março 25, 2009

Capítulo 344 – Encontro com a Mãe

Tudo era escuro. Não havia chão, não havia paredes ou teto. Sequer ar para se respirar havia ali. O elfo despertou naquela escuridão infinita, espantado. Triste. Sabia o que acontecera. Estava morto. Apesar da escuridão, era capaz de enxergar seu próprio corpo com clareza, não por possuir um terceiro olho amaldiçoado, mas por algum outro motivo estranho, desconhecido.

A escuridão se moldou ao redor de Anix. Tinha agora uma forma, era um túnel, mas, por mais que Anix tentasse, não conseguiu alcançar ou tocar as paredes, teto ou chão daquele túnel negro. Não existiam.

Anix flutuava naquele túnel sem paredes, sendo lentamente puxado para aquilo que ele julgava ser para frente. Não sentia dor, calor ou frio. Não possuía mais suas roupas, apenas um tipo de avental branco, de tecido leve e quase imperceptível, cobria seu corpo.

Anix começou a se mover mais rápido, ao menos assim ele achava, já que naquele mundo todo igual, sem qualquer ponto de referência para se orientar, não era possível saber sequer se estava realmente se deslocando. Uma luz surgiu na sua frente, brilhante como o próprio sol, mas sem seu poder ofuscante. Era cálida, encheu o espírito do elfo de calor, um calor reconfortante, afastando a tristeza que sentia por estar morto.

A luz se agigantou diante de Anix, o mago foi em direção a ela velozmente e o túnel escuro ficou para trás. Anix estava agora em um outro lugar, um mundo semelhante ao seu, mas muito mais belo. Florestas gigantescas cresciam por todos os lugares e sobre elas milhares de casas se acomodavam com perfeição, graça e harmonia. Cidades élficas. Torres de cristal erguiam-se majestosas, competindo em altura e esplendor com as árvores. Melodias maravilhosas ecoavam por todos os lugares, entoadas por bardos incomparavelmente hábeis. Anix estava maravilhado, Niuvénciuen era realmente fabuloso.

Anix começou a descer de seu vôo e a se aproximar do solo. Olhava para aquele gigantesco mundo impressionado com tudo o que seus três olhos viam. Elfos zanzavam de um lado para outro cheios de esplendor. Anix achou conhecer um deles que seguia por uma trilha ensolarada na mata. Seus pés tocaram o chão e alguém veio ao seu encontro. Era alguém que ele conhecia, a mais bela das elfas, mãe de toda aquela raça. Glórienn.

Glórienn caminhou ao encontro de seu filho, seus pés pareciam pisar em nuvens. Abraçou-o. Os olhos de Anix se encheram de lágrimas, Anix entregou-se àquele abraço carinhoso, estava nos braços da Mãe. Os cabelos púrpuros da Deusa tocaram a face do elfo como uma carícia, ela afagou o filho carinhosamente e sua voz soou como uma harpa.

_ É bom tê-lo aqui, meu filho. Mas ainda não é o momento para ficarmos juntos. Volte!

Glórienn empurrou Anix delicadamente de volta para o túnel escuro. O mago sentiu-se tragado, como se despencasse em um abismo. Deixou para trás todas aquelas belas visões, aquele lindo lugar e a Mãe a quem tanto amava. Retornou ao seu mundo, a Arton, onde uma importante missão o aguardava.

Anix despertou. Não sentia dores, seu corpo como novo. Sentia frio, estava molhado. Tudo era escuro. Usou seu olho maldito para enxergar. Estava deitado no chão, água até as orelhas, ao lado da torre. Levantou, examinou o corpo, tudo em ordem. Tudo não, havia uma mudança. Manchas de sangue na roupa, seu sangue, a ausência de seu cajado, caído a alguns metros dali e mais. A pulseira que recebera de presente de Lena, Deusa da Vida, murchava rapidamente. As flores murcharam, secaram e suas pétalas caíram, o ramo que envolvia seu pulso secou e se partiu. A pulseira caiu, mas antes que tocasse a água impura no solo, Anix a pegou. Iria guardá-la como recordação e gratidão. Pela graça de Lena Anix voltara a viver. Sabia agora qual era o poder das flores, precisava contar aos amigos, mas depois. Não os via, precisava encontrá-los. Mas antes, devia garantir sua segurança, pois não haveria segunda chance para ele novamente. Anix recolheu seu cajado do chão e evocou um feitiço. Todas as magias estavam de volta, a energia mística armazenada, pronta para ser liberada, como se tivesse acabado de preparar seus encantos. Anix respirou fundo, era bom respirar novamente, murmurou o feitiço e desapareceu. Estava invisível.

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