fevereiro 26, 2015

Capítulo 1 - Cieri

O cavalo saltou a janela, estilhaçando seu vidro como se atravessasse o papel. O negrume de seus pelos mesclavam-se com a escuridão da noite sem lua. Suas chamas, azuis como as que ardiam na mansão atrás dele, inflamaram com voracidade enquanto o animal ganhava altura no céu noturno da cidade de Vallahim. Montada em seu lombo macio e quente, Cieri observava do alto a cidade diminuir à medida em que subia. Via os cidadãos, a maioria lenhadores simples e rústicos, correndo em direção ao prédio em chamas, atirando baldes de água, terra, abafando as labaredas com cobertas. Um ou outro tentava invadir o orfanato em busca de sobreviventes, mas o fogo azul os impedia. Em coro diversas pessoas gritavam quando apontavam para ela no alto: “Olhem, é Ônix, a ladra! Foi ela quem pôs fogo no orfanato! Ônix matou as crianças!”. Era um ultraje. Encolerada, Cieri conduziu Kurama rumo ao sul. Iria para longe dali, distante daqueles imbecis ignorantes. Como ousavam acusá-la de incendiar o orfanato? Absurdo! Sob a identidade de Ônix, a ladra, Cieri cometera diversos crimes, mas nunca matara. E seus furtos destinavam-se exclusivamente a custear o orfanato e a seu próprio sustento (e ao de seu companheiro equino). Enquanto voava pelos céus, agarrada ao pescoço de Kurama, flashes de memória brotavam sua mente. Lágrimas escapavam furtivamente de seus olhos díspares, ainda que ela não se desse conta disso, nem jamais admitisse tal fato.
Lembrava de sua infância. Ainda bebê, Cieri fora abandonada na porta do orfanato, em Vallahim, capital do reino de Tollon. Seria criada como órfã, em meio aos lenhadores que viviam da extração da valiosa e mágica madeira negra das árvores que davam nome ao reino. Dentro do cesto onde repousava a menina havia apenas um bilhete com seu nome e uma adaga de lâmina negra. Assim, Cieri Nocts Hesperus foi recolhida por Sindra, a administradora do orfanato, uma mulher simpática e ao mesmo tempo rígida e sistemática com seus pupilos. Ao pegar a criança, Sindra notara suas características incomuns. Seus olhos eram de cores diferentes, o direito tinha tonalidade roxa, enquanto o esquerdo era azul como o firmamento. “Seus pais viajaram muito antes de deixá-la aqui, pequenina” – pensou a mulher, compreendendo o que aquilo significava. A garotinha era oriunda de Collen, um reino insular a sudeste, cujos nativos – sem exceção – possuíam olhos de cores distintas (e, por vezes, com poderes mágicos). Os da garota, como se soube mais tarde, eram capazes de enxergar auras mágicas, se assim ela desejasse. Mas havia outra coisa que chamou a atenção da mulher: uma cauda. Cieri possuía um rabo esguio e preênsil que terminava em uma membrana pontuda, como uma ponta de flecha. Sindra empalideceu, pois aquilo só poderia significar uma coisa: sangue de demônio. Ou o pai ou a mãe da garotinha era uma criatura infernal, concedendo-lhe de herança aquela característica que a marcaria para sempre. A despeito de tudo isso, Sindra levou Cieri para dentro do orfanato que fundara e, junto com as demais cuidadoras e crianças, lhe deu todo o amor e carinho que uma criança merecia.
Anos se passaram e a menina foi crescendo. Era esperta e aprendia as coisas com extrema facilidade. Era ágil como um gato e curiosa como poucos. Divertia-se com seus “irmãos” todos os dias. Adorava pregar peças em todos. Aos poucos foi descobrindo seus poderes. Aprendeu a controlar as habilidades de seus olhos mágicos ainda com seis anos e encantava-se quando algum aventureiro passava pela cidade, carregado de itens mágicos brilhantes e coloridos. Talvez por sua herança abissal, descobriu que todo metal tocado por ela tornava-se preto. Essa sua habilidade era motivo de diversão entre as crianças, mas de preocupação para as zeladoras do abrigo que temiam que aquilo pudesse prejudicar a menina de alguma forma.
