agosto 21, 2008

Capítulo 315 – Reencontro na neve

Squall ainda pensava em um plano para por em prática a lição que lhe fora confiada ao cair da tarde do 31º dia do mês, e último dia do ano de 1398, quando Legolas e seus soldados cavalgavam por entre a paisagem constantemente branca das Montanhas Uivantes. O feiticeiro tinha em suas mãos um enorme espelho que emprestara de Seelan e com o qual pretendia observar coisas ou pessoas que estivavam distantes dali usando pergaminhos mágicos que seu irmão preparava. Legolas tinha nas mãos as rédeas do cavalo e seu fiel arco. Alguma ameaça espreitava por trás das colinas geladas e ele teria que agir.

Enquanto nas Uivantes o perigo rondava os soldados, em forte Rodick, todos relaxavam e se divertiam após um dia de competições. Era o primeiro de três de folga que os soldados teriam. Somente aqueles que estavam em postos de guarda trabalhavam nessa data, como era costume. Ainda assim, os turnos de vigia eram divididos de forma a não sobrecarregar quem quer que fosse, para que todos pudessem aproveitar as festividades.

A passagem de um ano para outro era comemorado com festa em Arton. O primeiro dia é o dia mais importante do ano, pois foi nele, o Dia do Reencontro, que séculos antes a caravana de refugiados de Lamnor chegou aos pés da estátua gigante de Valkaria, levada pela coragem e lealdade de Roramar Pruss. Aos pés da estátua gigante foi fundada a maior cidade, a maior metrópole de Arton, homônima à deusa dos aventureiros e de toda a raça humana. E em torno desta metrópole, veio a surgir o conglomerado de reinos aliados chamado Reinado. Assim, nesse dia começou a história moderna de Arton.

Além de comida e bebida fartas, música e descanso, os soldados tiveram uma agradável novidade. Com o apoio do general Wally Dold, Nailo promoveu uma série de competições dentro do forte, celebrando a amizade entre os homens que ali serviam e testando as habilidades de cada um deles. As provas exigiam esforço físico, boa destreza e muita sorte, já que estavam longe do convencional ao qual todos estavam acostumados.

A primeira prova foi a de natação, mas não foi um teste de nado comum. Os soldados primeiramente cavaram uma grande vala no campo de treinamento que foi preenchida com água criada pelas mãos de Lucano e outros clérigos do forte. Com a piscina montada, a competição teve início. Cada competidor se embriagou com uma caneca da forte água-ardente dos anões e só depois é que todos se dirigiram para a piscina. Os competidores bêbados se atiraram na água e começaram a nadar. A prova transformou-se num festival de risadas, já que alguns dos competidores sequer conseguiam sair do lugar e alguns até afundavam diretamente, sendo preciso resgatá-los às pressas da água barrenta. No final, o grande vencedor foi Orion, que subiu num pódio improvisado com caixotes aos tropeções ao lado de Andrew e Leonard.

Logo após foi a vez dos soldados testarem sua velocidade numa corrida livre ao redor do forte, sem regras a não ser a proibição do uso de magia e itens mágicos. Numa disputa acirrada, cheia de rasteiras, colisões, agarramentos e empurrões, Nailo sagrou-se vencedor. A maioria dos outros corredores ficou presa em vinhas animadas magicamente por Andrew, um dos competidores que foi desclassificado pelo uso de magia. Orion também foi eliminado da prova ao descobrirem que ele usava um cinturão mágico que lhe aumentava a força. Após a desclassificação de Andrew, o 2º lugar ficou com Ass Hole, que havia chegado logo após Andrew.

Depois uma outra corrida teve início, dessa vez, algo tradicional. Era a corrida de revezamento. Como já era esperado, os competidores se dividiram em duplas que tinham que correr ao redor do forte passando um pequeno bastão de um para o outro na metade do percurso. Dessa vez os vencedores foram Andrew e Rafael. Em segundo lugar ficou a dupla Orion e Donatelo, seguidos de perto por Nailo e Kataro.

A seguir veio a competição de salto. Cada participante testou suas pernas (alguns ainda bêbados) para ver quem saltava mais longe. Dessa vez os vencedores foram Kataro na primeira colocação, Orion em segundo e Nailo em terceiro.

Por fim os soldados se enfrentaram numa grande arena, lutando uns contra os outros com as mãos limpas, sem auxílio de qualquer arma ou poder mágico. Por serem mais fortes e experientes, Nailo e Orion eram favoritos, já que nenhum dos capitães ou sargentos entrou na disputa. Mas o favoritismo (e o fato de Orion ser um novato no forte) foi o fator decisivo para a derrota dos dois. Os vários competidores atacaram-nos em bando, derrotando-os em poucos instantes e atirando-os para fora da arena. Com o novato e o mais forte fora da peleja, os soldados que restaram lutaram entre si de igual para igual, até que apenas um permaneceu em pé, sagrando-se campeão. Seu nome era Aluap, e teve como últimos oponentes Michel e Ass Hole, respectivamente o segundo e terceiro colocados.

Os vencedores foram saudados com um banho de cerveja e seus nomes foram clamados por todos. O dia se encerrou ainda com uma agradável e esperada visita.

