fevereiro 24, 2006

Capítulo 170 – Crime e castigo, o julgamento

Capítulo 170 Crime e castigo, o julgamento

_ Senhor juiz, senhoras e senhores jurados, hoje nós testemunharemos aqui um show de inverdades a fim de iludi-los para que dêem a liberdade para estes jovens que hoje se sentam no banco dos réus. Jovens estes que cometeram diversos crimes e que não tem nada de inocentes. Criminosos tão perigosos que não hesitaram em atacar e ferir seus próprios companheiros, amigos e parentes para fugir da punição divina. Eu, na posição de promotor, irei convencê-los, através da apresentação de provas e testemunhos reais, irei convencê-los da culpa destes jovens e do perigo que eles representam para o bem estar de nossa sociedade e para a segurança pública. Provarei aqui, que este grupo não só é culpado, como também é perigoso demais para continuar a andar livre pelas ruas de nosso reino. No final, tenho certeza de que todos vocês ficarão convencidos, não pelas minhas palavras, mas sim pelos fatos que aqui serão apresentados, de que os réus merecem ser punidos e esta punição não será um simples prisão, mas sim a pena máxima, a pena capital para expiar os crimes que estes jovens cometeram e para garantir que nenhuma outra pessoa venha no futuro a se tornar vítima de seus atos perversos e criminosos! – o promotor, um homem de baixa estatura, cabelos pretos bem curtos e de rosto cuidadosamente barbeado, deu início ao julgamento, acusando de forma veemente os heróis com um discurso inflamado de emoção que parecia ser insuperável.

_ Yczar, quantas pessoas você já defendeu em julgamentos? – perguntou Anix, preocupado.

_ Vocês são os primeiros, meu amigo! Mas não se preocupe, vou tirá-los desta! – respondeu sorridente e confiante o paladino.

_ Com a “palava”...digo, palavra, a defesa! – parecia que o juiz ainda não tinha aprendido a falar. Seu problema com as palavras, e suas marteladas histéricas sobre a tribuna pedindo silêncio, provocavam risos naqueles que assistiam ao julgamento. Risos estes, que eram sufocados e reprimidos pelos presentes para evitar retaliações por parte do juiz.

_ Senhor juiz, senhoras juradas, senhores jurados e todos aqui presentes! Hoje, eu vocês testemunharão não um show, mas uma série de depoimentos e a apresentação de fatos concretos que provarão a todos vocês a inocência de meus clientes. Esses fatos e depoimentos irão convencê-los da inocência de meus clientes, que foram acusados injustamente e foram vítimas de abuso de poder e autoritarismo por parte daqueles que os prenderam! Vocês verão por si próprios que estes jovens, não são criminosos, mas sim heróis, que salvaram várias vidas, a deste defensor inclusive! Ao final deste julgamento, estou certo de que todos aqui concordarão com a inocência dos acusados e pedirão a absolvição dos réus! – discursou Yczar de forma segura e convincente, aumentando a esperança dos heróis.

O julgamento se estendeu por todo o dia e avançou noite adentro. Foram ouvidos os testemunhos de várias pessoas que, sob os efeitos da magia dos clérigos de Khalmyr, não tinham como mentir em seus depoimentos. Entre essas pessoas estavam Liodriel e outros moradores de Darkwood. Yczar os interrogava com maestria, levando-os a exaltar as atitudes heróicas do grupo. Batloc também testemunhou, contando resumidamente sobre os fatos ocorridos na ilha de Ortenko, mais uma vez mostrando que os jovens eram heróis de verdade. A promotoria, por sua vez, tentava desqualificar o depoimento das testemunhas de defesa, alegando que como todos eram amigos e parentes dos acusados, jamais os acusariam de qualquer coisa.

Depois foi a vez das testemunhas de acusação, os soldados do exército. O promotor lhes perguntava sobre os atos dos réus, confirmando que estes haviam resistido à prisão, atacado os soldados, e ferido os aldeões inocentes. Mas, Yczar também os interrogou de forma brilhante. A cada pergunta feita pelo paladino, os soldados confirmavam a tese da defesa: o exército havia dado voz de prisão, sem se identificar, sem dizer porque os prendiam e ainda por cima ameaçando com arcos, flechas e espadas não somente os réus, mas também os aldeões que estavam presentes. As perguntas de Yczar, elaboradas de maneira estratégica, trouxeram um fato à tona que pesou a favor dos réus. Os jurados ouviram das bocas dos próprios soldados, que o exército havia disparado suas flechas contra os réus e ferido os aldeões antes que os heróis tivessem reagido. Na verdade, a única reação tinha sido a tentativa de Squall de enfeitiçar o comandante, mas como ele não havia sacado nenhuma arma, nem produzido qualquer efeito mágico visível, pareceu a todos que os soldados o haviam atacado apenas por se equilibrar em cima do cavalo. Yczar começava a vencer o caso.

