abril 16, 2007

Campanha A - Capítulo 268 – A missão de Lucano

Capítulo 268 A missão de Lucano

Laurelin era um elfo de idade bastante avançada, até mesmo para os padrões dos filhos de Glórien. Seu corpo arqueado e cansado, e seu rosto e mãos enrugados, eram como um disfarce para ocultar todo o poder que aquele ancião possuía. Caminhava vagarosamente, não por dificuldade de andar, mas sim por não ter pressa de chegar ao seu destino. Ao seu lado iam as crianças, saltitantes e eufóricas, brincando e cantarolando. Vez ou outra faziam silêncio, como se algo na selva os incomodasse. Olhavam ao redor como se procurassem por algo e aguçavam seus ouvidos. E então voltavam a brincar ao perceber que não havia perigo próximo.

Após alguns minutos de caminhada, chegaram à entrada de uma caverna, cercada por colinas baixas. Laurelin entrou e convidou os soldados gentilmente. Atravessaram uma túnel iluminado por velas rudimentares e, enquanto percorriam-no, os garotos ficaram curiosos quando viram o chicote na cintura de Alejandro. O mascarado fez a arma estalar perto das crianças, deixando-as ao mesmo tempo assustadas e entusiasmadas, e convidou todas para irem para fora brincar com o chicote e seu cavalo, Tornado.

Laurelin colocou um caldeirão para aquecer em uma fogueira o fundo da caverna. Ao redor, havia várias camas de madeira e palha, e no centro uma mesa grande e firme, em torno da qual todos se sentaram. E, enquanto um delicioso aroma da comida preparada pelo ancião se espalhava pelo ar, Lucano contou a sua sina. Contou de quando conheceu Glorin, e de sua missão em Carvalho Quebrado e do castelo assombrado pelos mortos-vivos. E contou de Zulil, e da batalha que haviam tido no topo do castelo. E Laurelin fez um olhar de desaprovação quando soube que Zulil era um elfo. Lucano concluiu sua história contando sobre seus dias no forte e sobre o incidente com a flecha disparada por Arcany. E então foi a vez de Laurelin falar.

_ Meu jovem, pelo que posso perceber, Glórien está muito triste com o uso que você fez dos poderes concedidos por ela a você! Glórien nos dá o poder para que façamos o bem para seus filhos, para que todos possam progredir juntos! Esse poder deve ser usado para promover a união e o bem estar dos elfos, não para a discórdia e a desgraça! Por isso Glórien chora! E ela lhe negará o acesso a esses poderes até que você compreenda a sua missão! Mas, nunca duvide do amor dela por você ou por seus amigos! Tenha certeza de que ela ainda assim o está protegendo, e por isso você deve sempre confiar em sua fé, e jamais duvidar dela! – o elfo falava com seriedade e em voz alta, para que todos pudessem ouvi-lo. Depois deu uma longa pausa e esboçou um sorriso afável, falando desta vez em tom mais brando. – Orarei a nossa mãe, para que ela ilumine minha mente e me mostre o que deve ser feito! Por hora é melhor que vocês comam bem e descansem de sua viagem! Pela manhã conversaremos mais e, se Glórien assim permitir, saberemos qual será o seu destino!

_ Essa deusa de vocês é uma fraca tola! O outro elfo é que deveria ser punido! Ela não sabe o que faz! Por isso que eu prefiro minha deusa! – disse Lycan, em tom de deboche, antes de dar uma gargalhada e se espreguiçar na cadeira.

_ Ora! Não diga bobagens, jovem! Você não sabe o que está falando! Não conhece as motivações dos deuses, então não deve blasfemar dessa forma! - respondeu Laurelin, com rudeza.

_ Ainda assim Valkaria é uma deusa melhor que a sua! – retrucou o guerreiro.

_ Valkaria? Nunca ouvi falar? Quem é? – perguntou o ancião, dando as costas para Lycan e deixando-o desconcertado. Percebendo que travaria um inútil disputa teológica, Lycan se deu por vencido e se calou.

Então Laurelin chamou Alejandro e seus netos para se juntarem para o jantar. As crianças se divertiam do lado de fora da caverna, brincando com o chicote e passeando sobre o lombo de Tornado. E dentre todos, Tallos era o mais habilidoso com o chicote, e despertou a simpatia de Alejandro, que via no garoto um pouco de si mesmo. Todos entraram na caverna correndo, e o ancião revelou em voz baixa aos heróis que os pais das crianças haviam morrido, vítimas de ataques de orcs, tempos atrás. E o espadachim mascarado apiedou-se ainda mais de Tallos, já o considerando quase como um discípulo.

Laurelin serviu uma saborosa sopa de legumes e raízes, acompanhada de pão e frutas. E Lucano dividiu com ele seu vinho, e todos passaram momentos agradáveis antes das provações que viriam. E finalmente foram dormir. Os heróis espalharam seus sacos de dormir pelo chão da caverna, e todas as crianças levaram seus colchões de palha para perto do leito de Alejandro. E dormiram um sono tranqüilo, sem desconfiar das trapaças e traições que eram tramadas na noite.

Ocorre que Wood Croft, inconformado com a punição que recebera por agredir Túrin, o mais velho dos garotos, desejava vingar-se de Lucano e Alejandro. E, enquanto todos dormiam profundamente, ele se levantou sorrateiramente e foi silencioso como uma serpente até o equipamento de Alejandro. Pegou o chicote com o qual havia sido ameaçado, e cortou-o em vários pedaços. E os pedaços ele colocou embaixo das cobertas de Tallos, para incriminá-lo.

Raiou então o 20º dia de Áurea. Era uma manhã quente, e o sol brilhava solitário no céu, sem a companhia de qualquer nuvem que fosse. Os heróis se levantaram cedo e, ao procurar por Laurelin, não o encontraram. Ficaram apreensivos, temendo que algo de ruim pudesse ter acontecido ao ancião, e prepararam suas armas para lutar. No entanto, ao procurar por seu chicote, Alejandro descobriu que ele havia desaparecido.

Imediatamente Alejandro acusou Wood de tê-lo roubado. Acusava-o de querer se vingar por causa do pontapé que recebera do espadachim. Wood, entretanto, permanecia calmo, defendendo-se das acusações como se não soubesse de nada. Lucano também saiu em sua defesa, dizendo para que Alejandro não acusasse sem ter provas contra o goblin. Então as crianças acordaram, e a primeira a despertar foi Lunara, a única menina entre eles, e o último a acordar foi Tallos. E quando ele se levantou os pedaços do chicote surgiram espalhados no meio de sua cama. Alejandro ficou cheio de cólera, mas decidiu não discutir mais. Pegou seu equipamento e os pedaços do chicote e saiu, dizendo que voltaria para o forte sozinho. Lucano tentou impedi-lo, mas havia algo mais importante a fazer, encontrar Laurelin. Então Alejandro abandonou o grupo e desapareceu na mata com seu cavalo.

Pouco depois, os outros soldados saíram da caverna guiados pelo seu sargento. E encontraram Laurelin sentado à sombra de uma árvore, meditando. Lucano se aproximou, sem fazer barulho para não interromper a concentração do ancião, e ficou observando-o. Então, Laurelin abriu sutilmente um dos olhos e falou com ele.

_ Bom dia! Não gostaria de se juntar a mim e orar a nossa deusa?

