março 15, 2006

Capítulo 184 – O casamento

Capítulo 184 O casamento

A vila foi toda decorada com flores, os bancos e o palco do salão de reuniões foram colocados ao lado do riacho Aurora, após a ponte sul, sobre o gramado. Comida em grande quantidade foi preparada para festejar a tão esperada união. Assim, na tarde do dia 22 de Exinn de 1397, Legolas aguardava, ansioso, a chegada de sua noiva ao altar.

Legolas estava nervoso sobre o tablado de madeira. Impaciente, o arqueiro gritava ordens para seus amigos que cuidavam da organização da festa, apenas para disfarçar sua angústia. Liodriel já estava atrasada, conforme a tradição. O noivo, à beira de um ataque de nervos, também conforme a tradição.

Sobre a plataforma de madeira, além de Legolas, estavam também os padrinhos. Os casais Anix e Enola, e Nailo e Darin, aguardavam do lado do noivo. Do lado da noiva, Sam segurava sorridente o braço de Lioniel, ao lado do pai e da mãe das irmãs. Lucano aguardava atrás do altar, ansioso e feliz por estar celebrando seu primeiro casamento.

Com meia hora de atraso, finalmente Liodriel apareceu. Estava deslumbrante, num longo vestido branco de cetim, preso ao corpo da moça sem alças, valorizando toda a beleza de seu maravilhoso busto. Era todo bordado com detalhes de flores douradas, feitas de finíssimos fios de ouro. Uma longa cauda de quase quatro metros de comprimento, deslizava com graça sobre a grama verde. As mãos, cobertas por um par de luvas brancas rendado, seguravam um buquê de botões de rosas brancas, simbolizando o amor verdadeiro e eterno que unia aquele casal. Seus lábios pintados com um batom vermelho sangue, seu rosto delicadamente maquiado num tom rosado, e suas pálpebras pintadas com sombra azul turquesa, tornavam-na ainda mais linda. Brincos de cristal refletiam a luz do sol. Seus cabelos cor de fogo, escovados na forma de graciosos cachos espiralados e puxados para trás por uma tiara de marfim e cristal, dançavam a cada passo dado pela moça. Apenas um único cacho vermelho pendia com graça sobre sua testa, completando a visão mais bela já tida por Legolas. Apesar de todas as outras mulheres ali reunidas, e da beleza quase sobrenatural de Enola, sem sombra de dúvida, Liodriel era a mulher mais linda daquela festa.

O pai de Liodriel desceu as escadas, trêmulo, e foi de encontro à sua filha. Conduziu a jovem lentamente, passando entre todos os convidados que se dividiam em duas fileiras de bancos de madeira no gramado. Finalmente, emocionado, entregou sua jóia ao elfo que ele chamaria de “meu genro” a partir daquele dia. Legolas beijou a mão de Liodriel e os dois ficaram diante do altar para ouvir as palavras do clérigo de Glórien, deusa dos elfos.

_ Irmãos elfos, amigos humanos! Estamos todos aqui reunidos para testemunhar e abençoar a união desses dois jovens apaixonados que compartilham o mais belo e nobre sentimento, o amor! Um amor, tão grande e tão puro, que foi capaz de transpor qualquer barreira para permitir que os dois estivessem aqui hoje, juntos! Um amor que enfrentou todos os perigos e armadilhas, superou todos os desafios e salvou a vida deste casal. Legolas já provou seu amor, arriscando sua vida para ir ao encontro de sua amada e salvá-la das mãos de monstros terríveis. Liodriel também demonstrou todo o amor que sente por Legolas, ao salvar sua vida dentro da Forja da Fúria! Assim, o amor de um salvou o outro! E por causa desse amor puro, verdadeiro e infinito, os dois estão aqui hoje, diante de todos, sob os olhos de nossa amada mãe Glórien, para se unirem no sagrado laço do matrimônio e viver esse amor como marido e mulher! – disse Lucano, assistido por todos com atenção.

