fevereiro 14, 2008

Capítulo 304 – Vinhas assassinas

Pai e filho se abraçaram com emoção, havia vários meses que eles não se viam e não se falavam, desde que Lucano tinha deixado a vila e rumado para Malpetrim. Lucano apresentou Anakin, seu pai, aos companheiros de jornada. Pouco depois chegaram duas elfas, uma metida em um vestido vinho, longo e esvoaçante, adornado com runas prateadas e tinha cabelos negros e olhos verdes e profundos. A outra trajava vestes simples de camponesa, um vestido marrom e branco feito de algodão, seu cabelo era ruivo, amarrado numa longa trança e seus olhos eram verde esmeralda.

_ Mãe! Aíno! – bradou Lucano com emoção. Correu e abraçou a primeira, com a mesma intensidade que tinha abraçado o pai. A segunda ele tomou nos braços, ela já em pranto, e a beijou calorosamente.

_ Amigos! Quero que conheçam minha mãe, Cassandra, e minha esposa, Aíno! – disse Lucano.

Cada um dos heróis cumprimentou a família do amigo com cortesia. Estavam surpresos, especialmente com Aíno, a esposa de Lucano, a qual era de uma beleza inesperada por todos. Pouco conversaram, porém, apesar de haver muito a ser contato, pois tinham urgência em encontrar o paradeiro das crianças e salvá-las, se isso ainda fosse possível. Lucano pediu a Aíno que retornasse para casa e cuidasse de Enola, Darin e Liodriel, que estavam em sua casa, e a todos os outros aldeões foi pedido que retornassem para suas casas e aguardassem em vigilância até que eles retornassem.

As pessoas retornavam para a vila, preocupadas e insatisfeitas, mas sabiam que eram todas pessoas simples, meros agricultores, e que nada poderiam fazer de melhor a não ser confiar nos oficiais do exército de Tollon que ali estavam. Tinham como consolo o fato de que Lucano, um morador do local, estava entre eles, o que lhes dava maior confiança no grupo que assumira a missão de resgatar as crianças. Também tinham fé em Anakin, que os acompanharia e os guiaria na missão.

O pai de Lucano era, sob muitos aspectos, parecido com Nailo. Trajava uma couraça de peles grossas para proteger seu corpo e levava duas espadas presas à cintura por um cinturão de couro. Um pequeno macaco, o qual ele tratava como a um irmão, desceu de uma das árvores e veio pousar em seu ombro, onde permaneceu toda a jornada. Os dois, elfo e macaco, pareciam de fato irmãos, assim como Nailo agia em relação a Relâmpago e antes dele a Smeágol. Anakin guiou o grupo até o local onde as crianças tinham sido capturadas, onde agora só restavam pegadas de trolls e restos de um piquenique destruído.

_ Aqui está o rastro dos trolls – disse Anakin. – Está muito apagado e confuso por causa da chuva desses dias. Será difícil segui-lo assim. Creio que teremos que contar com a sorte.

_ Felizmente não será necessário, senhor! – respondeu Nailo. – Eu consigo ver claramente por onde eles foram. Os rastros seguem para o oeste, depois de uns cinco metros viram ao sul onde o musgo na casca daquela árvore foi removido por uma mão enorme. Há marcas de pés pequenos ali e galhos quebrados na altura de aproximadamente um metro. Uma das crianças deve ter escapado e corrido dos trolls, mas foi perseguida. Eles tentaram capturá-la a todo custo, e suas mãos gigantescas arrancaram vários galhos quando tentavam agarrá-la. Infelizmente conseguiram. Posso ver o final dos rastros da perseguição daqui.

_ Que bom! – sorriu o elfo. – Fico feliz em saber que tenho um rastreador melhor do que eu mesmo ao meu lado nesse momento! Agora, com sua orientação, posso enxergar os rastros também, e sei que sua análise está correta. Há esperanças de salvar as crianças.

_ Mas, senhor! Por que demoraram tanto para tomar providências? – perguntou Anix.

_ Bem, os pais das crianças perceberam sua ausência só há pouco. Um pai acreditava que seu filho estava na casa de outro garoto. E os pais deste achavam que ele estava na casa do primeiro. Assim foi com todas as famílias, até que descobriram que as crianças não estavam em casa alguma e se lembraram dos Trolls. – respondeu Anakin.

_ Bem, eu acho estranho esses trolls atacarem assim, desta forma. Parece que eles atacaram em bando e com um plano preparado em mente. Isso não me cheira bem. – continuou o mago.

_ Bem, eu também acho estranho. Temo que eles possam estar sendo comandados por alguém. Alguém inteligente e cruel, e que ordenou que as crianças fossem capturadas com vida por algum motivo sinistro. É o que parece, já que segundo o senhor Nailo, uma das crianças ainda conseguiu tentar fugir.

_Sim, e não há marcas de sangue também, por um longo trecho pelo menos. E nem cheiro dele, como Relâmpago me disse agora. Talvez as crianças ainda estejam com vida. Vamos nos apressar! – disse Nailo.

O grupo se colocou em fila yudeniana, rigorosamente um atrás do outro com a mesma disciplina que era comum no reino de Yuden, e avançou pela floresta. As árvores de Greenaria tentavam barrar o avanço deles com seus muitos cipós, galhos retorcidos e folhagem vasta. Mas, a habilidade de Nailo, aliada ao conhecimento do local possuído por Anakin, era ainda mais eficiente que as barreiras impostas pela natureza, e ele conseguia conduzir seu grupo de forma veloz pela selva.

A mata se adensava mais à medida que avançavam. Em certos momentos, a luz do sol era apenas uma doce lembrança, impedida de atravessar a folhagem espessa e chegar ao chão. Mesmo sem o sol, o ambiente era abafado e havia muita umidade no ar tornando possível vem em certos momentos uma fina névoa de vapor d’água serpenteando entre a vegetação.

Subitamente, em uma da várias paradas onde Nailo se abaixava para observar os rastros e decidir a direção a tomar, Lucano agiu de forma inesperada.

_ Pare com isso, Legolas!­ – gritou ele, olhando para trás.

_ Parar com o que? Eu não fiz nada! – espantou-se o arqueiro.

_ Você passou a mão em minha bunda, eu senti! Não faça isso de novo! – Lucano se voltou novamente para frente, então, de repente gritou outra vez. – Já mandei você parar!

_ Eu já disse que não estou fazendo nada! – vociferou Legolas.

_ Ai! Passaram a mão em mim também! Quem foi? – dessa vez era Anix, no fim da fila. Todos olharam confusos uns para os outros, tentando entender o que acontecia. Nailo olhou ao redor, Relâmpago farejou o ar e começou a rosnar, mas os dois não tiveram tempo de avisar do perigo. Subitamente, um cipó rastejou pelo chão, enrolou-se na perna de Anix e puxou-o com violência, atirando-o ao chão. Ao mesmo tempo, Vários outros ramos vieram das árvores, agitando-se como serpentes e golpeando os aventureiros como chicotes.

_ Cuidado! – gritou Nailo. – São vinhas assassinas!

Mal o aviso fora dado e as vinhas já tinham conquistado grande vantagem na luta. Squall, Anix, Lucano e Orion foram golpeados com extrema força pelos ramos animados. Seus galhos os atingiram como clavas e rapidamente se enrolaram em seus corpos, imobilizando-os e esmagando-os com força impressionante. Até mesmo Cloud fora capturado no abraço mortal das vinhas e Anix já quase não tinha ar em seus pulmões para se manter consciente.

Legolas sacou a espada e correu até o amigo caído, golpeando com sua lâmina para tentar libertá-lo. Nailo as combatia com suas espadas, impedindo que se aproximassem dele e de Relâmpago, enquanto que Seelan levantou vôo magicamente e subiu até perto das copas das altas árvores, ficando fora do alcance do inimigo. Anakin tentava ajudar seu filho, cortando os ramos com suas espadas.

As plantas eram resistentes além do normal, e atacavam de vários pontos e muitas vezes por segundo. Orion conseguiu se libertar, mas logo depois foi capturado novamente em outro abraço esmagador. Anix sofria e não conseguia sequer respirar. Squall tentava concentrar sua mente, apesar da dor, para evocar seus feitiços e com isso inverter a situação do combate.

A ajuda veio do alto, quando Seelan lançou uma magia atrás de Squall e Anix. Chamas se espalharam pela mata numa onda explosiva e brilhante como o próprio sol. Os ramos se agitavam com espasmos de dor e finalmente afrouxaram o laço ao redor das presas, pendendo inertes no chão.

Anix e Squall revidaram com uma bola de fogo e um círculo de chamas que se expandiu ao redor de Squall pelo chão. Nailo gritava, furioso, ordenando que parassem de ferir as árvores com suas chamas mágicas. Do alto, Seelan pediu desculpas e iniciou a conjuração de um outro feitiço diferente.

Os ramos continuavam atacando e parecia que as chamas tinham tido pouco efeito sobre eles. Relâmpago foi atingido e aprisionado, mas Nailo o libertou com suas espadas. E se as chamas pareciam pouco efetivas, as faíscas elétricas das espadas do ranger eram totalmente inofensivas contra as vinhas.

Orion, já liberto, se juntou a Anakin para ajudar Lucano. Sua espada golpeou uma das vinhas, decepando-a e Nailo viu um tronco fino tombar atrás de uma árvore. Ao guerreiro se juntaram Legolas e Anix, o último sendo atacado de surpresa enquanto se movia na direção do amigo amarrado. Nailo veio em seguida, após livrar o lobo do perigo, e com golpes precisos e potentes, libertou o amigo. O último ramo parou finalmente de se mexer e o perigo terminara ao menos por enquanto. Então do alto desceu uma criatura de do tamanho de um humano, mas cujo corpo era formado apenas por chamas. Era um elemental do fogo.

_ Ataque as vinhas assassinas! – gritou Seelan.

_ Não há nada aqui para ser atacado – respondeu a criatura do fogo no mesmo idioma do mago que o evocara.

_ Sério? – o mago parecia surpreso. – Então deixa pra lá! Pode retornar, e obrigado assim mesmo!

O elemental curvou seu corpo como que em reverência e desapareceu através de um portal. Seelan retornou ao chão e encontrou a batalha já vencida. Nailo estava no local atingido pelas chamas do capitão e de Anix. Parecia conversar com as plantas.

_ Uma magia de crescimento seria de boa ajuda agora para curá-las! – sugeriu Anakin.

_ Sério?! Então deixe comigo! Obrigado por dizer isso. – respondeu Nailo. E, usando o poder concedido por Allihanna, Nailo fez com que as plantas crescessem em velocidade espantosa. A magia da natureza as envolvia e curava, fechando feridas e cicatrizando queimaduras à medida que elas aumentavam de tamanho. – Vamos em frente! – continuou Nailo. – Estamos no caminho certo. As árvores me disseram que os trolls passaram por aqui com as crianças. E elas estavam vivas!

Todos se alegraram com a notícia. Lucano curou seus corpos feridos com o poder de Glórienn e eles seguiram adiante.

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