junho 03, 2010

Capítulo 366 – Corredor em chamas



O sol raiou no céu de Galrasia, banhando a ilha pré-histórica com calor e luz. Era o vigésimo quarto dia do mês e o olho de Azgher brilhava intenso já muito acima do horizonte quando os heróis despertaram de seu pesado sono. Seus corpos cansados e feridos estavam doloridos devido às intermináveis lutas na noite anterior. Mas o cansaço vinha acompanhado de satisfação e alívio, pois um poderoso inimigo havia sido finalmente derrotado. O caminho até Zulil e até o resgate das almas de suas amadas tornava-se menos difícil. Entretanto, ainda havia uma árdua jornada pela frente, na qual os heróis estavam em clara desvantagem.
_ Nossos inimigo não cansam, não precisam se alimentar, não precisam dormir. Já estão mortos, ao contrário de nós – comentou Legolas, mastigando um naco de pão criado magicamente por Lucano. A constatação de que os mortos-vivos possuíam algumas vantagens em relação aos vivos dava um pouco de crédito às crenças de Zulil.
_ Sim, Legolas tem razão – concordou Anix. – Precisamos pensar em algo para impedir que eles tirem vantagem disso.
_ Proponho trocarmos o dia pela noite! – sugeriu o arqueiro. Seu semblante era sério e uma névoa fina e gelada o cercava. – Nossos inimigos se escondem durante o dia, por medo do sol. Dormiremos também durante o dia e recuperaremos nossas forças sem temer novos ataques como o de ontem. Assim, quando chegar a noite e nossos inimigos despertarem, nós também estaremos acordados e a plenas forças para combatê-los!
_ É uma boa idéia! – concordou Orion. Nailo, e os outros balançavam as cabeças positivamente, também aprovando a sugestão.
_ Tolos! – rugiu Mexkialroy, com escárnio. Diante do assombro de todos, Kátia parecia a única a concordar com dragão. – Tu o disseste, elfo. Nossos inimigos repousam durante o dia, enquanto estamos acordados. Logo, estão todos vulneráveis, indefesos, enquanto o sol brilha. Aproveitemos esta chance para acabar com a maior quantidade deles antes do anoitecer. Quando a noite finalmente chegar, estaremos em vantagem, já que o número de oponentes estará reduzido.
_ O dragão está certo! – completou a halfling. – Além disso, podemos montar turnos de guarda durante a noite, e contamos com magias para nos alertar da presença dos inimigos.
_ Sim, eu posso vigiar durante a noite – voluntariou-se Galanodel.
_ Vejam elfos! Não há o que temer! Ao invés de nos acovardarmos, devemos atacar com todas as forças. Vamos massacrar esses vermes podres como fizemos na noite anterior. Agora levantem e vamos logo mastigar os nossos inimigos – o dragão azul se levantou, imponente, tomando a frente do grupo, como se o liderasse. Convencidos pelas palavras de Mexkialroy, os heróis se aprontaram e prosseguiram.
Minutos depois estavam novamente no andar abaixo deles, o quarto nível da torre a partir do alto. Nailo viu com assombro o emaranhado de pegadas que tinham pisoteado o chão, finalmente percebendo a dimensão real da batalha que haviam travado na noite anterior. Legolas abriu cuidadosamente a porta onde antes existia a armadilha mágica. Sem surpresas desagradáveis desta vez, o arqueiro avançou aliviado. Porém, sua mente, e as dos companheiros, se voltava para Relâmpago, preocupada com o destino final do companheiro de Nailo. Legolas, seguido dos amigos, avançou pelo salão onde a estátua de mármore repousava e abriu a porta que conduzia adiante, caindo na cilada de seus inimigos.
Uma rocha do tamanho de uma cadeira caiu em cima de Legolas, jogando o elfo para trás, ferido. O arqueiro olhou através da passagem e viu vários girallon no salão após a porta. O chão ao redor das criaturas estava cheio de pedras, prontas para serem arremessadas contra os invasores.
