junho 28, 2010

Capítulo 368 – Orion desarmado




Nailo cruzou a porta que dava acesso a uma sala grande, na borda da torre. Seus amigos já estavam todos reunidos, combatendo estranhas criaturas construídas a partir de partes de corpos de seres diferentes. Eram golens feitos de carne, conforme Anix explicou posteriormente. As quatro criaturas possuíam asas dracônicas e voavam, ainda que desajeitadamente.
O ranger sacou suas espadas gêmeas e lançou-se ao combate ao lado dos companheiros. Suas lâminas de mithral cortavam com dificuldade os corpos costurados dos monstros, o faiscar mágico, capaz de matar, era ineficaz contra elas.
Squall cuspiu fogo nos monstros, apenas para vê-lo se desmanchar ao tocar os corpos dos inimigos, como fumaça espalhada por um vento forte. O dragão vermelho voou sobre o campo de batalha, caindo atrás dos adversários, para então feri-los com mordidas e arranhões.
Legolas disparava suas flechas incessantemente. Tal qual o fogo e a eletricidade de seus amigos, o gelo mágico de seu arco não surtia efeito nas criaturas. Da mesma forma, as chamas da espada de Orion nada causavam aos monstros, e sua lâmina, embora pesada, pouco dano causava nos inimigos.
Anix e Lucano testavam magias uma após a outra, buscando um possível ponto fraco nos inimigos, enquanto que Luskan e os demais forneciam apoio, flanqueando os golens e distraindo-os. Já que seus ataques eram ainda menos eficazes, os aventureiros mais jovens ajudavam os mais experientes a atacar com maior liberdade.
Os monstros revidavam os ataques rasgando os corpos dos heróis com suas garras hediondas. O sangue dos aventureiros vertia em abundância, ao passo que os corpos sem vida das criaturas pouco sofriam.
Mas, os servos de Gulthias estavam em minoria e além disso os heróis contavam com uma ajuda inesperada. Rhunad finalmente tomou parte na batalha. Suas correntes serpenteavam de um lado para outro, perfurando e rasgando impiedosamente os corpos das criaturas.
Com a ajuda do baatezu, pouco a pouco as defesas dos monstros foram sendo vencidas até a total derrota dos golens. Restaram apenas os heróis vitoriosos e os pedaços dos monstros espalhados por todos os cantos da sala. Os heróis cercavam Rhunad, admirados com suas exóticas habilidades. Desejavam que ele permanecesse para ajudá-los, pois toda ajuda contra Zulil, Teztal e Gulthias seria bem vinda. Porém, todos sabiam que era impossível contar mais com o auxílio dele. Cientes do dever a cumprir, os heróis finalmente deram ao diabo a liberdade há tanto esperada. Foi Anix quem tomou a palavra e traduziu em sua fala o sentimento de todos.
_ Rhunad, nós agradecemos pela ajuda e pelas informações que nos deu. Elas serão de grande valia na batalha inevitável que teremos contra Zulil. Gostaríamos que você pudesse ficar mais e nos ajudar a derrotar o vampiro, mas, como sabemos que isto não é possível, nós o libertamos, conforme tínhamos combinado. Não queremos atrasá-lo ainda mais e piorar sua situação quando se encontrar com seu mestre, então, você está livre para partir.
_ Eu agradeço pelo que fizeram por mim – o baatezu fez uma mesura. – Partirei agora para o castigo que me aguarda. Não sei se nos encontraremos novamente algum dia, mas saibam que sua nobreza será conhecida entre seus inimigos, antes mesmo de vocês os verem. Obrigado e adeus – Rhunad fez um aceno discreto e, sorrindo, desapareceu num lampejo, retornando ao seu mundo de origem. Mesmo que não desconfiassem disso, aquela não seria a última vez que os companheiros veriam aquele Kyton.
_ Vamos em frente! – chamou Legolas.
O grupo prosseguiu, abrindo a porta que dava saída para um novo corredor, estreito, na borda da torre. O corredor terminava em outra porta de pedra, igual a todas as outras da torre. Atrás dela encontraram finalmente a escada que conduzia para o andar inferior.
Um a um os aventureiros desceram os degraus do longo caracol de pedra até chegarem ao quinto nível da masmorra. Chegaram a uma saleta semelhante à anterior, que continha apenas a escada e uma porta que levava para o desconhecido. Orion ia à frente iluminando o caminho. Nailo vinha logo atrás, seguido por Legolas, Squall, Lucano Luskan e seu grupo e por último Anix, flutuando sentado na vassoura mágica. Mexkialroy caminhava ao lado de Squall e Cloud voava sobre a cabeça do dragão azul, ao lado de seu dono. Galanodel também os seguia, vindo bem mais atrás de todos, colocando-se sempre em posição segura, conforme pedido por Orion. Sua filha, Alven viajava pousada sobre o ombro de Lucano, o elo que ligava os dois se fortalecia cada vez mais.
Nailo seguiu o curso de ação que já se tornava protocolo do grupo. Colou os ouvidos na porta e ouviu o silêncio que havia além dela. Procurou por armadilhas na fechadura e por pegadas no chão. Os rastros eram confusos e indecifráveis, a despeito da habilidade do ranger, já que uma centena de zumbis havia caminhado por ali poucas horas antes. Após de dois minutos de espera, quando Nailo acreditou que era seguro, Orion finalmente recebeu permissão para abrir a porta.