Foi aos dez anos que Cieri conheceu os ensinamentos da deusa Allihanna. Um homem apareceu no casarão, dizendo que estava se mudando para a cidade e pedindo permissão para ensinar às crianças as maravilhas da natureza. Trajava sempre roupas escuras e simples, nada além de um casaco e uma calça perfeitamente ajustados ao seu corpo e de um lenço vermelho que sempre trazia amarrado ao pescoço. Seu nome ninguém jamais soube, mas era chamado por todos de Senhor. Com ele Cieri aprendeu a lidar com plantas e animais, além de alguns pequenos truques mágicos.
Os anos continuaram se indo e foi então que as coisas começaram a ficar difíceis. O dinheiro começou a rarear ao passo que as crianças sem lar começavam a crescer em número – contribuição da Tormenta que se espalhava por mais e mais lugares. Arrojada como sempre, Cieri decidiu ajudar. Tentou emprego em todos os estabelecimentos da cidade, mas suas tentativas foram em vão. Nenhum comerciante ou artesão desejava ter em seu quadro de empregados uma pirralha sem lar e tão estranha quanto ela. Revoltada, não desistiu. Ajudaria o orfanato e se vingaria dos que a tinham desprezado. Passou a observar a rotina dos comerciantes, e se aproveitava dos seus momentos de distração para cometer seus furtos. No começo eram uma ou outra fruta, um pedaço de pão, um corte de tecido. Mas, com o tempo ela foi se especializando, mapeou a cidade e criou rotas de fugas. Ocultou suas feições sob um manto negro reluzente, que lhe rendeu a alcunha de Ônix. Todos os dias chegava no orfanato com uma boa quantia em dinheiro, dizendo que o tinha conseguido trabalhando.
O tempo passou, Cieri cresceu, a fama de Ônix também. Seus crimes também eram cada vez mais ousados. Recrutou alguns companheiros na cidade e criou sua própria guilda. Guardavam os espólios em um esconderijo na floresta, num lugar que descobrira durante as aulas a céu aberto do Senhor. Sentiu que era hora de se mudar, encontrar um lugar seguro onde não pusesse o orfanato em risco. Juntou dinheiro por um ano inteiro, fez uma grande doação ao orfanato e foi se despedir, dizendo que iria conhecer o mundo e ir em busca de seus pais. Sindra lhe entregou a adaga negra que lhe fazia companhia em seu cesto quando fora deixada no abrigo, dizendo que ela poderia ajudá-la em sua busca. Parou em uma taverna para comer algo antes de partir e assistiu à apresentação de um bardo talentoso. Cantava uma canção heroica, a Balada da Forja da Fúria, que falava de um lugar não muito distante dali, onde havia uma dragoa e muitos tesouros.
Impressionada com o relato, Cieri partiu rumo ao local descrito pelo bardo em busca de suas riquezas. Invadiu o lugar pela passagem oculta mencionada na narrativa e o encontrou desolado. Sem sinal de tesouros ou da dragoa. Vasculhou cada canto da gruta e encontrou o cadáver da fera no fundo do lago subterrâneo. Retirou escamas e dentes, pois sabia que eram valiosos e continuou sua busca. Encontrou uma pedra negra, lisa e elíptica e soube que encontrara algo de muito valor: era um ovo.
