maio 04, 2010

Capítulo 362 – Jurados de morte




_ Vamos traçar um perímetro de segurança! – ordenou Luskan para seu grupo. Rapidamente os mercenários se espalharam pelo corredor da cripta e pelas salas anexas montando guarda.
O grupo retornara, após o último combate contra Aoket, para a câmara cheia de sarcófagos que servia de lar para a criatura. Anix recolhia pó e ataduras no esquife de Aoket, enquanto Lucano criava magicamente comida para todos se alimentarem.
_ Squall, empreste-me aquele seu espelho – pediu o mago. O dragão vermelho resmungou algumas palavras em seu idioma próprio, como sempre fazia quando usava o poder de seu anel. Nailo, que, ao contrário de Anix, entendera as palavras de Squall, pegou o espelho na mochila mágica e o entregou a Anix.
_ O que vai fazer? – perguntou o Guardião.
_ Vou tentar localizar aquela múmia com magia. Isso vai demorar quase uma hora, aproveitem para descansar e para comer enquanto isso – respondeu Anix.
Nailo explicou aos amigos o que se passava e todos agradeceram pela oportunidade de descansar um pouco. Lucano acabara de preparar m verdadeiro banquete e todos, à exceção de Carion e Kátia, fartaram-se na comida.
_ Não vai comer? – perguntou Nailo.
_ Não, essa comida é muito pesada, me deixaria sonolenta – respondeu a halfling. - Como uma guerreira, vou comer apenas minhas rações de viagem que são mais fáceis de digerir. Enquanto vocês se entopem de comida, vou ficar vigiando com Carion.
_ Não te preocupes, elfo. Comerei a parte da pequenina! – Mexkialroy avançou salivante sobre a comida, devorando-a sem cerimônia.
Vários minutos depois, quando todos já tinham terminado de comer, Anix chamou seus amigos ao redor do espelho.
_ Prestem atenção ao que eu vou narrar para me ajudarem a memorizar tudo. Vou tentar localizar a múmia e se tudo der certo, irei vê-la neste espelho.
Uma névoa densa e espessa formou-se dentro do espelho. As brumas se abriram lentamente, revelando a imagem de Aoket recostado em um altar de pedra em ruínas cheio de manchas de sangue. A múmia olhava ao redor, como se procurasse por alguém. Ou como se soubesse que era observada. Atrás dela havia uma parede na qual uma gravura de uma criatura dracônica Ra deteriorada pelo tempo e pelo abandono. À direita de Aoket, Anix viu uma parede curva, revelando que o inimigo estava próximo à borda da torre. O local se assemelhava muito à câmara de sacrifícios pela qual já haviam passado. Então, Aoket subitamente virou o rosto como se encarasse Anix e esboçou um sorriso malicioso enquanto cruzava os braços.
_ Acho que ele sabe que estou observando – disse Anix, narrando sua visão mágica para os amigos. Legolas retornava após ir investigar a sala de sacrifício parecida com o lugar onde Anix enxergava o inimigo. Aoket olhava para baixo e mexia os lábios como se conversasse com alguém. – Squall – chamou o mago. – Dê um rugido agora. Urre o mais alto que puder, como se quiséssemos acordar toda essa torre.
_ Não acho isso um,a boa idéia – reclamou Luskan.
_ Cala-te humano. Finalmente vamos parar de agir como ratos e agir feito dragões. Vamos lá Vermelho, mostre a todos do que somos capazes – disse Mexkialroy, animado.
O rugido do dragão vermelho ecoou por todos os lugares, abalando os corações menos valorosos. Pelo espelho, Anix viu a múmia girar a cabeça na direção do som. Como sua cabeça não se ergueu nem abaixou, o mago soube o que queria. Aoket ainda estava no mesmo andar que eles. Após isso, a criatura olhou para baixo e novamente conversou com alguém. Lendo seus lábios putrefatos, Anix conseguiu compreender parte da conversa.
_ Tentando nos intimidar, tolos! Ele está falando com alguém, mas a sala está vazia. E ele ainda está neste andar.
_ Talvez ele esteja conversando com alguém invisível – disse Rafael.
_ Creio que não. Pode estar falando através de magia. A outra pessoa não tem motivos para se ocultar – discordou Anix.
_ Tolos! Esqueceram o que o vampiro nos disse quando chegamos a este andar? O mestre dele está vendo tudo, tudo que fazemos.
_Sim, é verdade – alarmou-se Anix. – O tal do Gulthias deve estar nos observando, droga! Bem, eu poderia criar uma barreira mágica para impedi-lo de nos ver, mas acho que demoraria um longo tempo para isso.
Mexkialroy levantou-se lentamente do local onde estava repousando. Caminhou com imponência em direção a Anix, enquanto se espreguiçava e, com sua costumeira arrogância, disse:
_ Isso não seria nem agradável ou necessário, elfo. Deixe que eles vejam tudo o que fazemos, deixe que conheçam nosso poder e se aterrorizem com isso. Será mais divertido assim – o dragão azul terminou seu pequeno discurso com uma gargalhada.