A bota pesada do guerreiro empurrou a pedra com força para dentro de uma sala empoeirada e apertada. O local deveria ter cerca de dez metros de largura e apenas uns quatro de profundidade. Várias prateleiras se enfileiravam por toda a extensão do lugar, formando um pequeno labirinto. Sobre estas prateleiras havia centenas de urnas de cerâmica e várias delas estavam caídas pelo chão, quebradas, revelando seu sinistro conteúdo: ossos e cinzas. As ânforas na verdade eram urnas funerárias, muitas delas identificadas, dos antigos habitantes da espiral, antigos cultistas adoradores de Ashardalon. Havia uma porta na parede em frente à entrada, e uma outra à direita, na mesma parede pela qual os heróis chegavam.
O grupo se dividiu explorando rapidamente o ambiente. Impaciente, Legolas dirigiu-se diretamente para uma das portas, à que ficava ao lado da entrada. Nailo seguiu para a saída da parede oposta, passando seu pequeno camundongo, Sr. Jingles, por baixo da passagem para espionar o outro lado. Orion seguiu pela esquerda, indo até o final do corredor sem saída, onde uma pilha de cinzas e ossos no chão chamava sua atenção. Os demais se aglomeravam na entrada, aguardando por uma decisão dos exploradores. Foi quando Orion gritou.
Uma espécie de tentáculo pegajoso surgiu abruptamente de trás de uma das estantes no final do corredor onde o humano estava. A haste era repleta de pelos ou pequenas patas, como uma pena, que se agarraram à espada e ao escudo do humano, enrolando-se em ambos. As armas tornaram-se amarronzadas e transformaram-se em pó instantaneamente. O guerreiro viu um par de olhos avermelhados fitando-o da escuridão atrás das urnas, momentos antes da criatura saltar sobre ele. Era um monstro de aparência insetóide do tamanho de um pônei. Tinha quatro patas articuladas de formiga e corpo compacto e rígido como o de um besouro amarronzado. Sua cauda recoberta de placas terminava em uma projeção óssea semelhante a um remo duplo. Abaixo dos olhos se projetavam as estranhas antenas que tinham arruinado as armas do humano, transformando-as em pó de ferrugem.
_ Ajudem! – gritou Orion, engalfinhando-se com a criatura. – Um monstro da ferrugem!
Prontamente, Legolas disparou uma saraivada de flechas. Apenas duas delas conseguiram penetrar na dura couraça do monstro, cravando-se profundamente em sua carne e deixando um rastro de gelo em precipitação pelo ar. Nailo voltou rapidamente, evocando o poder de suas espadas, erguendo-as com rapidez enquanto uma coluna de fogo surgia do chão, acompanhando o movimento das armas. As chamas envolveram Orion e seu atacante, calcinando-os.
O guerreiro se debatia, envolto pelo fogo, golpeando o inimigo com os punhos. As antenas do monstro se agitavam velozmente, enroscando-se nos objetos de metal do guerreiro, enquanto as quelíceras da criatura agarravam o pescoço do humano. A armadura de Orion esfarelou-se completamente e suas manoplas só não tiveram o mesmo destino por causa da magia nelas imbuída que as protegeram. Mas o monstro continuava atacando, de modo que todo o equipamento do guerreiro fatalmente desapareceria da face de Arton, deixando-o desprotegido.
Squall disparou um raio mágico no monstro, reduzindo sua força física para que Orion conseguisse escapar de seu abraço mortal. Mas Orion continuava preso, seu sangue escorrendo farto pelos buracos no pescoço. Mexkialroy tomou parte na batalha, saltando de prateleira em prateleira, até enxergar o inimigo. O dragão abriu a boca e o relâmpago que dela saiu iluminou todo o corredor. A criatura e o humano contorceram-se, sentindo os efeitos da eletricidade. Ferido, o monstro finalmente libertou sua presa e começou a recuar para a escuridão da prateleira.
Legolas retesou o arco, quatro flechas preparadas na corda. Disparou. As quatro setas de gelo, criadas por ele próprio, voaram juntas como uma só, até se unirem numa única estaca de gelo que perfurou a cabeça do monstro num estalido. O corpo da criatura pendeu inerte, pendurado na estante que agora abrigava mais um cadáver.
_ Orion, você está bem! – perguntou Nailo.
_ Só um pouco machucado – respondeu o humano. Seus olhos baixaram para o piso, para a pilha de ferrugem que eram suas armas. – Monstro maldito! – resmungou o guerreiro, apanhando a maça presa à cintura. – Eu gostava daquela espada. Agora vou ter que me virar com a minha maça.
_ Pense que poderia ser pior. Você conseguirá outra espada – disse Nailo, pousando a mão sobre o ombro de Orion. – Antes ela que a vida. Ainda bem que estávamos por perto. Vamos prosseguir. Eu assumo a dianteira agora, fique mais atrás e tome cuidado.
Agora com o torso desprotegido e sem sua poderosa arma, Orion seguiu em frente com seus amigos. Juntos, dirigiram-se para a porta oposta à entrada, onde o pequeno rato os aguardava, ansioso.

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