maio 25, 2010

Capítulo 364 – Adeus a um amigo – terrível armadilha




_ Mestre! Mestre! – repetiam os animais, com devoção. Compadecendo-se das pobres criaturas, Squall lhes deu permissão para irem embora. Antes, porém, o Vermelho aproveitou a oportunidade que surgira.
_ Eu sou seu mestre – vociferou Squall para os macacos. Todos se encolheram instintivamente, cobrindo seus rostos com seus dois pares de mãos. – Vocês estão livres a partir de agora. Mas antes de irem embora, quero saber o que há lá embaixo. Quantos andares faltam para nós chegarmos até onde está o antigo mestre de vocês?
_ Mestre desce...depois mestre sobe...então mestre vê grande coração mestre batendo – respondeu a criatura, contando nos dedos a quantidade de andares a percorrer. Ao todo mais três andares para baixo e, curiosamente, outros três para cima. A torre ainda guardava muitos mistérios a serem desvendados.
_ Há mais outros mestres lá embaixo? Outros cor de ouro e de prata? – quis saber Squall.
_ Sim mais mestres. Muitos mestres – respondeu o girallon, de forma simplória.
_ Bem, podem ir agora – Squall liberou os animais. Inicialmente todos correram em direção à saída, mas pararam abruptamente se virando para o dragão.
_ Mestre vir libertar outros? – perguntaram os ex-escravos.
_ Sim, vou libertar todos. Vocês já podem ir embora, enquanto eu vou soltar os outros. Mas lembrem-se, se o que me contaram for mentira, irei persegui-los e matá-los um pó um – respondeu Squall. Os gorilas fugiram apressadamente em direção à liberdade, escalando as escadarias rumo ao topo da torre e à saída.
_ Bem, vamos logo adiante – chamou Legolas. – ainda temos seis andares para percorrer antes de colocarmos as mãos no Zulil.
O grupo prosseguiu. Legolas arrombou as portas das três salas restantes no andar. Em duas encontrou pilhas e pilhas de entulho. Numa rápida busca em meio aos escombros, o arqueiro achou um belo anel de ouro, com o formato de um dragão abocanhando a própria cauda, que ele guardou consigo. Finalmente, atrás da terceira porta o elfo encontrou a escada que levava para o andar inferior.
_ Bem, vamos descer logo, afinal já deve ser fim de tarde e a múmia disse que morreríamos antes do fim do dia. Estou ansioso para encontrar a morte e meter uma flecha congelante no meio do peito dela – disse Legolas com ironia, enquanto avançava escada abaixo. Um a um os outros o seguiram pela escuridão.
O acesso terminava após uns dez metros torre abaixo, como os anteriores, em uma saleta retangular tão estreita que era possível tocar as duas paredes ao estender os braços. Uma porta na parede sul da sala era a única saída do aposento. Sem hesitar, o arqueiro puxou a aldrava com força, movendo a pesada placa de pedra que bloqueava sua passagem.
Uma luz ofuscante atingiu os olhos de Legolas e seus amigos. O feixe cintilava em diversas tonalidades distintas ao mesmo tempo, vindo da parede curvilínea após a porta e surpreendendo a todos. Legolas sentiu-se zonzo, as idéias, planos e memórias se embaralhando em sua mente, deixando-o confuso. O arqueiro fixou o pensamento em sua amada, resistindo ao efeito enlouquecedor. Já Orion, que vinha logo atrás, não teve a mesma sorte. O humano teve sua mente completamente devastada pelo efeito mágico que atingia seus olhos, começou a babar e a balbuciar coisas sem sentido e a andar a esmo ao redor de si próprio.
Nailo, o próximo na fila, sentiu o fôlego desaparecer, as pernas fraquejarem, como se a própria alma estivesse sendo arrancada de dentro de seu corpo. Por pouco o Guardião não foi ao encontro de Glórienn no outro mundo. Os que estavam atrás dele, por sorte, estavam fora do alcance da rajada mágica e não sofreram seus efeitos maléficos. Mas, para desespero de Nailo, Relâmpago, que estava ao seu lado, sofreu a pior das maldições. Uma esfera de energia envolveu o lobo, fazendo-o levitar. Relâmpago gania, assustado, enquanto a esfera girava e tremeluzia ao seu redor, cada vez mais rápida, cada vez menor. O corpo do animal foi tornando-se translúcido, até desaparecer por completo, sem deixar qualquer rastro do lobo para trás.
