de grande talento. Todos eles retratavam a história da fundação do reino de Tollon. Num deles, o fundador do reino, Jeantalis Sovaluris, era retratado como um líder, conduzindo uma imensa caravana de colonos por terras congeladas e inóspitas. Em outro ele aparecia junto de seu amado filho, o jovem Tollonandir, os dois lado a lado em um imenso bosque de árvores negras. Segundo a história, Jeantalis decidiu se separar do grupo de Cyrandur Wallas, o heróico fundador de Petrinya, no meio do território das Uivantes, para tomar outra direção que ele considerava mais correta. Infelizmente, o traiçoeiro território gelado confundiu Jeantalis que demorou muito mais tempo para conseguir sair do território da rainha Belugha. O frio rigoroso ceifou a vida de muitos dos colonizadores que acompanharam Jeantalis, principalmente mulheres e crianças. Entre essas crianças estava o pequeno Tollonandir. E foi em homenagem a seu filho que o líder da caravana batizou o novo reino e as árvores negras e mágicas que o dominavam. A imagem do fundador era uma memória viva nas mentes de Legolas e Nailo, ambos nascidos em Tollon. Anix também conseguiu reconhecer o pioneiro ao observar outro quadro, no qual Jeantalis estava entregue aos prantos, segurando seu filho morto nos braços. Por fim, o mais belo dos quadros trazia o fundador já mais amadurecido, segurando a bandeira de sei país em meio à imensa selva que era o reino de Tollon. Legolas e Anix desmontavam calmamente as molduras, enquanto comiam suas rações. As telas, já sem as molduras, foram divididas entre os dois e guardadas em segurança junto com os mapas e pergaminhos que ambos carregavam.

Todos estavam calmos naquele raro momento de paz. Todos menos Squall. O feiticeiro estava enfurecido e inconformado com o estado de sua lanterna. O objeto havia se espatifado no chão ao ser jogado por Legolas no momento em que ele retornara do corredor para ajudar os amigos a enfrentar as aparições. A lanterna agora jazia toda amassada no chão e seu dono esbravejava pelo acontecido. Legolas desculpou-se com Squall, mas ele só foi se acalmar quando Nailo prometeu consertar o objeto.

Enquanto o ranger se ocupava em desamassar a lanterna, Squall investigava o ambiente, tentando localizar objetos mágicos com seus poderes. Entretanto não havia ali nada que contivesse qualquer poder mágico, com exceção de seus próprios pertences. Mas Squall descobriu algo importante, uma nova porta, oculta atrás de uma tapeçaria, que conduzia para o fundo do castelo. Era uma porta simples, de tamanho normal, com pequenos entalhes de formas geométricas diversas muito menos sofisticados que os detalhes de outras portas do castelo. A pedido de Glorin, Anix verificou a porta e descobriu que ele se encontrava trancada. Atrás dela somente silêncio e escuridão, da mesma forma que em todos os outros aposentos.

Já passava das 15:00 horas quando o grupo finalmente terminou seu descanso. Todos estavam bem alimentados, apesar do sabor nada inspirador das rações de viagem, e com as energias repostas. Reuniram seu equipamento e se prepararam para continuar a jornada. Nailo usou um dos seus frascos de óleo para preparar um alarme. Derramou o óleo no chão e equilibrou o frasco de argila na maçaneta da porta encontrada por Squall. Assim, caso algum inimigo saísse de lá, o som do frasco caindo no chão os alertaria do perigo. Legolas usou outro dos frascos para quebrá-lo e espalhar os cacos no chão, diante da porta. Se alguém passasse por ali, além de fazer barulho, iria ficar ferido e, portanto, mais fácil de ser derrotado.

Já no corredor, Glorin conferia seu equipamento e o seu grupo, integrante por integrante até chegar em Lucano:

_ E então garoto, está melhor? – perguntou Glorin a Lucano.

_ Não capitão! Continuo me sentindo muito fraco ainda! – respondeu o clérigo, desanimado.

