abril 03, 2006

Capítulo 189 – A vila dos mortos

Capítulo 189 A vila dos mortos

Seis dias após a despedida, no 8º dia de Lunaluz, um aztag, os heróis chegaram às margens de um largo rio, com quase 6 quilômetros de um lado ao outro, um braço de outro rio, ainda maior, que delimitava a fronteira leste de Tollon. O sol já se punha atrás das árvores e o vento ainda frio tocava seus rostos com delicadeza.

_ Bem garotos! A balsa não está aqui! Teremos que esperar até amanhã de manhã! – Glorin enxugou o suor do rosto com a mão, enquanto falava com seus soldados. Depois desceu de seu cavalo e começou a levantar um pequeno acampamento.

_ Mas capitão! Não seria melhor se nós contornássemos o rio? – perguntou Anix.

_ Não! Levaríamos pelo menos um dia para chegar até a nascente à oeste! Depois mais um dia para retornarmos ao nosso curso normal! Vamos esperar, aproveitem para descansar! – respondeu o anão, com o corpo já acomodado sobre uma pele de animal no chão.

Os heróis seguiram o exemplo de seu capitão, e trataram de se acomodar pelo chão. Enquanto aguardavam, aproveitavam o tempo como podiam, treinando suas habilidades, se alimentando, estudando. Entre uma atividade e outra, todos se divertiam com o pequeno e curioso tentacute que saltitava de um lado para outro como um gato arisco, enquanto tentava pegar os objetos brilhantes que os heróis carregavam. Legolas usou seu berloque para rever sua amada. Liodriel demorou a atender ao chamado do arqueiro, dando um grande susto em todos. Felizmente, ela apenas estava se banhando quando o berloque começou a tocar, e por isso havia demorado a responder. Liodriel contou que Nevan havia retornado em segurança para Darkwood, e que Sairf tinha seguido para o litoral, em busca de sua amada Narse. Tudo estava em paz.

Na manhã seguinte, já com o sol alto, avistaram uma pequena balsa que vinha pela água lentamente. O barco se aproximou e atracou num pequeno cais construído de madeira á beira do rio. Os heróis subiram a bordo com suas coisas, logo atrás de seu capitão, logo após cumprimentar o senhor Rinald Garanne, o proprietário da balsa. Permaneceram ancorados até perto do meio-dia, quando finalmente zarparam, cruzando a enorme correnteza, pagando a módica quantia de 10 tibares de prata.

Já do outro lado, os aventureiros seguiram viagem em seus cavalos, rumo ao norte. Legolas cavalgava sem camisa, tentando adquirir resistência contra o frio, pois, segundo o capitão, eles passariam o ano todo num forte na fronteira com as Montanhas Uivantes, o reino mais frio de Arton.

A viagem seguiu tranqüila por mais dois dias inteiros. As únicas coisas que quebravam aquele marasmo eram as traquinagens do tentacute e as conversas de Legolas e Liodriel, que sempre ralhava com seu marido, dando ordens o tempo todo, como uma mãe pajeando um filho pequeno.

No final do décimo dia de viajem, Glorin anunciou que já estavam chegando perto do forte. Faltavam apenas mais alguns poucos dias para chegarem ao seu destino. Já era possível ver ao longe os cumes das montanhas congeladas atrás das árvores ao norte. A noite caia rapidamente, quando o capitão sugeriu pararem para dormir.

_ Bem rapazes! Já está escurecendo, melhor arrumarmos um local para dormir! Vamos apertar o passo um pouco! Existe uma vila bem perto daqui, podemos dormir lá! Uma noite sob um teto, debaixo de uma cama quente vai nos fazer muito bem! – disse Glorin, juntando as rédeas com força e esporeando o cavalo.

Mais uma hora se passou, até que enfim avistaram uma trilha entre as árvores, que conduzia para fora da estrada principal. Glorin guiou se cavalo pela trilha, seguido pelos seus companheiros.

_ Bem pessoal, chegamos! Esta é Carvalho Quebrado! É aqui que iremos dormir! – bradou o capitão, quase eufórico.

Era uma pequena vila, com não mais que cinqüenta famílias vivendo no local. Ficava numa grande clareira, escondida no meio das árvores. Várias casas simples, construídas com madeira e palha, se alinhavam nos dois flancos da rua principal que cortava a vila. Ao fundo podia-se ver uma grande plantação, perdida na escuridão, após um pequeno riacho. À esquerda, logo após a entrada, era possível ver um imenso tronco fincado no chão, restos do que fora uma árvore gigante no passado. À direita, logo após a entrada, havia um sobrado grande, com um cocho para cavalos diante da entrada, e com uma grande placa pendurada sobre a sacada, na qual podia se ler “Estalagem Urso Branco”.

Era uma vila aparentemente tranqüila e aconchegante. Legolas e Nailo sentiam uma certa nostalgia, pois, sob muitos aspectos, aquele lugarejo lhes lembrava sua vila natal. Mas alguma coisa naquele lugar não estava certa. Quase não havia pessoas nas ruas. Mesmo já sendo noite, era de se esperar que os moradores andassem pelas ruas, voltando da lavoura, passeando, conversando, namorando, enfim, cuidando de suas coisas pessoais após um dia de trabalho. Mas ao invés disso, o que se via eram ruas desertas, e as poucas pessoas que ainda permaneciam fora de suas casas, corriam desesperadamente ao redor delas, forçando portas e janelas, fechando-as e depois correndo para dentro das casas. Parecia que estavam se escondendo de alguma coisa, algo terrível e assustador. Era como se uma enorme tormenta se aproximasse de Carvalho Quebrado.

_ Capitão! Tem algo errado nessa vila! Posso averiguar? – pediu Legolas, respeitosamente.

_ Certo garoto, vá em frente, descubra o que está acontecendo! Também não estou gostando dessa situação! – respondeu Glorin, sério e compenetrado.

Legolas se afastou do grupo, que aguardava diante da estalagem. Correu até uma casa, onde um homem trancava as janelas, assustado.

_ Ei senhor! O que está acontecendo aqui? Por que estão todos fugindo? – perguntou Legolas.

_ Eles estão vindo! Fuja! Já estão chegando! – respondeu o homem, gaguejando, após se assustar com a presença de Legolas.

_ Eles quem? Quem está vindo? – insistiu o elfo.

_ Os mortos!

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