agosto 29, 2007

Campanha A - Capítulo 291 – Latnemeleangus

Capítulo 291 Latnemeleangus

O elemental bloqueou a saída do grupo com seu corpanzil líquido. Sua voz rugiu como uma tempestade, chacoalhando as paredes da caverna, criando turbilhões na água que a preenchia. Urrava em uma língua estranha e incomum, mas que os elfos presentes já haviam ouvido antes. Squall entendeu a mensagem, parte dela ao menos.

_ Ele está querendo saber quem somos nós! – disse o feiticeiro, usando o conhecimento do idioma aquan transmitido pelo mago Sairf nos poucos meses em que estiveram juntos.

_ Fale com ele, Squall! Diga que somos amigos, que não queremos fazer mal! – responderam os demais.

Squall tentou. Mas, seu domínio do idioma submarino era pequeno ainda, já que havia muito tempo que seus estudos tinham sido interrompidos devido à partida de Sairf. O elemental estava impaciente. Nailo, então, através de gestos, pediu ao ser aquoso que aguardasse por um instante. Pegou em sua mochila um pergaminho mágico e, sob o olhar atento e ameaçador do monstro, entregou-o a Lucano.

_ Tome Lucano! Faça esta magia, você conseguirá se comunicar com ele depois disso! – Disse Nailo.

Lucano tomou o pergaminho em suas mãos, pronunciou as palavras mágicas tal qual o ranger havia instruído (recebera essa informação na ocasião em que comprara o pergaminho) e a magia se fez. Lucano começou a falar no idioma da criatura da água, como se o conhecesse há eras. Entretanto, não havia um consenso entre o grupo sobre o que seria dito e eles discutiam entre si, conversando no idioma comum, o que seria dito ao monstro. Decidiram por bem não falar nada sobre o amuleto dos planos e assim foi feito. Lucano foi aos poucos traduzindo ao elemental o que era decidido pelo grupo.

_ Quem são e o que vieram fazer aqui? Como descobriram esse lugar? – perguntava o elemental em sua voz de tormenta.

_ Somos pessoas boas! Estávamos perseguindo essa bruxa! Ela transformou nossa amiga em pedra e estamos em busca de uma cura para ela! – respondia Lucano. – E você? Quem é?

_ Sou Latnemeleangus! Sou o guardião deste local! Ele é proibido para vocês!

_ E o que você guarda? – Lucano traduziu a dúvida de Squall.

_ Eu guardo a passagem! A passagem para o reino de Oceano! E agora que vocês encontraram esse lugar, não poderão mais ir embora! Ficarão prisioneiros aqui ou morrerão! Vocês decidem!

_ Não pode nos matar! Prometemos não contar a ninguém sobre esse lugar! Iremos embora em paz! Deixe-nos partir! – eram as palavras de Legolas e Anix traduzidas.

_ Não posso! Terei que matá-los! Recebei essas ordens de meu mestre! Não posso descumpri-las!

_ E quem é o seu mestre? – todos desejavam saber a mesma coisa.

_ Quem mais seria ele, senão o grande deus, Oceano? Eu sirvo ao Grande Oceano!

_ E você por acaso já viu seu deus? – dessa vez era de Nailo a pergunta feita por Lucano.

_ Claro que sim! Foi ele pessoalmente quem me deu esta missão!

_ Bem, nós também já vimos vários deuses! Somos escolhidos dos deuses! Então pode nos deixar ir embora! – o clérigo continuava a traduzir as palavras do ranger, que tinha um sorriso de vitória nos lábios. Mas a vitória não viria tão fácil assim.

_ Se puderem provar suas palavras, talvez eu possa deixá-los ir embora!

Nailo nadou até a parede, onde os peixes se escondiam em tocas escavadas. Convenceu alguns dos animais a acompanhá-lo. Diante do elemental, pediu a Lucano traduzisse suas palavras.

_ Viu só! Os peixes são a prova de que somos boas pessoas, enviadas dos deuses!

_ Ora, isso não prova e não significa nada! – respondeu o monstro com desdém.

_ E por que você não nos prova que viu seu deus? – novamente as palavras de Nailo saiam da boca de Lucano, tentando vencer a irredutibilidade da criatura.

_ Não tenho que provar nada a vocês! Vocês devem fazê-lo, se desejam viver!

A conversa se desenrolou por um longo tempo. Os heróis tentavam dissuadir o elemental de todas as formas possíveis e, enquanto ele prestava atenção a Lucano, Squall recolheu o que podia do corpo de Silmara, enquanto que Nailo conseguiu se apoderar da caixa onde, pensavam, estava o amuleto dos planos. Latnemeleangus se enfureceu.

_ O que vocês pegaram? O que tem nessa caixa? Digam a verdade agora!

Nailo pediu a Lucano que não dissesse nada sobre o amuleto dos planos, inventou uma estória, de que a caixa conteria cartas escritas por Deedlit, e Lucano traduziu palavra por palavra, a mentira criada por ele.

_ Bem, agora você já sabe de tudo! Não queríamos vir a este lugar, e não iremos contar sobre ele a ninguém! Apenas seguimos a bruxa, para encontrar uma cura para nossa amiga, e para recuperar as cartas dela.

_ MENTIRA!!! Parem já de mentir, e contem toda a verdade! – a voz do elemental rugiu como um maremoto e desta vez todos puderam entender. Ele estava usando o idioma comum, o valkar, falado por todos os povos do reinado. O elemental não só conhecia a língua dos heróis, como havia ouvido e entendido tudo aquilo que eles haviam dito entre si, acreditando estarem ocultando informações preciosas e que poderiam pesar contra eles, inclusive sobre o amuleto dos planos. O gigante de água continuou gritando, enfurecido. – Contem toda a verdade! Digam o que querem com o amuleto dos planos! Eu sei de tudo que vocês diziam entre si, enquanto pensavam que eu não os entendia! Digam agora ou eu os matarei!

_ Você é um grande imbecil! Nos fez perder tempo à toa! Poderia ter dito logo no início que falava valkar! Estou ficando irritado com você! Você não conseguirá nos matar! – eram as palavras de Anix, arrogante.

_ Sim, eu o farei, essa é a minha missão!

Começou então uma discussão. Os aventureiros estavam temerosos e ao mesmo tempo irritados por terem sido enganados pelo elemental. Latnemeleangus, por sua vez, parecia mais impaciente e descontente com as explicações dos heróis.

_ Chega de mentiras! O Grande Oceano me deu a missão de guardar este local e eliminar qualquer intruso! Contem-me toda a verdade imediatamente, provem-me que são enviados dos deuses e eu os deixarei vivos! Ou então, morrerão! – rugiu o monstro.

_ Você só fica falando desse seu deus, o tempo todo! Por que você não nos prova que é enviado dele? – desafiaram os heróis.

Orion retirou seu pingente de dentro de sua armadura e o mostrou ao monstro, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa que pudesse selar a paz entre eles, foi surpreendido pelo ataque do elemental.

Cansado de esperar, Latnemeleangus avançou em direção ao humano de súbito. Agarrou o seu corpo como um menino que segura um brinquedo e o ergueu facilmente. A outra mão envolveu a cabeça de Orion, agarrando-a de forma assustadora. Latnemeleangus começou a inclinar a pequena cabeça em sua mão, quase a separando do seu corpo frágil. Legolas disparou seu arco, mas suas flechas resvalavam na criatura sem lhe causar dano algum. Squall pegou a arma do goblin engenhoqueiro que havia levado consigo e disparou-a na direção do inimigo. Uma rajada em forma de cone se formou diante do feiticeiro, atingindo o adversário com gelo e neve, algo muito semelhante ao que Sairf costumava fazer, lembrou Squall. Mas nem isso foi capaz de ferir ou intimidar o monstro. Ele continuou esmagando Orion com suas poderosas mãos aquosas, sem dar-lhe chance sequer de respirar. Então, quando estava prestes a arrancar a cabeça do guerreiro, o elemental parou.

Latnemeleangus ficou parado a observar Orion, atônito. Nailo ouviu uma voz, e notou que ele conversava com alguém, chamava Orion de senhora. Orion, em sua prisão sabia que o seu captor falava alguma coisa, embora não pudesse entender qualquer detalhe da conversa. Nailo observava atentamente com seus ouvidos e olhos focados no monstro, enquanto seus companheiros permaneciam como que paralisados, sem saber o que fazer. Foi nesse instante que ele notou algo estranho. Havia uma mancha escura no interior do corpo do elemental, algo sutil demais, que apenas uma visão apurada como a dele poderia notar. Pensou ser aquilo o coração do monstro, ou algum tipo de ponto fraco, como um órgão ou algo semelhante. Mas, antes que ele pudesse pensar em comunicar seus amigos e atacar a suposta fraqueza da criatura, Latnemeleangus abriu suas enormes mãos e soltou Orion.

_ Agora eu entendo tudo, e acredito em suas palavras! Estão livres para ir embora! Mas, jamais devem revelar a existência desse lugar! A ninguém vocês poderão falar sobre este lugar! Somente a pessoas em quem puderem confiar de verdade, somente a outros escolhidos, assim como vocês, é que poderão contar sobre este local! – disse Latnemeleangus, sua voz rugia como uma tempestade que se distanciava e dissipava, toda a fúria havia cessado.

_ Ufa! Até que enfim! Agora você acredita que nós vimos outros deuses, certo? Bem, mas o que foi que convenceu você? Com quem você falava! – falou Nailo.

_ A senhora do conhecimento me mostrou a verdade! Ela me contou tudo sobre vocês, Nailo! – respondeu o enorme ser.

_ Como você sabe meu nome?

_ Agora eu sei de muitas coisas sobre todos vocês! Sei que estavam em busca do Amuleto dos Planos, para impedir que esta bruxa o usasse para destruir Arton! Mas fiquem tranqüilos, pois já faz muito tempo que o amuleto está em segurança! – e dizendo essas palavras, Latnemeleangus contorceu seu corpo liquefeito e seu peito se abriu, como uma cascata que se dividisse ao meio. De lá de dentro ele retirou um medalhão atado a uma corrente prateada, mostrou-o aos heróis e o guardou novamente. Seu peito se fechou e fez sólido outra vez.

_ Mas então, ele estava com você esse tempo todo? Mas afinal, quem é você, e o que é esse lugar? Como conseguiu o amuleto? – indagou Anix.

_ Eu sou o guardião da passagem para Pelágia, o reino de meu senhor, o reino de Oceano! Além daquele túnel há um portal que conduz ao reino do senhor dos mares. Eu sou o guardião dessa passagem! Eu a protejo de invasores há eras! Ela existe nesse lugar desde muito tempo atrás, e existirá ainda por longo tempo! Eu recolhi este amuleto do navio lá fora, anos antes de vocês chegarem aqui, e o guardo, assim como o portal, a mando de meu mestre! – explicou o elemental.

Nailo resolveu, então, olhar a caixa que, achavam, continha o amuleto dos planos. Olhando a imagem esculpida em sua tampa, o ranger viu que se tratava de uma pessoa, diante de uma mesa oval, segurando um maço de cartas em sua mão, com ambos os braços estendidos para o alto. Aquilo que achavam ser uma pessoa abrindo um portal, na verdade era um jogador e suas cartas. A caixa continha um baralho. Mas, deveria ser um baralho muito especial para estar guardado daquela forma tão cuidadosa, de modo que Nailo resolveu guardá-lo para averiguar depois.

_ Vocês podem partir agora, e levar a bruxa e seus pertences com vocês! – disse o elemental. Legolas agarrou o corpo de Silmara e partiu, sozinho.

_ Espere, por favor, talvez você possa nos ajudar! A namorada de meu irmão foi transformada em pedra! Diga-nos o que fazer para que ela volte ao normal! Se você é tão poderoso e antigo quando aparenta, deve saber de algo que possa nos ajudar! – pediu Anix.

_ Não! Eu não tenho esse conhecimento nem esse poder! Mas me foi revelado, e eu lhes digo, que Deedlit voltará ao normal! Sigam seu caminho, e o destino se encarregará de solucionar esse problema! – respondeu Latnemeleangus. – Mais uma última coisa! A vocês foi concedido o direito de ver a passagem que eu guardo! Se desejarem vir comigo, poderei lhes mostrar aquilo que guardo!

Nailo, Squall e Orion aceitaram a proposta. Anix e Lucano decidiram aguardá-los no local onde estavam, enquanto Legolas se dirigia ao Trinidade, em busca de tesouros submersos. Assim, Latnemeleangus, o guardião, Nailo, Squall e Orion entraram pelo túnel de onde o elemental tinha surgido e desapareceram na escuridão.

agosto 16, 2007

Campanha A - Capítulo 290 – Batalha nas profundezas

Capítulo 290 Batalha nas profundezas

Mergulharam. A água era fria e turva, enegrecida pela proximidade com a ilha e pela agitação das ondas. Partículas boiavam na água, dificultando a visão, a ausência do brilho de Azgher naquele dia chuvoso também contribuía para camuflar a inimiga no leito do Grande Oceano. Diversos animais marinhos rodeavam o casco do navio, alimentando-se de pequenos crustáceos que se prendiam à madeira. Nailo encontrou um peixe adequado e foi até ele, lentamente, tentando não espantá-lo. Conseguiu se aproximar o suficiente, pode até passar a mão no pequeno animal, mas preferiu não perder tempo e começou a falar.

Nailo conversava com um peixe prateado, favorecido pelo poder que Allihanna lhe concedera muitos dias atrás. O pequeno animal, apesar de entender o que o elfo dizia, estava mais preocupado em comer os pequenos caranguejos que caminhavam no casco do navio, chegou até a oferecer a Nailo uma porção de seu pequeno banquete.