E Lucano aceitou o convite, sentou-se ao lado de Ramo de Carvalho e pôs-se a rezar. Pediu a Glórien que lhe desse uma nova oportunidade, uma chance de se redimir e receber novamente sua graça. E foi atendido.

Depois de algum tempo, Laurelin se levantou, sereno, e retornou para sua caverna. Lucano se juntou a ele e a todos os outros que aguardavam lá dentro. Enquanto faziam um rápido desjejum com frutas colhidas na mata por Lycan e pelas crianças, o velho elfo revelou a sina do jovem clérigo.

_ Eu orei a Glórien e ela me mostrou uma visão! E nessa visão eu vi seu destino Lucano! Nossa mãe lhe dará uma segunda chance! Você terá que passar numa prova para mostrar seu valor, e não poderá receber ajuda de ninguém! Você deverá ir a uma caverna que fica próxima daqui e entrar nela sem seus soldados! E lá dentro você deverá buscar um artefato que é sagrado para nossa deusa! E se você conseguir resgatar esse artefato, terá sua redenção!

Todos prestavam atenção nas palavras do velho elfo, e entenderam e aceitaram o que elas significavam. E depois de comerem, todos partiram juntos, rumo ao oeste, guiados por Ramo de Carvalho. E andaram por quase uma hora inteira, até chegarem a uma clareira no meio da floresta. Viram o sol pela primeira vez naquela manhã, e pelo seu brilho intenso, parecia que Azgher prestava atenção especial naquele pequeno grupo de mortais. E assim como os demais membros do panteão, o deus sol de fato observava os passos do jovem clérigo rumo ao seu destino, exatamente como dissera Allihanna, na sua aparição sob a forma de cervo branco no bosque onde Enola e Silfo tinham encontrado sua morada.

Atrás deles estava a mata de Bosque Escuro, que fechava também seus flancos a vários metros de distância. À frente, estava um enorme paredão de rocha, que se elevava vinte metros acima do solo e se abria num planalto arborizado. E exatamente no centro do paredão, havia uma enorme caverna natural, que se estendia rocha adentro indefinidamente, até que os raios de sol não pudessem mais alcançar sua porção mais profunda e a escuridão imperasse por todos os lados.

_ É aqui que nos separamos, Lucano! Você deve entrar nessa caverna e resgatar o artefato de Glórien sem nossa ajuda! Mas, lembre-se! Glórien estará olhando por você! Jamais duvide de sua fé, jamais duvide do mor dela por você! Tenha sempre fé em sua deusa e em você mesmo! E lembre-se também que você estará sendo testado! Não se esqueça dos ensinamentos de Glórien, lembre-se de seu dever como clérigo, que é ajudar todos os elfos com o poder concedido por nossa mãe! Lembre-se sempre disso e, se Glórien assim permitir, nos encontraremos aqui quando você retornar! – disse Laurelin, antes de dar um amigável aperto de mão em Lucano.

E Lucano tomou fôlego e coragem, e lembrou das palavras que o velho acabara de dizer, e entrou na caverna. Antes, porém, entregou a Wood uma bolsa que continha todo o tesouro que ele tinha juntado até aquele momento, e pediu ao goblin que entregasse a Legolas e a seus amigos, caso ele não voltasse com vida, para que eles dividissem entre si. Lucano entrou na caverna, e, pouco depois, Laurelin mandou que as crianças fossem junto com ele, para espanto de todos. E quando Túrin preparou seu arco para proteger seus irmãos e primos na escuridão, o sábio avô ordenou que deixassem suas armas, pois não precisariam delas. Mas, Tallos tinha um espírito indomável, e escondeu uma faca sob a manga de sua camisa, e todos entraram na caverna e se juntaram a Lucano em sua jornada.

Campanha A - Capítulo 267 – Laurelin Ramo de Carvalho

Capítulo 267 Laurelin Ramo de Carvalho

A noite cobriu rapidamente o mundo com seu manto de trevas. Apenas a luz da tocha nas mãos de Arcany clareava a mata escura. Nenhuma estrela podia ser vista, nem a luz da lua atravessava a densa folhagem que se elevava ao céu. Tudo era silêncio e escuridão ao redor dos jovens soldados. E o silêncio foi quebrado por um estalo, pois na escuridão alguém espreitava. E os heróis pegaram suas armas, esperando que algum outro monstro saltasse das trevas e os atacasse. E o que veio foi uma chuva de flechas afiadas, que cortou o ar sem no entanto ferir qualquer um dos presentes.

_ Parados ai! Soltem suas armas! – gritou uma voz acriançada.

_ Quem está ai! Apareça! – retrucou Lycan

_ Não atirem! Não queremos lhes fazer mal! Estamos em missão de paz! – gritou Lucano.

_ Sim! Não somos inimigos! Somos do exército de Tollon! Não vamos atacar vocês! – completou Alejandro.

_ Calem-se! Soltem suas armas no chão, ou vamos disparar novamente! – exigiu a voz na floresta. E todos os soldados, desejando evitar um combate desnecessário, jogaram suas armas no chão. Alejandro, entretanto, manteve seu florete embainhado, enquanto que Lycan segurava o machado com os pés, pronto para levantá-lo de súbito, caso precisasse lutar. – Agora dêem três passos para frente, ou nós atiraremos!

Todos andaram como ordenado, e Lycan arrastou seu machado junto, mantendo-o sempre pronto para ser utilizado. Alejandro tentava ainda convencer os desconhecidos inimigos de que não queriam lhes fazer mal, mas coube a Lucano conseguir uma chance de dialogar. Lembrando das palavras do capitão Glorin, Lucano tomou o broche de madeira em sua mão, erguendo-o sobre a cabeça, e disse que precisava falar com Laurelin Ramo de Carvalho, e disse também que Mão Gelada o havia enviado até ali. E então, várias vozes, todas pueris, foram ouvidas entre as árvores.

_ Ele quer falar com o vovô! – disse uma das vozes.

_ Fique quieto! Ele está mentindo! – discordou outra.

_ Calem-se já! Fiquem quietos! – retrucou uma terceira.

_ Vamos atirar neles! – sugeriu a segunda voz.

_ Quietos! Parem com isso! – ralhou novamente a terceira voz, que era a que se apresentara desde o início.

Então, fez-se um breve silêncio na mata, e apenas o ruído de passos podia ser ouvido. E um jovem elfo, que deixava a infância para tornar-se adulto em breve, surgiu do meio das árvores, protegido por uma camuflagem de folhas e ramos que cobriam suas vestimentas. E seu nome era Túrin, e tinha cabelos escuros como a noite e olhos da cor dos troncos de carvalho que o cercavam. Armado de uma faca de lâmina de pedra e um arco curto, Túrin se aproximou do grupo de aventureiros, e exigiu que se explicassem, que dissessem o motivo de estarem ali em seu território. Os soldados lhe explicaram sobre a sina de Lucano, mas parecia que eram informações demais para que o jovem elfo compreendesse e aceitasse as explicações. E Lucano simplificou, dizendo que Glorin, o Mão Gelada, o havia mandado até ali para visitar Laurelin Ramo de Carvalho, e lhe mostrou novamente o broche. Mas, como mesmo assim ele se mostrava irredutível e pouco disposto a aceitar a presença dos soldados em sua floresta, Alejandro o advertiu e disse-lhe para cooperar sem receio, pois se eles tivessem intenção de lhe fazer mal, Túrin e seus companheiros ocultos já estariam mortos há tempos.

