junho 21, 2005

Capítulo 61 - O adeus de Enola

Os heróis puseram-se então a recolher os pertences dos orcs mortos. Passaram quase uma hora recolhendo armaduras, espadas e machados gastos. Quando retornavam para os cavalos, foram surpreendidos. Do meio da mata, à direita dos aventureiros, um javali saltou correndo desesperado, passando muito próximo aos cavalos do grupo. Os animais se assustaram e se dispersaram pela estrada. O cavalo de Anix, sobre o qual estava Enola, correu em disparada para o oeste, penetrando na floresta. Silfo saltou da carroça, desesperado, tentando em vão segurar o animal. Enola gritava por socorro, enquanto o cavalo corria, desorientado, até desaparecer entre as árvores.
_ Salvem a bela dama!!! – gritou Sam, soltando no chão os itens que carregava. Todos seguiram a atitude do bardo e correram para resgatar Enola. Legolas e Anix pegaram os cavalos mais próximos e entraram na mata atrás da ninfa, enquanto Sairf e os outros guardavam o equipamento pilhado dos orcs.
Anix e Legolas corriam o mais depressa que podiam, sempre guiados pelos gritos aflitos de Enola. Encontraram Silfo, já vencido pelo cansaço, que saltou sobre o lombo da montaria do mago para não ficar para trás.
_ Heart, encontre Enola! – o falcão alçou vôo a partir do ombro de Anix, servindo de referência para que os heróis pudessem encontrar o caminho até a ninfa em perigo.
Então veio o silêncio. Os gritos desesperados de Enola e o som dos casco do cavalo cessaram por completo. Heart of Dark mergulhou num vôo rasante, muito metros à frente do grupo, desaparecendo entre as árvores. O falcão não fazia contato mental com seu mestre, e o medo começou a tomar conta de todos. Subitamente, os cavalos diminuíram o ritmo da marcha, e prosseguiam em frente, sem obedecer a nenhum comando dos cavaleiros. Havia uma forte luz à frente, que aumentava ainda mais o clima de tensão dos heróis. O ambiente foi se tornando mais claro e ar árvores ficavam cada vez mais esparsas, à medida que o grupo avançava. Os heróis já não tinham mais noção de onde estavam, ou do quanto haviam entrado na mata. Então um grande jardim de flores surgiu à frente de todos. Numa clareira, escondida entre as árvores negras de Tollon, um enorme jardim natural abrigava milhares de flores. De uma elevação rochosa ao fundo, jorrava uma cascata de água cristalina, formando um pequeno riacho. Na borda do jardim, o cavalo de Anix repousava, deitado na relva. No centro da clareira estava Enola, ajoelhada no chão, conversando com um pequeno cervo branco.
Os heróis entraram no local, completamente paralisados. Não sabiam se de medo, ou se a beleza do lugar os havia fascinado a ponto de imobilizá-los. Só o que sabiam é que uma sensação de paz dominava aquele lugar. Então Enola se levantou e estendeu o braço delicadamente na direção do grupo. Sairf e os demais chegavam neste momento e puderam ouvir a ninfa dizendo:
_ São eles minha senhora!
A corsa caminhou lentamente na direção dos heróis, parando em frente a eles. De seu corpo totalmente branco, emanava uma aura que acalmava a todos.
_ Então vocês são os jovens que cuidaram da minha doce criança?! Eu lhes sou grata por a terem protegido durante todo este tempo. Enola ficara aqui neste santuário a partir de agora. Seu destino será proteger este lugar até o final de seus dias! – o cervo se expressava com uma voz feminina que preenchia todo o ambiente, como se estivesse em todos os lugares.
_ Quem é você? – perguntavam os heróis, já imaginando a resposta.
_ Eu sou Allihanna! – todos estremeceram, pois diante deles estava ninguém menos que a própria deusa da natureza.
Anix entristeceu, ao sentir que se separaria de sua amada, mas foi rapidamente confortado pela deusa.