Cieri retornou a Vallahim com seus espólios. Pagou um bardo para cantar uma história fantasiosa nas tavernas da cidade, dizendo que tinha encontrado a famosa Ônix na estrada e que ela poupara sua vida em troca dele espalhar a todos o seu grande feito, o roubo do tesouro da dragoa. Procurou seu antigo mestre e lhe presenteou com o ovo (não queria ter um dragão chocando em seu colo, seria muito problemático). Para sua surpresa, Senhor já sabia de tudo o que tinha acontecido, inclusive sobre seu alter-ego. Aconselhou-a a ir em busca de seu passado, desta vez de verdade, e lhe disse que deveria, antes de tudo, saber quem realmente ela era, conhecer-se antes de conhecer sua história.
Assim, seguindo os conselhos de seu mestre, Cieri partiu numa jornada de autoconhecimento. Vagou pelos fartos bosques de Tollon, penetrando cada vez mais profundamente na mata escura até ser atacada por algo monstruoso. Uma criatura horrenda, que lembrava uma massa disforme de carne que vagamente lembrava uma figura humanoide com expressão de eterna agonia em sua face deformada, surgiu repentinamente e se arrastou em sua direção ameaçadoramente. Sem hesitar, a mulher sacou sua adaga negra e atacou o monstro com desespero. Conseguiu derrotá-lo com grande esforço e, exausta, desfaleceu ao lado da poça de carne e sangue fétido que se formara.
Não sabe quanto tempo permaneceu inconsciente, mas quando acordou, notou que estava em um lugar diferente. Era um campo florido que rodeava um gigantesco carvalho sob cuja sombra Cieri repousava. Diversos pirilampos voejavam ao redor dela, agitados. Ela cerrou os olhos e notou que tratavam-se de pequenas fadas. Pairaram todas diante de seus olhos brilhantes e uma delas, que se destacava pelo longo vestido prateado e pela coroa dourada em sua cabecinha, foi até ela.
Fez o que a fada mandou até porque se ficasse mais forte seria mais fácil viajar pelo mundo para descobrir seu passado. Rumou mais para o sul e começou a conviver com os espíritos da natureza. Aprendeu a ter paciência e começou a entender a sabedoria que a floresta possuía. Certa vez, enquanto descansava, foi dar uma volta pela mata e encontrou uma curiosa e bela criatura. Era um filhote de cavalo todo negro, altivo e imponente. No lugar de sua crina, chamas azuis cintilavam majestosamente, assim como na parte traseira de suas quatro patas. Os espíritos desejavam expulsá-lo, pois o consideravam um ser das trevas. Indignada, Cieri advertiu as entidades para que lembrassem de seus próprios ensinamentos e que tivessem compaixão com a criatura que nenhum mal causara a eles. Passou a cuidar e a proteger o animal e lhe deu o nome de Kurama. Com seu novo amigo ela conseguia percorrer grandes distâncias rapidamente já que, além de belo e misterioso, o equino era capaz de voar magicamente. Juntos passaram a explorar a floresta, indo cada vez mais distante do local em que se conheceram. Num desses passeios conheceu uma mulher que habitava uma gruta com um sátiro. Seu nome era Enola e fora escolhida pela própria deusa Allihanna para proteger aquele santuário. Seu amigo se chamava Silfo e era uma criatura extremamente simpática e amigável, dono de um coração mole e de mãos habilidosas nas artes de esculpir e costurar. Também era um talentoso músico e um amigo como poucos. Passou um ano junto a eles e aprendeu com Enola muitas outras coisas, completando o treinamento que iniciara com Senhor. Cieri, de ladra, tornou-se druida e passou a proteger a natureza e a compartilhar seus misteriosos poderes. Então chegou a hora de partir.
Junto com Kurama, Cieri seguiu para o norte, adentrando o território das Montanhas Uivantes. Passou longo período em meio ao gelo e à neve, conheceu algumas tribos que habitavam aquela região inóspita e muito aprendeu com eles. Quando já estava exausta daquele lugar friorento, decidiu que era hora de procurar um lugar um pouco mais quente.
