maio 12, 2009

Capítulo 350 – Mais inimigos

_ Mex! – chamou Anix. – Posso chamá-lo assim, certo? Por acaso você tem um bom faro?

_ Claro que sim, elfo! Por acaso duvidas de minha capacidade? Por que queres saber? – disse o dragão, arrogante como sempre.

_ Consegue farejar algum cadáver? Assim poderíamos encontrar os vampiros restantes mais facilmente – disse o mago.

O dragão azul ergueu sua cabeça e cheirou o ar por um instante antes de sorrir maliciosamente.

_ Sinta o ar da noite, elfo. Está carregado do cheiro dos mortos. Eles estão por toda parte nesta torre maldita! – disse a fera alada.

Anix voltou ao corredor, onde seus amigos aguardavam, seguido de perto pelo novo integrante do grupo. Olhou ao redor. Restavam três portas a serem abertas. Duas estavam à direita, uma delas no meio do corredor e outra pouco antes do seu fim. A última porta estava à esquerda, a poucos metros de Anix, no final do corredor. Astutamente, o mago decidiu confiar no faro do dragão para escolher a porta e para tentar mandá-lo na frente, caso houvesse algum perigo aguardando além do corredor.

_ Vamos por aqui! – disse o dragão tomando o caminho da direita. – Abra a porta da esquerda, elfo. Eu abrirei a da direita.

Anix correu até o final do corredor, ficando diante de uma das portas, tentando impedir a ação da criatura.

_ Não! Vamos abrir somente uma porta de cada vez – disse Anix.

_ Já disse para não me dar ordens, elfo! Abra então a porta tu mesmo! – esbravejou o dragão, frustrando os planos do mago.

Anix se aproximou da entrada, encostou o ouvido na pedra fria e notou apenas o silêncio absoluto atrás dela. Legolas avançou para perto do amigo com o arco apontado para a porta, preparado para disparar caso alguma ameaça tentasse atacá-los de surpresa. O mago segurou a aldrava de metal e a empurrou. A porta rangeu e estalou, liberando grande quantidade de poeira há muito acumulada em suas dobradiças metálicas. Uma pequena sala se revelou em meio à nuvem de pó. Estava vazia, somente alguns punhados de entulho caído das paredes e teto jaziam no chão. Anix entrou na saleta e vasculhou todos os seus cantos em busca de algo útil perdido na sujeira ou alguma passagem oculta. Nada. O elfo deixou a sala, fechando-a ao sair e dirigiu-se à porta ao lado.

Anix repetiu o ritual anterior. Ouviu o silêncio atrás da porta e depois a empurrou lentamente. Desta vez nem poeira nem estalos, a porta deslizou suavemente, rangendo apenas de leve. Legolas mirou por cima da cabeça do amigo, Orion preparou a espada e Mexkialroy apenas olhava com curiosidade. Os demais, Squall, Nailo e Lucano, estavam diante da porta restante na ponta oposta do corredor.

_ Tome cuidado! Deve haver mais daquelas sombras por aqui! – alertou Anix antes de entrar na sala que se revelava diante de todos.

Dessa vez era um salão grande e quadrado. Tinha cerca de seis metros de parede a parede, teto alto como o restante daquele andar e era ocupado por diversos sarcófagos apoiados em pé nas paredes. Oposta à entrada havia uma outra porta de pedra que estava fechada. Anix entrou, adaga em punho, e se dirigiu ao primeiro sarcófago da direita. A tampa era finamente esculpida, exibindo em alto relevo a imagem de um elfo com feições reptilianas. Orion, que entrou logo em seguida, notou uma intrigante semelhança entre as figuras dos caixões e Squall. Seriam aqueles defuntos parentes do feiticeiro?

Anix abriu a primeira tumba. Nela encontrou um cadáver ressequido que despencou e se espatifou no chão, espalhando poeira velha por todo lado. Anix seguiu para o próximo sarcófago e o abriu. Estava vazio. O mago continuou abrindo as tumbas, seguindo pela sala em sentido anti-horário. Na sétima encontrou uma surpresa desagradável. Anix fitava a imagem na tampa quando notou algo suspeito: a boca da figura esculpida pareceu se mover. Mas, antes que ele pudesse reagir, um vulto negro, que lembrava vagamente uma mão, saiu de dentro da tumba e penetrou no peito do mago. Anix amoleceu enquanto sua força era drenada pelo espírito maligno. Legolas, que ainda tinha seu arco em alerta, disparou sem hesitação. A flecha atravessou a sombra negra e se chocou com a parede, quebrando-se sem ferir o inimigo.