E Túrin tentou rir e zombar, mas Alejandro sacou velozmente seu florete, parando a lâmina a poucos milímetros da garganta do rapaz. E Túrin, assustado e surpreso, soltou sua faca e se rendeu. Lycan ergueu novamente seu machado, e gritou uma ordem para que todos os outros saíssem de seus esconderijos. E, surgiram mais oito crianças élficas, com seus pequenos arcos apontados para o grupo. Lycan gritou e a espada de Alejandro fez com que Túrin obedecesse, e ele ordenou aos outros garotos que baixassem suas armas. Então, Wood Croft aproveitou o momento para se fazer de valente, e ousou erguer sua mão pequenina e suja contra o garoto. Mas Lycan o ameaçou com o machado, e Alejandro lhe deu um chute, afastando-o de Túrin. E depois disso o mascarado baixou a arma e entregou o florete para o pequeno elfo, e Túrin finalmente percebeu que não eram pessoas más. Devolveu a arma para o humano e recolheu sua faca do chão. Depois, pediu que todos o aguardassem por alguns instantes, e desapareceu na mata escura.

Lucano então puniu Wood por ter agredido o rapaz, ordenando-lhe que fizesse várias flexões de braço como castigo. Mas, o pequeno trapaceiro, como qualquer devoto de Hynnin, fingia estar cansado e desistia na metade do exercício. Então, Alejandro o ameaçou com o chicote, e ele não teve escolha, senão terminar seu castigo, enquanto jurava para si mesmo que teria sua vingança contra os dois.

Ocorre que enquanto o goblin era punido, Túrin teve tempo suficiente para encontrar o que buscava e retornar. E ele ressurgiu da mata tenebrosa, acompanhado de um velho elfo, que vestia um manto pardo e se apoiava num longo cajado.

_ Eu sou Laurelin Ramo de Carvalho! Vocês estavam me procurando? – disse o velho quase num sussurro.

_ Eu sou Lucano! Glorin Mão Gelada me enviou até você, Laurelin! Venho em momento de dificuldade, pedir a sua ajuda! – respondeu Lucano, mostrando o broche de seu capitão.

_ Você conhece Mão Gelada? É amigo dele?

_ Sim! Ele é capitão no exército e eu sou subordinado a ele!

_ Então, venham todos comigo! Sejam bem vindos ao Bosque Escuro! – E Laurelin os saudou e os convidou para sua morada.

Campanha A - Capítulo 266 – Inimigo vegetal

Capítulo 266 Inimigo vegetal

E partiram. Lucano conduziu seus soldados por entre as florestas negras de Tollon por cinco dias seguidos. Passaram pelo entroncamento que conduzia a Forte Novo e a Rutorn, e seguiram adiante, saindo da estrada e penetrando na mata densa. Seus cavalos diminuíram a marcha para poderem percorre o acidentado terreno que se revelava à frente, e eles viajaram pelo restante do dia, até que a noite começou a cair e o sol tornou-se apenas uma lembrança, apenas uma mancha avermelhada no pouco que se via do céu além das copas fechadas das árvores.

Estavam agora em um bosque de carvalhos altos, frondosos e de folhagem farta, que tapava a luz do sol, tornando constantemente escuro o ambiente próximo do chão. O grupo já reduzira a marcha até que os cavalos apenas caminhavam a passos curtos e vagarosos, tão lentos quanto um grupo de viajantes a pé. Lucano já pensava em dar ordem para seus homens pararem e montarem um acampamento para passarem a noite, quando seus olhos avistaram um estranho movimento nos galhos de uma árvore próxima. Lucano desceu de sua montaria, apreensivo, e os soldados fizeram o mesmo. Apontou para seus homens o lugar onde havia visto o estranho movimento e disparou uma flecha entre a folhagem, apenas como sinal de alerta para quem quer que fosse. Porém, a mata permaneceu em silêncio, somente o som do vento agitava os tímpanos e as poucas folhas que se moviam na mata. Wood Croft, goblin de habilidades furtivas, discípulo de Todd Flathead, subiu rapidamente em uma árvore, para poder ter uma visão mais favorecida do terreno ao redor, e para tentar localizar o alvo da flecha do sargento Lucano. Sobre a árvore, o pequeno goblinóide contemplava a imensidão verde que o cercava, julgando-se protegido contra o suposto inimigo. Mas, foi surpreendido, e o ataque veio do local que ele menos esperava, da árvore. Um cipó coberto de folhas e ramos enrolou-se ao redor do pescoço de Wood, bloqueando sua boca, e estrangulando-o com força brutal. Desesperado, Wood tentou gritar, mas não conseguiu e o cipó o puxou para fora do galho, mantendo-o pendurado pela garganta. Com a intenção de pedir ajuda aos companheiros, o goblin atirou no chão uma das várias adagas que trazia escondidas embaixo de seu colete. A queda da arma despertou a atenção de todos, que não entendiam o que se passava, e por isso não correram em auxílio do pequenino. Vendo-se sozinho, Wood percebeu que sua vida, agora por um fio, dependia unicamente de suas habilidades. Suas mãos diminutas agarraram com força o cipó que envolvia o seu pescoço e, num impulso aflito, conseguiram libertar o pequeno ladino.

Lycan, hábil combatente da raça dos humanos, de temperamento forte e coragem inquestionável, aproximou-se da adaga no chão, trazendo seu poderoso machado nas mãos. Ao seu lado estava Arcany, um feiticeiro ainda jovem, que ordenou mentalmente ao pássaro pousado em seu ombro que fosse averiguar o que acontecia no alto da árvore. O pequeno corvo alçou vôo num rápido bater de asas, mas, antes que conseguisse ganhar altitude, inverteu a trajetória de seu vôo e retornou para o ombro de seu mestre. Quase ao mesmo tempo, Wood Croft despencou do alto da árvore, precipitando-se pesadamente no chão, enquanto tossia e respirava com dificuldade, como se estivesse sufocado com algo. E então, antes que alguém pudesse prestar auxílio para o soldado caído, um estranho arbusto despencou do alto da árvore, agitando longos feixes de cipó trançado como se fossem braços e movendo suas raízes na direção dos heróis como se fossem pernas com as quais caminhava. Um arbusto animado que vagava como um animal, e que atacou os heróis com seus tentáculos vegetais. Um arbusto errante, como provavelmente teria identificado Nailo, se estivesse acompanhando o pequeno grupo de Lucano.

Sem se deixar impressionar, Lycan lançou a lâmina de seu machado sobre o corpo da estranha criatura. A arma perfez um arco no ar e arrancou grandes pedaços dos muitos ramos que cobriam a fera. Folhas, galhos, raízes e uma viscosa secreção amarelo-esverdeada voaram pelo ar, sem no entanto conseguir fazer a criatura se curvar ou dar qualquer outra demonstração de dor.

Lucano largou seu arco no chão ficou lado a lado com Lycan. Num giro ascendente, atingiu o monstro com sua espada, no mesmo ponto que Lycan o havia ferido. Enquanto as folhas se espalhavam ao vento, o ex-clérigo gritava aos seus subordinados para que ateassem fogo à criatura.

