abril 11, 2006

Capítulo 191 – A noite dos mortos-vivos

Capítulo 191 A noite dos mortos-vivos

A porta foi fechada, deixando a multidão de mortos do lado de fora da estalagem. A ação de resgate executada pelos heróis, foi suficiente para chamar a atenção de todo o bando de zumbis para a estalagem. Em pouco tempo, um exército de criaturas das trevas estava diante da taverna, tentando invadi-la a socos e pontapés.

_ Vamos lá rapazes! Bloqueiem as portas e janelas com as mesas e cadeiras! Depois disso vamos todos para o segundo andar! Lá é mais seguro! – gritou Glorin, exaltado.

_ Capitão! E o garoto, o que eu faço com ele? – perguntou Anix.

_ Deixe-o com a família de Norgar! Agora vamos depressa para cima! – respondeu o anão, já galgando os degraus da escada, rumo ao segundo andar.

Squall, Lucano e Anix o acompanharam, mas Legolas e Nailo não.

_ Capitão, eu vou tentar acalmar os cavalos!!! – gritou Legolas, que andava de um lado para outro com Rassufel, tentando tranqüilizar o animal. Todos os cavalos estavam agitados com toda aquela barulheira produzida pelos mortos. Seus gemidos agonizantes, o rastejar de seus pés putrefatos, as batidas secas dos pés e das mãos dos esqueletos na varanda e nas paredes da estalagem, tudo se juntava para criar um clima de pavor nos animais e nos heróis.

_ Eu também não vou subir! É melhor ficar aqui para combatê-los, caso eles consigam entrar! Ficar lá em cima é perda de tempo! – retrucou Nailo, ignorando as ordens do capitão.

_ Façam como quiserem então! – respondeu Glorin. O anão tinha uma expressão séria. Sua voz era rouca e baixa, e demonstrava toda a insatisfação de Glorin com a insubordinação dos dois elfos. O anão se virou e subiu a escada, decidido a deixá-los para trás.

_ Depressa, vamos para as janelas! Vamos atacá-los daqui de cima! Squall, use suas magias para atingi-los daqui de cima! Anix, deixe o garoto com Norgar e venha ajudar com suas magias também! Lucano, se você não souber usar magias, use suas flechas para detê-los! Temos que mantê-los afastados da estalagem até o sol nascer! – gritava Glorin, avançando pelo corredor da estalagem.

_ Capitão! Quanto falta pra isso? Pro sol nascer? – perguntou Squall, entrando num quarto ao lado do quarto em que Glorin entrara. Lucano já corria para o fundo do corredor, posicionando-se diante de uma janela que dava para um telhado anexo logo abaixo dela.

_ Faltam ainda umas dez horas! Que os deuses nos ajudem! – respondeu o capitão, já a postos na janela.

Lá fora, uma horda gigantesca de cadáveres animados ocupava a rua principal da vila e se aglomerava em frente à estalagem. O cheiro de carne podre preenchia o ar, chegando às narinas dos que estavam no andar de cima. Os mortos se atiravam com violência contra as portas e janelas da estalagem, e até mesmo contra as paredes. Seus gemidos e gritos de agonia aterrorizavam a todos, deixando evidente o sofrimento que devia ser estar morto e vivo ao mesmo tempo.

Da janela, Glorin disparava virotes com uma pesada besta de madeira, alvejando os zumbis e derrubando-os, um pó um. No quarto ao lado, Squall lançava suas bolas de fogo, incinerando os cadáveres que caminhavam, criando clareiras no meio da multidão que eram rapidamente preenchidas por novos inimigos. Para cada criatura vencida, duas novas surgiam para tomar seu lugar. Era uma batalha injusta. Lucano estava vigiando a janela do corredor. Com suas flechas, o clérigo impedia que os poucos zumbis que davam a volta na casa conseguissem escalar o barracão abaixo dele e chegar até a janela do segundo andar.

Anix chegou para ajudar seus companheiros, após deixar o garoto resgatado em segurança na companhia do estalajadeiro e sua família. O mago entrou num dos quartos que davam para a frente do estabelecimento, indo até a janela e pôs-se a conjurar uma magia. Squall arregalou os olhos, assustado, pois já conhecia aquelas palavras e seus efeitos. Então, chamas brotaram magicamente do chão, sob os pés dos mortos-vivos, formando uma linha com quase cinqüenta metros de comprimento, diante da taverna. As chamas se ergueram com violência, atingindo os seis metros de altura, e consumindo os mortos-vivos em seu caminho com sua fúria.

A enorme muralha de fogo destruiu muitos inimigos e retardou os que restaram. Os mortos eram obrigados agora a dar a volta por trás da barreira para poder chegar até a estalagem. Squall e Glorin continuaram atacando sem piedade, os que estavam mais próximos, enquanto Anix mantinha os demais afastados com sua magia. Durante algum tempo a situação se manteve tranqüila, até o momento em que os heróis ouviram o barulho das janelas no andar de baixo sendo quebradas.