_ Mas que droga! Desse jeito você vai ser uma vítima fácil! Temos que dar um jeito nisso! Algum de você tem alguma magia que possa ajudar? – o anão resmungou preocupado. Depois se dirigiu para o restante do grupo na esperança de uma solução.

_ Não capitão, nenhuma magia! – responderam Squall, Anix e Nailo, quase em uníssono, com as cabeças baixas.

_ Mas que situação! Já sei! E poções, vocês não têm nenhuma ai? Ou talvez algum pergaminho? – Glorin coçou a barba, pensativo. Seus olhos brilharam e sua boca se abriu num largo sorriso quando a idéia lhe veio à mente.

_ Bem, não temos nenhuma poção pra isso, mas temos alguns pergaminhos! Mas não sabemos o que eles fazem! – respondeu Nailo, mostrando o porta-mapas, onde estavam os pergaminhos encontrados por Squall na cozinha do castelo.

_ Mas que droga, usem logo alguma magia e decifrem isso! Pode ser que eles tenham grande utilidade pra nós! – ordenou Glorin.

_ Deixem comigo! Por sorte hoje pela manhã eu orei a Glórien por uma magia para usar numa ocasião como esta! Nossa deusa deve ter iluminado minha mente para que eu pedisse por esse poder! Anix, dê-me também aqueles pergaminhos que encontramos no fundo do mar, quando estávamos presos em Ortenko! Assim nós finalmente saberemos pra que eles servem!­ – Lucano, que até então estava abatido, encheu-se de energia e esperanças, e pôs-se a ler as escrituras.

Impaciente com a demora, Legolas pegou seu arco, e o apontou para a entrada do castelo, disparando uma flecha às cegas. Ouviu o som do projétil atingindo a porta de entrada e disparou uma segunda vez, esperando que, quando fossem sair do castelo, encontraria a segunda flecha fincada sobre a primeira.

Aquele amontoado de papéis sujos e velhos, repletos de rabiscos estranhos e incompreensíveis começou a se organizar lentamente. As runas foram aos poucos sendo decifradas por Lucano que, com a ajuda de seus outros amigos, foi desvendando um a um o funcionamento de cada pergaminho. Três deles eram de origem divina, magia dos deuses, e só poderiam ser utilizados pelo servo apropriado. Serviam para detectar a presença de animais e plantas e ficaram com Nailo, o especialista nesses assuntos do grupo. Dois deles Lucano conhecia muito bem o que faziam. Eram magias de cura, que o clérigo guardou consigo. Outro par deles tinha a capacidade de fazer duas pessoas se comunicarem à distância. Anix já tinha usado esse poder antes, para poder falar com Elesin, o pobre druida cujo sacrifício lhes permitiu obter os itens que necessários para sua fuga da ilha de Ortenko. Anix os guardou, assim como outros dois pergaminhos que continham uma poderosa magia de eletricidade e que também estavam no navio afundado na baía da ilha do maléfico Teztal. Os demais pergaminhos, os encontrados por Squall, foram divididos entre Lucano e Nailo. Todos eles possuíam magias de origem divina, por isso somente os dois poderiam ser capazes de utilizá-los. Cinco deles tinham o poder de criar água magicamente, suficiente para encher um recipiente. Dez deles tinham o poder de denunciar a presença de qualquer tipo de veneno, muito útil na cozinha do castelo, apesar de não terem evitado o envenenamento da comida. Outra dezena era capaz de tornar os alimentos estragados novamente bons para o consumo, eliminando os problemas do grupo com suas rações de viagem. Cinco outros tinham utilidade fundamental na cozinha, dois serviam para esfriar metais e um deles para apagar o fogo, o que deveria no passado ter evitado acidentes na cozinha do castelo. Por fim, três pergaminhos traziam aquilo que eles tanto desejavam, eram capazes de devolver a Lucano e a Nailo ao menos parte da vitalidade perdida pelos dois durante o combate com as almas sem descanso que habitavam o lugar. Lucano rapidamente usou os três pergaminhos, restaurando o vigor de seu amigo e o dele mesmo.