Mas, apesar dos ferimentos, a derrota do monstro ainda estava longe de acontecer, e ele teve tempo de chicotear Lycan e Lucano com seus dois tentáculos. Wood aproveitou que o monstro voltava sua atenção para os dois e atirou todo o conteúdo do óleo que trazia consigo sobre o corpo da fera. Os dois cipós estalaram como se partissem ossos, no peito de Lucano e Lycan, e envolveram-nos como se fossem serpentes laçando pequenos roedores. O guerreiro conseguiu arquear seu corpo para trás, escapando do agarrão do monstro. Entretanto, Lucano estava enredado, com seus ossos sendo esmagados pouco a pouco, seus órgão sendo comprimidos até o limite, e seu fôlego se esvaindo rapidamente, junto com sua preciosa vida.

Arcany invocou um feitiço e comandou mentalmente uma pequena chama que avançava pelo chão como se tivesse pernas para se locomover. O pequeno fogo saltou do chão sobre o corpo da criatura e explodiu, espalhando faíscas incendiárias sobre o óleo que recobria o arbusto. E o monstro estava em chamas, porém, isso parecia não lhe causar incomodo algum, parecia imune ao fogo.

Então o machado de Lycan desceu com brutalidade sobre o cipó que agarrava o sargento e cortou-o, salvando Lucano da morte certa. Já quase inconsciente e sem forças, Lucano agarrou-se à cela de seu cavalo e se afastou rapidamente do monstro, carregado pelo animal. Distante do combate, ele teve tempo para se recompor e retornar para ajudar seus companheiros.

O sabre afiado de Wood Croft arrancou mais uma porção do corpo da criatura. Ela revidou imobilizando Arcany e Lycan com seus cipós e, num forte apertão, deixou o feiticeiro desmaiado.

Lycan ainda tentava se libertar em vão, quando Alejandro voou pela mata suspenso por seu chicote que estava preso no alto de uma árvore. Sua capa negra esvoaçante, bem como sua máscara igualmente negra, eram uma visão ao mesmo tempo bela e assustadora. O espadachim caiu diante do monstro, logo após dar uma pirueta no ar, sacou uma espada de lâmina longa e extremamente fina e golpeou o flanco da fera. Mais folhas voaram, e desta vez foi possível ver o interior do arbusto, com suas raízes e ramos entrelaçados formando algo que lembrava vagamente um corpo humanóide.

Nesse momento, Lycan conseguiu se libertar e jogou seu corpo na frente do companheiro desmaiado, protegendo-o. Sua condição, entretanto, não era muito melhor que a de Arcany. Mas, percebendo isso, Wood Croft correu por trás, ou ao redor daquilo que ele considerava ser as costas do monstro, e ficou lado a lado com Lycan. Em suas pequenas mãos ele trazia o frasco de óleo, já vazio, e uma poção mágica para dar ao seu companheiro ferido.

Ocorre que Wood não teve tempo de cumprir seu objetivo, pois o tentáculo do monstro foi mais rápido que as mãos do goblin e num rápido movimento, chicoteou e agarrou Alejandro, esmagando-o. Depois, ergueu o espadachim mascarado e o arremessou por cima de seu próprio corpo, na direção de Lycan e Wood. Os dois soldados se atiraram ao chão, enquanto Alejandro rodopiava no ar, desenrolando-se rapidamente do tentáculo do arbusto.

Sem se intimidar, o espadachim bateu os pés numa árvore próxima, deu um salto para trás, girando o corpo no ar e caiu em pé. Aproveitando o impulso, jogou o corpo para trás e deu uma série de cambalhotas e saltos mortais, passando sobre os companheiros caídos e ficando novamente diante do monstro numa pequena fração de segundo. E seu florete mais uma vez lançou ao ar pedaços da perigosa planta.

E em seguida o machado de Lycan cortou o tentáculo que segurava Arcany, e Wood Croft trouxe-o de volta a vida e ao combate com sua poção mágica. E, quando todos preparavam seus corpos para receber um novo ataque do monstro, Lucano surgiu dentre as árvores sobre seu cavalo, com a espada em sua mão e golpeou o monstro com fúria.

Infelizmente, a criatura encolheu seu corpo no momento exato, e a lâmina do clérigo passou no vazio sem atingir seu alvo. Mas, isso foi o suficiente para a criatura repensar sua estratégia, se é que possuía alguma mente, e perceber que não teria como vencer aquele combate.

O monstro saiu em disparada pela mata, arrastando suas raízes pelo chão com dificuldade. Mas, ainda assim tentou garantir alguma refeição, levando Alejandro arrastado pelas pernas, preso em suas vinhas.

Alejandro deu um assovio e Tornado, seu cavalo, correu pela mata indo de encontro ao dono. O espadachim tentava se agarrar à cela, enquanto Arcany, já acordado, disparava raios mágicos na criatura e Wood arremessava suas adagas.

Vendo que a criatura fugia do alcance, Lucano arriscou um ato ousado. Pegou em sua mochila o livro que tinha encontrado no castelo de Zulil, abriu-o numa página que lhe havia sido indicada por Seelan, e gritou “Apareça” no idioma de sua raça, conforme o mago tinha lhe ensinado. E um gigantesco dragão vermelho ergueu-se do livro, e agitou suas asas e rosnou ferozmente, assustando todos os soldados. Todos correram assustados, mas o arbusto não esboçou reação diante da imagem do dragão. E, percebendo o erro que cometera, Lucano fechou o livro e a imagem desapareceu, tão súbita quanto quando surgira, e todos finalmente perceberam que aquele dragão não passava de uma ilusão mágica. E, talvez movido pelo medo, Alejandro conseguiu agarrar os arreios e subiu em Tornado. E o cavalo continuou a perseguir o monstro, ou a fugir do dragão, e quando estavam lado a lado, Alejandro golpeou a besta uma última vez com seu florete, atirando-o ao chão, aos pedaços. E o que sobrou do arbusto foi pisoteado pelos cascos do corcel negro cavalgado pelo espadachim e desapareceu sob a relva.

Todos puderam relaxar seus músculos cansados e decidiram que era o momento de interromper a jornada e descansarem. Wood entregou o arco de Lucano, que havia ficado caído no chão, e aproveitou a distração do sargento para furtar uma pequena bolsa que o clérigo carregava na cintura. Mas, vendo que não havia objetos de valor lá dentro, apenas coisas que ele julgava inúteis, como pêlos, velas, cera, chaves, pequenos frascos com poeiras coloridas, Wood atirou a bolsa ao chão disfarçadamente, e avisou Lucano de que ele havia perdido a bolsa, fingindo não saber como ela tinha ido parar no chão. E Lucano agradeceu ao goblin inocentemente, e eles reuniram os cavalos e começaram a preparar o acampamento.

Campanha A - Capítulo 265 – Punição...lágrimas de uma deusa

Capítulo 265 Punição...lágrimas de uma deusa

Vários dias tinham se passado desde que Nailo retornara com seu grupo da missão em Forte Novo. Era final de primavera, o 13º dia de Áurea, um morag, uma suave brisa soprava para secar o suor dos corpos dos soldados que treinavam arduamente no forte Rodick. Reinava a paz no lugar, sem que nenhum incidente nas redondezas tivesse exigido os serviços do exército. Lucano, assim como seus companheiros, instruía seu pelotão, composto de soldados ainda jovens, e sem toda a experiência que o clérigo acumulara nas muitas aventuras que vivera com seus amigos.