_ Squall, continue atacando! Anix mantenha essa magia enquanto puder! Eu vou lá pra baixo! – Glorin, atraído pelo som de vidros sendo estilhaçados, deixou as ordens para seus subordinados e correu para baixo.

O anão se espremeu na escada, passando ao lado dos cavalos que subiam apavorados. Pegou seu machado de guerra e correu até uma das janelas, por onde os mortos-vivos se espremiam para tentar entrar na taverna.

_ Não fiquem ai parados! Ataquem! – gritou Glorin, enquanto a lâmina de seu machado arrancava pedaços dos mortos, formando uma pilha de carne podre sob a janela.

Legolas sacou seu arco e começou a disparar na direção das outras janelas arrombadas. Nailo atacava com sua espada, cortando os cadáveres que penetravam pela janela.

_ Minhas magias estão acabando!!! – gritou Squall.

_ Estou quase sem flechas!!! – gritou Lucano.

_ Capitão! Não vou conseguir manter a magia por muito mais tempo! – gritou Anix.

A situação se complicava. As magias e flechas já se esgotavam, mas os mortos-vivos não paravam de avançar. Lucano enfrentava problemas tentando defender a janela que ocupava. Como a frente da estalagem estava bloqueada pela muralha de chamas de Anix, os zumbis que dava a volta encontravam o telhado de um pequeno depósito de ferramentas, e tentavam subir por ele para chegar até onde o clérigo estava. Suas flechas e suas magias já não eram capazes de dar conta de tantos inimigos.

Para auxiliá-los, Nailo pegou todo o óleo que tinha e começou a encher os frascos vazios de poções que possuía. Fechou os vidros com pedaços de pano e chamou por Squall, enquanto Legolas lhe dava cobertura. O feiticeiro desceu correndo, pegou os frascos e subiu de volta para continuar os ataques. Squall jogou sua aljava para Lucano e começou a acender os panos dos frascos que trazia consigo. Todos acesos, o feiticeiro passou então a arremessá-los sobre os mortos-vivos que andavam na rua. Com um arremesso, Squall conseguiu repelir os mortos que subiam no telhado protegido por Lucano. A palha presente sobre a pequena cobertura de madeira se incendiou, afugentando os mortos por um tempo.

Anix se esforçava para manter a concentração e continuar alimentando as chamas de sua muralha com sua energia. Mas o som dos gemidos e gritos dos mortos, bem como os uivos aterrorizantes dos vultos negros que corriam pela cidade, impediam-no de se concentrar totalmente.

Lá embaixo, Glorin, Nailo e Legolas travavam uma feroz batalha, para impedir que os zumbis invadissem a casa. Pedaços de carne podre voavam por todos os lados, espalhando o odor dos mortos pelo ar. Mas, por mais bizarra que a situação já fosse, algo de muito estranho aconteceu. Uma mulher morta-viva tentou entrar na estalagem por uma janela. Com sua espada, Nailo cortou-lhe ao meio. A parte de cima do cadáver caiu dentro da estalagem, e continuava a se mexer. Pelas experiências anteriores com mortos-vivos, Nailo sabia que aquele ferimento era suficiente grande para eliminar um zumbi daquele porte. Mas, a mulher continuava a se mexer, rastejando na direção de Nailo, gemendo e suspirando, como se desejasse comê-lo. Nailo a destruiu completamente com golpes de espada e, enquanto continuava a lutar, olhou para Glorin.

O anão lutava bravamente com seu machado, golpeando simultaneamente os invasores em duas janelas paralelas. Pilhas de pedaços de cadáveres se formaram embaixo das janelas defendidas pelo guerreiro. Mas, mesmo aos pedaços, os monstros continuavam avançando. Cabeças decepadas continuavam com seus murmúrios tenebrosos, enquanto que as mãos cortadas dos zumbis rastejavam pelo chão em busca de um alvo para agarrar.

Algumas dessas mãos agarraram as pernas de Glorin, derrubando-o no chão. Nailo correu para ajudar o capitão, arrancando de suas pernas as mãos que estavam parcialmente congeladas.

Mesmo caído, Glorin continuava a atacar, demonstrando todo o seu poder. Deitado no chão, enquanto Nailo corria para ajudá-lo, Glorin fechou os olhos por um instante e se concentrou. Apontou a mão para a janela, onde uma verdadeira parede de carne se formava e soltou um grito furioso. Um raio branco saiu de sua mão, atingindo os mortos e congelando-os imediatamente. Glorin repetiu o ataque outras duas vezes, ganhando tempo até ele se levantar novamente.

_ Nailo, me ajude aqui! – ordenou o capitão.