Rumou para sudeste, até a magnífica cidade de Follen. Suas construções impressionaram-na, tudo era feito para estar em perfeita harmonia com a natureza. As casas eram construídas sobre as árvores, mesclando-se a elas sem que nenhum galho fosse derrubado. Pontes de corda interligavam todas as habitações e estabelecimentos, formando verdadeiras avenidas elevadas. Elevadores de madeira e corda transportavam as pessoas para cima e para baixo incessantemente. Cieri tomou um destes transportes e entrou na Estalagem Última Chance. Sentou-se a uma mesa no salão principal, observando o movimento local, vendo os fregueses que vinham apenas para uma refeição ou uma bebida e os que vinham para se instalar no lugar. Alugou um quarto e ficou alguns dias na cidade, conhecendo-a. Finalmente encontrou o homem chamado de Gurt. Apresentou-se e disse ter sido enviada por Saphiri. O homem se negou, a princípio, a ensinar Cieri. Mas, obstinada como era, a garota passou a segui-la e a imitá-lo. Após muita insistência, ele finalmente concordou em treiná-la. Gurt era um grande acrobata que utilizava suas habilidades para percorrer Follen sem dificuldades. Ensinou suas técnicas à sua nova aprendiz. Um ano se passou e a fama da ladra Ônix chegou à cidade suspensa. Cieri percebeu que Gurt começou a desconfiar dela, pois notara que o homem era extremamente perspicaz. Quando começou a fazer perguntas suspeitas repetidamente, ela decidiu que era a hora de novamente partir. Sem dar muitas explicações, despediu-se de seu mentor e se foi. Gurt deu adeus sem questionamentos, apenas exibia um sorriso arrogante, como se tivesse confirmado suas suspeitas.
A druida e seu cavalo deixaram a cidade nas árvores e foram rumo ao norte. Depois de muito viajarem, parando de vila em vila, conhecendo pessoas, lugares e costumes, chegaram às proximidades do lugar onde Cieri encontrara o ovo da dragoa. Era início de verão e o clima era ameno. Cieri observava o céu noturno, perto da montanha do Dente-de-Pedra, as estrelas brilhavam lindamente naquela noite. Então viu uma estrela cadente riscando o céu, produzindo um brilho intenso. A faísca cruzava uma zona desprovida de estrelas no céu, indo em direção ao norte quando se extinguiu. Segundos depois Cieri ouviu um som ensurdecedor, como o de um instrumento musical estridente e desafinado. Parecia vir de todo e nenhum lugar ao mesmo tempo. Cieri encolheu-se, espantada com aquilo, abraçando Kurama com força. Quando o ruído terminou, a floresta retornou ao silêncio e Cieri notou que tudo estava realmente quieto. Quieto até demais. Nenhum cricrilar, pio, ou coaxar podia ser ouvido. Era, sem dúvida um mau presságio.
Querendo respostas e temendo pelas vidas daqueles que lhes eram caros, Cieri montou em Kurama e partiu. Rumou ao norte, para o Bosque de Allihanna em busca de seus mentores. Chegou apressada à gruta onde treinara durante cerca de um ano. Entrou em disparada, esperando ver o rosto peludo e amigável de Silfo. Porém, não encontrou viva alma em seu interior. Silfo e Enola tinham partido. Deixaram a gruta e foram até o enorme carvalho, que era a morada de suas amigas fadas e as encontrou aflitas.
_ Uma tempestade se aproxima! – disse a rainha das pequenas criaturas feéricas. Como previra Cieri, Aquele som era realmente um mau presságio. A garota permaneceu com as fadas por vários dias esperando que seus amigos retornassem. Nem mesmo as fadas sabiam o paradeiro deles. O tempo passou e, como nem Silfo nem Enola retornavam, Cieri sentiu um forte desejo de retornar a Vallahim, e rever as crianças e cuidadoras do orfanato em que crescera. Despediu-se das sprites e partiu junto com Kurama. Em sua mochila levava uma recordação de seu amigo, Silfo, uma pequena boneca de pano, espetada de agulhas que o sátiro utilizava em suas criações.