Tudo parecia estar bem no forte, apesar da morte recente de Jack, e da partida de Lars. Mas, apesar das aparências, Lucano sabia que nem tudo estava certo. Havia algo errado, ele sentia isso. Era algo que apenas ele percebia, algo que afetava apenas a ele. Em suas orações diárias, o jovem elfo sentia que sua deusa parecia distante. A presença de Glórien já não era forte e evidente como antes, era como se ela estivesse em algum lugar muito distante, onde seu poder não pudesse alcançar Lucano.

Entretanto, apesar da dúvida que pesava em seu coração, Lucano seguia sua vida, dedicando suas orações a Glórien, estudando magia arcana com a ajuda de Anix, treinando suas habilidades no forte, ensinando seus soldados aquilo que ele sabia.

Naquela manhã em especial, treinavam a arte da arquearia. Lucano, Anix e os demais transmitiam seus conhecimentos para os novatos. Legolas, o mais habilidoso com o arco, transmitia dicas secretas para os soldados, para que todos pudessem se aperfeiçoar no manejo da arma. E foi durante esse treino que Lucano finalmente descobriu o que havia de errado. Enquanto treinava, um dos soldados atirou distraidamente e, por acidente, acabou por atingir o pé de Lucano com sua flecha.

Foi um instante de tensão e apreensão para todos. Lucano mancava, com a flecha cravada em seu pé, enquanto todos observavam com espanto. O clérigo se sentou no chão e, com um forte puxão, arrancou a flecha, causando-lhe ainda mais dor. Resistindo ao sofrimento, Lucano estendeu sua mão sobre o ferimento e sussurrou uma prece a Glórien. E nada aconteceu. O clérigo tentou novamente, uma ,duas vezes e o resultado foi o mesmo. Suas magias de cura, que por vezes foram a salvação sua e de seus companheiros, não mais funcionavam. Um frio cortante percorreu a espinha de Lucano. Desesperado, o clérigo se levantou e correu até onde estava seu superior, Glorin. Legolas, que estava mais próximo e viu tudo o que aconteceu, contou a Anix e a Seelan, que acabavam de chegar do laboratório do forte, tudo que se passava. O arqueiro, sem perda de tempo, correu atrás de Lucano, para tentar ajudá-lo, enquanto Anix e Seelan resolveram conversar com outra pessoa, Kuran.

_ Capitão! Eu preciso de sua ajuda! – disse Lucano, suplicante.

_ Fale garoto! O que você quer? – perguntou o anão.

_ Minhas magias de cura! Elas não estão funcionando! – respondeu o clérigo.

_ Ah, não? E o que você quer que eu faça? Eu não entendo de magia, garoto! Hunf...elfos! – debochou Glorin.

_ Eu quero que o senhor me ajude! O senhor é meu capitão, e é tem muito mais experiência que eu, precisa me ajudar! – pediu o elfo.

_ Está bem! Venha comigo! Vamos falar com quem entende do tipo de magia que você usa! Vamos até o Kuran! – respondeu Glorin.

Glorin e Lucano foram até o jardim onde Kuran costumava ficar. Legolas os acompanhou e, os três entraram no jardim. Glorin caminhava despreocupadamente, pisando nas plantas que cresciam naquele lugar. Idor, um sprite que costumava auxiliar e fazer companhia a Kuran, tentava repreender o anão. Mas Glorin era inflexível e teimoso como um anão deveria ser, e nem deu importância às reclamações da pequena fada. No fundo da pequena mata que se formava no forte, encontraram Kuran, sentado sob a sombra de duas árvores, com as pernas dobradas uma sobre a outra entrelaçando-se. Kuran se levantou, abandonando sua meditação, cumprimentou os três que estavam chegando e pediu a Glorin que tomasse mais cuidado com suas plantas. Depois, foi até o local onde o anão tinha pisado e amassado a relva e as flores e, com um simples movimento de mão e o murmurar de uma prece, fez com que as plantas voltassem a se eriçar, belas e viçosas. Seelan e Anix chegaram nesse momento e, maravilhados com a habilidade de Kuran, juntaram-se aos demais.

_ Digam-me! Por que vieram me procurar? O que está acontecendo? – disse Kuran. Sua voz era suave e tranqüila como o vento que agitava seus longos cabelos prateados.

_ É esse fresco do Lucano! Ele está com algum problema com seu poder mágico! Fale pra ele garoto! – respondeu Glorin, com sua voz rouca e seu falar debochado.

_ Um dos soldados atingiu meu pé com uma flecha por acidente, Kuran! Eu tentei usar minha magia para tratar o ferimento, invoquei o nome de Glórien, mas nada aconteceu! – falou o jovem clérigo, receoso.

_ Estranho isso acontecer! Só as magias de cura estão assim? Ou as outras também? Faça um teste com outra magia qualquer! – disse Kuran.

E Lucano tentou usar outro tipo de mágica, mas nada aconteceu novamente. E Kuran lhe deu um pergaminho que trazia na cintura, e explicou-lhe como ativá-lo. E novamente, Lucano não conseguiu realizar a magia. Kuran ponderou por alguns instantes, sua expressão era sábia e calma, e depois falou com uma voz mansa como a água de um lago:

_ Lucano! Além do fato de você não conseguir mais realizar magia alguma, você tem notado algo de estranho com você? Algo que pudesse explicar esse fato?

O elfo pensou por um breve momento, e lembrou-se dos últimos dias, de sentir a presença de sua deusa distante e fraca e contou ao druida e aos seus amigos aquilo que sentia. E Kuran, após meditar um pouco, falou:

_ Só há uma explicação! Busque em sua mente e em seu coração, Lucano, e pergunte a si mesmo se você fez alguma coisa recentemente que poderia desagradar Glórien!

Lucano emudeceu e se concentrou, buscando em sua mente quando fora a última vez em que ele tinha utilizado seus poderes. Kuran, Legolas, Seelan, Anix e Idor observavam-no ansiosos. Glorin sentou-se em uma pedra e permaneceu calado. Lucano continuou concentrado, até que Glórien tocou em seu coração e lhe mostrou a verdade que ele buscava.

_ Já sei! – disse o clérigo, consternado – Só agora eu fui perceber! A última vez em que eu usei minha magia, foi quando nós enfrentamos o Zulil, naquele castelo cheio de mortos-vivos! O que está acontecendo é resultado daquela batalha! Eu ataquei o Zulil, e colaborei para a morte dele! Por isso Glórien se afastou de mim! Eu fiz mal a um elfo! – explicou.

_ Sim! Agora as coisas fazem sentido! Você violou seus votos sagrados, e por isso Glórien ficou magoada com você! O poder que você recebeu dela era para ajudar os elfos, não para lutar contra eles! Por isso ela os tirou de você! Agora, da mesma forma que Lars Sween, você deverá novamente provar o seu valor a Glórien! Deverá mostrar que é digno de receber os poderes dela! – explicou Kuran.

_ Mas como ele fará isso? – perguntou Anix.

_ Primeiramente ele deverá encontrar um sacerdote de Glórien, acima dele na hierarquia clerical! E então, esse sacerdote lhe dirá o que deve ser feito! – respondeu Seelan.

