março 09, 2006

Capítulo 178 – 3º Dia – Seis cabeças geladas


Capítulo 178 3º Dia Seis cabeças geladas

O 20º dia de Weez, um tirag, começou coberto de neve. A noite anterior fora uma das mais frias, principalmente para Legolas, já que aquela tinha sido a última noite de sua vida. O arqueiro despertou com o barulho das chaves que abriam a cela onde estava. Quatro soldados o ergueram pelos braços e o conduziram para o pátio do quartel. Legolas caminhava com dificuldade. Suas pernas estavam rígidas por não se moverem a dois dias e devido o frio intenso da noite anterior. Seus olhos, na escuridão desde que caíra na solitária, foram se acostumando aos poucos com a luz do sol. Quando pode enxergar novamente, Legolas viu a forca poucos metros a sua frente. Do lado de fora do portão do forte estavam seus amigos de Darkwood, Yczar, e Liodriel. Legolas desviou o olhar, não suportava encarar sua amada naquele momento. Desejou felicidade a ela em pensamento e se lembrou dos bons momentos que passaram juntos até então. Já conformado com seu destino, Legolas levantou a cabeça e encarou a forca, enquanto duas lágrimas geladas escorriam pela sua face. Mas, para sua surpresa, os soldados desviaram, entrando na cabana atrás da forca, onde ficava o oficial encarregado do forte.

_ Você tem sorte elfo! Viverá por mais alguns dias! Mas não pense que irá escapar! Você só ficará vivo até ser julgado novamente e confessar o que fez com o ouro que você roubou dos tributos reais! Agora levem-no daqui! O advogado dele vai falar com ele! – disse o comandante com ironia.

Minutos depois, Legolas recebeu a visita de Yczar e ficou sabendo que seria julgado pelo roubo do ouro. O mesmo ouro que Elenindow havia salvado uma vez antes de sua morte. Mas Legolas não sabia nada sobre aquele ouro, como então poderia estar sendo acusado? O cheiro de uma conspiração pairava no ar e, para piorar, Legolas seria acusado por Edgar, que era suspeito de ter roubado o ouro mas contra o qual não havia provas. Yczar disse que Edgar tinha arrumado um advogado e iria testemunhar contra Legolas. Teriam ainda alguns dias para preparar uma defesa para Legolas, assim teriam tempo de esperar a chegada do grupo que rumava para Darkwood. Entretanto, com a nova acusação que surgia, as chances de Legolas eram ainda menores.

Longe dali, sem suspeitar do que acontecia em Vallahim, os heróis prosseguiam em sua jornada. Eram passadas várias horas desde a despedida com Enola. A bela ninfa e seu guardião Silfo eram apenas uma lembrança em suas mentes agora. Especialmente na de Anix. A noite anterior jamais seria esquecida por ele. Finalmente ele estivera nos braços daquela beldade que tanto amava. Quanto a seus amigos, tinham que se contentar com as flechas que receberam de presente de Silfo. Invejavam Anix por ter podido estar com Enola. Mas todos ali tinham seus próprios amores em suas vilas natais e sonhavam com o dia em que pudessem reencontrá-las.

Um enorme buraco na estrada tirou os aventureiros de suas divagações. Alguma coisa grande havia passado por ali e criado aquela cratera. Talvez um monstro, talvez um raio, talvez uma gigantesca pedra de gelo despencara do céu junto com a neve. A única certeza era de que precisavam fazer um desvio.

Saíram da estrada e entraram na floresta. Estavam em um lugar úmido e as árvores eram esparsas. O chão era composto de uma mistura de lama e neve. Ao lado deles, um pouco distante dali, podiam ver algumas poças d’água refletindo o sol. Era um pântano. Todos se apressaram para sair daquele lugar, mas um javali perdido atravessou pela frente da caravana, fazendo os cavalos se assustarem. Lembraram-se do dia em que Enola se separou do grupo, por culpa de um javali também, e encontraram o jardim secreto. Enquanto estavam distraídos, foram surpreendidos por uma monstruosa fera que surgiu das árvores.

Era um monstro quadrúpede com poderosas patas que terminavam em garras afiadas. Uma longa cauda, com a ponta seccionada em três partes, se agitava freneticamente, enquanto suas seis cabeças de serpente cuspiam gelo em tudo que encontravam pela frente. Era uma crio-hidra de seis cabeças. O monstro saiu dentre as folhagens, arrebentando árvores e cipós pelo caminho enquanto perseguia o pobre javali. Ao ver os heróis, a criatura desistiu do pequeno animal e resolveu mudar o cardápio. A hidra matou os cavalos do grupo com seu sopro gelado. Somente Luar, o cavalo de Batloc, mais resistente que os outros, sobreviveu ao ataque. Os heróis caíram sobre a neve branca e gélida e uma vez mais tiveram que pegar em suas armas para defender suas vidas.

