novembro 07, 2008

Capítulo 327 – A jovem da selva


_ Estão feridos? Vou curá-los! Que o poder de Glórienn feche esses ferimentos! – disse Lucano lançando magias de cura em seus amigos. E, enquanto o fazia, percebeu e comprovou algo que já suspeitava. – Finalmente percebo o que acontece aqui! – disse ele, entusiasmado.

_ Do que está falando, Lucano? – perguntou Squall.

_ Lembram quando eu disse que o calor dessa ilha não era normal, como se houvesse algo mágico por aqui? Pois é, descobri do que se trata. Esta ilha está impregnada de energia positiva, uma energia muito semelhante à que eu uso para espantar e ferir os mortos-vivos – respondeu o clérigo.

_ E como você descobriu isso? – perguntou Orion.

_ Quando eu bebi aquela poção mágica, percebi que ela era muito mais forte do que deveria ser. E agora, ao curá-los, percebi que minhas magias de cura têm muito mais energia do que o normal. Vejam, bastaram uma ou duas magias para que quase todas as suas feridas se fechassem – explicou Lucano.

_ Isso é bom! Parece que estamos com um pouco de sorte afinal! – exclamou Anix.

_ Sim, sem dúvida isso vai nos ajudar muito – concordou Lucano.

_ É, mas não nos ajudará a sair desse lugar! Temos que recuperar nosso barco para continuarmos! – disse Legolas em tom sério.

Rapidamente o grupo se espalhou pelo rio à procura da embarcação que afundara. Nadavam submersos, respirando graças ao poder do colar mágico recebido do Deus do Mar. Minutos depois, Nailo e Anix conseguiram localizar a embarcação no fundo do rio, atolada na lama. Não foi difícil localizar os remos também, pois a água era calma naquele trecho e não muito escura. Porém, todos os suprimentos dados pelo capitão Engaris estavam molhados e perdidos. Somente parte das rações de viagem, que estavam protegidas dentro das mochilas dos heróis, ainda estavam em condições de uso. Precisavam se apressar, pois logo ficariam sem comida, quando então precisariam sobreviver daquilo que Galrasia estivesse disposta a lhes oferecer como alimento. Orion ergueu a canoa com grande dificuldade das profundezas do riacho e minutos depois ela estava outra vez pronta para navegar. Os heróis voltaram a embarcar, botaram os remos na água e prosseguiram a viagem.

O sol já brilhava além do meio do céu, escondido entre a densa folhagem, quando o rio tornou-se ruidoso e veloz. O grupo avançava com cada vez mais dificuldade, tentando vencer a correnteza que se tornava mais e mais forte. O barulho da água correndo se elevava até encobrir todos os outros sons e então os heróis finalmente puderam avistar uma cascata espumante que despencava dezenas de metros e terminava sobre o leito em que se encontravam. Daquele ponto não poderiam mais prosseguir com o barco, teriam que descer e seguir a pé, escalar a encosta rochosa, carregando o barco, e então retornar ao rio, ou desistir de seguir por ele. Legolas pediu a Anix que usasse sua mágica para transportar o grupo para o alto da cachoeira, mas isso não seria capaz de levar o barco para o alto. Enquanto debatiam em busca de uma solução para o obstáculo que a natureza lhes impunha, avançavam lentamente, sem notar que eram observados.

Pois havia alguém na margem leste do rio que os observava, com olhos verdes e atentos. Mas o grupo só percebeu a figura intrigante quando já estava bem próximo a ela. E nesse ponto, se fosse uma criatura hostil, seria tarde demais para evitar seu ataque. Por sorte, ou capricho dos deuses, era alguém amigável.

_ Olhem só! É uma garota! – exclamou Legolas, apontando para a margem.

_ Ela pode nos dar informações! Vou me teletransportar atrás dela e agarrá-la, antes que fuja! – sugeriu Anix.

_ Não! – disse Nailo. – Isso só vai assustá-la. Vamos tentar falar com ela antes – e voltando-se para a garota, Nailo falou no idioma da floresta. – Olá, moça! Não tenha medo! Não vamos machucá-la. Precisamos de ajuda!

A humana os observava, calada. Era jovem e muito bela. Aparentava menos de vinte primaveras, tinha olhos como esmeraldas e cabelos dourados que pendiam lisos e desgrenhado até a altura dos olhos. E tinha um belo corpo, jovem e não totalmente formado de que chegava à idade adulta, e estava totalmente desnuda. Sua intimidade era escondida apenas por um balde que carregava à frente do corpo, cheio de água do rio.

_ Acho que ele não entendeu. Como ela vai nos ajudar se não nos entende. Vou tentar falar em outra língua. – resmungou Nailo para seus amigos. Então, a jovem finalmente saiu de seu transe.

_ Quem são vocês? – perguntou ela. E falava a língua do reinado.

_ Fala nossa língua? Que bom! Precisamos de ajuda. Somos viajantes e estamos procurando uma pessoa – disse Nailo.

_ Falo sim. Tork me ensinou as palavras! Estão procurando alguém? Devem estar procurando os Thera, certo? – disse a menina.

_ Thera? O que é isso? – perguntou Anix.