_ Relâmpago! Não! – gritou Nailo, em pânico. – Anix, o que aconteceu com ele? Diga-me! Ele morreu? Cadê o Relâmpago?
_ Não sei, Nailo. Acalme-se saia já daí, feche esta porta maldita. Eu vou pensar em alguma coisa. Nós vamos trazer ele de volta – Anix tentou consolar o amigo, sem suspeitar que sua promessa estava totalmente fora de seu alcance. Relâmpago não retornaria. Como Anix compreendeu depois, o lobo havia sido tragado para outro plano de existência, outra dimensão, completamente desconhecido. O grande amigo de infância de Nailo estava completamente inacessível. Mais uma vez o Guardião perdia um de seus amigos sem nada poder fazer para impedir.
Legolas empurrou Nailo para trás, enquanto fechava a porta, protegendo a todos da energia prismática que lançara Relâmpago em outro mundo. Foi preciso nocautear Orion para conseguirem recuar, já que o guerreiro tinha perdido completamente a sanidade e nem as magias de Anix ou de Lucano foram capazes de curá-lo.
Levaram um longo tempo até Nailo voltar a si e estar em condições de cuidar de si próprio, o que não acontecia com Orion, que jazia desmaiado no chão. Anix explicou o que acontecera com o lobo, que ele ainda poderia estar vivo, ainda que numa dimensão desconhecida, dando um pouco de esperança a Nailo.
_ Vamos logo em frente – disse o ranger, enxugando as lágrimas e se levantando num salto. ­– Vamos destruir esta armadilha maldita e seguir adiante. Vamos resgatar nossas mulheres e depois vamos buscar o Relâmpago onde quer que ele esteja!
Nailo pegou o espelho de Squall, o mesmo que Anix usara para observar a múmia horas antes. Abriu a porta e rapidamente bloqueou a luz mágica antes que esta pudesse agir. Com o espelho diante de seu corpo, Nailo caminhou lentamente até encostar o objeto na parede, bloqueando completamente a ação da armadilha. Carion aproximou-se e tateou atrás do espelho até encontrar a fonte da luz mágica. Com uma adaga o jovem aventureiro quebrou a pequena pedra incrustada na parede, desativando a armadilha. Carion recolheu os cacos do rubi de onde a rajada saia os deu a Anix. Aquele pó seria útil para a conjuração de magias poderosas. Anix guardou o pó em sua bolsa de componentes mágicos e parou por alguns instantes para analisar a armadilha enquanto fazia anotações em seu grimório. Aquele poder seria seu, pensou o mago enquanto escrevia. Seus amigos vasculhavam o salão que se revelara Além da armadilha. Era de formato triangular e ficava na borda sudeste da torre. Diversas pegadas de gorilas estavam espalhadas pelo chão, revelando a presença de inimigos por perto. Uma grande estátua de um dragão, feita de mármore branco decorado com veios escarlates, adornava a parede curvilínea. Uma única porta no canto leste levava adiante, para o norte e o cheiro de óleo impregnava o ambiente, deixando-o nauseante. Legolas e Nailo avançaram rumo à porta.
_ Esperem! – disse Kátia para os dois elfos em tom sério. – Não é prudente abrirmos esta porta ainda. Estamos enfraquecidos e cansados. Perdemos um membro do grupo e o outro está incapacitado de lutar. Seria melhor descansarmos por hoje e continuarmos pela manhã.
_ Tem razão – concordou Legolas. – Vamos nos acomodar nesta sala para passarmos a noite.
_ Não! Ficar aqui também é estupidez. Vamos retornar para o andar de cima. Nós já os exploramos por completo e sabemos que lá é seguro. Aqui ficaremos expostos aos perigos que estiverem escondidos atrás desta porta. Também não devemos sair da torre, pois desta forma perderemos o terreno já conquistado para nossos inimigos. Vamos ficar no andar acima de nossas cabeças. Vigiaremos a escada as duas escadas que lá existem e pela manhã retornaremos aqui para abrir esta porta – disse a clériga com firmeza. Sua decisão não foi questionada.
_ Está certo – falou Legolas. – E a menos que a promessa daquele monte de ataduras se confirme, arrombaremos esta porta amanhã e mataremos quem quer que se coloque em nosso caminho além dela.
E assim o grupo recuou, esperando ter o merecido descanso que seus corpos tanto desejavam.

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