Os demais olhavam espantados para a cena, sem entender o que acontecia. Enquanto esperavam, Legolas colocou dois brincos dentro de suas guelras, criadas pela magia dos pergaminhos de Deedlit, para ver o que aconteceria com eles quando o tempo de duração da magia terminasse.

Nailo a perguntar ao peixe sobre Silmara. Mas o animal, apesar de entender as palavras de Nailo, não era capaz de compreender muitos conceitos mencionados por ele, de modo que o elfo levou algum tempo para explicar ao animal quem era a bruxa que ele procurava. Mas, quando a pequena criatura finalmente entendeu do que o ranger falava, o medo tornou-se visível na expressão impassível do animal.

Por pouco o peixe não fugiu, apavorado, temendo que Nailo fosse devorá-lo, da mesma forma que a bruxa já havia feito com muitos dos seus iguais. Mas o elfo foi astuto ao oferecer comida, rações de viagem, ao peixe e conseguiu provar que não era amigo de Silmara, acalmando o animal. Em troca da comida, que o peixe devorava avidamente, Nailo pediu que o animal o avisasse, no fundo do mar, caso ele visse a bruxa em algum lugar. Assim Nailo firmou o pacto com a pequena criatura, colocando-a para comer em segurança em uma toca aberta com a lâmina de sua espada. Caso Silmara passasse perto daquele local, Nailo seria avisado. O peixe ainda os ajudou, apontando para qual direção Silmara tinha ido, momentos antes de os heróis mergulharem na água.

Então todos mergulharam seguindo a direção apontada pelo animal cada vez mais fundo, em busca da detestável adversária. Nadaram um longo tempo, sempre em direção ao fundo, quando finalmente avistaram, a cerca de trinta metros de onde estavam, os destroços daquilo que outrora fora uma admirável caravela.

O Trinidade jazia no leito oceânico aos pedaços. Rombos enormes em seu casco de madeira apodrecida, enormes algas que cresciam ao redor e sobre ele, denunciavam a enorme quantidade de tempo que a embarcação permanecera abandonada naquele local. O fundo do mar era pedregoso, recoberto de cascalho grosso e areia. Enormes algas cresciam ao redor do navio, dentro e sobre ele, criando uma pequena floresta subaquática. Um enorme paredão de pedra, a extensão submersa da pequena ilha do farol, cercava um dos flancos do Trinidade, para o qual estava voltado seu casco esburacado. Os mastros estavam partidos e podres, não havia qualquer sinal de suas velas, de tesouros, ou de sua antiga tripulação. O local era só desolação. Partículas em suspensão, bem como a escuridão, quebrada apenas pela luz fornecida pelo arco de Legolas, dificultavam a visão de todos. Ainda assim, Nailo foi capaz de enxergar uma caverna no paredão de rocha, para onde a bruxa pudesse talvez ter ido. E havia algo mais, que todos conseguiram ver, ainda que com dificuldade. Nadando próximo ao navio, como se o vigiasse ou esperasse por algo, um enorme selako cinzento se fazia presente e assustador. De súbito, o animal notou os heróis, ergueu seu corpo cartilaginoso, dobrou a cauda para tomar impulso, e os atacou.

O animal avançou velozmente pela água, e Nailo pode ver com detalhes seus olhos vermelhos, brilhantes como fogo, e as estranhas manchas negras que ornamentavam seu corpo musculoso.

Uma saraivada de flechas atingiu o animal. Cada uma deixava um rastro de água congelada ao se deslocar, formando uma fina barra de gelo que se quebrava em minúsculos pedaços assim que o alvo era atingido. O monstro continuou avançando com voracidade, embora os ataques de Legolas o tivessem debilitado. Abocanhou a perna de Anix, arrancando um naco de carne e espalhando uma cortina vermelha pela água. Dois outros monstros surgiram de dentro dos destroços do Trinidade, atacando com a mesma violência do anterior. Orion só não teve sua carne rasgada graças à suas armadura. Já Nailo não teve a mesma sorte, que o humano, sentindo na carne o quão afiadas eram as presas do monstro. Em meio ao combate que se iniciava, Nailo ouviu um voz vindo de dentro da embarcação naufragada, que entoava estranhas palavras num padrão constante e ritmado.

_ Esses selakos não são normais! Tem alguma coisa estranha neles, eles não são deste mundo! Tomem cuidado! E tem uma voz, alguém falando uma língua estranha dentro do navio! Deve ser a bruxa! – alertou Nailo.

_ Nailo tem razão, esses animais não são de nosso mundo, mas sim de algum outro plano de existência maligno! – completou Lucano.

_ Devem ser criaturas invocadas! – sugeriu Anix, sua voz era carregada de dor.

_ Impossível, se a bruxa está no navio, eles estão fora do alcance da magia dela, deveriam ter desaparecido, como acontecia com as criaturas que o Sairf invocava! – corrigiu o ranger.

Orion, que não desejava perder tempo conversando, tratou de golpear o monstro ferido por Legolas com sua espada. A lâmina abriu o corpo da criatura ao meio e o sangue jorrou farto, tingindo toda a água ao redor dele. Com um segundo golpe o guerreiro arrancou a nadadeira dorsal de outro selako, deixando-o quase à beira da morte. O animal abatido desapareceu diante de todos, como se tivesse sido transportado por mágica.

Então Nailo ouviu novamente a voz dentro dos destroços e avisou seus companheiros. Desta vez, surgiu um enorme crocodilo, também de olhos avermelhados e pele recoberta de manchas negras, que avançou na direção dos heróis.

Anix usou seu poder mágico, fazendo surgir uma espécie de rede sobre o crocodilo. O animal se enroscou nos fios pegajosos, e afundou, ficando preso no fundo do oceano. Com suas espadas Nailo eliminou os selakos restantes, fazendo-os também desapareceram, exatamente igual ao que acontecia com as criaturas que Sairf e Lucano invocavam para ajudar seu grupo.

Restava apenas o monstruoso réptil que lutava contra a armadilha de Anix no leito oceânico. Legolas avançou contra ele, disparando suas flechas e pousou sobre o casco do Trinidade. Squall acompanhou o arqueiro, e entrou por uma abertura no casco do navio, descendo em seu interior escuro. Legolas entrou logo atrás dele, usando seu arco para iluminar o ambiente. Os demais concentravam seus esforços em atacar o crocodilo. Orion e Nailo, com cortes precisos conseguiram destruir a criatura, que também desapareceu, retornando ao seu plano de origem. Dentro do navio, a situação se complicava.

O interior do Trinidade era tomado por entulho, enormes algas e formações de corais. Squall e Legolas buscavam com seus olhos por sinais de Silmara em meio àquela desordem, quando foram surpreendidos por um outro selako, que espreitava por entre as algas. O animal atacou Squall com seus dentes de faca, espalhando o sangue do feiticeiro por todos os lados. Os dois elfos reagiram rápidos, prostrando-se em posição de combate, mas, antes que pudessem fazer qualquer coisa, foram novamente surpreendidos.