Os dois soldados começaram a atacar na mesma janela, abrindo um espaço vazio no meio dos mortos-vivos. Glorin então colocou seu corpo pra fora, enquanto Nailo lhe dava cobertura, e, com um novo grito, fez com que uma violenta rajada de vento partisse de suas mãos e arrastasse os zumbis para longe da janela. Alguns deles atravessaram a muralha de fogo, sendo imediatamente carbonizados. Legolas ficou admirado com o poder de seu comandante, e se sentiu inspirado para lutar com mais afinco, como se estivesse sob os efeitos mágicos da música de seu amigo Sam Rael.

Mesmo assim, os mortos continuavam a avançar, e os heróis já demonstravam sinais de cansaço. Parecia apenas questão de tempo até que aqueles monstros invadissem a estalagem e os devorassem um a um. Então, eles ouviram um uivo. O uivo de um animal das trevas, um uivo ainda mais tenebroso e assustador do que os que eles já haviam ouvido antes.

Lucano olhou pela janela, e viu um vulto negro de uma besta quadrúpede correndo velozmente entre as casas. Anix e Squall olharam pelas janelas e viram também alguns vultos semelhantes. Então, os dois olharam para o norte, na direção do pequeno riacho que cortava a vila. Sobre o telhado de uma das casas distantes dali estava uma enorme fera. Era um monstro de quatro patas, quase tão grande quanto um cavalo, uivando como um lobo do alto do telhado da casa. A luz da lua tornava a cena ainda mais assustadora, mas não iluminava o suficiente para que pudessem ver os detalhes daquele monstro. O uivo da criatura ecoava por toda a vila, chamando a atenção de todos, inclusive dos zumbis. O exército de mortos-vivos interrompeu seu ataque e voltou sua atenção para a fera. Um a um, os zumbis começaram a se afastar e a seguir na direção da criatura. Squall e Anix a viram saltar do telhado e correr para além dos limites da cidade, seguida pelo exército de mortos-vivos e pelos outros animais que os acompanhavam. Os olhos vermelhos como fogo, bem como aquela pelagem escura, jamais sairiam das mentes dos dois irmãos. Os heróis suspiraram com alívio, agradecendo aos deuses por aquele fato, ainda que não entendessem o que acontecera ali.

_ Capitão, eu vou segui-los! – disse Nailo, aos berros, enquanto abria a porta da estalagem.

_ Não faça isso garoto! É perigoso, não vá se arriscar! – retrucou Glorin.

_ Estou indo! – Nailo ignorou novamente o capitão e saiu da taverna, falando de maneira desafiadora.

Glorin suspirou e balançou a cabeça negativamente. Quando viu que Nailo havia de fato saído, ignorando suas ordens novamente, se levantou.

_ Vamos lá Legolas, me ajude! Squall, Anix, Lucano! Desçam aqui! Temos que trancar as portas novamente! Vamos fechar tudo o mais rápido possível! Esqueçam do Nailo! Temos que garantir a segurança dos que estão na casa! – ordenou o capitão com pesar.

_ Sim capitão! Norgar, precisamos de madeira, pregos e martelos! – gritou Legolas.

_ No barracão de ferramentas, ao lado da casa! – respondeu com um grito o dono da estalagem.

Legolas e Anix correram para fora e foram até o barracão indicado. O teto do lugar ardia em chamas, devido ao óleo atirado por Squall para impedir a subida dos zumbis. Lucano abafava as chamas com um saco de pano, enquanto Legolas e Anix pegavam o material para lacrar a casa. Os dois correram para dentro e junto com os outros começaram a trabalhar, pregando tábuas nas janelas para impedir que fossem invadidas. Nailo chegou minutos depois, quando restava somente a porta a ser lacrada. O ranger retornou após ver para qual direção os mortos caminhavam.

_ Capitão! Eu vou pegar palha e colocar em volta da casa, para fazer uma barreira de fogo quando os mortos retornarem! – gritou Nailo ao entrar.

_ Está louco rapaz? Quer nos matar queimados e sufocados? – bradou Glorin.

_ Não capitão! Vou deixar o fogo longe da casa, apenas para afastas os mortos. Se eles voltarem, a gente acende a palha com flechas incendiárias! – explicou Nailo.

_ Está certo, faça como desejar então! – Glorin respondeu com descaso, dando de ombros e virando as costas para o ranger.

Nailo correu até a entrada da cidade, onde havia montes de feno e palha armazenados. Carregou os fardos com seus companheiros e criou uma barricada ao redor da estalagem. Todos entraram e fecharam a porta novamente, bloqueando-a com tábuas e mesas.

_ Bom pessoal! Vai ser uma longa noite! Não sabemos se e quando eles voltarão, mas temos que ficar atentos! Eu ficarei de guarda durante a noite! Enquanto isso vocês aproveitem para descansar! E fiquem preparados! Se acontecer alguma coisa, eu os chamarei! – disse glorin, com ar de cansado, recostando-se numa cadeira.

_ Eu também não vou dormir capitão! Vou ficar acordado! – anunciou Nailo.

_ Hunf! Vai ser uma longa noite! – pensou Glorin, contrariado.

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