dezembro 05, 2006

Capítulo 246 – Ramassin

Capítulo 246 Ramassin

A curta distância que os separava da caverna do gigante foi transposta pelos heróis com grande temor. Legolas era carregado pela poderosa mão do ser, enquanto os demais tentavam acompanhar suas passadas largas, imaginando quais horrores encontrariam a seguir.

Dentro do covil de Ramassin, havia dezenas de carcaças de animais mortos, devorados por ele. Eram ursos, búfalos e outras criaturas desconhecidas ou irreconhecíveis pelo grupo. Móveis tão grandes quanto seu dono, esculpidos em gelo sólido, adornavam a caverna. Além de prateleiras, bancos, uma mesa e uma cama, existiam também várias jaulas, onde criaturas assustadoras permaneciam aprisionadas. Eram ursos brancos, lobos das estepes e glaciols, os trolls das Uivantes. E, até mesmo um imenso verme, alvo como a neve e assustador como o gigante, estava entre aquilo que Ramassin denominava de “seus bichinhos de estimação”.

O gigante contou aos aventureiros que conhecera Glorin há vários anos, e que o pequeno anão o havia derrotado. O grupo ficou impressionado, ao saber que o capitão Glorin tinha conseguido derrotar aquele poderoso homem que estava diante deles. Ramassin também contou que seu precioso tesouro havia sido roubado de sua caverna. Ele havia encontrado pegadas na entrada de sua morada gelada, pegadas de anão, e as seguiu até perto de Cold Valley. Enfurecido por ter sido roubado pelos pequenos moradores da vila, Ramassin decidiu castigá-los, soltando seus animaizinhos para atacarem o vilarejo. E ele continuaria agindo desta forma, até que os anões devolvessem suas coisas, ou até que toda a aldeia estivesse destruída.

Os heróis conversavam com o gigante, tentando negociar com ele um acordo que impedisse a destruição dos anões. Logan, o único que conhecia o idioma de Ramassin, atuava como tradutor, sendo de vital importância para o grupo. Com muito esforço, e uma boa dose de sorte, conseguiram ganhar algum tempo, para poderem investigar e descobrir quem tinha roubado e onde estava o tesouro de Ramassin.

Foi-lhes dado um prazo de cinco dias, para que recuperassem os itens do gigante. Caso eles não conseguissem, Ramassin atacaria a vila junto com seus bichinhos e a destruiria por completo. Sem muitas opções, eles foram obrigados a se contentar com o trato proposto pelo gigante. E agradeceram por poderem contar com a ajuda de Glorin, pois, sabiam que se não fosse pelo amuleto emprestado por ele, o gigante jamais lhes daria ouvidos, e, a essa hora, todos já estariam mortos. Eles teriam apenas cinco dias para conseguir encontrar os pertences do monstruoso homem. Eram eles um anel de ouro, uma safira, uma ametista, um diamante e três estátuas de ouro, cada uma representando um deus diferente, Khalmyr, Tanna-toh e Lena.

Legolas, o líder do grupo, aceitou o acordo e, sem ter outra opção, teve que sair imediatamente da caverna junto com seus soldados, já que Ramassin não os queria por perto. O gigante não se importava se eles sobreviveriam ou não aos rigores do clima fora da caverna, apenas se divertia sadicamente com tudo aquilo. Antes de saírem, Kaen Blaco, já consciente graças à magia de Druidick, permitiu que novamente sua diminuta mente de meio-orc tivesse uma idéia estúpida que poderia colocar em risco a vida de todo o grupo.

Pulando para o alto, Kaen tentava alcançar algo que estava sobre a mesa congelada de Ramassin. Era uma garrafa, do tamanho de um ser humano, na qual havia algum tipo de bebida.

_ Você quer isso, seu pequeno verme? – perguntou Ramassin, sua voz estremecia o ambiente como um trovão.

_ Sim! Eu quero beber o que tem ai! – respondeu Kaen Blaco.

_ Então, tome! – Ramassin virou a garrafa sobre o meio-orc, derramando o seu conteúdo sobre ele. Kaen Blaco ficou encharcado de algo cujo gosto lembrava vinho. Era um verdadeiro banho de vinho.

Empolgado com a idéia, Legolas pediu a Ramassin que desse um pouco de seu vinho a ele também. O arqueiro abriu a sua boca, na esperança de beber o líquido que jorrava sobre ele. Também ficou todo molhado. Druidick ria da situação dos companheiros, e Ramassin derramou o restante do líquido sobre ele, calando-o.

Os corpos molhados começaram a esfriar rapidamente, e os heróis pediram a Ramassin para passarem a noite ali. Mas, o gigante os enxotou se seu covil, deixando que ficassem ao relento, debaixo de uma dura tempestade de neve. Sem alternativa, o grupo começou a pesarosa marcha rumo a Cold Valley.