_ Se for o poder que você mostrou quando meu irmão se transformou e soltou aquele rugido, duvido muito da veracidade dessas suas palavras – rebateu Anix com sarcasmo.
_ Do que falas, elfo? – quis saber o azul.
_ Não tente esconder. Sei muito bem que você ficou com medo ao ver o Squall ficar tão grande.
_ Ora, como tu és tolo – zombou o dragão. – Não confunda surpresa com medo, elfo. Tens muito que aprender ainda, seu tolo – Mex deu as costas para Anix com desprezo e voltou a deitar-se tranquilamente.
_ Ah! Eu odeio esse dragão – resmungou Anix num sussurro. – Bem, vamos seguir adiante.
_ Já era tempo! – comemorou Legolas, reabrindo a porta que saía da cripta. Os heróis adentraram em um novo corredor, paralelo ao anterior e de mesmas dimensões. Havia quatro portas no corredor, todas na parede da direita, todas fechadas e ocultando perigos desconhecidos. Nailo colou o ouvido à primeira porta e, ao constatar que só havia silêncio após ela, a abriu.
Além da porta havia uma pequena sala triangular, coberta de escombros iluminada apenas pela luz das armas dos heróis. Dentro dela, à esquerda, havia um altar de pedra, coberto de manchas de sangue. Atrás dele havia uma pintura castigada pelo tempo de um humanóide alado com feições reptilianas. E logo à frente do altar, diante da porta em pé e com os braços cruzados, estava Aoket.
A múmia encarou calmamente cada um dos heróis, depois estendeu a mão direita para frente e gritou:
_ Parem, e ouçam o que tenho a dizer para vocês, invasores!
_ Nada de parar, vamos acabar com você, seu monte de ossos e poeira fétida! – ameaçou Kátia.
_ Não, calma. Vamos ouvir o que ele tem a dizer – pediu Anix.
_ Melhor assim, invasores. Ouçam com atenção, pois não irei repetir minhas palavras. O valor de vocês já foi testado. E todos se mostraram bravos guerreiros. Meu mestre Gulthias, lhes oferece uma oportunidade única. Curvem-se diante dele, tornem-se seus servos e unam-se a nós. Só terão a lucrar.
_ E o que nós lucraremos? – indagou Anix com sarcasmo.
_ Vocês se tornarão mais poderosos ainda. Terão a honra, o prestígio de testemunharem o retorno do grande Ashardalon, que não tarda a acontecer. Vocês têm apenas três opções, e lhes digo, isto não é um pedido, mas sim uma oferta generosa de meu mestre Gulthias, senhor da Espiral da Presa Noturna. Vocês têm três opções a escolher. Unam-se a Gulthias, tornem-se seus seguidores e de Ashardalon. Desfrutem da vida eterna, sejam ricos e poderosos. A segunda opção. Vão embora daqui agora, sem levar nada e suas vidas serão poupadas. E a terceira opção. Recusem qualquer uma das outras duas e suas vidas terminarão antes que este dia acabe.
_ Uma pergunta, dona múmia – disse Anix. – Se nós formos embora como você nos propõe, o que acontecerá com Zulil? Afinal de contas, é só ele que nos interessa nesta torre.
_ Zulil o mago? Nada acontecerá a ele, a não ser ter o mesmo destino oferecido a vocês. Honra, glória, riqueza, pois ele está trabalhando neste momento para ajudar a trazer o nosso Deus, o grande Ashardalon de volta – respondeu Aoket.
_ Bem, Zulil está com algo que nos pertence. Então você, aliás você não, já que é apenas um lacaio. Mas se seu mestre se mostrar digno e vier até aqui e nos deixar acertar nossas contas com Zulil, nós poderemos ir embora daqui sem incomodá-lo.
_ Insolente! Como se atreve a exigir a presença de Gulthias. Já disse que isto não é um pedido, mas sim uma oferta generosa. Vocês não estão em posição de exigir qualquer coisa. Escolham logo se vão aceitar a oferta de Gulthias ou se vão escolher a morte.
_ E quem irá nos destruir caso nós recusemos a oferta?
_ O exército de Ashardalon, o exército de Gulthias! O mestre mandará suas hordas sobre vocês até que não sobre nada de suas carcaças. Serão eliminados pelos soldados e sequer terão a honra de serem destruídos por meu mestre, pois ele não sujará suas mãos com criaturas inferiores como vocês. E agora chega de conversa, elfo. Diga qual a sua escolha e aceite as conseqüências dela.
_ A justiça será feita. Espere e verá, você e seus aliados! – disse Nailo.
_ MORRA!!! – gritou Anix, disparando um raio de energia azulado de seu terceiro olho.
_ Cumpri a missão, meu mestre, eles recusaram – disse a múmia olhando para baixo no exato instante em que o olho de Anix brilhou para atacar. – Quanto a vocês, aproveitem bem seus últimos momentos de vida, pois suas vidas chegarão ao fim antes que o sol se ponha – e dizendo estas palavras, Aoket novamente desapareceu, teletransportando-se para outro lugar. A escolha estava feita, restava agora pagar o preço por ela.

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