março 29, 2006

Capítulo 187 – Um pequeno ladrão

Capítulo 187 Um pequeno ladrão

A bela Lana voltou a tocar sua flauta, enquanto Anix e Nailo provavam estranhas combinações de bebidas. Legolas também bebia como um camelo. O arqueiro precisou ser carregado para um quarto por Malcon, o assistente do taverneiro. Legolas foi carregado até o quarto pelo rapaz. Lá ele retirou a armadura, atirando-a de qualquer jeito no chão. Depois conversou com Liodriel mal e porcamente e decidiu trancar a porta com cuidado para não ser assaltado. Pegou a chave do quarto, enfiou-a na gaveta da cômoda ao lado da cama e a girou, dando duas voltas. Então ele segurou o pequeno vaso de flores sobre a cômoda, pensando ser a maçaneta, e o girou para conferir se a porta estava trancada. Como a parede não se abriu e ele não viu o corredor ao girar o vaso, Legolas se deitou e dormiu tranqüilamente, sem saber que a porta estava escancarada e dezenas de clientes da taverna riam de seu estado deplorável.

Enquanto isso, na taverna, o impaciente Nailo aguardava na entrada da Última Chance o retorno do garoto com as informações sobre a ordem de Thyatis. Anix continuava bebendo no balcão e conversando com Johnny, o taverneiro. Lucano e os outros permaneciam numa mesa, bebendo e conversando embalados pelo doce som da flauta de Lana.

_ Ei Sam! Você pode me emprestar algum instrumento? – perguntou Squall.

_ Bem, só tenho meu alaúde aqui! Você por acaso sabe tocar? – respondeu Sam, entregando o alaúde ao feiticeiro.

_ Não sei se sei! Eu vou tentar! – Squall pegou o instrumento e correu na direção do palco. Subiu e começou a tocar umas notas tímidas e desajeitadas. Lana o olhou com desaprovação, mas não se importou com a presença do herói e continuou sua apresentação. Pra surpresa de todos, Squall foi melhorando pouco a pouco sua performance, conseguindo até acompanhar a barda. Os dois entraram em sincronia, arrancando aplausos da platéia. Sam observava Squall como se não estivesse gostando de sua intimidade com Lana. Ficava cada vez mais evidente que os dois tiveram algum tipo de envolvimento no passado.

Yczar e Batloc chegaram e se juntaram aos seus amigos. Anix continuava ignorando-os, isolado de todos no balcão da taverna. Nailo também não se importava com eles. Seu único objetivo era encontrar logo o tal clérigo de Thyatis, talvez até antes do que Squall. A impressão que se tinha é que desejava encontrar o tal clérigo para ressuscitar Loand antes que Squall o fizesse, como se estivesse numa competição e desejasse apenas receber os louros da vitória ao invés de trazer o amigo de volta à vida.

Então, após algumas horas, já pelo fim da tarde, o garoto finalmente apareceu. Era um garotinho sujo e maltrapilho, de cabelos ruivos e lisos caídos sobre os olhos. Tinha um olhar carente e um corpinho franzino, como o de quem passava vários dias sem se alimentar. Vestia roupas rasgadas e cobertas de uma poeira escura como terra.

_ Ei garoto! Você que foi procurar por um clérigo de Thyatis?- perguntou Nailo, bloqueando a entrada do pequenino.

_ Sim, tio! – respondeu o garoto, com ar de assustado e uma vozinha fina.

_ Fui eu quem pediu a informação ao taverneiro! O que você descobriu? – continuou o ranger.

_ Descobri que tinha um clérigo desse deus ai aqui na cidade sim. Ele tava hospedado numa outra estalagem, na Ganso Afogado! Mas ele já foi embora da cidade hoje de manhã! – completou o menino.

­_ Que droga! Chegamos tarde demais! Você conseguiu descobrir pra onde ele foi?

_ Não tio, ninguém soube dizer!

_ Tudo bem então! Qual seu nome menino?

_ Timi!

_ Tome! Isso é pra você! Obrigado pela informação! – completou Nailo, entregando algumas moedas de ouro ao pobre menino.

O garoto pegou as moedas rapidamente, agradecendo a Nailo pela gentileza e entrando na taverna. O pequenino se sentou ao lado de Anix, no balcão. Sorriu para o mago, que se ofereceu para pagar um suco para o guri.

_ Ei Johnny! Traz uma cerveja ai pra mim! Meu amigo aqui é quem vai pagar! – disse o menino ao taverneiro, desta vez com uma voz rouca e grossa e com um certo ar de malandro. Depois voltou a olhar para Anix e novamente voltou a fazer aquela voz fina para agradecer ao elfo. – Obrigado tio!

_ Você não é um menino? Quem é você! – perguntou Anix num tom inquisidor.

_ Eu sou um halfling oras! Agora disfarça e fica de boa! E valeu pelo trago! – respondeu o “menino”.

Nailo entrou na taverna, e foi até o balcão, sem desconfiar de nada. Viu o pequeno farsante conversando com Anix e se aproximou para falar com os dois.

_ Ei Timi! O que você tá fazendo ai? – perguntou Nailo sem suspeitar de nada.

_ Ah, to tomando um suco! Esse tio aqui que me pagou! Né mesmo tio? – respondeu o halfling, se fingindo de menino novamente.

_ É! Eu paguei um “suco” pra ele! – respondeu Anix, contrariado.

_ O Timi! Você vem sempre aqui nessa estalagem? Você mora aqui? – perguntou o ranger.

_ Não tio! Eu não moro aqui não! Eu moro numa casa muito pobre aqui na vila! A gente passa muita necessidade, minha mãe eu e meus irmãozinhos! Ô tio, dá um dinheiro pra mim? Pra eu poder comprar comida pros meus irmãos! Por favor! – continuou o farsante, vez ou outra sorrindo para Anix, como se estivesse se exibindo.

Nailo se sensibilizou com o teatro encenado por Timi e lhe deu mais moedas douradas. O halfling abraçou Nailo, simulando um choro e o agradeceu. Depois abraçou Anix também, dando uma piscadela pedindo para que ele continuasse mantendo o segredo, e saiu correndo da taverna. Anix o seguiu, deixando Nailo sorridente no bar, por ter feito uma “boa ação”.

_ Ei Timi! Porque você fez todo aquele teatro? – perguntou Anix.

_ Ah, cara, fica de boa! Fica na sua e me deixa quieto com meus negócios! – respondeu o halfling com sua voz natural.

_ Mas o que você fez é errado! Isso é um crime! E se você não sabe, eu sou do exército e podia te prender agora mesmo! – Anix tentou intimidar o pequenino.

_ Ah! Você é do exército? Então somos parceiros! Eu também sou do exército! Estou trabalhando disfarçado aqui! Então disfarça pra você não atrapalhar minha missão! – respondeu Timi.

_ Se você é do exército, então me mostra sua identificação! Você deve ter algum pergaminho com seu nome, seu posto e sua missão! Eu quero ver! – insistiu Anix, desconfiando da história contada pelo halfling.

_ Você tá louco! É claro que eu não estou com nada aqui! Se alguém me descobre com um papel desses, meu disfarce vai por água abaixo! – respondeu o pequenino.

_ E qual a sua missão? – perguntou Anix.

_ Ah! Isso eu não posso dizer! É confidencial, e de grande importância! Agora, se me dá licença, é melhor eu ir embora pra não dar bandeira demais! – concluiu Timi, afastando-se do mago.

Anix deixou o halfling partir, mesmo suspeitando ter sido iludido também, e retornou para a mesa com seus amigos. Conversou com Sam e os dois foram até a cadeia da cidade investigar a história do pequenino. Lá descobriram que Timi era, na verdade, um ladrão procurado por diversos crimes, confirmando as suspeitas de Anix. Os dois voltaram para a estalagem, onde Anix foi tirar satisfações com o taverneiro.

_ Ei Johnny! Você sabia que aquele Timi não é menino coisa nenhuma? – perguntou Anix em tom de ameaça.

_ Sim eu sei! Mas eu tenho medo que ele me faça alguma coisa, então não me meto nos assuntos dele! Eu tenho que me preservar. Ele nunca me fez nada e espero que isso continue assim! Só o que eu faço é servir na taverna. O que os fregueses fazem não é assunto meu! – respondeu o taverneiro, tentando se livrar de qualquer responsabilidade.

_ Ele vem sempre aqui?

_ Sim todos os dias! Às vezes ele fica meio sumido, mas depois volta!

_ Tá certo! Amanhã eu vou esperar ele aparecer aqui! Quando ele chegar, eu vou capturá-lo e entregá-lo à milícia! Ele é um criminoso procurado! – concluiu Anix, dando as costas para o atendente.

Anix voltou para a mesa com seus amigos e contou a Nailo toda a verdade sobre o pequeno Timi. Nailo ficou furioso por ter sido feito de idiota tão facilmente. Combinou com Anix de ambos prenderem o pequeno larápio na manhã seguinte. Lembraram do abraço que o halfling lhes dera antes de sair da taverna e pensaram que tinham sido roubados. Após conferirem todo seu equipamento, constataram que não estava faltando uma peça cobre sequer. Parece que os dois haviam tido muita sorte naquele dia.

A noite caiu, trazendo o frio e a escuridão para Arton. Os bardos Squall e Lana encerraram sua performance e se juntaram aos outros. Lana contou que conhecera Sam quando ele ainda era um garoto e assistia admirado suas exibições, mas evitou falar de si mesma. Já Sam, fazia insinuações e comentários maliciosos, dando a entender que ele e Lana haviam sido amantes no passado. A cada comentário, a barda desferia golpes de flauta na cabeça de Sam. Squall também começou a cortejar a dama, muito sem jeito, é verdade. Apanhou muito também, principalmente quando tentou descobrir a idade de Lana. Irritado com a concorrência, Sam resmungou algo do tipo “esse folgado vai ver, essa elfa é minha”. Por azar, todos ouviram o comentário do menestrel, descobrindo a raça daquela bela mulher. Lana também ouviu, ficando ainda mais irritada com Sam e começou a espancá-lo novamente. Sam tentava se desculpar, mas cada palavra que saia de sua boca só revelava mais a intimidade da elfa, deixando-a ainda mais nervosa. Lana bateu tanto em Sam que sua flauta se quebrou na cabeça do bardo. Sam caiu no chão, quase desmaiado, e começou a receber pontapés de sua antiga namorada. Por fim, um chute atingiu com força as partes baixas de Sam, deixando-o quase sem voz, e obrigando-o a sair da taverna em busca de um punhado de neve para fazer uma compressa gelada. Com a ausência de Sam, o feiticeiro Squall aproveitou a chance para tentar conquistar Lana. Só o que conseguiu foi apanhar mais ainda. Sem sua flauta, espedaçada na cabeça de Sam, Lana retirou de sua bolsa uma gaita e com ela colocou Squall num sono profundo. A barda saiu da taverna irritada, deixando todos para trás. Sem mais nada a fazer naquela noite, os heróis decidiram encerrá-la e foram dormir. Squall, que já dormia profundamente, foi carregado por Batloc, pelos fundilhos, até sua cama. A manhã seguinte seria bem movimentada. Tinham um bandido a capturar, e finalmente todos se apresentariam ao exército de Tollon, onde permaneceriam até o ano seguinte, ajudando seu amigo Legolas a cumprir sua pena e pagar sua dívida com a sociedade.

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