maio 26, 2005

Capítulo 30 - A muralha

Mais uma vez o som dos cabos dos manguais batendo nas grades da cela veio acordar os escravos. Aos gritos, os soldados de cobre se faziam ouvir por toda a montanha, gritando ordens e insultos para os aprisionados. Era manhã do quarto dia de Terraviva, o sol já iluminava a entrada da caverna quando os heróis iniciaram sua jornada de trabalho na mina. Trabalharam até pouco antes da metade da manhã, quando a presença de um genasi de cobre lhes chamou a atenção.
O soldado se aproximou da entrada da mina e se dirigiu à sentinela que a vigiava. Conversaram por um longo tempo, atitude perfeitamente normal. Mas quando o guardião da entrada apontou para o grupo de aventureiros tudo mudou. Os heróis não entendiam o que aquela conversa tinha a ver com eles. Temiam que fosse algo relacionado com o genasi morto anteriormente. O clima de tranqüilidade e esperança que imperava até o momento, foi substituído por uma sensação de medo e tensão. Começaram a trabalhar com determinação para não despertarem a atenção dos dois soldados. Mas nada disso funcionou. Os heróis suavam, tensos, e ficaram paralisados de medo quando o soldado se aproximou.
_ Vocês novatos! Larguem essas ferramentas e me acompanhem! Vocês irão trabalhar em outro lugar agora!
As palavras do genasi trouxeram alívio aos corações dos aventureiros. Entretanto, havia um novo problema, para onde seriam levados? Todos, com exceção de Loand e Yczar, acompanharam o genasi. Aparentemente ele queria apenas seis pessoas para o trabalho, e descartou os dois paladinos. Os heróis foram separados em dois grupos. Batloc não estava por perto para intervir e ajudá-los, deixando-os sem opção, a não ser obedecer as ordens recebidas.
O soldado, que se autodenominava Miguel, levou-os para fora da mina sem dizer nenhuma palavra sobre a nova tarefa. Atravessaram um pátio de pedra vigiado por vários genasis, descendo a encosta da montanha por uma longa escadaria esculpida na própria rocha. Circundaram a face sul da montanha por uma faixa de terra de cerca de quinze metros de largura, que separava Shinaipa Turud da floresta. A mata fechada não possuía nenhuma trilha, a não ser o caminho que levava até o cais onde estava ancorado o navio de Guncha. Depois de alguns minutos andando, os heróis avistaram uma pequena cabana de madeira. O teto de palha e as paredes rústicas de madeira deveriam servir de abrigo para ferramentas ou mantimentos. O local era vigiado por oito genasis de cobre, todos armados com manguais e chicotes. O maior deles, que aparentava estar no comando, se dirigiu aos heróis com rudeza.
_ Muito bem escravos! Eu sou Kryon, e a partir de agora vocês trabalharão sob minhas ordens. Vocês já devem saber que um dos meus irmãos foi morto por um animal selvagem que vive nessa selva. O grande Teztal ordenou que uma muralha fosse construída para proteger o zigurate, e vocês que chegaram há pouco na ilha e ainda estão saudáveis, foram escolhidos para construir a muralha. Vocês cortarão madeira na mata, e com ela construirão uma grande barreira em volta da montanha. Trabalharão na muralha até que ela esteja concluída, ou até que vocês morram trabalhando, o que vier primeiro.
Enquanto falava, o genasi conduzia os heróis até a pequena cabana de madeira. Lá dentro, havia várias ferramentas armazenadas. Os heróis receberam machados e serrotes. Legolas recebeu também um facão, com o qual deveria abrir uma trilha na selva até o local onde iriam buscar a matéria-prima para a muralha. Saíram de dentro da pequena construção e penetraram na mata, indo em direção ao norte, seguidos de perto pelos outros sete genasis comandados por Kryon. Avançaram quase cem metros mata adentro, chegando a uma área de mata esparsa, com várias árvores frondosas em redor.
_ Parem aí, seus inúteis! Essas árvores parecem ser adequadas, comecem a cortá-las imediatamente! – ordenou um dos soldados que os vigiava.
Os aventureiros se agruparam em pares e começaram a cortar as árvores. Nailo e Legolas pediram perdão a Allihanna pelo que iriam fazer, e, com lágrimas brotando em seus olhos, começaram a golpear com seus machados os troncos das árvores.
Durante todo o tempo, os soldados ficaram vigiando os escravos, formando um grande círculo em volta da clareira que se formava pouco a pouco. As horas foram passando, e aos poucos os soldados foram sendo vencidos pelo cansaço. O sol já brilhava forte no meio do céu, quando os genasis se reuniram num único lugar e se sentaram em um tronco para descansar. Os soldados conversavam entre si, enquanto os heróis derrubavam as árvores a golpes de machado. As árvores que iam caindo, tinham seus galhos serrados por Sairf e Squall. Os trancos eram empilhados na borda da clareira, para serem carregados posteriormente até o local da muralha. Os olhos atentos dos sete vigias, bem como suas ameaças e desafios, impediam os heróis de tentarem qualquer ato revoltoso. Mas o verdadeiro motivo da obediência dos aventureiros era o plano de fuga, que estava próximo de ser concretizado. Se tudo desse certo, eles conseguiriam fugir de Ortenko na manhã seguinte, e aquele martírio terminaria. Naquele instante, o melhor que os heróis podiam fazer, era trabalharem calados, para evitar levantar suspeitas e para evitar que qualquer coisa, como um espancamento coletivo, arruinasse a tentativa de fuga. Com isso em mente, todos trabalhavam com afinco, sonhando com o dia que viria. O suor dos heróis escorria pela mata, junto à seiva das árvores que iam sendo mortas por suas mãos. Um sacrifício necessário, pensavam, assim como o do pobre Elesin.
Então, um dos soldados deu um salto do tronco onde repousava. Assustado, o genasi olhava para o tronco, pragejando, enquanto seus irmãos de cobre se divertiam às suas custas. Os heróis interromperam o trabalho a tempo de ver uma serpente saindo do meio das toras de madeira, no exato local onde o genasi estava sentado. A pequena víbora serpenteou sibilante por entre os genasis e desapareceu na mata. Os soldados riam de seu irmão, e o riso contagiou os heróis. Irritado por ser motivo de riso, o genasi ordenou que os escravos parassem com as risadas. Os jovens seguraram o riso e voltaram ao trabalho.

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