_ Dare bia natha!!! – e voz de Silmara ecoou em um grito abafado e distorcido pela água. Uma pequena esfera brilhante partiu do dedo da bruxa em grande velocidade e explodiu sobre os dois elfos. E ao invés de chamas, ondas de eletricidade os envolveram, eletrocutando-os perigosamente. O selako que atacava os dois elfos sucumbiu ao poder elétrico de Silmara e desapareceu. Squall, Legolas e até Cloud ficaram seriamente feridos e espantados com a habilidade da bruxa.

Squall avançou recitando um verso arcano e gesticulando. Iria usar sua mais poderosa magia, que se fazia em forma de uma explosão chamas ardentes. Mesmo embaixo d’água, conseguiu concluir com sucesso os componentes verbais e gestuais que ativavam o feitiço, mesmo embaixo d’água, a bruxa sentiria o calor de suas chamas, ainda que fosse na forma de uma bolha de vapor ou algo parecido. Mas nada aconteceu. Silmara gargalhava sem sofrer qualquer efeito da magia de Squall. Nem sinal de bola de fogo, nem sinal de chamas, nem sequer vapor ou qualquer rastro de energia mágica. A horrenda mulher parecia ser imune à magia.

Atraídos pelo som da batalha, Orion e Nailo entraram no navio destroçado. Protegida por sua camuflagem de algas, a feiticeira não podia ser localizada pelos heróis. Somente Legolas conhecia sua localização exata e tentava revelá-la aos companheiros. Com sua visão apurada, Nailo percebeu rapidamente onde Silmara se escondia. Invocou o poder de Allihanna e as algas que cresciam no chão arenoso o obedeceram. As plantas começaram a se mover freneticamente, como se tentassem laçar umas às outras, pedaços do navio e o próprio Nailo e seus amigos. Mas, no centro da agitação das algas, havia um recanto de calmaria, um local, um círculo de mais de um metro, onde as algas não se moviam, continuando em seu estado estático, sendo agitadas apenas pela corrente marítima.

_ Ela está lá! – gritou Nailo –Naquele lugar onde as algas não se movem!

_ Amigos da vagabunda! Vou matar todos vocês! – a bruxa revelou sua presença, afastando as algas com a mão. Estava envolta por uma esfera translúcida e de brilho tênue, algum tipo de campo de energia que a protegia das magias dos heróis. Com gestos rápidos e palavras arcanas, Silmara criou uma nova explosão de eletricidade sobre os heróis.

As faíscas se espalharam por toda a área do navio, quase chegando a Legolas, que estava mais distante, e a Anix, que estava fora da embarcação. Orion e Squall convulsionavam, tendo espasmos, afetados pela eletricidade que atingia e feria seus corpos. Nailo e Cloud contraíram seus corpos, reduzindo a área por onde a energia poderia ser conduzida e conseguiram sair ilesos do ataque.

A bruxa nadou para cima, escapando do alcance das algas animadas, e para fora do navio. Todos correram para impedir sua fuga, perseguindo-a fora do navio. Squall usou sua varinha mágica e destruiu parte da força física da inimiga, enquanto Lucano usava o poder de Glórienn para curá-lo. Mesmo assim, a bruxa se afastava do grupo, indo em direção ao paredão rochoso próximo ao Trinidade, em direção à caverna.

Orion a cercou, ganhando alguns segundos para que Anix a alcançasse e a atacasse com seu novo poder. Anix recitou as palavras de sua nova magia, a mesma que usara contra a medusa da chuva, e um raio negro saiu de sua mão, atingindo Silmara com precisão. A bruxa ficou ofegante e amaldiçoou o mago, mas não revidou. Sabia que estava mais fraca, que seus poderes eram agora menores do que antes.

Com medo, a mulher fugiu para a caverna, nadando acima de Nailo que bloqueava a abertura na rocha. Nailo desferiu um corte limpo na bruxa com sua espada comprida, mas nem isso a impediu. Enquanto nadava montanha adentro, todos puderam ver algo que os deixou apavorados. Amarrada às costas da bruxa havia uma caixa pequena, toda branca como o marfim. Era decorada com detalhes rebuscados e em sua tampa havia um entalhe em alto relevo. Era uma figura oval, como um espelho, ou um portal mágico. Diante do detalhe havia a figura de uma criatura, um humano talvez, que tinha os braços estendidos para o alto, como se comandasse a abertura do suposto portal e segurava algo em suas mãos. Algo pequeno como um medalhão ou amuleto. O Amuleto dos Planos.

Silmara estava com a caixa que continha o amuleto mágico e desaparecia rapidamente na escuridão da caverna, sem que os heróis pudessem fazer qualquer coisa para impedi-la. O prazo para deter a bruxa e a destruição do mundo se esgotava rapidamente.

Sem perder tempo o hesitar, o grupo penetrou pela abertura na rocha, perseguindo a mulher que desejava dar fim a toda a existência. Orion acionou sua espada de fogo, as labaredas lutavam ferozmente contra a água do mar, conseguindo com muito esforço permanecerem brilhando. Nailo evocou uma magia de proteção contra as magias elétricas da bruxa e acionou sua espada, ficando a salvo das faíscas que corriam desordenadas pela lâmina anã. Anix ficou invisível e todos usaram suas poções mágicas e a ajuda de Lucano para se curarem o dano causado a seus corpos pela bruxa e seus monstros.

Estavam em uma fenda natural que separava duas porções de rocha igualmente gigantescas. Algo, como um terremoto talvez, deveria ter feito as duas montanhas submarinas desabarem uma na direção da outra, escorando mutuamente e deixando uma pequena caverna no espaço que restava entre as duas. A água se tornava cada vez mais escura e fria, à medida que afundavam naquelas trevas. Não havia sinal de vida por ali, nenhum peixe, nenhuma alga ou crustáceo. Nada, nem mesmo sinal da inimiga. Enquanto avançavam, nailo preparava com cuidado os frascos de limo corrosivo que recolhera da medusa da chuva, amarando suas rolhas em um pedaço de corda fina, de forma que pudessem ser retiradas com um puxão. Nadaram por cerca de duzentos metros montanha adentro, sempre descendo cada vez mais, até que avistaram uma luz.

Faíscas serpenteavam logo à frente do grupo, bloqueando aquilo que parecia ser o fim do túnel. Nailo passou no meio dos pequenos relâmpagos sem ser ferido. Os demais foram obrigados a nadar rente ao teto do túnel, para conseguirem passar por cima das faíscas e evitar serem eletrocutados.