_ E onde nós iremos encontrar um clérigo de Glórien no meio de reino de Tollon, que só tem anões e humanos? – era Legolas, revoltado.

_ Eu sei! – Glorin finalmente quebrou seu silêncio – Nas minhas andanças por esse mundo, eu encontrei um elfo, ao sul daqui! Ele deve ser um clérigo, ou um druida, não sei ao certo! Ele é um eremita, e provavelmente poderá ajudar! – complementou o anão.

_ Ótimo! Então, nos diga onde esse eremita vive! Vamos partir o quanto antes! Vou avisar o Squall e o Nailo! - disse Legolas.

_ Creio que isso não será possível! Assim como Lars, Lucano deverá ir sozinho! É ele quem deve provar seu valor, não vocês! – falou o anão.

_ Mas é muito perigoso! Ele não pode ir sozinho! – a voz de Anix tinha tom de súplica.

_ Glorin está certo! Ninguém poderá ajudar Lucano dessa vez! No máximo, para que ele não vá sozinho, ele levará seus soldados, já que eles são todos ainda fracos e inexperientes, não estariam ajudando Lucano! Certo Glorin? – era Seelan.

_ Façam como quiserem! – respondeu o anão.

Lucano estava cabisbaixo, triste e decepcionado por tudo que acontecia. Anix para Seelan e Glorin, suplicando para que o deixassem acompanhar o amigo. E Legolas tinha os olhos brilhantes, cheios de ódio e mágoa, pelo que estava acontecendo.

_ Não é justo! O Zulil era um desgraçado, chamou Glórien de prostituta! Mas quem recebe o castigo é o Lucano! Isso não está certo! – reclamava o arqueiro.

_ Não questione os desígnios dos deuses, Legolas! Não conhecemos as motivações deles, portanto não devemos julgá-los! Ao invés de revolta, você deve ter fé e acreditar em seu amigo e sua deusa! Façamos o seguinte, procurem-me amanhã de manhã! Até lá, eu já saberei a resposta de Glórien, e direi se vocês poderão ou não acompanhar seu amigo na jornada que ele deverá fazer! – disse Kuran, com toda a serenidade de sua fala, acalmando o arqueiro.

_ Como assim? Você vai falar com Glórien? – indagou Anix, surpreso.

_ Sim, por intermédio de Allihanna! – respondeu Kuran.

Ainda que relutantes, Legolas e Anix concordaram com a decisão do manipulador de vegetais. Deixaram o jardim, que era quase como um paraíso, e cada qual seguiu seu caminho.

Lucano, amargurado, foi com Glorin até o alojamento do capitão. Com suas mãos firmes de fortes, o anão traçou num mapa uma rota e explicou cada um dos detalhes ao clérigo, para que ele pudesse encontrar e chegar ao seu destino. Lucano saiu de lá e descansou pelo restante do dia, preparando-se para a jornada que faria na manhã seguinte.

Legolas, revoltado e triste, necessitava de um afago, de algumas palavras doces que trouxessem acalanto ao seu coração tempestuoso. Liodriel. O berloque da comunicação distante fez seu ruído característico e, do outro lado do reino de Tollon, a bela dama élfica atendeu ao chamado de seu adorado marido.Os dois deleitaram-se ouvindo a voz do ser amado. Graças ao bom Sam, ainda que estivessem distantes, eles podiam ficar mais próximos com aquele dispositivo mágico. Mas, como a conversa entre os dois não poderia durar para sempre, Legolas se despediu de sua esposa, e a solidão voltou a abater seu coração. Entretanto, agora ele estava fortalecido pelo amor de Liodriel.

Pois foi esse amor que o levou a conversar com o general Wally Dold. O ano já findava e, junto com o novo ciclo vinha também um breve período de comemorações em todo reinado, para festejar a mudança no calendário. Legolas desejava passar o feriado com sua amada, e pediu ao general que o dispensasse do serviço por uma semana, tempo suficiente, acreditava, para ir visitar sua amada e retornar às suas obrigações no forte. O general coçou seu queixo, enquanto ouvia ao pedido do elfo, e prometeu que pensaria no assunto.

Legolas saiu da sala do general esperançoso. Foi até seu alojamento, e pegou em seu armário os itens que estavam ali guardados. Vários tesouros que ele e seus soldados haviam recolhido após derrotarem o homem-serpente nas Montanhas Uivantes. Levou cada um dos objetos para a única pessoa do forte que seria capaz de descobrir para que eles serviam, Seelan. O arqueiro deixou os tesouros sob os cuidados de Seelan, e pediu que o mago os estudasse e desvendasse os segredos de cada um deles. E então, o arqueiro finalmente voltou à sua rotina normal.

Já Anix e Seelan, retornaram para o laboratório, onde retomaram seus trabalhos e suas pesquisas. Enquanto tudo isso se desenrolava, Nailo treinava seus soldados, sem desconfiar da desgraça de Lucano. Já Squall, deixara um de seus soldados responsável pelo seu grupo, e agora vagava pelo forte.

_ Major! Posso falar com o senhor! – perguntou o feiticeiro a Jonathan Wilkes, que saboreava uma caneca de cerveja na taverna do forte.

_Sim, sargento! Fale o que quer! – respondeu o homem, sempre com seu jeito bem humorado e debochado.

_ Eu gostaria que o senhor me desse uma dica! – pediu o elfo.

_ Claro! Mantenha sua espada sempre bem afiada! – sorriu Wilkes, sacando a arma da bainha.

_ Não, não era isso! Eu queria que o senhor me desse uma dica para que eu possa me relacionar bem com os soldados! – explicou o elfo.

_ Ah, bom! Agora entendi! Quer se dar bem com os seus subordinados? Isso é fácil! Seja duro com eles, e não deixe que sua autoridade seja abalada! Mas, saiba ser amigável com eles, para não parecer um tirano! – respondeu o homem, entornando a caneca.

_ Era isso que eu queria ouvir! Obrigado Major! – Squall agradeceu e se retirou. Ao invés de retornar ao treinamento dos seus soldados, foi até o laboratório, onde Seelan e Anix trabalhavam em suas pesquisas mágicas. Atravessou a entrada e pôs-se a observar o comportamento de Seelan que bolinava seu irmão. Squall sabia que Seelan apenas fingia ser afeminado para caçoar dos novatos e divertir a todos no forte. Mas, passados alguns meses, Seelan continuava enganando Anix, expondo-o ao ridículo diante de todos os soldados. E, o pior de tudo, parecia que Anix gostava do modo como era tratado por Seelan, já que ele, embora tentasse resistir, arrepiava-se todo, ruborizava e sorria encabulado cada vez que Seelan o tocava ou fazia um gracejo. Squall já começava a duvidar da masculinidade de seu irmão e pensava se não deveria revelar toda aquela farsa. Enquanto divagava sobre o comportamento suspeito de seu irmão, a presença de Squall foi notada, então ele decidiu tratar do assunto que o levara até aquele lugar.

_ Seelan! Preciso falar com você um instante! Quero perguntar algumas coisas para você! E é uma conversa particular! – disse o elfo com seriedade.