Uma flecha voou ligeira, antes que outra rocha pudesse ser erguida, e atingiu um dos monstros, ferindo-o com gravidade. Legolas invadiu o salão, seguido por Orion e Mex, que cuspia faíscas elétricas nas criaturas.
Os monstros revidaram, lançando rochas nos heróis com violência. Nailo tentou a diplomacia, mencionou a presença de Squall e prometeu libertar os símios. Mas uma voz metálica vinda do corredor atrás dos gorilas sepultou qualquer esperança de paz.
_ Não há herdeiro algum! Eles são impostores! Acabem com todos, ou serão castigados!


Impelidos pela ordem de seu mestre oculto, os girallon se armaram novamente. Nailo sacou suas espadas, frustrado. Teria novamente que matar inocentes para sobreviver. O ranger avançou, anda relutante, quando uma parede mágica e invisível se formou à sua frente, bloqueando uma das pedras arremessadas contra ele. Era Squall.
O feiticeiro invadiu a sala, já transformado em dragão, aterrorizando os girallon com sua presença e seu tamanho. Alguns gorilas fugiram para o corredor, outros paralisaram de medo e permaneceram no lugar e outro, ainda indeciso entre lutar ou não, desistiu do combate assim que Orion se aproximou dele e o ameaçou de morte.
Squall dissipou o muro de energia e cuspiu fogo nos gorilas amedrontados. Legolas e Orion atacaram o que parecia ser o líder dos símios simultaneamente, matando-o, enquanto Mexkialroy eletrocutava os restantes com seu poder. Nailo seguiu os inimigos em fuga pelo corredor. Os gorilas fugiam apoiando-se nas paredes com habilidade espantosa. Quando o ranger tocou o chão além do salão, entendeu o porquê da escalada. O piso estava todo coberto por uma grossa camada de óleo combustível, que se inflamou assim que um dos fugitivos atirou uma tocha ao solo. Nailo viu uma porta poucos metros à frente, na parede da direita, e já corria em direção a ela quando uma esfera de fogo voou de encontro ao seu corpo. O Guardião foi atingido por uma bola de piche em chamas, e seu corpo começou a pegar fogo. Desesperado, o ranger se debatia, tentando se livrar do piche incandescente, mas acabou escorregando e caindo no chão, piorando ainda mais a sua situação.
_ Esse fogo não me assusta! – rugiu Squall, vendo o corredor em chamas. O Vermelho avançou, seguido de Legolas que subiu em suas enormes costas para ficar a salvo das chamas. Ambos viram a situação desesperadora de Nailo, e viram os inimigos à frente. No final do corredor, protegido por uma barricada de entulho, um girallon disparava uma pequena catapulta carregava com bolas de piche flamejante. Mas os dois nada puderam fazer contra o inimigo ou a favor de Nailo, pois os girallon que viravam à esquerda no final do corredor, acionaram uma armadilha. Um dos macacos soltou uma corrente em seu caminho e uma pesada rede, feita de correntes de aço, se precipitou sobre Legolas e Squall. Os dois foram ao chão, presos a ele pelo peso das correntes. E a situação de Nailo se agravou ainda mais, pois agora ele também estava e imerso num mar de fogo.
No salão anterior, Anix fulminava os inimigos restantes com magia, tirando-lhes a vida. Um dos girallon, que estava paralisado de medo, foi derrubado por Orion e amarrado por Luskan e seus subordinados. Com a situação sob controle, Anix deixou o salão por conta de Luskan e os outros e voou para ajudar seus amigos no corredor. Disparou uma bola de fogo mágica contra o controlador da catapulta, deixando-o extremamente ferido e assustado. O mago ria, zombando do inimigo, quando uma pedra o atingiu, quase o derrubando no fogo. Os girallon que tinham fugido, retornavam ao combate, arremessando rochas no final do corredor, onde ele fazia uma curva para a esquerda. Furioso, o mago voou até os inimigos, disparando uma rajada de energia prismática contra eles, fazendo-os sentirem os mesmos efeitos da armadilha que tinham preparado no dia anterior. Dois deles caíram mortos pela magia, outro, assim como acontecera com Relâmpago, desapareceu, enviado para outra dimensão, e os demais ficaram gravemente feridos pelo poder do mago.