Duas névoas negras saíram de outros dois sarcófagos. Flutuavam velozmente e lembravam vagamente a forma humanóide. Os fantasmas cercaram Orion e o atacaram simultaneamente. O guerreiro empalideceu ao sentir as mãos gélidas penetrando seu corpo e roubando-lhe o calor da vida. O guerreiro já perdia os sentidos quando Squall, que ouvira o dispara de Legolas, chegou voando pelo corredor e lançou raios flamejantes contra uma das criaturas, salvando o humano. O dragão vermelho cobria quase toda a porta com seu corpo agigantado, obrigando o azul a saltar sobre ele. Mexkialroy galopou pelas costas de Squall, saltou sobre Legolas e posou dentro da sala.

_ Sai da frente, Humano! Gritou o dragão azul. Abriu então sua bocarra, exibindo seus dentes assassinos e cuspiu um poderoso relâmpago contra os oponentes. O raio passou pelo primeiro espírito como se ele não existisse, envolveu o corpo de Orion, eletrocutando-o e chegou ao outro fantasma, arrancando dele um pequeno pedaço de escuridão que se desfez no ar. – Eu disse para você sair daí, humano tolo! – rugiu o dragão ao ver que Orion também fora ferido por seu ataque.

Anix aproveitou a chance para também atacar. Apanhou um frasco em sua mochila e despejou a água abençoada em seu interior sobre o espírito ao seu lado. Partes da sombra desmancharam como sal em contato com a água ao serem atingidas pelo líquido bento.

Com isso Orion estava finalmente liberto do toque mortal das aparições. Brandindo sua espada flamejante, o humano passou a golpear freneticamente o espírito às suas costas. A lâmina atravessou a forma negra diversas vezes, descrevendo arcos luminosos dentro da cripta. Poucos golpes, no entanto, foram capazes de causar algum tipo de ferimento na criatura. Felizmente o guerreiro contava com a ajuda de seus amigos. Três flechas fincaram-se no espírito diante de seus olhos, como se atingissem um pedaço esvoaçante de tecido negro. O último dos projéteis espalhou uma fina camada de gelo por toda a sombra. O gelo rachou e se despedaçou e o que restava do espírito sombrio se desfez no ar gélido.

Orion agradeceu a ajuda de Legolas com um abaixar de cabeça e virou-se para combater os inimigos restantes. Antes que seu corpo emoldurado em metal pudesse completar o movimento, sentiu novamente o toque frio em sua pele, penetrando sua carne até chegar ao seu coração. Seu corpo estremeceu e gelo, suas pernas fraquejaram e suas mãos poderosas quase não suportaram o peso da espada. Orion ainda viu outro vulto negro saindo de dentro de um sarcófago e atacando Anix de forma semelhante. A mão distorcida atravessou o peito do mago e roubou-lhe parte de sua vida. Anix caiu de joelhos, arfante.

Mesmo enfraquecido, Orion ergueu novamente a espada. Não se entregaria tão facilmente. Mas novamente não teve tempo de concluir seu intento. Um uivo nefasto soou ao seu lado, abalando sua vontade, assim como a de seus companheiros. No corredor, Galanodel, que vigiava as outras portas para o grupo, não resistiu ao temor causado por aquele som estarrecedor e fugiu. A ave refugiou-se encolhida num canto do salão de sacrifícios, totalmente apavorada. Orion olhou para o lado e viu um círculo negro se expandindo no chão até ocupar uma área de mais de dois metros. Uma figura assustadora emergiu do portal. Era um cão cinzento, grande e de aspecto demoníaco. Parecia envolto em sombras. O animal corcoveou para frente, rosnando de latindo. Sua mandíbula fechou-se sobre o ventre de Orion, perfurando o metal da armadura e a carne do humano. O monstro chacoalhou a cabeça sem soltar a presa, deslocando o humano enfraquecido e arremessando-o ao chão. Após isso o animal saltou para trás, ocultando-se nas sombras da parede e desaparecendo completamente. O mastim estava totalmente protegido em sua camuflagem de sombras, espreitando para atacar de surpresa quando os heróis menos esperassem.

_ Saiam todos da sala! – gritou Squall da porta. – Eu tenho um plano para pegá-los!

Sem hesitar, Anix, já quase sem forças, agarrou a perna de Orion e usou sua magia para teleportá-los para o topo da torre. Mexkialroy olhou para o vermelho com raiva. O azul detestava receber ordens, especialmente de criaturas inferiores. Mas, ao olhar para Squall, convenceu-se que o melhor a fazer era seguir a vontade do vermelho.