_ Claro que sim, amiguinho! Vamos conversar sim! Vamos lá pra fora, para ficarmos um pouco a sós! Quero dizer, isso se você não se importar, Anix! – Seelan sorriu, como de costume e foi até Squall, colocando seu braço por cima do ombro do rapaz. Depois alisou o peito de Anix com a ponta do indicador, enquanto falava com sua voz aguda e afeminada.

_ Claro que não me importo! Só não entendo o que o Squall teria a esconder de mim! – respondeu Anix.

_ Não importa, Anix! Isso é assunto meu! Depois eu quero ter uma conversa séria com você também! Você está me causando vergonha, com esse seu jeito! Depois a gente conversa! Agora vamos Seelan, e tire essa mão do meu ombro, pois isso não funciona comigo, eu sei seu segredo e se você não parar com essa frescura, eu vou revelá-lo! – respondeu Squall. Seu tom de voz era carregado de um desprezo que ele sentia pelo irmão naquele momento. Depois sua voz inflamou-se em cólera com a ousadia de Seelan.

_ Segredo? Ué?! Que segredo é esse que vocês estão falando? Eu quero saber! – perguntou Anix.

_ Não é nada! Bobagens! Depois eu te conto! Vamos Squall! Vamos lá fora conversar! – respondeu Seelan, arrastando o feiticeiro para fora.

Saíram os dois, deixando um Anix desconfiado dentro do laboratório. Não agüentando de curiosidade, e desconfiando que os dois tramavam algo, talvez algum plano para expô-lo ao ridículo ainda mais, Anix utilizou sua mágica para ficar invisível e seguiu os dois silenciosamente.

Enquanto caminhavam em direção à entrada do forte, afastando-se do laboratório, Squall perguntava a Seelan sobre algo que era tabu no território do reinado, armas de fogo. Durante o tempo em que estivera perdido no Mar Negro, Squall havia ouvido vários rumores sobre aquele tipo exótico de arma e, por uma única vez, pode testemunhar uma delas funcionando, no dia em que o navio onde ele estava fora atacado e abalroado por piratas. Depois daquele dia, Squall vagou longo tempo à deriva no mar, até que finalmente foi encontrado pelos homens que tripulavam o Lazarus, sob o comando do já falecido capitão Arthur Tym. Entre esses homens, estava Anix, seu irmão, que demorou dias para reconhecê-lo, devido à desidratação e às queimaduras do sol. Os infortúnios que vieram a seguir, sequer deram tempo a Anix e Squall para comemorarem o seu reencontro, após longo tempo. Junto com seu irmão e seus novos amigos, Squall viveu grandes aventuras, enfrentou perigos e se emocionou. Mas, mesmo após todo esse tempo, a imagem daquele pequeno artefato de metal explodindo em fogo e fumaça, perfurando os corpos dos marinheiros, causando morte e destruição sem auxílio de magia, jamais saiu de sua mente. Mesmo sabendo que aquele tipo de utensílio era proibido em todo o território do reinado, Squall pediu a Seelan que lhe conseguisse uma arma de fogo para que ele pudesse satisfazer sua curiosidade.

Seelan tentou desviar o assunto e fingir que nada sabia sobre as tais armas. Mas Squall sabia que no forte havia armas de fogo, capturadas de criminosos presos pelo exército, e que agora estavam guardadas em segurança. E Squall sabia que Seelan tinha conhecimento disso e o advertiu. Sem ter como escapar, o mago concordou com o pedido do feiticeiro e prometeu que faria uma demonstração para que todos os soldados pudessem conhecer os perigos que o uso da pólvora escondia. E novamente, no meio da conversa, o braço de Seelan envolveu Squall num abraço.

Squall empurrou Seelan e reclamou. Exigiu que ele parasse com aquilo, pois ele sabia de toda a verdade, sabia que Seelan apenas estava fingindo para enganar Anix. E Anix ouviu tudo e se surpreendeu com o que acabara de descobrir. E Seelan pediu desculpas, enquanto sua mão deslizava pelas costas de Squall. Vendo aquilo, Anix não se conteve e riu, e seu riso foi ouvido, e Squall e Seelan descobriram seu disfarce.

Anix se revelou, dissipando a camuflagem mágica que o tornava invisível. E encarou os dois e pediu explicações, sobre por que todos o enganavam daquele jeito. Squall se retirou, apenas dizendo a seu irmão: “Agora você já conhece a verdade! Então comporte-se como um elfo, não como um maricas!”. Anix encarou Seelan com fúria nos olhos, era o momento da verdade.

_ Por que você me enganou esse tempo todo? Por que você me fez de idiota na frente de todos? Por que ficou me dizendo que era um maricas, um veado? – perguntou Anix, cheio de rancor.

_ Mas eu nunca disse que era veado, maricas ou coisa parecida! E não fiz nada por maldade! Nunca tive a intenção de humilhar você! Só queria brincar! Desculpe se eu te magoei! E, sinto muito, mas infelizmente, nossa relação é impossível! Espero que você não fique muito triste com isso! – respondeu Seelan. Sua voz não tinha mais o tom afeminado de antes, era grave e ao mesmo tempo suave, preenchia todo o espaço à sua volta.

_ Ainda bem! Achei que você queria me namorar ou algo assim! Menos mal, mas ainda assim estou zangado com toda essa história! – respondeu Anix.

_ Ora, não fique assim! Quer que eu te leve para dar uma voltinha no forte, pelado, novamente? - sorriu Seelan.

_ Nem vem com graça! Mas, se você me levasse pra dar uma volta voando, eu bem que ia achar legal! – retrucou Anix.

_ Ótimo, então vamos! – gritou Seelan, agarrando a mão de Anix e levantando vôo com o auxílio de sua mágica. Assim, Anix ficou sabendo do segredo que Seelan escondia dele, e os dois voltaram a conviver em paz.

Na manhã seguinte, Lucano e seus amigos procuraram por Kuran, como haviam combinado antes. O druida explicou que falara com Allihanna em suas preces, e que a deusa dissera que Glórien estava muito triste com o uso que Lucano havia feito dos poderes concedidos por ela. E disse que Lucano deveria partir sem seus amigos para a jornada em que ele deveria provar o seu valor. Legolas ficou enfurecido, pois Lucano tinha apenas ajudado ele e seus amigos, todos elfos, enquanto que Zulil renegava o nome da deusa. Em uma explosão de fúria, o arqueiro começou a gritar palavras ofensivas para a deusa e, por um instante, o céu pareceu estremecer. Anix agarrou firme o pescoço de Legolas, e os dois por pouco não se enfrentaram. Felizmente, Glorin interferiu e impediu que os amigos brigassem entre si.

_ Parem já com isso garotos! Como Kuran disse, não se deve questionar as intenções dos deuses! Não sabemos o que eles pensam ou quais suas motivações, então, não adianta ficar discutindo! Lucano irá procurar o elfo que eu falei sem vocês, mas não irá sozinho! Ele irá com os soldados dele, que não representarão grande ajuda, já que são todos mais fracos e inexperientes! E, Anix, largue já o pescoço do Legolas, e tire essa pena da sua mão! Você está ainda mais aveadado com isso do que de costume! – disse o anão.