Era visível a melhora em Nailo. Seus olhos brilhavam com mais fulgor, sua pele já não era tão pálida e seus músculos pareciam maiores do que um instante antes. Lucano, entretanto, continuava pálido e abatido. Precisaria de muito mais que aqui para recuperar tudo que lhe haviam tirado. Somente com um longo período de repouso ele poderia recobrar totalmente seu vigor.

_ Melhorou Nailo? – era Glorin

_ Sim capitão?­ – Nailo sorria.

_ E você Lucano? – o anão olhando o elfo meticulosamente.

_ Muito pouco capitão! – Suspirou o clérigo.

_ Tudo bem! De agora em diante nós iremos protegê-lo! Você ficará na retaguarda e não se envolverá no combate corpo a corpo! Anix, você ficará na retaguarda com Lucano! Nailo, embora você tenha melhorado um pouco, ainda está bem fraco! Ficará com Squall no meio! Eu ficarei na dianteira com Legolas! – ordenou Glorin.

Todos assentiram as ordens do anão e se posicionaram diante da porta tal qual ele havia descrito. Era a maior e mais majestosa porta do andar inferior. Provavelmente atrás dela deveria ter algo grande, majestoso e talvez perigoso. Os heróis já haviam deduzido que as portas trancadas eram as que continham algum tipo de morto-vivo da coleção particular do lunático que criara aquelas aberrações. Ou seja, estavam trancadas para guardar alguma coisa, ou para aprisionar alguma coisa da qual ele tivesse medo, algo muito perigoso até para o criador de mortos-vivos, como os fantasmas na capela. Já as portas destrancadas não tinham nada de valor para o atual morador do castelo. As criaturas encontradas atrás destas portas pareciam fazer parte dos antigos moradores do castelo, de eras atrás, da época do banquete envenenado. A porta que abririam estaca trancada e com certeza guardaria algum grande perigo. Os heróis decidiram então se precaver.

Lucano usou as poucas magias arcanas que tinha conseguido aprender, com a ajuda de Anix, para proteger os corpos de Nailo e Squall. Squall usou seu poder mágico para deixar Nailo mais forte e Nailo usou dois pergaminhos que havia comprado em Follen para melhorar magicamente os seus reflexos e os de Legolas. Por último, Anix protegeu a si mesmo com uma armadura mágica. Dessa forma, eles seriam alvos difíceis de acertar e poderiam enfrentar os desafios que viriam. Mas, Lucano não se contentou e quis experimentar um pouco mais do poder arcano que começava a desenvolver.

_ Squall! Vou fazer outra magia em você! – disse maliciosamente o clérigo.

_ Obrigado Lucano! O que ela faz? Vai aumentar minha força? – perguntou Squall, inocentemente.

_ Não! Só vai fazer uma pequena flor crescer na sua cabeça! Você vai ficar muito engraçado! – sorriu Lucano, completando o feitiço.

Lucano evocou as últimas palavras mágicas, sob os protestos de Squall, e viu o mundo ao seu redor desaparecer nas trevas. Sua vista escureceu e ele perdeu os sentidos.

_ Nailo! Use aquela sua varinha e cure esse imbecil! – rosnou Glorin, recolhendo o machado que atingira a cabeça de Lucano com a lateral da lâmina.

Lucano acordou graças ao poder da varinha mágica e ao abrir os olhos, viu o anão sobre ele, com um olhar feroz.

_ Seu garoto idiota! Isso não é hora pra piadinhas! Temos uma missão a cumprir, se você tiver alguma magia pra usar, é bom que ela seja útil para a missão! Não temos tempo para perder com gracinhas! – esbravejou Glorin.

_ Nailo, use essa varinha de novo nesse idiota! Ele ainda está atordoado! Espero que você se lembre que sua gracinha custou os recursos do grupo na hora que precisarmos deles! – o anão vociferou uma vez mais para o clérigo, posicionou-se diante da porta pronto para arrombá-la com seu machado. – Prepare esse seu arco! – disse para Legolas e golpeou a porta.

Um comentário:

  1. Anônimo12:26 AM

    nossa estas histirias me tirao ate o folego.... Sao muito legais principalmente o personagen ranger Nailo ele e muito bom ....(..minha o pinião...):) ...kkkk...

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