Estavam agora em uma ampla caverna circular. Seu teto tinha mais de uma dezena de metros de altura e suas paredes brilhavam de forma estranha. Pequenos furos nas paredes emitiam uma luz fantasmagórica de tom esverdeado. Eram pequenos peixes abissais, com apêndices luminosos sobre suas cabeças e dentes afiados que iluminavam o lugar e se escondiam em suas tocas, apavorados. Havia três outros túneis. Um à esquerda, um à direita e um que seguia em frente. E bloqueando o caminho que seguia adiante estava ela, a bruxa. Quatro bruxas, na verdade.

_ Agora vou matar todos vocês, malditos! – as quatro bruxas estavam a menos de dois metros uma da outra. Moviam-se e falavam de forma idêntica, como se fossem reflexos em um espelho.

Nailo correu e atacou. Sua espada fez um arco longo e atingiu uma das bruxas no peito. A mulher se partiu em milhares de pedaços como se fosse feita de vidro e desapareceu. As três bruxas restantes conjuraram um feitiço, e uma esfera de faíscas elétricas despencou sobre Legolas, Orion e Squall.

Os heróis avançaram, livrando-se dos relâmpagos que faiscavam na entrada da grande gruta. Projéteis de energia pura saíram das mãos de Squall e atingiram uma das bruxas. Todas as três gritaram e se contorceram, como se todas elas tivessem sido afetadas pela magia.

Nailo pegou a corda em sua cintura e arremessou com toda a força os quatro frascos de visco de medusa numa pedra entre duas das bruxas. Os frascos explodiram e chamas azuladas espirraram de dentro deles, atingindo duas das bruxas. Uma delas desapareceu imediatamente, como já tinha acontecido antes. A outra permaneceu. Era a verdadeira.

Silmara olhou ao redor e escolheu Orion para ser o primeiro a morrer. Seus olhos fitaram os do guerreiro por uma fração de segundo. Orion emudeceu e empalideceu, sua espada caiu de suas mãos e seu corpo afundou lentamente até repousar no solo, inerte. Parecia sem vida.

_ Desgraçada! Tome isso! – Anix estendeu as mãos na direção da inimiga e ondas de energia escura a atingiram. Silmara perdeu o fôlego e ficou ofegante, como se tivesse corrido por horas sem parar. No chão, um brilho no peito de Orion despertou a atenção de todos. O medalhão que o jovem havia recebido da velha na estrada brilhava como uma estrela. Seu brilho era alvo e poderoso, sendo visto até através da armadura metálica do guerreiro. Os olhos de Orion piscaram, quebrando o estranho transe em que ele estava, ele agarrou a espada e se levantou.

Squall transferiu seu poder mágico para sua espada e atacou. Nailo veio pelo outro flanco e os dois rasgaram a carne da criatura quase ao mesmo tempo. O ataque de Squall abriu uma ferida enorme na mulher, deixando seu braço esquerdo inutilizado e suas tripas à mostra. Silmara estava agora cercada por todos os lados. A bruxa tentou um último ataque, visando enfraquecer Nailo, mas já era tarde. O ranger resistiu á magia maligna da feiticeira. Anix surgiu de trás dele num salto, com a mão direita tomada de uma energia brilhante. Desferiu um soco no seio direito da mulher e sua magia explodiu em forma de faíscas elétricas. Todos que estavam ao redor, com exceção de Nailo, sentiram um potente choque, mas resistiram. Já Silmara, foi eletrocutada até a morte.

A bruxa emitiu um último e desesperado grito, afogado pela água salgada, que ecoou por toda a caverna, e encerrou seus dias de vilania para sempre. Seu corpo tocou o solo suavemente, carregado pelos braços de Oceano. Então, tudo tremeu.

O teto, as paredes e o chão começaram a tremer a desabar. Um estrondo ensurdecedor veio do túnel da esquerda, arrastado por uma violenta corrente de água que arrancava pedaços da rocha bruta como se fosse feita de papel. Um enorme redemoinho se formou diante dos heróis, bloqueando o caminho de saída. As águas giraram velozmente e se moldaram até formar uma criatura. Era um humanóide gigantesco, tão alto que quase precisava se curvar para não bater no teto da caverna. E seu corpo era composto única e exclusivamente de águas revoltosas que pareciam sólidas e capazes de tocar e segurar qualquer tipo de coisa. Era uma criatura viva feita de água, uma criatura mágica que vinha do reino do deus Grande Oceano. Um elemental da água.

agosto 13, 2007

Capítulo 289 – Reencontro com a bruxa

Capítulo 289 Reencontro com a bruxa

Os jovens heróis curavam seus corpos feridos com magia, enquanto Squall subia a escadaria do farol apressado. Nailo recolhia o muco do monstro em pequenos potes vazios de poção mágica para utilizar mais tarde, em combate. Estavam todos apreensivos, ansiosos por saber o que acontecia no alto da torre. Embora temessem pela segurança de Deedlit e de seus tesouros, todos tinham certeza de que Squall seria capaz de cuidar sozinho de Léo Seis Dedos. Mas eles subestimavam a astúcia do pirata, pois ele já tinha colocado seu plano secreto em prática.

Squall chegou ao alto da torre, mas não viu sequer o menor sinal do pirata, ele havia desaparecido. O feiticeiro correu para o parapeito, para avisar seus companheiros, quando ouviu uma risada diabólica e assustadora.

_ Eu consegui!!! O amuleto é meu!!! Encontrei!!! Eu vou dominar tudo!!! O mundo será meu!!! – Silmara, a bruxa, nadava nas águas turbulentas após o navio, rindo e gritando, eufórica, anunciando sua descoberta. Deu um salto pra fora d’água, como se fosse um golfinho, expondo todo o seu corpo horrendo. Legolas disparou uma flecha, que perfurou um dos seios nojentos da criatura. – Malditos! Amigos da vagabunda! Vou destruir vocês! – Silmara os encarou com seu olhar frio e maligno. Legolas, Anix e Silfo sentiram como se suas energias lhes fossem arrancadas à força, e caíram no chão, enfraquecidos. Silmara mergulhou e desapareceu sob as ondas.

Anix estava deitado no chão molhado, a chuva despencava sobre seu corpo imóvel tornando sua respiração ainda mais dificultosa. Estava fraco como uma criança. Legolas tentava em vão retesar a corda de seu arco e Silfo tinha dificuldades para erguer sua clava e até para se manter em pé.

Squall chegou do alto, impulsionado pelo poder de vôo de um dos pergaminhos mágicos de sua amada, Deedlit. Trazia em suas mãos uma das estranhas armas de Grinch, o goblin. Contou aos amigos da fuga do pirata e convocou-os a perseguir a bruxa.

_ Temos que pegá-la depressa, antes que ela use o amuleto! Não podemos deixar que ela o use, ou nosso mundo será destruído!

Rael, o jovem clérigo de Ab’ Dendriel, reforçava os apelos do velho amigo, dizendo que caso a mulher conseguisse usar o artefato, poderia fazer com que a Tormenta invadisse e destruísse Arton em instantes.