E ouviram e concordaram com as palavras de Glorin, embora não estivessem contentes com aquela situação. E Anix soltou Legolas e se desculpou por tê-lo agredido, e viu que em sua mão havia uma pequena pena branca presa. Anix retirou a pena da mão e a guardou, e ficou intrigado com aquilo. Mas, como estavam no jardim de Kuran, era possível que algum pássaro a tivesse deixado cair. Legolas pensou até que ela fazia parte do colar que ele e seus soldados tinham ganhado em Cold Valley, mas, contatou que seu colar estava intacto ao conferi-lo e não se importou com aquele fato.

E Lucano, foi e reuniu seus soldados, e juntaram equipamentos e selaram os cavalos e se prepararam para partir. E Glorin e todos os outros se reuniram com eles para se despedir e desejar boa sorte.

_ Ouçam com atenção, soldados! Vocês irão acompanhar Lucano numa missão! Deverão cumprir as ordens dele, como de costume, mas não deverão ajudá-lo nesta viagem! Se enfrentarem algum perigo, protejam apenas as suas vidas! Em hipótese alguma vocês poderão ajudar Lucano, mesmo que a vida dele dependa disso! Em outras palavras, vocês estão indo com ele apenas para fazer-lhe companhia, para adquirirem experiência e, caso ele não sobreviva, para carregar seu corpo de volta ao forte! Agora partam sem demora, e tenham boa sorte! – disse Glorin aos soldados, que ouviam atentamente as ordens do capitão. Embora não estivessem entendendo tudo o que estava acontecendo, pelo tom sério do anão, sabiam que não deveriam ignorar aquelas palavras.

_ Lucano! Leve isto com você!­ – disse o anão, entregando um pequeno broche de madeira em forma de folha de carvalho – Quando encontrar Laurelin Ramo de Carvalho, mostre isso a ele e diga Mão Gelada o enviou até ele! Assim você o encontrará mais facilmente!

_ Está bem, capitão! Obrigado! – Lucano agradeceu, prendendo o broche à roupa.

_ E leve isto também! São nossas últimas poções mágicas de cura! Vocês acabaram com todas em suas missões! Se Natanael não vier pra cá nos próximos dias, eu terei que dar um jeito de conseguir mais! – disse Seelan, entregando ao clérigo oito pequenos recipientes.

_ E Lembre-se! Você estará sendo testado por Glórien! Jamais desista e jamais deixe de confiar nela, pois, apesar de tudo, ela está olhando por você! – completou Kuran.

E depois foi a vez de Squall, Anix, Legolas e Nailo se despedirem do grande amigo e desejarem-lhe boa sorte. E Lucano montou em seu cavalo e ele e seus soldados deixaram o Forte Rodick. E quando eles já se tinham ido, Kuran suspirou e falou: “A provação que ele enfrentará será ainda maior do que ele imagina!”. E todos ficaram em silêncio.

Campanha A - Capítulo 264 – Cabo Nailo

Capítulo 264 Cabo Nailo

Na manhã seguinte, um dos soldados chegou à prisão do forte Rodick, destrancou todas as celas e soltou todos os que ali estavam presos. Nenhum deles entendeu o que estava acontecendo, já que, conforme as ordens de Glorin, todos sabiam que permaneceriam presos durante uma semana, pelo menos. Então, o soldado entregou as ordens a cada um dos libertos e as coisas começaram a fazer sentido. Todos, com exceção de Nailo, foram convocados pelo capitão Glorin, para receberem dele suas novas ordens. Quanto ao sargento, ele deveria se apresentar diretamente ao general Wally Dold, sem a companhia dos demais.

Assim, Kawaguchi, Akira, Lord e Hydor foram ao encontro de Glorin. O anão estava no campo de treinamento, inspecionando os exercícios das tropas, quando foi abordado pelo grupo recém liberto. Virou-se quando Kawaguchi o chamou e se apresentou, e sua expressão era séria e taciturna, seu olhar era frio como os picos nevados das Uivantes.

_ Capitão! Queria nos ver? – perguntou o samurai.

_ Sim, soldados! Seu período de detenção terminou! E eu já tenho novas tarefas para vocês! Venham comigo! – respondeu o anão.

_ Hay! – gritou Kawaguchi, concordando com a cabeça, Glorin bufou, contrariado.

Foram até os alojamentos dos soldados, os, agora, 86 loucos, como Glorin costumava dizer. O anão entrou com todos em cada uma das construções que serviam de abrigo para os recrutas e disse:

_ Vocês viram cada um desses barracões? Eu quero que vocês os limpem todos os dias, a partir de hoje e durante uma semana inteira! Farão isso na parte da manhã! Na parte da tarde, cuidarão dos estábulos! Limparão tudo, tratarão dos animais e os alimentarão! E, quando terminarem essas tarefas, ajudarão a cuidar de nossa horta até o dia terminar e o sol se pôr! Agora vão pegar equipamento de limpeza e comecem a trabalhar! E, enquanto estiverem fazendo esses trabalhos sujos e cansativos, quero que reflitam sobre o que fizeram nos últimos dias, para que vocês aprendam a serem disciplinados e mais educados! Agora vão!

_ Hay! – responderam todos em coro, e correram para o depósito do forte em busca de vassouras, baldes e escovas. Glorin balançou a cabeça de um lado para o outro, contrariado. Enquanto isso, Nailo se sentava diante do general, para receber sua sentença.

_ Bem, Nailo! Os últimos acontecimentos, e toda aquela discussão que aconteceu ontem aqui serviram para me mostrar uma coisa importante! Embora você seja um lutador poderoso e valente, como me disse o capitão Glorin logo que vocês chegaram aqui, você não tem capacidade de liderança! Você, assim como os seus soldados, é indisciplinado! Glorin já havia me alertado quanto a isso, e me relatado sobre seu comportamento durante o período em que estiveram juntos antes de chegarem aqui! Foi a pedido dele que eu concordei em promovê-lo a sargento, para lhe dar uma chance! Acreditávamos que, estando do outro lado da situação, atuando como comandante e não como comandado, você iria aprender a domar essa sua rebeldia toda! Mas, parece que nos enganamos! O espetáculo de ontem me mostrou isso! Você pode ser um bom combatente, mas definitivamente não é um bom líder! Por isso, não tenho outra opção a não tirá-lo do posto de sargento! Lembro-me que, pelas suas próprias palavras, sua grande preocupação era não ser responsável pelo que pudesse acontecer aos soldados! Pois bem, a partir de agora você não será responsável por ninguém mais além de você! De agora em diante você será cabo! Continuará treinando os soldados e ensinando-lhes um pouco daquilo que você sabe sobre combates, mas não irá mais liderar missões dentro ou fora do forte! Dessa forma não teremos mais problemas, espero eu! – o general falava vagarosamente e com pesar. No entanto, sua voz era firme, e preenchia todo o ambiente da sala, apesar dele falar em um tom baixo, quase sussurrando.

_ Sim, senhor! Eu compreendo, e espero um dia poder provar meu valor e receber uma nova chance de recuperar o que eu perdi hoje! – respondeu Nailo, com a cabeça erguida, mas com o orgulho ferido.

_ Está certo, eu também espero isso! Agora, volte ao trabalho, cabo Nailo! Dispensado! – concluiu o general.

Nailo bateu continência e se retirou, sem comentar com ninguém o que havia acontecido. Aos poucos, entretanto, todos no forte foram capazes de entender o que tinha sido decidido naquele dia e, apesar do desapontamento que o ranger sentia, a vida voltou ao normal em forte Rodick.