_ Legolas, é de livre e espontânea vontade que você se casa hoje com Liodriel? – continuou o sacerdote

_ Sim! – respondeu Legolas

_ Liodriel, é de livre e espontânea vontade que você se casa hoje com Legolas?­ – prosseguiu Lucano

_ Sim! – sorriu Liodriel

Relâmpago, o lobo de Nailo, todo enfeitado com fitas, seu pelo todo escovado e acompanhado de uma bela loba branca, se aproximou do altar com uma pequena caixa amarrada sobre as costas. Yczar pegou a caixa e a abriu, entregando o par de alianças, comprado como presente por ele e Batloc, a Legolas.

_ Legolas, você jura, em nome de Glórien, amar e respeitar Liodriel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na fortuna e na pobreza, até que a morte os separe? Perguntou o clérigo

_Sim!­ Eu, Legolas, juro, em nome de Glórien, amar e respeitar você, Liodriel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na fortuna e na pobreza, até que a morte nos separe! – respondeu o noivo, sem hesitar, enquanto colocava a aliança no dedo de sua noiva.

_ Liodriel, você jura, em nome de Glórien, amar e respeitar Legolas, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na fortuna e na pobreza, até que a morte os separe? – repetiu Lucano, desta vez para a noiva

_Sim! Eu, Liodriel, juro, em nome de Glórien, amar e respeitar você, Legolas, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na fortuna e na pobreza, até que a morte nos separe! – sorriu Liodriel, após uma breve pausa, apenas para causar suspense em todos, colocando a aliança em Legolas.

_ Se houver aqui alguém presente, quem tenha algo a dizer que impeça este casamento de ocorrer, que fale agora, ou se cale para sempre! – perguntou o padre, dirigindo seu olhar para os convidados e os padrinhos. Lioniel abaixou a cabeça, sem dizer uma palavra sequer, e duas lágrimas escorreram pelo seu rosto. Estava terminado, o homem que ela amava, finalmente casaria com sua irmã querida.

_ Pelos poderes a mim concedidos, em nome de Glórien, eu os declaro marido e mulher! Que Glórien os abençoe! – encerrou Lucano.

Todos aplaudiram, enquanto Legolas e Liodriel se beijavam. Pequenas sementes foram atiradas ao alto, sobre os noivos que desciam do altar para desejar felicidade e fertilidade ao casal. Squall observava de longe, triste por estar sem longe de sua amada, mas ao mesmo tempo feliz pelo amigo. Os noivos receberam os cumprimentos de todos e depois foram para a vila, festejar o casamento.

Ao som do conjunto formado por Sam, Silfo e Nevan, os convidados começaram a dançar. Batloc se perdia em meio a tanta comida e bebida, sem se importar com o que Yczar diria. O paladino metálico, que no meio dos outros genasis parecia uma pessoa culta e fina, agora, cercado por tantas outras pessoas mais “civilizadas” do que ele, parecia um bárbaro. Squall, cabisbaixo em um canto, foi convidado para dançar por Nárnia, a mesma garota que tinham encontrado no cemitério junto com Sam, antes de partirem para Khundrukar. Lucano, também foi dançar, com Lioniel, para surpresa de todos. Parecia que a jovem começava a mudar seu jeito rude de ser para se tornar mais doce, como sua irmã.

Tempos depois, a música foi interrompida. Liodriel subiu no palco com os músicos e ficou de costas para os convidados. Após brincar com todos, a noiva atirou o buquê na multidão que se formara para disputar a peça. De acordo com a tradição, a mulher que pegasse o buquê da noiva seria a próxima a se casar. O maço de flores girou no ar, sendo golpeado pelas mãos das moças que se acotovelavam e se empurravam. Após muita confusão, as flores caíram nas mãos de quem menos se esperava. Lioniel, a irmã da noiva, ficou com o buquê sem fazer esforço algum, enquanto conversava com Lucano. O clérigo ficou a olhar para o buquê, como se esperasse alguma palavra de Lioniel. Ela, simplesmente virou o rosto, bufando como se não se importasse com a presença do clérigo.