_ Ora, são os habitantes da ilha. É o nome do povo que mora aqui – disse Nailo, fingindo saber o que falava. Anix acreditou.

_ Sim, isso mesmo! – falou a garota.

_ Qual o seu nome, menina? – perguntou Anix.

_ Lisandra! – respondeu ela.

_ Bem, Lisandra, muito prazer. Eu sou Anix e esses são Legolas, Nailo, Lucano, Orion, Squall, Cloud, Nailo e Relâmpago. Viemos do mar, de muito longe, à procura de uma pessoa. E, se você puder nos ajudar será ótimo, mas, antes eu gostaria de pedir outra coisa – continuou o mago.

_ O que?

_ Seu corpo está descoberto. Por que você está andando assim. Olhe para nós. Temos esses panos que nos cobrem e são chamados de roupas. Você tem algo assim?

_ Sim, tenho. Conheço roupas, Tork me manda usar sempre. Mas hoje estava muito calor, então eu tirei – Lisandra sorria inocentemente.

_ Ah, mas isso é constrangedor. Você não sente vergonha de ficar assim?

_ Constra o quê? Não sei o que é isso, mas não sinto nada não.

_ Bem, isso agora não importa. Podemos ir até ai para conversarmos melhor? – perguntou Lucano.

_ Sim! – respondeu a menina. Os heróis manobraram o bote e remaram em direção à margem. Enquanto se aproximavam, Lisandra os observava com curiosidade. Ao notar a presença do lobo de Nailo, ela falou:

_ Que bonito! Ele é seu irmão?

_ Quem? Ah, o Relâmpago? Não, é só meu amigo, mas ele é como um irmão para mim! – respondeu o ranger.

_ Eu também tenho um irmão. Vou chamar ele. Irmão! Venha! – gritou Lisandra, correndo para trás de um grande arbusto. Segundos depois estava de volta, na companhia de um enorme lobo selvagem. – Esse é o meu irmão! – disse ela, sorrindo.

O grupo desembarcou, atento ao desconfiado animal que protegia a garota. Ainda receosos, à exceção de Nailo, continuaram a conversa.

_ Você vive sozinha aqui? – perguntou Lucano.

_ Não, vivo com o Tork. E com o irmão. E tem também todos os outros bichos – respondeu Lisandra.

_ E você já tinha visto alguém do mar, como a gente, por aqui? – era Anix.

_ Não, mas o Tork me falou das terras além do mar. Mas ele não gosta muito de falar disso. Ele diz que é perigoso lá, que existem pessoas más. Vocês não são maus, são? – disse a menina.

_ Não, não somos – disse Orion. – E quem é esse tal Tork que você fala tanto?

_ Ele que cuida de mim. Ele me criou e...nossa, você está machucado! – disse a garota, vendo os ferimentos no rosto de Orion. – Vou curar você! – de dizendo isso, a jovem segurou o rosto do guerreiro beijou delicadamente sua boca. Orion sentiu um calor percorrendo seu corpo e suas feridas se fecharam instantaneamente.

_ Como você fez isso? – espantou-se Anix.

_ Ela deve ser uma druida! – sussurrou Nailo no ouvido do amigo.

_ Ah, a Deusa que me ensinou. É magia! – sorriu Lisandra.

_ Deusa? Que deusa? – perguntou Squall.

_ Como que Deusa? Allihanna, oras!

_ Você já viu Allihanna? – perguntou Lucano?

_ Sim, eu sempre converso com ela. Ela me ensinou muitas coisas.

_ Pois saiba que nós também já a vimos. Eu, inclusive, a vi duas vezes. E já conversamos com outros deuses também! – falou Nailo, orgulhoso.

_ Que bom. Se são amigos da Deusa, então são boas pessoas! – concluiu Lisandra, com um sorriso.

_ Ah, chega de enrolação! Não temos tempo para perder! Você vai nos ajudar ou não? – ralhou Legolas.

_ Sim, mas o que vocês precisam? Querem encontrar os Thera? – perguntou Lisandra.

_ Bem, sim. Na verdade... – Nailo começou a explicar, mas foi interrompido.

_ Ah, pare com isso, Nailo! Deixe que eu explique! – Legolas tomou a frente e contou a Lisandra tudo que havia lhes acontecido. Falou da morte de suas amadas, da traição de Zulil, da morte do amigo Sam, das almas aprisionadas e da torre negra que tinham visto através do portal. Lisandra se emocionou com a triste história e por fim, enxugando as lágrimas, falou:

_ Venham comigo!

_ Para onde? – perguntaram os heróis.

_ Para minha casa! Vou ajudar vocês! Vou levar todos até o Tork. Ele poderá ajudá-los!

Os heróis tiraram o bote da água e o esconderam perto da margem. Pegaram suas coisas e partiram novamente, acompanhando a jovem druida Lisandra. Não sabiam quem ela era, nem o importante papel que aquela inocente jovem teria na história de Arton. Sequer desconfiavam do destino que estava reservado para a garota e seu guardião Tork. Sem saber o que o futuro reservava para si, ou para aquela menina, os heróis seguiram-na, na esperança de obter a ajuda de que tanto necessitavam.

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