junho 07, 2005

Capítulo 54 - Liberdade

O rei sabia que se os competidores pudessem nadar, os heróis não tinham a menor chance de vitória. Seria fácil para ele vencer daquele modo. Mas o rei era orgulhoso demais para desejar uma vitória fácil. Com a imagem da atitude honrada de Lucano ainda em sua memória, o rei ordenou que seus sahuagins competissem em iguais condições aos heróis. Para tanto, o monarca proibiu que os competidores nadassem. Todos teriam que correr, mantendo sempre os pés no chão. Aquele que violasse essa regra, levaria seu grupo à desclassificação. Ao ouvirem as palavras do rei, traduzidas por Sairf, os heróis sorriram, pois sabiam que agora tinham uma chance de vitória.
Todos se colocaram em suas posições na pista de corrida. Legolas seria o primeiro a correr, junto com o sahuagin da cicatriz. Depois seria a vez de Anix e seu adversário com o corpo manchado de vermelho. Lucano seria o próximo, disputando contra o mancha negra, seguido de Yczar e o sahuagin de escamas verde claras. Loand diputaria com o sahuagin de escamas escuras e Squall teria como adversário o de longas barbatanas. Por último, encerrando a competição, Nailo enfrentaria o sahuagin caolho.
A largada foi dada. Legolas abriu uma grande vantagem sobre seu adversário, entregando o bastão de coral para Anix bem antes dos sahuagins. Anix correu até Lucano, entregando o bastão para o clérigo. Lucano correu o mais rápido que podia, auxiliado pela magia divina de Yczar, mas seu oponente era muito veloz e começou a alcançá-lo. Em desespero, Lucano deixou o bastão cair no momento de passá-lo para Yczar. O sahuagin o alcançou. Parecia tudo perdido. Yczar e Lucano tentavam pegar o bastão do chão o mais rápido possível, enquanto assistiam à chegada do sahuagin. Mas os deuses estavam ao lado dos heróis. O mancha negra deixou o bastão cair no chão também, equilibrando a disputa novamente. Yczar saiu em disparada, lado a lado com seu adversário. Chegou a Loand com uma pequena vantagem, passando o bastão para o jovem paladino. Loand e Squall conseguiram manter a pequena vantagem, até que o bastão chegou até Nailo. O ranger correu o mais rápido que podia, mas seu adversário o alcançava pouco a pouco. Os dois ficaram lado a lado, Nailo colocou sua cabeça para frente e atravessou a linha de chegada com os olhos fechados. Após alguns momentos de espera, os juízes anunciaram o resultado. Nailo havia vencido por um nariz de diferença.
O estádio se calou enquanto os heróis comemoravam e o rei sahuagin se levantava para falar.
_ Vocês, criaturas do mundo seco, lutaram com honra e venceram meus soldados! Eu lhes dou os parabéns por esse feito e os liberto, como prometido! Vocês serão levados até a superfície, junto com seus objetos e animais, e serão deixados na ilha ou embarcação mais próxima! Vocês não devem jamais retornar aqui, nem revelar a localização desse local para ninguém! Para tanto, vocês terão seus olhos arrancados, assim não poderão encontrar esse lugar novamente!
Os heróis ficaram felizes e ao mesmo tempo apavorados. Seriam libertados mas teriam seus olhos arrancados pelos sahuagins. Os soldados já se aproximavam, empunhando adagas afiadas, quando os heróis interviram, intermediados por Sairf.
_ Vocês não podem arrancar nossos olhos, não seria justo, nós fizemos tudo certo, conforme combinado. Se querem proteger a localização da sua cidade, basta vendarem nossos olhos!
O rei ponderou por alguns segundos, enquanto coçava suas barbatanas. Deu um sorriso e concordou com o pedido.
Pedaços das roupas dos heróis foram arrancados para servirem de vendas. Todos foram amarrados e carregados no lombo de selakos para a superfície. Antes da partida, a sacerdotisa sahuagin lhes concedeu a habilidade para respirarem fora das águas mágicas, e eles partiram.
Após vários minutos, os heróis voltaram a sentir os sol ardendo sobre suas peles. Sabiam que já era quase noite, pois o sol já estava fraco. Navegaram nos tubarões por uns vinte minutos, sempre com o sol à esquerda, o que permitia deduzir que estavam indo rumo ao norte. Então ouviram gritos de várias pessoas e som de passos sobre a madeira. Sentiram uma grande sombra cobrindo o sol e ouviram uma voz familiar pedindo por cordas. Era Batloc.
Os heróis foram içados de volta ao Liberdade, junto com suas coisas e seus animais. Todos se abraçaram e comemoraram, emocionados, a volta do grupo de aventureiros. Batloc lhes contou que haviam esperado por um dia inteiro pelo seu retorno. O genasi de cobre mergulhava a todo instante no mar, junto com outros tripulantes, na esperança de encontrar algum sobrevivente do naufrágio do navio de Flat Nose. Quando todas as esperanças haviam sido perdidas, eles resolveram partir.
Batloc se tornou o líder da embarcação durante esse período. Coordenou os reparos do navio para consertar as avarias feitas pelos canhões dos piratas. Tornou-se encarregado pela proteção de todos à bordo, e, quando sentiu que não havia mais chances de reencontrar com o grupo de Yczar, decidiu partir, para garantir a sobrevivência dos que haviam permanecido no navio. Foi uma decisão dura para Batloc, mas ele sabia que não tinha outra escolha. O liberdade navegou meio dia em ritmo lento, pois todos os tripulantes estavam desmotivados pela perda dos heróis. Enola entristeceu e perdeu parte de sua beleza durante esse período. Batloc ainda teve outra tarefa difícil, sepultar seus irmãos, mortos em combate em Ortenko. O paladino encontrou os corpos dos outros genasis no porão do navio enquanto cuidava dos reparos da nau. Levou-os para o convés e fez uma prece a Khalmyr para que lhes desse um julgamento justo pelos seus atos em vida. Depois atirou os corpos ao mar, com lágrimas em sua face de cobre, despedindo-se de seus irmãos.
O retorno dos heróis trouxe a alegria de volta ao navio. Enola abraçava Anix em prantos, enquanto Silfo abraçava seus grandes amigos, Nailo e Squall.
No mar, os sahuagins se despediram, com os braços estendidos e os punhos fechados, enquanto os selakos submergiam lentamente. Os sahuagins desapareceram nas águas do mar negro e o Liberdade novamente seguiu viagem.
Nailo pediu ao capitão Engaris que assinalasse no mapa os locais do naufrágio do navio pirata e do resgate dos heróis. Desta forma eles teriam uma localização aproximada do reino dos sahuagins e poderiam utilizar essa informação, caso precisassem dela algum dia.

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