_ Vejam! É Natanael! Natanael e suas garotas chegaram ! – gritavam os vigias no portão. As portas de forte Rodick foram abertas e quatro grandes carroças entraram, trazendo mulheres, bebida, comida, ferramentas e até objetos mágicos. Os soldados rapidamente cercaram as carroças, sendo recebidos por belas mulheres e um homem rústico a quem todos chamavam de Natanael. Squall, Lucano, Nailo, Anix e Orion não compreendiam o que acontecia e qual a importância daquele homem que chegava, apenas observavam com curiosidade enquanto Seelan se aproximava com ar de insatisfação para explicar o que se passava. Assim terminava mais um dia tranqüilo, com festa e alegria em forte Rodick.

Mas enquanto no forte todos sorriam, nas montanhas geladas ao norte a situação era bem diferente. Cercado por morros congelados, Legolas e seus homens tinham cessado o seu avanço. Até aquele momento o caminho tinha sido tranqüilo, o tempo bom colaborara para que avançassem rapidamente e chegassem ao território das Uivantes em pouquíssimo tempo. Agora, porém, todos já estavam cansados da longa viagem e o perigo os rondava. Por trás de uma colina esguichos de neve se projetavam para o alto, o chão tremia e um rugido ensurdecedor ecoava frio pelo ar.

_ Preparem as armas! – ordenou o sargento Legolas.

Os cavalos pararam. Todos fitaram o morro alto de onde vinha a neve e os ruídos. Foram longos e intermináveis segundos até que algo finalmente aconteceu. Uma gigantesca criatura branco-azulada surgiu por trás da colina. Seu corpo era longo, sem braços ou pernas, como o de uma serpente. De sua cabeça pendiam enormes mandíbulas em forma de serras. Era um verme do gelo. O monstro avançava velozmente na direção dos soldados, serpenteando seu corpo e rugindo de maneira caótica. Ia atacar.

_ Espalhem-se! – gritou Legolas. Disparou seu arco e conduziu Rassufel rapidamente para fora do caminho do monstro.

A flecha atingiu o topo da cabeça da criatura, onde existia um estranho nódulo. O verme continuou a contorcer-se e a gritar desesperadamente enquanto avançava morro abaixo. Então subitamente ele parou, esticou seu longo corpo para o alto até quase rompê-lo, soltou um último guincho e tombou para frente, caindo inerte sobre o local onde os soldados estavam. Estava morto.

Os soldados já comemoravam, cumprimentavam seu sargento pro aquele grande feito, por ter derrotado aquela terrível criatura com uma única flechada, mas havia algo errado. Não tinha sido Legolas o algoz do verme do gelo, mas sim outra pessoa.

Perceberam isso quando o ventre do monstro abatido começou a se mexer. Ouviram um gemido e logo em seguida o corpo da criatura explodiu. Um raio luminoso de cor alva saiu de dentro da criatura, abrindo-lhe um enorme buraco e jogando suas entranhas para fora. A barriga continuou a se mexer até que finalmente de lá de dentro surgiu alguém cortando as entranhas da criatura com uma lâmina brilhante. Era um anão calvo, de barba branca e todo sujo de sangue e tripas. Era Glorin.

_ Aff...achei que esses vermes fedessem assim só pelo lado de fora! – resmungou o anão antes de ver os soldados, que o observavam estupefatos, e se surpreender com a presença deles.

_ Capitão! – Legolas bateu continência.

_ Ah, chegou rápido, garoto! Isso é bom, temos muito trabalho a fazer! – respondeu Glorin, limpando-se, se é que isso era possível.

_ Capitão, o senhor foi engolido? – perguntaram os soldados.

_ Sim! Esse bicho tem um couro duro! É mais fácil cortá-lo pelo lado de dentro! – o anão deu uma forte gargalhada. Todos olharam para dentro da carcaça da criatura e viram um rastro de destruição. Por dentro, desde a boca até o buraco por onde o anão saíra, tudo estava rasgado a golpes de machado. – Bem – continuou Glorin. – Não vamos perder tempo aqui. Como eu disse, temos muito trabalho a fazer. Por hoje retornaremos para Cold Valley e amanhã continuaremos o serviço.

_ Que trabalho é esse, capitão? – perguntou Legolas.

_ É o seguinte. Ramassim desapareceu. Não sei o que aconteceu com aquele gigante, se ele morreu, foi seqüestrado ou foi embora. Mas o fato é que os bichinhos dele foram soltos e estão aprontando por ai. Eu já dei cabo dos mais encrenqueiros como este aqui, mas ainda deve haver um punhado de trolls do gelo rondando por ai. Nosso serviço será brincar de caçador. Vamos acabar com esses monstros e livrar Cold Valley e as outras vilas da região dessas ameaças. Bom, imagino que vamos ficar um bom tempo aqui, então é bom que tenham trazido agasalho! – respondeu o anão, sorrindo. Depois se aproximou de Legolas e o encarou. – E quanto a você, garoto, lembro-me que tinha me pedido uma vez para que eu o ensinasse a lutar como eu. Pois pode se preparar. Seu treinamento acaba de começar!

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