A saudade apertava seu coração à medida em que avançava em direção à capital. Mas não era apenas a saudade que a deixava angustiada. Tinha, na verdade, um mau pressentimento. Acelerou sua marcha e já a poucas léguas da cidade seus temores mostraram-se certos. Uma estrela cadente riscou o céu negro na direção da cidade. O brilho foi seguido de gritos desesperados que ecoavam por milhas na escuridão.
Cieri correu em direção à cidade e a viu em chamas. Ao chegar mais perto, notou que uma parte da cidade ardia sob labaredas azuladas. Pessoas corriam desesperadamente de um lado para outro, tentando em vão extinguir as chamas. Cieri rumou para o orfanato e testemunhou com tristeza o local de sua infância tomado pelo fogo. Os gritos das crianças podiam ser ouvidos a quilômetros de distância. As pessoas observavam, impotentes, à tragédia que acontecia.
Sem hesitar, a órfã invadiu o lugar, num ato heroico. Assistiu com assombro ao que ocorria lá dentro. Dezenas de crianças tomadas pelo fogo gritavam e choravam. Cieri se aproximou da primeira, tentando extinguir as chamas com um cobertor, mas fracassou. O fogo tomou conta da manta como que magicamente, sem emitir qualquer calor. Algo estava muito errado ali. A criança caiu no chão, já sem forças e desfaleceu. As chamas foram desaparecendo lentamente, enquanto o pequeno corpo tornava-se cinzento. Porém, para maior espanto da garota, não era em um monte de cinzas em que a infante se transformava, mas sim em pedra. Uma pedra cinzenta, porosa e gélida.
Cieri percorreu todos os quartos e em cada um a cena se repetia. Na cozinha algo ainda mais estranho aconteceu. A fundadora do lugar, Sindra, era carregada por uma estranha criatura, uma espécie de javali bípede, pesadamente protegido por armadura. Cieri não sabia se a mulher estava viva ou morta, mas tentou impedir o raptor mesmo assim. Foi cercada pelas chamas, e nada pode fazer a não ser ver a besta deixar o orfanato.
Cieri protegeu seu corpo com seu manto e correu para a entrada, quando encontrou com seu companheiro, Kurama. O cavalo invadiu o orfanato, aflito, jogou a menina em seu lombo e num salto majestoso ganhou as ruas. Lá fora, a cidade se reunia, armados de ferramentas rurais tentando feri-los. Estava claro para Cieri. As pessoas simples e ignorantes de Vallahim a culpavam pela tragédia. Relacionavam o misterioso incêndio às chamas de Kurama. Cieri não teve outra opção senão correu por sua vida.
Cieri voltou a si já a várias léguas ao sul de seu antigo lar. Parou para que Kurama pudesse descansar e para que ela pudesse organizar seus pensamentos, tentar entender o que acontecera e decidir o que faria a seguir. Escondida na mata, ouviu o som de uma flauta não muito distante. Seguiu a melodia com cautela e parou a poucos metros de sua fonte, apreciando as notas por um breve instante. Foi quando o rugido de uma fera a despertou do torpor. Instintivamente ela se preparou para o combate iminente. Fitou com os olhos mágicos a claridade à frente e se deparou com uma clareira. No centro dela uma fogueira ardia, aprazível. Diante dela um homem soprava delicadamente uma flauta de bambu e ao seu lado um gigantesco tigre se erguia, atento, pronto para atacar. Cieri congelou ao ver o tamanho da criatura e ficou mais paralisada ainda quando o homem interrompeu sua música e disse em voz alta:

Cieri hesitava sobre o que fazer. Então viu com assombro uma garotinha de não mais que quinze anos entrar na clareira. Para seu maior espanto, notou que a menina era cega.

Nenhum comentário:

Postar um comentário