_ Enola ficará aqui, este é o destino dela! O destino de vocês está em outro lugar, mas vocês sempre serão bem vindos a este santuário, e poderão visitá-la sempre que desejarem!
_ Mas eu não quero ir embora, eu quero ficar com Enola, eu a amo! – Anix tinha lágrimas em seus olhos ao dizer estas palavras.
_ Eu sei de seus sentimentos jovem elfo! E saiba que eles são recíprocos! Entretanto, seu destino não é ficar aqui agora! – as palavras da deusa diminuíram a dor no coração do mago. A deusa voltou a dirigir a palavra para o grupo.
_ Jovens aventureiros! Para cumprirem esta missão para mim, eu fiz um acordo com os outros deuses, para que me cedessem seus filhos por algum tempo. Saibam que por um breve instante, todos os deuses voltaram suas atenções para vocês. A missão de vocês termina aqui. Eu lhes agradeço por protegerem minha criança e lhes recompensarei por isso. Agora você seguirão seus destinos, e Enola seguirá o dela! Quanto a você Silfo, você é livre para escolher partir ou permanecer aqui com Enola!
Silfo deu alguns passos jardim a dentro, e ficou ao lado de Enola. Allihanna entendeu e aceitou a decisão do sátiro. A deusa então se aproximou de Anix, Sairf, Squall e Nailo.
_ Vocês tem cuidado muito bem de minhas criaturas, e isso me deixa feliz! Quanto a você jovem ranger, saiba que eu acolherei seu companheiro em meu reino e cuidarei bem dele! Você sempre tratou muito bem dele, e poderá reencontrá-lo um dia, quando você deixar este mundo! Agora eu me despeço!!!
Um forte luz tomou conta do corpo do cervo branco, avatar de Allihanna. Todos ficaram ofuscados por um breve instante. Quando a visão dos heróis retornou, Allihanna já não estava mais lá. Em seu lugar, havia apenas uma única maçã vermelha como um rubi. Nailo recolheu a maçã do chão, enquanto Enola e Silfo se aproximavam do grupo.
Enola e Silfo se despediram com lágrimas nos olhos, agradecendo aos amigos pelos bons momentos que haviam passado juntos. Silfo abraçou a todos com emoção e, quando chegou a vez de Squall e Nailo, o sátiro não conteve as lágrimas. Silfo os abraçou com força, dizendo que os dois seriam sempre seus amigos. Enola se despediu abraçando cada um dos heróis. Cada um que recebia seu abraço caloroso sentia uma suave vertigem, talvez por causa de sua beleza estonteante, ou pelo poder da deusa, ainda presente no local. Então Enola abraçou Anix por um longo tempo. Suas lágrimas corriam pela sua face e ao caírem no chão, faziam brotar pequenos botões de flor. Enola acariciou o rosto de Anix, olhando profundamente em seus olhos, e disse que jamais o esqueceria.
_ Eu também não a esquecerei, Enola! Eu a amo!
_ Eu também o amo Anix!
Com lágrimas nos olhos, Anix beijou a ninfa, e aqueles poucos segundos pareceram uma eternidade para ele. Os lábios macios de Enola e o sabor de mel que vinha de sua boca eram como encontrar o paraíso em Arton. Se morresse naquele instante, Anix morreria feliz.
Enola terminou de se despedir de seu primeiro amor. Depois se aproximou de Nailo, tomando a maçã de suas mãos.
_ Esta maçã é um presente da deusa para vocês meus amigos. Ela tem o poder de eliminar todo o mal. Vocês saberão o melhor momento para usá-la!
Os heróis saíram do jardim, acenando para Enola e sentindo-se mais leves e felizes. Sem que nenhum deles notasse, todos os ferimentos que haviam recebido na luta contra os orcs haviam sido curados pela deusa da natureza. Assim, no dia do solstício de inverno, conhecido como noite longa, do ano de 1397, do calendário élfico, Anix e seus companheiros se despediram de Enola e Silfo, deixando para trás um grande amigo, e um amor verdadeiro.

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