Nailo saiu em disparada para a entrada do farol. Estava disposto a encontrar o pirata onde quer que ele estivesse. Rael usava o poder de Wynna para restaurar a força de seus amigos, enquanto era apresentado a todos eles por Anix.

Nailo desceu até a pequena praia, onde haviam ancorado o barco que os trouxera até a ilha, para conferir se a embarcação ainda permanecia lá. Avistou-a mais de uma centena de metros mar adentro, sendo remada com frenesi por Léo Seis Dedos. Rapidamente Nailo usou seu poder e clamou por um dos filhos de Allihanna. Um grande selako cinzento emergiu das profundezas do mar e foi até o ranger. Nailo conversou com o animal numa língua que somente os dois compreendiam, e saltou em suas costas. Assim, cavalgando o selako, Nailo alcançou o barco e o pirata.

_ Ei você! Volte! – gritou Nailo.

_ A bruxa! A bruxa! A bruxa! – respondeu Léo, aos prantos.

Nailo saltou sobre ele, abandonando sua montaria, e começou a golpeá-lo com toda força no rosto. Léo tentava se defender com golpes de remo, mas Nailo era mais rápido e se esquiva, revidando com socos certeiros. O combate durou poucos segundos, até que Léo Seis Dedos terminou desacordado no casco do bote. Nailo remou o barco e voltou para a ilha, seus amigos o aguardavam na praia, ansiosos.

Léo foi amarrado e amordaçado. Pediram a Silfo para tomar conta do pirata, o que deixou Rael assustado, já que ele não sabia que Léo era um inimigo. Com tudo explicado, o clérigo se ofereceu para permanecer no farol e ajudar a tomar conta do prisioneiro e de Deedlit. Com tudo decidido, Squall pegou os pergaminhos que pertenciam a Deedlit e, com a ajuda de Rael, começou a lançar sobre si e seus companheiros as magias que lhes permitiriam respirar e se movimentar normalmente sob a água. Até Cloud foi incluído no grupo que mergulharia atrás de Silmara. Assim, eles finalmente se atiraram na água para tentar impedir a perversa bruxa de usar o amuleto dos planos e destruir todo o mundo conhecido.

julho 26, 2007

Campanha A - Capítulo 288 – Perigo na chuva!

Capítulo 288 Perigo na chuva!

Anix, Legolas e Orion se aproximaram do navio pirata. Não havia mais nada que o prendia à ilha, precisavam encontrar uma forma de alcançá-lo. Orion tomou distância, assumindo para si a responsabilidade. Correu até a beirada do abismo que o separava da superfície da água e saltou. Foi um pulo poderoso, o guerreiro transpôs os quase seis metros que o separavam do navio com facilidade. Mas seu impulso não foi suficiente para colocá-lo sobre o convés, em segurança. Orion agarrou-se à lateral do casco, ficando pendurado. Começou a escalar sem grandes dificuldades. A chuva caía pesada e fria sobre seu corpo emoldurado na armadura metálica, mas isso não diminuía sua determinação. Quando estava quase dentro do navio algo estranho e assustador surgiu de dentro da água.

Inicialmente, Legolas e Anix pensaram ser algum fenômeno causado pela chuva e pelas adversas características do reino, mas logo depois perceberam que era uma criatura que estava diante deles. A imagem de Orion no meio da chuva ficou distorcida, como que por trás de um vidro sujo e irregular. À medida que aquela coisa emergia do oceano, seu corpanzil transparente se colocava entre o humano e os elfos. Seus tentáculos longos e translúcidos, uma dezena deles, agitavam-se ritmicamente em movimentos coordenados, que davam a impressão de que a criatura escalava os pingos d’água que se precipitavam do céu. Diante deles flutuava uma imensa água viva, um tipo exótico de criatura que mais tarde seria chamado de Medusa da Chuva.

Com um dos tentáculos, o monstro atacou Orion, indefeso, que se agarrava ao casco do navio. O som da pancada superou o rugido da tempestade que caía sobre eles, dando a noção exata da dor que o humano sentia. Uma secreção pegajosa e incolor escorreu para dentro da armadura do guerreiro, queimando-o. Era ácido. Orion tentou segurar o grito de dor, em vão, pois ao entrar em contato com a água da chuva, o líquido cáustico sofreu uma reação química explosiva, entrando em combustão e abrindo feridas na pele do guerreiro.

Legolas disparou, suas flechas penetravam na criatura, congelando-a por dentro, para logo depois serem espedaçadas pelo movimento do corpo gelatinoso do monstro. Orion, já em pé no navio, combatia com sua espada de chamas ferozmente. Anix fulminava a criatura com suas magias, arrancando pedaços de seu corpo mole. Iam vencer, tinha a certeza disso. E estavam errados.

O monstro contra-atacou, chicoteando com seus tentáculos assassinos. A cada golpe uma explosão, um grito de dor. As pancadas atordoavam, esmagavam ossos e carne e vinham acompanhada do ácido mortal, que corroia a carne e explodia em chamas azuladas ao entrar em contato com a água da chuva. Os heróis transformavam sua dor em gritos ou gemidos. O monstro avançava silencioso.

Do alto da torre do farol, Silfo foi o primeiro e único a ouvir as súplicas de seus amigos. Quando olhou para baixo, Legolas era o único que ainda restava em pé, envolto por seis tentáculos que o esmagavam, corroíam e queimavam.

_ Aniiix!!! – gritou o sátiro, desesperado. Seu grito alcançou as nuvens escuras e conseguiu chegar aos ouvidos de Nailo, que pescava na praia. Silfo desceu as escadas do farol em disparada. Em seu caminho encontrou Lucano, Squall e Rael e, embora nenhum deles entendesse as palavras de Silfo, todos entendiam que algo de grave acontecia e correram junto com ele para salvar os amigos. Nailo lembrou-se que Anix tinha ido para o navio, junto com Legolas e Orion e deduziu que estavam em perigo. Abandonou sua rede na areia e correu, sacando suas armas. No campo de batalha, a consciência deixara o corpo do arqueiro e Legolas tombara, vítima dos ataques do monstro.

Quando chegaram à cena da batalha, Nailo e os outros viram Legolas e Orion caídos no chão, desacordados. Anix era segurado delicadamente pelos tentáculos da criatura, e algo como uma boca gigantesca se abria diante do monstro para devorá-lo.

Rael tomou a frente do grupo, correndo como louco e gritando o nome de Wynna com fervor. Sua fé o movia mais rápido que as gotas que caíam do céu. Jogou seu corpo ao ar, esticando os braços e caiu, suas mãos tocavam o peito de Legolas, cujo sangue jorrava em abundância semelhante à da água que despencava sobre o mundo. Um brilho cálido envolveu o corpo do elfo, o sangue deixou de verter e o arqueiro despertou, já agarrando o arco que jazia a seu lado.