_ Pessoal, pessoal! Um minuto de atenção, por favor! – gritou Anix, ajoelhando-se diante de Enola – Eu gostaria de aproveitar a ocasião para declarar meu amor e pedir a mão da pessoa mais maravilhosa que eu já conheci! Enola, que se casar comigo? – perguntou o elfo, segurando as mãos da Ninfa.

Enola não estava preparada para aquilo. Não estava acostumada com os costumes do continente e não entendia direito o significado de tudo aquilo. Sua resposta foi ingênua e sincera, como ela mesma.

_ Mas Anix, eu não posso! Tenho que cuidar do santuário para Allihanna! Tenho que cumprir minha missão!

Anix teve seu coração partido. Saiu correndo chorando, envergonhado e humilhado, na direção da mata. Enola percebeu que, embora essa não fosse sua intenção, tinha ferido o pobre rapaz. A ninfa correu atrás dele, desaparecendo na floresta. Longe dos olhares das outras pessoas, Enola explicou ao mago que não poderia se casar com ele sem a permissão de Allihanna, e tentou consolá-lo. Mais conformado, Anix retornou com a ninfa para a festa.

Depois foi a vez de Nailo pedir sua namorada Darin em casamento. Desta vez, entretanto, a resposta foi um sim emocionado. Os bardos voltaram a tocar e a festa continuou, sem a presença dos noivos, que sumiram sem deixar vestígios para conseguir um pouco de privacidade para o seu amor.

Então, algumas horas depois, enquanto Lucano e Lioniel conversavam, numa pausa para descansar entre uma dança e outra, Squall se afastou de Nárnia e por pouco não acabou com a festa.

_ Quer dançar comigo Lioniel? – perguntou o feiticeiro para a acompanhante de Lucano.

_ Você não se enxerga não? Não está vendo que eu já estou acompanhada? – respondeu, ríspida como sempre, a moça – E você, não faz nada não? Ele tenta lhe tomar a acompanhante e você fica quieto? – desta vez a agressão se voltava contra Lucano.

Lucano não tinha nada a ver com Lioniel. Todos ali eram apenas amigos, então não havia nada demais Squall convidá-la para dançar. Entretanto, as palavras desafiadoras da dama mexeram com o brio do sacerdote que, em resposta, deu um peteleco na orelha de Squall. O feiticeiro não deixou por menos, empurrando Lucano, que o empurrou de volta, e a confusão estava formada.

Squall começou a briga dando um soco em Lucano. O clérigo revidou, acertando um chute nas partes baixas do feiticeiro, fazendo-o ver estrelas. Nailo entrou no meio, batendo nos dois para interromper a briga.

_ Oba! Briga! Vamos lá Silfo! – gritou Batloc, sorrindo ao ver a confusão. O genasi e o sátiro correram e entraram na confusão, socando os outros três brigões. Legolas correu até sua casa, pegou seu cavalo e seu arco e passou galopando entre os que lutavam, tentando atropelá-los. A confusão começou a ganhar tamanho, a música foi interrompida, e relâmpago também entrou na briga para ajudar Nailo. Squall conseguiu enfeitiçar Batloc, usando-o como ajuda. Depois disso, foi atirado dentro do riacho por Legolas. A festa tinha virado um caos.

Mas o problema ainda poderia ficar maior. O pânico tomou conta da vila, as mulheres corriam desesperadas para longe da briga, mas não dela. Anix abraçou Enola, protegendo-a com seu corpo. O pai de Nailo e o pai de Legolas cuidaram de proteger as mulheres, enquanto Yczar avançou correndo na direção do imenso monstro que surgia do outro lado do riacho Aurora. Era um monstro azulado de corpo alongado como o de uma serpente, mas que possuía dezenas de patas. Boca enorme, olhos negros arredondados e antenas sobre a cabeça. A criatura avançou, passando ao lado de Squall que acabava de sair da água. Rapidamente, Legolas sacou suas flechas e disparou-as no monstro. A fera, porém, tinha propriedades mágicas e se teletransportou velozmente, como se piscasse, deixando que as flechas atravessassem pelo seu corpo sem feri-la. Todos se posicionaram para enfrentar o monstro que se aproximava. Foi então que Sam saiu de trás de uma das casas, rindo e tocando seu alaúde. A criatura começou a dançar conforme o ritmo da música e desapareceu. Era mais uma ilusão mágica do bardo.