A caminhada era extremamente difícil. O cansaço tomava conta dos aventureiros cada vez mais à medida que o tempo passava. Seus ferimentos os incomodavam e os lembravam das duras batalhas que haviam tido. O frio, agravado pela chegada da noite, era impiedoso. Não tardou para que Kaen Blaco caísse inconsciente devido ao frio. Ele, Legolas e Druidick eram os que mais sofriam. Seus corpos molhados pareciam ser rasgados pelo vento e pela neve que os atingia. Aos poucos a resistência e a coragem dos heróis foi sendo vencida pelo poder do frio. Seus corpos já não mais suportavam o frio, e suas mentes já duvidavam do sucesso daquela missão. Já estavam quase se entregando, quando Trevor se lembrou das palavras de Seelan: “Esses pergaminhos contêm uma magia de altíssimo nível, que poderá salvar a vida de vocês quando estiverem nas Uivantes! Quando você sentir necessidade, use-os sem hesitar! Esses pergaminhos têm o poder de criar um abrigo mágico para proteger você e seus amigos dos rigores das Uivantes! Guarde-os muito bem, pois eles poderão ser a salvação de todos vocês!”.

Sem hesitar, Trevor pediu para que todos parassem e buscou pelos pergaminhos em sua mochila. Começou a recitar as palavras mágicas que ativavam o encantamento, tal qual Seelan o havia ensinado. O concluir a conjuração nada aconteceu. Todos olharam para Trevor, interrogando-o com seus olhares desesperados. Nada havia acontecido, o que significava que o mago havia feito algo de errado e provavelmente desperdiçado o precioso pergaminho. Mas, então subitamente o chão estremeceu e o ronco da terra ecoou pela imensidão branca. O tremor continuou, cada vez mais forte, e a terra começou a rachar. Várias fendas começaram a se abrir na neve, revelando o solo rochoso que existia por baixo. Pedras, terra, antigas raízes de plantas já mortas, pedaços de madeira congelados, começaram a emergir do solo e a se emaranhar magicamente. Pouco a pouco começaram a surgir paredes feitas de pedra e madeira, porta, janelas e um telhado, até que finalmente o chão parou de tremer e uma cabana se formou diante dos heróis. Seelan tinha razão, estavam salvos. Aquela cabana poderia protegê-los do frio da madrugada e da tempestade de neve que não cessava.

Temeroso, Trevor girou a maçaneta formada por pequenas pedras unidas por mágica e abriu a porta de madeira. Todos entraram, e encontraram oito camas feitas de raízes, com colchões feitos de palha e terra para que pudessem descansar. Havia também uma mesa de pedra, rodeada por banquinhos de madeira e uma lareira com vários pedaços de madeira velha esperando para serem acesos. Duas janelas ocupavam as laterais da casa, e um armário de pedra aguardava para ser preenchido com os pertences dos viajantes.

Os heróis fecharam a porta, deixando o terrível frio do lado de fora, e acenderam a lareira. Colocaram Kaen Blaco diante do fogo, para se aquecer, e Druidick usou sua magia para tentar curá-lo. Eldon ajudou, dando a ele a última poção de resistência ao frio que tinham e em pouco tempo o meio-orc recobrou a consciência. Os aventureiros tiraram suas armaduras e roupas molhadas, colocando-as para secar diante da lareira, guardaram seus equipamentos no armário e foram se deitar.

Mas, quando todos estavam relaxados, um movimento estranho dentro da casa tirou a tranqüilidade dos heróis. Algo se movia ali dentro. Eles não viam o que era, mas perceberam que algo estava errado quando a porta foi trancada sozinha. Perceberam passos de alguma criatura que se deslocava dentro do abrigo.Um inimigo invisível.

Rapidamente todos se levantaram e se prepararam para o combate. Mas, a criatura estranhamente não os atacava. Permanecia apenas parada, como uma serpente pronta para dar o bote. Sem hesitar, Legolas disparou uma flecha na criatura. O projétil errou o alvo, e foi cravar-se numa das janelas da casa. Para surpresa de todos, o monstro invisível não contra-atacou como esperava. Em vez disso, retirou a flecha da janela e a colocou cuidadosamente sobre a mesa.

Ainda desconfiados, os heróis se deslocaram, cercando o estranho ser. Ele, por sua vez, também se movimentou, parecendo acompanhar os passos de Trevor. Foi então que Legolas teve uma idéia.

_ Trevor, dê alguma ordem para essa criatura! Mande que ela abra a porta, por exemplo! – disse o arqueiro.

O mago seguiu a instrução do sargento, e a criatura obedeceu cegamente à ordem dada por ele.

_ Entendi, como foi o Trevor quem conjurou a magia que criou a casa, a criatura deve estar sob o comando dele! Parabéns Trevor, agora você tem um servo invisível para servi-lo! Não temos mais com o que nos preocupar, isso deve ser obra do Seelan! Fechem a porta e vamos dormir! – ordenou o sargento, sorrindo aliviado. E todos dormiram sem maiores preocupações. Todos exceto Eldon, que manteve sua adaga embaixo do travesseiro, pro caso de uma emergência.

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