Squall se aproximou, com menor velocidade, disparando rajadas de energia mágica de suas mãos, dando chance para que Nailo avançasse e cortasse um dos tentáculos do monstro, salvando Anix de ser engolido vivo. Lucano e Silfo vinham mais atrás, tentando alcançar os amigos, e Cloud, a pedido de Squall, voou para o topo do farol, para vigiar o pirata de seis dedos.

O monstro reagiu rápido aos inimigos que chegavam, golpeando com violência Nailo e Rael. O clérigo não resistiu aos ataques, vindo a desmaiar logo em seguida. Como Nailo se demorava a cair na mesma situação, a criatura o agarrou, envolvendo-o com seus tentáculos e sufocando-o.

Legolas rastejou para fora do alcance do inimigo e suas flechas começaram a chover sobre o monstro. Lucano investiu contra a criatura, Dililiümi brilhando em suas mãos. Entretanto, o clérigo errou o ataque, confuso com a aparência difusa do monstro. Então uma voz o chamou.

_ Lucano! Solte-me sobre o corpo de Anix! Depressa!

O clérigo reconheceu a voz que ecoava em sua mente, era Dililiümi. Soltou a espada sobre o peito do amigo que jazia a seus pés, um brilho tomou a arma e depois envolveu o corpo do mago. E Anix despertou.

_ Anix! Ataque o monstro! Ataque!

O mago se espantou ao ver-se cercado pelos amigos, e ao ouvir aquela voz que não sabia de onde vinha. Mesmo confuso, não hesitou e tocou o corpo do monstro com a espada mágica. Descarregou através dela uma magia que nunca tinha usado antes e uma aura negra envolveu a criatura drenando sua energia vital.

Mas, o monstro continuava forte o suficiente para continuar atacando. Seus tentáculos golpearam Legolas, Lucano e Nailo, deixando o ranger completamente imobilizado com sua pele ardendo sob o ácido explosivo.

As flechas de Legolas começaram a partir os tentáculos que agarravam o companheiro e outras flechas começaram a chover sobre a criatura, disparadas por Silfo. Com a varinha que pertencera a Zulil, Squall disparou um raio de trevas que enfraqueceu a criatura, afrouxando a prisão de Nailo. Sacando uma espada reserva, Lucano cortou o que restava do membro fibroso, libertando o amigo de seu abraço mortal.

As espadas de Nailo saltaram sobre o monstro como as gotas que vinham do alto, rasgando, furando e eletrocutando. A medusa da chuva revidava, lançando seus apêndices contra todos a seu redor. Anix, com Dililiümi na mão, arrastava o corpo de Rael para um local seguro.

Espadas e flechas se cruzaram, imbuídos com poder mágico, perfurando, rasgando e arrancando pedaços da criatura. Cercada e em desespero, o monstro tentou fugir enquanto desferia seus últimos golpes nos heróis. Mas não resistiu aos ataques e abateu-se. Seu corpo gelatinoso caiu no chão encharcado de água e sangue, e começou a murchar lentamente. Nailo ainda teve tempo de recolher em alguns frascos a essência do monstro, esperando aproveitar seu ácido explosivo em outra ocasião. Rael despertou, ajudado por Anix e reconheceu o rosto do amigo, após longo tempo sem o ver. Estavam todos feridos, e muito, mas a batalha estava ganha, ao menos por enquanto. A chuva descia com força, para lavar seus corpos ensangüentados e limpá-los do muco corrosivo do inimigo vencido. No alto do farol, Cloud dava o alerta. Algo havia acontecido. Léo Seis Dedos estava tramando alguma crueldade. Desesperado, Squall correu, deixando os amigos para trás, para proteger a sua amada das maldades do pirata.

julho 17, 2007

Campanha A - Capítulo 287 – Exploração na ilha do farol

Capítulo 287 Exploração na ilha do farol

Enquanto todos descansavam e interrogavam o pirata, Legolas saiu para explorar o navio, após saber, pelas palavras de seus amigos, que não havia outras criaturas dentro da embarcação. O arqueiro percorreu cada um dos aposentos da nau, em busca de outros tesouros ou informações importantes escondidos. Mas não havia mais o que encontrar além das coisas mundanas usadas pelos piratas goblinóides e sua capitã bruxa. Legolas, então, retornou para a torre.

Enquanto isso, no farol, Nailo vasculhava o terceiro andar, em busca de outros prisioneiros e de mais monstros para serem exterminados. Não encontrou tesouros ou itens úteis, e nenhum sinal de outros prisioneiros, mas encontrou algo para fazer. Usou os frascos de óleo que trazia em sua mochila mágica para fazer bombas incendiárias e com elas exterminar os goblinóides que haviam sido transformados em animais, antes que eles pudessem voltar ao normal e ameaçá-los. Após isso, o ranger deu-se por satisfeito, decidindo continuar a exploração no dia seguinte e retornando para junto de seus companheiros.

No alto da torre, os demais tentavam secar e aquecer os seus corpos, enquanto interrogavam Léo Seis Dedos.

_ Tem certeza que não sabe mais nada? – Anix era incisivo em sua voz. Seu olhar fulminava o pirata com promessas de sofrimento eterno, caso ele omitisse algum fato ou mentisse.

_ Já disse, senhor! Tudo que eu sei é que a bruxa procura esse tal amuleto num navio naufragado! Não sei de mais nada! – Léo tinha um tom choroso e suplicante em sua voz.

_ E qual era o nome desse navio? – rugiu Lucano.

_ Deixa ver...era algo com Tê! Tina...Tiade...lembrei! Trinidade! Esse era o nome do navio, Trinidade! – respondeu o pirata.

_ Vocês sabem algo sobre este navio? – Perguntou Orion aos elfos nativos de Ab’ Dendriel. A resposta foi negativa.

_ Bem, esqueçam isso! Amanhã pela manhã teremos que ir atrás dessa bruxa de qualquer jeito mesmo! Tem outra coisa importante que eu quero dizer! Eu encontrei as coisas da Deedlit dentro do navio. Na bolsa dela havia vários pergaminhos! Mas, alguns deles eram pergaminhos de magia divina, que somente um clérigo pode utilizar, e ela não é uma clériga! Tenho certeza de que ela não veio sozinha para cá! O Rael, o sacerdote de Ab’ Dendriel, deve ter vindo junto! E ele deve estar preso em algum lugar dessa torre. Isto é, se ele ainda estiver vivo! Nós teremos que achá-lo também! – disse Squall.

_ Está certo, pela manhã resolveremos tudo! Vamos dormir agora! – sugeriu Anix.

_ E o que vamos fazer com esse inútil? – rosnou Lucano, apontando para Léo Seis Dedos.

_ Não se preocupe com ele! Ele não tentará fazer nenhuma gracinha! Não é mesmo Léo? – Anix encarou o pirata com um olhar ameaçador, fazendo-o concordar com suas palavras. Anix lhe deu água e comida e o desamarrou. E todos foram dormir. Lucano ainda permaneceu mais algum tempo acordado, preparando algumas flechas incendiárias, usando o material de uma tocha. Pouco tempo depois, Legolas e Nailo retornaram.