Mexkialroy e Orion juntaram-se ao grupo. O humano subiu nas costas de Squall, desajeitadamente, caindo diversas vezes. O dragão voou sobre todos e pousou dentro da sala para onde Nailo tentava ir.
_ Venha para cá elfo! Saia logo deste fogo! – chamou o dragão. Mas, o que parecia ser um refúgio seguro, revelou-se outra armadilha. Diversos mortos-vivos cercaram o dragão enquanto ele tentava ajudar Nailo, e o atacaram. As criaturas inumanas drenaram a vitalidade do dragão com suas garras, obrigando-o a fugir. Mex voou pelo corredor, seguindo Anix, e, irritado por ter sido ferido, matou o girallon na catapulta com seu sopro elétrico.
Nailo, com muita dificuldade conseguiu se levantar e escapar da rede. O elfo correu para fora do alcance do fogo, entrando na sala repleta de mortos-vivos. Com o corpo ainda coberto de piche em chamas, Nailo começou a retalhar os inumanos que o atacavam. Orion desceu correndo pelo pescoço de Squall e uniu-se a Nailo. Unidos, os dois guerreiros foram formando uma pilha de corpos picados à sua volta.
Legolas e Squall tentavam se libertar da corrente, mas, mesmo ainda presos, os dois atacavam seus inimigos, disparando fogo e gelo nos girallon e nos mortos-vivos. E quando a balança do combate parecia finalmente pender a favor dos companheiros, uma mão fantasmagórica surgiu magicamente flutuando acima dos heróis.
A porta atrás do artilheiro abatido se abriu e de trás dela surgiu um genasi de cobre. O homem metálico assumiu o lugar do símio morto e começou a disparar pelotas de piche contra os heróis. A massa negra e pegajosa aderia ao corpo de cada um dos companheiros atingidos e se incendiava a seguir, a se tocada pelas labaredas que se erguiam do chão chamejante.
A mão mágica desceu sobre Anix, atingindo o ombro esquerdo do mago. Anix sentiu algo agarrando sua perna no mesmo instante e sentiu sua mente ficando confusa, perdeu o fôlego e por pouco não desabou nas chamas. Agarrando-se à vassoura com devoção, Anix viu um genasi de prata aparecer ao seu lado, tornando-se visível após atacar o elfo.
Pedras continuaram voando contra os heróis, assim como bolas de piche em chamas. O genasi de prata, gritava ordens para seus subordinados enquanto usava a mão espectral para atacar os invasores com suas magias debilitantes.
Os heróis revidavam. As espadas de Orion e Nailo derrubavam os inumanos aos pedaços, um após o outro. Anix usou poderes necromânticos para deixar os genasis e girallon exaustos, depois, junto com Mex, descarregou uma corrente de relâmpagos sobre os inimigos. Muito enfraquecido pelos ataques do homem prateado, Anix foi forçado a recuar. Mas Legolas o substituiu, disparando uma saraivada de flechas nos adversários, após se libertar da rede de aço. Os projéteis congelados foram acompanhados por uma torrente de chamas, cuspida por Squall.
O genasi de cobre, que avançava na direção do grupo rodopiando seu mangual, tombou no meio do fogo com uma dúzia de setas de gelo cravadas em seu peito. Carregado por Galanodel, Orion despencou do alto diante do genasi de prata que perseguia Anix. O guerreiro ergueu os olhos para o novo adversário ao mesmo tempo em que a lâmina de sua arma subia e atravessava o estômago prateado em seu caminho. O genasi tombou para trás, sem vida, quando Orion terminou de se colocar em pé. Os girallon no final do corredor também não representavam mais ameaça, pois já serviam de almoço para Mexkialroy.

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