_ Venha elfo! O plano do Vermelho é bom! – disse o dragão ao virar-se para Legolas. Mexkialroy saltou sobre o arqueiro, batendo as asas para pegar impulso. Cravou as garras traseiras nos ombros de Legolas, com intenção de levá-lo junto, mas, o elfo recusou a ajuda e se soltou das patas do dragão. – Idiota! Recusas minha ajuda? Fique e morra, então!

Ignorando os resmungos do dragão, Legolas recuou para fora da sala enquanto puxava três flechas da aljava. Já do lado de fora, disparou ao mesmo tempo as três setas no fantasma mais próximo. Duas delas atingiram o espírito, reduzindo seu tamanho, enquanto a terceira passou por dentro de espectro sem causar dano. Como todos os companheiros fora da cripta, Squall pôs seu plano em ação. O vermelho se concentrou e revelou um novo poder. Esmagou uma pequena gema translúcida enquanto gesticulava e recitava palavras arcanas. Com um gesto de mão a poeira da jóia se espalhou no ar diante da porta, brilhando e flutuando ao redor da entrada segundo a vontade de Squall. A parede e a passagem brilharam por um breve instante e o efeito cessou aos olhos dos que assistiam à cena.

_ Pronto! Isso vai detê-los por um instante. Criei uma parede de energia invisível, igual à que Zulil usou contra nós no castelo! – Explicou Squall.

As duas sombras restantes Avançaram contra os heróis. A primeira foi de encontro à porta e chocou-se na muralha, tal qual Squall havia dito. A segunda tentou atravessar a parede, perfazendo o caminho mais curto até seus alvos, mas também foi detida pela barreira mágica. Vendo-se impossibilitadas de seguirem adiante, os espíritos atravessaram o solo e desapareceram.

_ Depressa, Mex! Voe! Fique acima do solo! Legolas, sua em minhas costas! Eles vão tentar nos atacar por baixo! – disse Squall. Os três saltaram para o alto e, segundos depois, os espíritos emergiram do chão no lugar onde eles estavam. Squall e Mexkialroy atacaram com seus sopros mágicos e Legolas disparou uma chuva de flechas nos fantasmas que subiam em sua direção. As sombras foram envoltas por fogo, gelo e eletricidade e foram completamente destruídas. Os três retornaram ao solo, Legolas botou mais três flechas em seu arco e apontou-o para frente, para a porta.

O mastim das sombras correu em direção ao arqueiro. Saltou com as presas à mostra, mirando seu pescoço e chocou-se contra a parede invisível. O animal se levantou ainda atordoado e passou a atacar a parede com as patas, tentando destruí-la em vão.

_ Vamos atacá-lo todos juntos! Eu fico na frente! Mex, fique em duas patas e dispare seu relâmpago por cima de mim. Squall, você é o mais alto, fique acima de nós dois e ataque com suas chamas – disse Legolas, parando diante da porta com as flechas direcionadas para o cão sombrio.

_ Boa estratégia, elfo! Não és tão inútil quanto eu pensava! Se continuares assim, ganharás meu respeito! – disse o dragão erguendo-se e apoiando-se nos ombros do arqueiro. Por último veio Squall, esticando seu longo pescoço vermelho por cima dos dois companheiros.

Squall fez um gesto e a magia que aprisionava o mastim se desfez. Flechas se cravaram no dorso do animal instantaneamente após a passagem se abrir. Em seguida um raio fulminou o cão, seguido de um turbilhão incandescente. O corpo carbonizado caiu no solo e desapareceu magicamente, provando tratar-se novamente de uma criatura invocada de outra dimensão.

_ Essa foi muito boa! Toca aqui! – gritou Legolas, erguendo a mão na direção de Mexkialroy. O dragão apenas olhava indiferente. – Mex, estenda a mão! – disse o arqueiro.

_ Já disse para não me darem ordens! – resmungou o azul.

_ Não! Você está confundindo. Não estou dando ordem. Apenas faça isso. Quero lhe ensinar como nós fazemos para comemorar uma vitória – disse o elfo. Desconfiado, o dragão esticou a pata direita. Legolas ergueu a mão e bateu na pata de Mexkialroy, depois repetiu o gesto com Squall que em seguida fez o mesmo com o azul. – Isso ai! Vencemos! – comemorou o arqueiro.

_ Está bem! Agora chega de gracinhas! Vamos procurar os dois inúteis que sumiram! – disse o dragão dando as costas para os dois companheiros. Secretamente, o dragão olhou para a pata e esboçou um sorriso.

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