_ Vocês podem dividir todo o tesouro daquele goblin esquisito! Eu fico com o navio! – anunciou o arqueiro.

_ Como assim? Não pode! Aquela nau é minha! Eu planejei tudo, me deixei capturar pela bruxa e tudo mais! Você não pode vir agora e roubar ele de mim! – ralhou Léo.

_ Cale-se, ou eu furo você com minhas flechas, seu desgraçado! Aquele barco é meu a partir de agora e pronto! – Legolas gritou, quase acordando os companheiros. Léo se assustou, mas continuou, dessa vez, com outra tática.

_ Então, senhor, nomeie-me seu capitão! Eu conduzirei a nau sob sua bandeira, nobre senhor!

_ Idiota! Eu sou o capitão! – outro grito.

_ Desculpe senhor! – Léo quase chorava.

_ Mas você se quiser pode ser meu contra-mestre! – o arqueiro sorriu quase num deboche.

_ Sim senhor capitão! Contra-mestre Léo Seis Dedos a seu dispor! – uma continência feita com a grotesca mão do pirata. Nailo e Lucano começaram a resmungar e a reclamar do barulho.

_ Calem-se homens! Respeitem o capitão Legolas, ou os farei andar na prancha! Seus insolentes! – dessa vez, Léo Seis Dedos berrou, entusiasmado.

_ Léo! Quieto! Vá dormir! – disse Legolas, achando graça de tudo aquilo.

_ Sim senhor, capitão! – e o pirata finalmente se calou e deitou. Legolas, passou a noite inteira acordado, velando o sono de seus companheiros e vigiando o traiçoeiro e atrapalhado Léo Seis Dedos.

O 26º dia de Aurea chegou trazendo uma forte chuva. Entretanto, apesar da grande pluviosidade, o céu estava calmo. Era verdade que nuvens negras o cobriam por completo, mas naquela manhã não havia relâmpagos ou vendaval, e não havia sinal algum de céu esverdeado ou cheiro de cloro no ar. Os heróis estavam mais tranqüilos e tinham certeza de que, sem os caprichos de Wynna ou Nimb, suas magias e armas funcionariam normalmente e eles teriam todas as chances de derrotar a tal bruxa e restaurar Deedlit à sua forma original.

Nailo foi um dos primeiros a levantar. Fez suas orações a Glórienn e a Allihanna, se alimentou e saiu para continuar a explorar o restante do farol. No andar térreo, encontrou algumas redes de pesca, além de pequenos botes de madeira. Pegou uma das redes para ir até a pequena praia da ilha e pecar. Enquanto isso, Orion e Lucano, já de pé, atiraram o corpo do ogro derrotado no alto do farol para baixo. O cadáver se precipitou no solo com força, fazendo um estrondo que chamou a atenção de Nailo. O elfo sacou suas espadas e foi averiguar o que acontecia. Viu o corpo do monstro jogado no chão e compreendeu que ele havia caído do alto. E pensou consigo: “Esse reino é realmente estranho! Agora está chovendo até ogros! Melhor irmos logo embora daqui!”. De posse de sua rede, o ranger retormou a exploração do andar térreo do farol.

Todos os outros se preparavam para o dia que começava. Afiavam suas armas, checavam sua munição, preparavam as magias que seriam usadas na batalha, oravam aos deuses por sua bênção e proteção.

Squall foi o próximo a descer, junto com Lucano, para explorar os andares abaixo. Legolas, Anix e Orion decidiram irem juntos até o navio, em busca novamente de alguma pista que pudesse lhes revelar alguma fraqueza da bruxa. Silfo permaneceu no alto do farol, cuidando da namorada petrificada de Squall.

No segundo pavimento, após não muito tempo de investigação, Squall encontrou uma enorme caixa de madeira, trancada dentro de uma pequena sala de ferramentas. O feiticeiro se aproximou cuidadosamente e ouviu um ruído vindo de dentro do caixote. Deu duas batidas na madeira e algo lá dentro começou a rosnar e a se debater contra as paredes da caixa. Era algum monstro. Squall pegou seu livro mágico, o Código de Arnlaug, e pronunciou a palavra mágica que ativava o tomo. O livro se transformou em uma manopla e envolveu o braço do feiticeiro, protegendo seu punho e aumentando sua força. Com um forte soco, o elfo abriu um arrombo na tampa da caixa e atingiu algo que estava lá dentro. Squall olhou pelo buraco e reconheceu o que viu. Era Rael.

Squall libertou o homem de sua prisão. Rael era um humano pequeno e magro, de cabelos loiros, lisos e curtos e olhos castanhos. Vestia apenas trapos sujos e rasgados, que outrora foram suas vestes de sacerdote. Em seu peito, sob a roupa, trazia uma corrente de prata e preso a ela, um anel de ouro que o rapaz conferiu e respirou aliviado ao constatar que não havia sido roubado pelos monstros. Aquele anel era o símbolo sagrado de sua deusa, Wynna, um bem mais do que precioso para ele. Logo depois, Lucano, que vinha mais atrás, se juntou aos dois.

_ Squall! Que bom vê-lo aqui!Vamos depressa, temos que encontrar a Deedlit! Ela também está aqui e foi capturada pelos monstros! Eles disseram que iam fazer com ela coisas que eu não me atrevo a repetir! Temos que ir depressa! – gritava o rapaz, afoito.

_ Calma Rael! Nós já encontramos a Deedlit!

_ Ufa! Que bom! E ela está bem? Onde ela está? E o que aconteceu com sua aparência, você está tão diferente!

_ Bem, deixe a minha aparência pra lá, isso é uma longa história! Quanto a Deedlit, bem, ela não corre mais perigo contra os monstros! Nós matamos todos eles! O Anix também está aqui, e alguns outros amigos meus também!

_ Isso é ótimo! Fantástico! Vocês conseguiram matar todos, isso é incrível! Bem, vamos até a Deedlit, então! Temos que encontrar a bruxa antes que ela consiga encontrar o amuleto dos planos e seja tarde demais!

_ Rael! Deedlit...era foi transformada em pedra... – lamentou Squall. Rael ficou atônito.

_ Como assim transformada em pedra? Do que você está falando, Squall?

_ Venha, vamos encontrar os outros, eu lhe conto no caminho! – concluiu o feiticeiro. Deixaram a sala e foram para os andares inferiores do farol. Lá embaixo, Nailo quando Legolas, Anix e Orion saíram da torre, mas não se importou com a presença deles, decidiu ir pescar alguns peixes para comerem, como havia planejado. Tudo estava em ordem, e nada de mal poderia acontecer. Ele teria tempo para conseguir algum alimento no mar e, até irem enfrentar a bruxa, todos estavam seguros, pensava ele. Estava enganado.