Imediatamente, Anix tornou-se invisível com sua mágica e começou a circundar o local para flanquear o monstro. Mas era muito difícil se mover naquela região pantanosa. Seu corpo afundou na lama fria até os joelhos, atrasando-o. Squall também adotou uma tática evasiva, assustado com o poder da criatura. Tentou subir numa das árvores próximas para conseguir uma posição mais favorável para atacar, mas os troncos estavam lisos devido ao gelo e impediram-no de concretizar seu plano.

Batloc, destemido como todo paladino, rapidamente sacou a besta pesada que trazia em sua cintura e disparou. Mas, a pressa fez com que o genasi atingisse somente a árvore em frente, desperdiçando o ataque. Batloc pegou então seu machado e avançou em direção ao monstro e foi parado por ele.

As seis cabeças da hidra atacaram com voracidade Nailo e Batloc. Suas cabeças deslocavam-se ziguezagueando como serpentes. As mandíbulas, repletas de dentes afiadíssimos, rasgaram a carne metálica de Batloc e o corpo de Nailo. O ranger revidou com suas espadas, abrindo dois grandes cortes no ventre da fera. Imediatamente após os ataques de Nailo, os ferimentos do monstro começaram a se fechar de maneira sobrenatural.

Lucano lançou uma magia em Nailo para fortalecer os ataques do amigo e impedir que a criatura tivesse tempo de se regenerar, enquanto Squall se protegia com sua mágica para poder entrar em combate corporal com o monstro.

Então, todos viram o machado de Batloc em ação mais uma vez. Com um golpe poderoso, o genasi decepou uma das cabeças do monstro. Todos comemoraram o ataque do genasi, mas se surpreenderam em seguida. No lugar da cabeça cortada, duas novas cabeças começaram a surgir pouco a pouco. Não bastasse isso, o monstro atacou.

As cinco cabeças restantes cuspiram gelo nos heróis. Nailo, Batloc, Lucano e Squall tiveram seus corpos quase inteiramente congelados pelo ataque fulminante da criatura. Todos ficaram seriamente feridos, mas mesmo assim não recuaram. Nailo atacava bravamente com suas espadas, enquanto Batloc cortava outra cabeça da criatura com seu machado. Lucano, inteligentemente se lembrou que um monstro de gelo deveria ser vulnerável ao fogo e invocou uma ajuda de peso para o grupo. Um cão infernal surgiu atrás da hidra, incinerando o monstro com suas chamas, ao mesmo tempo em que Squall lançava uma bola de fogo sobre a criatura. As chamas fizeram com que as cabeças que nasciam na fera caíssem mortas pelo calor, revelando enfim a fraqueza do monstro.

Anix tentou enfraquecer a criatura com uma magia, mas não conseguiu. A fera resistiu e contra-atacou com suas presas afiadas. Anix, Batloc e Nailo foram feridos desta vez, ficando gravemente feridos.

Lembrando-se dos poderes de seu amigo bardo, Lucano criou uma explosão sonora ao redor da hidra, deixando-a atordoada. Batloc e Nailo aproveitaram a oportunidade para arrancar outras duas cabeças do monstro. Restavam apenas três.

Anix se afastou do monstro o mais que podia e lançou uma bola de fogo. As chamas mataram as cabeças que cresciam no lugar das cortadas e terminaram com o que restava de vida na criatura.

Os heróis respiraram por um instante, felizes por ter sobrevivido a mais um desafio. Nailo pegou sua espada mais curta e começou a retirar a pele do monstro para usar para fazer armaduras.

_ Nailo! Deixe isso ai e vamos embora! Temos que nos apressar! – repreendeu Batloc, cuidando dos ferimentos de Luar.

_ Calma Batloc! Só vou levar uma meia hora! A gente já vai! Trinta minutos não farão falta! – respondeu Nailo.

_ Não se esqueça que Legolas está para perder a vida, e qualquer minuto poderá fazer falta! Além do mais, estamos sem cavalos e agora levaremos mais tempo para completar a viagem! – completou o genasi.

Nailo ponderou e viu que o paladino tinha razão. Abandonou o precioso couro para trás e o grupo prosseguiu, a pé desta vez.

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