junho 22, 2010

Capítulo 367 – Servo do mal



Após vencer o combate, todos deixaram o corredor em chamas e respiraram por alguns instantes. Enquanto descansavam, investigaram os locais ao redor, a sala onde os genasis estavam escondidos até entrarem no combate, a sala dos inumanos, o próprio corredor. Havia uma porta no final do corredor, depois dele se dobrar para a esquerda e havia outra, lacrada, ao lado daquele em que Orion e Nailo tinham destruído os mortos-vivos.
_ O que será que há atrás daquela porta? – perguntou Legolas, curioso.
_ Não sei, mas seja o que for, é importante. Olhe aquele desenho – respondeu Anix, apontando para um círculo rodeado de símbolos mágicos inscrito na porta.
_ Bem, vamos descobrir! – disse Orion, levantando-se e chutando a porta com força. A pedra estremeceu ante o pé do humano, mas, ao invés de ceder, revidou o golpe com uma potente descarga elétrica. Uma armadilha mágica lacrava a passagem.
_ Deixem comigo, vou entrar lá e ver o que há lá dentro – disse Legolas, retirando de sua mochila um elmo em forma de cabeça de chacal. O arqueiro colocou o elmo que pertencera à múmia em sua cabeça e se concentrou, ativando o poder mágico da peça. Legolas desapareceu, teletransportado para algum outro lugar.
Os companheiros gritaram por Legolas, esperando que ele respondesse de além da passagem lacrada. Mas o silêncio e o crepitar das chamas foram as duas únicas respostas que ouviram.
_ Idiota! Magia de teletransporte não funciona aqui dentro. Só os aliados de Gulthias conseguem utilizá-la aqui – bufou Anix. – Venham, vamos procurá-lo. Ele pode estar em qualquer lugar da torre, ou até mesmo fora dela – o mago chamou os companheiros e se dirigiu para a saída.
_ Nós ficaremos aqui, Anix – disse Nailo. – Não perderemos o terreno já conquistado para nossos inimigos. Esperaremos vocês voltarem.
Novamente os heróis se separaram. Anix, Lucano e o grupo de Luskan foram em busca do arqueiro, enquanto Nailo, Orion, Squall e Mexkialroy os aguardavam.

●                     ●                     ●                     ●                     ●

Anix encontrou Legolas caído do lado de fora da torre, aos pés do desfiladeiro. O elfo estava inconsciente e seu corpo trazia as marcas de inúmeros ferimentos. As marcas no chão revelavam que ele tinha caído de uma grande altura, possivelmente rolando penhasco abaixo, o que explicava os cortes e arranhões.
Lucano usou sua magia divina para curar o corpo do amigo. Quando finalmente despertou, Legolas contou o que lhe acontecera:
_ Eu me teleportei, pensando que ia conseguir entrar na sala lacrada. Mas apareci dentro de um lugar apertado e escuro. Percebi que era um tubo de ferro muito comprido. Ai lembrei daquele cano onde o tal de Oggunon estava aprisionado. Ouvi um som de alguma coisa rastejando abaixo de mim e desejei sair dali. O elmo me transportou para um lugar ainda mais apertado, era como se eu estivesse dentro da montanha. Senti meu corpo sendo puxado com força através da rocha e desmaiei. Achei que tinha morrido, mas parece que dei sorte desta vez.
_ Sim, foi muita sorte. Principalmente agora que você já gastou a sua pulseira para matar a múmia­ – disse Lucano. – Ainda bem que você está vivo.
_ Bem, vamos voltar logo. O Nailo pode estar precisando de nós – sugeriu Anix. Todos concordaram.

●                     ●                     ●                     ●                     ●
Uma hora já havia se passado desde a partida de Anix. Impaciente, Orion se levantou, decidido a arrombar a porta. Nailo se juntou a ele juntos os dois conseguiram por a barreira abaixo. Uma saleta diminuta se revelou e dentro dela o ruído metálico de correntes revelou a presença de seu ocupante. Um ser parecido com um humano na forma e tamanho estava diante dos heróis. Era envolto por grilhões e ferro, como se fossem mortalhas, todas terminando em um gancho, uma lâmina ou uma bola pesada e cheia de cravos pontudos. As inúmeras correntes serpenteavam e deslizavam pelo corpo da criatura, como se estivessem vivas. Um círculo mágico traçado no chão com pó de prata, idêntico ao que havia na porta, selava o ser em uma prisão que poderia ser eterna.
_ Um Diabo das Correntes! – exclamou Anix, perplexo, que acabava de chegar de volta ao corredor.
_ Diabo? Vamos destruí-lo! Ele é maligno! – gritou Luskan.
_ Esperem! – pediu o diabo. – Ouçam o que tenho a dizer primeiro.
O diabo, um kyton, como ele mesmo explicou, era prisioneiro de Gulthias há muito tempo. Seu nome era Rhunad, e revelaria tudo o que sabia sobre o vampiro e sobre seu covil, caso fosse libertado pelos heróis. A criatura desejava apenas retornar ao seu mundo de origem, onde seu mestre o aguardava, certamente com um castigo preparado para puni-lo por sua longa ausência.
_ E qual é o nome de seu mestre? – perguntou Orion.
_ Gehörnt! – respondeu o kyton, causando espanto.