Mas, uma das acusações era irrefutável. A do assassinato de Elenindow. Mesmo justificando que Legolas estava fora de si e que Elenindow havia matado o avô de Legolas primeiro, os seus amigos e familiares confirmaram que ele havia de fato matado um oficial do exército. O promotor era impiedoso. Percebendo que perdia a batalha para Yczar no caso da prisão dos heróis, agarrou-se com unhas e dentes à tentativa de condenar ao menos Legolas pela morte de Elenindow.

As pessoas de Darkwood tentavam reduzir a gravidade do fato contando sobre o péssimo caráter de Elenindow. Mas essa estratégia foi logo vencida pelo depoimento dos soldados, que mostravam um outro lado do caráter de Elenindow, um homem honrado, um amigo fiel, um soldado disciplinado. Pesaram contra Legolas principalmente o depoimento do tenente Sunil Aeon, parceiro de Elenindow desde o tempo em que eram apenas recrutas, o mesmo soldado que testemunhou a luta entre Legolas e Elenindow e que comandava as tropas no dia em que os heróis foram presos. Além dele, também depôs o capitão Ron Fumir comandante geral do batalhão de Elenindow e Sunil, que exaltou ainda mais a retidão do caráter de Elenindow, bem como seus feitos heróicos que lhe deram a promoção ao posto de tenente.

Esse capitão em especial chamou a atenção de todos por seu testemunho. Era um homem extremamente arrogante e estúpido. Tratava Yczar como se ele fosse um de seus subordinados. Não respondia às perguntas, se irritava facilmente e desrespeitava o paladino. Dizia que queria ver o assassino de seu soldado mais querido morto e parecia odiar Legolas. Dizia que o arqueiro devia pagar pelo crime cometido com a própria vida. Quando indagado por Yczar sobre a morte do curandeiro e do avô de Legolas, o capitão se irritou mais ainda e o ofendeu chamando-o de “paladinozinho hipócrita”. Repreendido pelo juiz, o capitão respondeu dizendo que Elenindow seria preso e julgado pelas mortes, mas que Legolas interferiu e impediu que isso acontecesse, atrapalhando o trabalho da justiça.

Já passava das sete da noite quando o juiz ordenou um recesso para que os jurados se reunissem e dessem o veredicto. Após alguns minutos tensos, todos voltaram a se reunir no tribunal. O juiz recebeu de um dos jurados um envelope com a decisão do júri e anunciou o veredicto.

_ Ao décimo sétimo dia sob Weez, do ano de 1397, pelos poderes a mim concedidos nesta corte, declaro os réus Legolas Greenleaf, Nailo Beliondil, Anix Remo, Squall Remo, Sairf Ridlav, Sam Rael e Lucano Lireian inocentes dos crimes de desacato à autoridade, formação de quadrilha, tentativa de homicídio, perturbação da paz pública, danos ao patrimônio público e resistência à prisão! – anunciou o juiz de forma clara, com uma voz grave e quase ensurdecedora.

Todos começaram a comemorar e a se abraçar. Haviam vencido, estavam livres. Mas a alegria durou pouco. As marteladas do juiz calou a todos para ouvir o anão que parecia não ter concluído sua declaração.

_ Silêncio todos! Continuando, condeno o réu Legolas Greenleaf a pena de morte por enforcamento, pelo assassinato do tenente Elenindow Ruran, oficial do exército real de Tollon! Determino que a sentença seja executada daqui a três dias, às quatro horas da tarde do dia 20 do mês de Weez do ano de 1397! – concluiu o juiz.

A declaração causou dor e tristeza nos heróis. Seu amigo Legolas estava com os dias contados. Seria enforcado antes de poder se casar com sua amada Liodriel, antes de ter filhos e de construir uma família. Sua vida seria abreviada precipitadamente, deixando todos os seu amigos e parentes entristecidos. Liodriel caiu em prantos, enquanto o tenente Sunil, o capitão Ron e os outros soldados comemoravam a vitória. Yczar não se conformou com a decisão.

_ Meretíssimo! Eu recorro da sentença e peço que o réu Legolas tenha um novo julgamento para julgá-lo separadamente de seus companheiros e apenas pela morte do tenente Elenindow, sem envolver as outras acusações das quais ele foi absolvido, para que ele tenha a chance de se defender de maneira justa. – gritou Yczar tentando abafar os gritos e risadas dos que comemoravam.

_ Silêncio! A sentença já foi “data”...digo, dada defensor! Não há como voltar atrás! – respondeu o juiz, calando a todos com seu martelo.

_ Mas eu penso que os outros fatos desviaram o foco desta acusação e que todos os detalhes envolvendo a morte de Elenindow ainda não foram esclarecidos! Eu peço um novo julgamento! – insistiu Yczar.

_ Como eu já disse, a sentença já foi dada e, a menos que surja algum fato grave que justifique um novo julgamento, a decisão aqui anunciada deve ser cumprida! E caso encerrado! – e o juiz bateu mais uma vez seu martelo, encerrando o julgamento e o futuro promissor do jovem Legolas Greenleaf.

Nenhum comentário:

Postar um comentário