_ Muito bem, agora que a briga terminou, vamos voltar para a festa! – e dizendo essas palavras, o menestrel voltou a tocar seu alaúde, acompanhado da flauta de Silfo e do tambor de Nevan e tudo terminou bem.

Já era tarde da noite quando todos se recolheram. Legolas pendurou na parede do quarto a flecha de ouro que ganhara de Lucano. Ao lado da flecha estava o retrato dos noivos, pintado à mão por um artista de Vallahim, um presente de Nailo. O casal retirou os colares de safiras, recebidos de Anix e Enola, e os guardaram numa gaveta, junto com as moedas de ouro que Squall lhes dera de presente. Deitaram-se na cama. Era uma cama pequena para os dois, dentro da casa de Legolas. Os pais do arqueiro estavam no quarto ao lado, então os dois teriam que ser silenciosos em sua noite de núpcias. Os dois rolaram na cama se beijando, Legolas quase caiu para fora do colchão. Os dois riram e voltaram a se beijar. Aquele aperto logo acabaria. Legolas havia contratado um grupo de carpinteiros em Vallahim, junto com Nailo, e a casa onde eles morariam junto com o ranger e Darin, logo estaria pronta. Seria a maior casa de Darkwood, segundo os planos dos dois heróis. Como um diferencial, ela contaria com uma piscina, um tanque cheio de água para que os dois casais pudessem nadar. Legolas não entendia porque construir um tanque para nadar se tinham o riacho à sua disposição. Mesmo assim ele confiou nas palavras de Sairf, que disse que tinha visto aquilo em Valkaria uma vez e considerava muito melhor aquilo do que nadar num rio. Como presente de casamento, Sairf faria o projeto da piscina para os carpinteiros a construírem e ele próprio a encheria de água com sua magia. O casal se desligou dos pensamentos externos e se entregou ao seu ardente amor.

Após seis dias calorosos de amor, logo depois de Anix e Yczar retornarem do santuário de Enola, onde a ninfa e o sátiro viviam, o grupo finalmente estava pronto para partir. Teriam que se apresentar em Follen dali a três dias, quando seriam integrados ao exército de Tollon.

Legolas se despediu de Liodriel com um beijo apaixonado. Enquanto seu cavalo de distanciava, o elfo acenou para sua amada com seu berloque na mão. Ela repetiu o gesto sorrindo, pois sabiam que com aquilo, poderiam estar sempre em contato, mesmo distantes. “O maravilhoso Berloque da Comunicação Distante”, fora o nome dito por Sam, quando presenteou o casal no dia do matrimônio. Segundo o bardo, com aqueles broches mágicos em forma de escaravelho, os dois poderiam se comunicar até três vezes por dia. Dessa forma, Legolas e Liodriel poderiam se falar todos os dias, e o ano em que estariam longe um do outro, seria menos triste e solitário para ambos. Assim, no 28º dia de Exinn, um kalag, o grupo de heróis partiu de Darkwood, rumo à cidade de Follen, rumo ao exército, onde passariam o próximo ano treinando e aprimorando suas habilidades. E eles não estavam sozinhos. Yczar e Batloc também os acompanhavam. Depois de Follen, os dois servos de Khalmyr seguiriam para o distante reino de Bielefeld, onde Yczar se tornaria um cavaleiro da famosa e prestigiada Ordem da Luz. Além deles estava Nevan, que acompanharia seus amigos até Follen onde se despediria de todos e retornaria para Darkwood. Com tudo finalmente em paz, aqueles jovens heróis aventureiros seguiram seu caminho ruma à fascinante cidade de Follen.

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