●                     ●                     ●                     ●                     ●

Ashardalon, dragão de extremo poder, era adorado como um deus pelos mortais. Em sua ânsia de poder, a criatura arrancara o próprio coração e o substituíra por um demônio, tornando-se ainda mais forte. Porém, Ashardalon morrera eras atrás, sem deixar evidências do paradeiro de seu corpo. Seu coração, entretanto, fora resgatado e colocado no centro da torre por seus devotos insanos. O culto, determinado a seguir sua divindade até a morte, ritualmente, no decorrer de vários anos, transformara o santuário em uma cripta comunitária. Finalmente, todos cometeram suicídio em massa, o que estranhamente trouxe o coração de volta à vida, sobrecarregando-o com energia negativa. Gulthias, o líder do culto, fora transformado em um vampiro e por possuir forte vínculo com o coração, fora capaz de utilizá-lo para reviver outros fiéis como mortos-vivos. Para seu azar, Gulthias fora derrotado em tempos passados e aprisionado no fundo de uma fortaleza arruinada, onde esperou por anos até que alguém aparecesse para libertá-lo. Agora o vampiro estava de volta, reerguendo o culto a Ashardalon com a ajuda de aliados poderosos e com a promessa de trazer de volta à vida o dragão-demônio.
Rhunad relatou ao grupo tudo o que sabia a respeito de Gulthias e seus aliados. Infelizmente ele passara anos aprisionado dentro da sala após ser invocado para o mundo físico por um ritual mágico executado pelo vampiro chefe, portanto Rhunad pouco sabia sobre os novos aliados de Gulthias.
_ Por mim isso basta – disse Nailo. – Acho que você já sofreu demais ficando trancado aqui e sinto que você não está mentindo, portanto, não vejo problemas em libertá-lo.
_ Concordo! – disse Squall. – Mas, tenho uma proposta a lhe fazer. Por que não nos acompanha? Você nos ajuda e se vinga de Gulthias. O que acha?
_ Agradeço a oferta, mas devo recusá-la. Como lhes disse, devo retornar o quanto antes para meu mestre, e receber a punição por ter me ausentado tanto tempo. Quanto mais me demorar por aqui, maior será minha punição. Por hora me contento apenas em partir para meu lar e em saber que Gulthias já tem seus algozes. Torço por vocês neste embate e, caso venham a ser derrotados, então retornarei algum dia para obter minha vingança contra o vampiro. Uma última informação que os ajudará. Gulthias observa tudo que se passa na torre através das pedras com a marca da árvore, a forma que ele assumiu durante o tempo em que esteve paralisado com uma estaca de madeira em seu peito. Ele também pode se transportar magicamente para esses locais conforme sua vontade, tome cuidado. Outra coisa, ele se refugia no centro da torre. Vocês devem acessá-lo pelas catacumbas no subsolo e não há meios de penetrar em seu esconderijo por magias de teletransporte ou parecidas. O local é selado magicamente, somente aqueles que têm vínculo com o coração de Ashardalon podem usar meios mágicos para chegar ao centro, todos os outros só podem chegar até lá pela porta normal.
_ Bem, obrigado pela informação – falou Nailo. - e o que fazemos para libertá-lo, então?
_ Basta que desmanchem a barreira ao meu redor. Desfazendo o círculo rúnico eu poderei partir.
Nailo já esticava o pé para dentro da saleta, afim de desmanchar o desenho no chão, quando um barulho chamou-lhe a atenção. O som de uma porta se abrindo no final do corredor veio acompanhado do chamado de Squall.
_ Encrenca. Temos companhia! – alertou o Vermelho. Squall bateu as asas e voou de encontro aos inimigos, Legolas, Anix e os demais o seguiram.
_ Rhunad, ajude-nos a derrotá-los, e então poderá ir embora – pediu o ranger.
_ Este não era o nosso trato, mas concordo com a proposta. Ajudarei vocês nesta batalha e então partirei.
Nailo espalhou o pó colorido do chão e este perdeu seu brilho mágico. O diabo sorriu com malícia e então comemorou.
_ Livre! Finalmente livre! Vamos, elfo. Vamos matar novamente!
As correntes ao redor de Rhunad se agitaram como serpentes, como se tivessem vida própria. O diabo saltou por cima do Guardião e correu pelo corredor de encontro aos demais. Nailo levantou-se rapidamente e o seguiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário