outubro 14, 2005

Capítulo 113 - Traição - A ambição do arqueiro

Legolas fechou o portão da montanha por dentro logo que passou por ele. Travou a pesada porta de pedra, delicadamente esculpida por Durgedin e seu clã, com a viga de madeira. Antes de retornar para seus amigos, decidiu investigar um local aonde nenhum deles havia ido. Abriu a porta secreta que dava acesso ao grupo de seteiras por onde eles haviam penetrado no complexo, e seguiu até o fim do corredor. No caminho, encontrou um gancho, preso a uma corda pendurada do lado de fora. Talvez os orcs tivessem tentado subir por ali, pensou ele. Legolas recolheu a corda e o gancho e prosseguiu pelo corredor até o seu fim. Do seu lado esquerdo havia uma alcova, como se o corredor tivesse continuação naquela direção. Legolas achou a formação estranha e, ao analisá-la, sentiu uma estranha corrente de ar atrás de si. Seus sentidos élficos apurados lhe avisaram. Legolas se virou e empurrou, instintivamente, a parede oposta, que se abriu revelando um corredor secreto.
Legolas sorriu e avançou cuidadosamente pelo corredor, indo em direção à outra porta no extremo oposto. Antes de cada passo, o elfo tateava o chão e as paredes com seu arco para não ser surpreendido por nenhuma outra armadilha. No final do corredor, Legolas primeiro tentou empurrar, mas como a porta não se abriu, a puxou lentamente.
Legolas atravessou a porta e entrou em uma sala toda suja, cheia de mesas e camas de palha mal feitas. Por algum motivo, aquele lugar não lhe parecia estranho. Legolas andou pelo local e viu, após uma porta que se encontrava aberta na outra extremidade da sala, o pé de um orc deitado do lado de fora da sala. Legolas armou seu arco, pronto para surpreender o inimigo. Mas a surpresa foi de Legolas, ao constatar que ele estava no local onde haviam travado a dura batalha contra os orcs e o gigantesco ogro que tirou a vida de seu amigo Loand. Legolas arrastou os corpos dos orcs para dentro da sala e rumou para o local onde seus amigos estavam.
Sairf acabara de abrir a caixa quando Legolas retornou. Dentro do velho caixote de madeira, Sairf encontrou itens de valor. Além de roupas e armaduras velhas, sujas e amassadas, o mago encontrou também duas mochilas ainda fechadas e cheias de equipamento. Além disso, havia ali um livro trancado a chave, com o crânio de um touro esculpido em alto relevo na capa de couro. Era um grimório, um livro de magias, que aguçou a curiosidade tanto de Sairf quanto de Squall. Além do livro, havia um belo arco, longo, feito todo em osso ou marfim, adornado com entalhes em forma de rosas se entrelaçando. Junto ao arco estava também uma espada, muito bem confeccionada, de lâmina brilhante e que trazia em seu cabo, também de marfim, o mesmo padrão de entalhes do arco. No fundo da caixa, também havia uma lança comprida, com duas lâminas laterais formando uma meia-lua em torno da ponta principal. Era uma Ranseur. Quase metade da arma saía da caixa por uma abertura lateral. Ao lado da lança, havia ainda um cantil, todo amassado e com uma marca de furo que parecia ter sido feita por um chifre ou algo parecido.
_ Não vamos pegar nada disso agora! Vamos levar tudo para ser dividido no acampamento! - Sairf retirou todos os itens e os colocou dentro de uma grande panela e pediu para que Squall lhe ajudasse a carregar tudo.
Legolas que assistia à cena, não pode se controlar ao ver o arco branco reluzindo na escuridão da caverna. Seus olhos brilharam feito lanternas. Legolas não via nada além do arco de marfim. Tomado pela ganância, Legolas esticou a mão para pegar o arco, mas foi interrompido por Sairf.
_ Me deixe ver esse arco Sairf! Eu só quero olhar! – argumentou Legolas.
Mas os olhos do elfo diziam outra coisa. Legolas estava como que possuído por outro ser, e seu único desejo era tomar aquele arco para si.
_ Não! Depois você vê! Vamos levar tudo para o acampamento! Lá a gente divide tudo o que encontramos! – respondeu Sairf ao identificar as reais intenções de seu amigo.
_ Mas eu quero agora! – insistiu Legolas.
_ Já disse que não! Depois, no acampamento, você poderá olhá-lo! – Sairf segurou o arco para que ele não fosse roubado por Legolas.
Legolas olhou todos os objetos dentro da panela carregada pelos dois. Olhou para Sairf e tentou mais uma vez.
_ Não vai me deixar ver mesmo? É sua última palavra?
_ Já disse, só no acampamento! – Sairf guardou o arco sob seu manto onde não poderia ser tirado por ninguém facilmente.
Num lance furtivo, Legolas meteu a mão dentro do tacho e apanhou o livro de magias. Lucano e Squall assistiam espantados.
_ Se você não me der esse arco eu vou sumir com esse livro! – ameaçou Legolas que já parecia estar fora de si.
_ Legolas, devolve esse livro! – pediu Squall.
_ Não! – respondeu Legolas, fugindo em disparada pelos corredores escuros da montanha.
Squall correu atrás de Legolas durante algum tempo, mas depois desistiu. Sabia que mais cedo ou mais tarde ele retornaria, e Squall tinha algo em mente para quando Legolas retornasse.
Legolas continuou fugindo com o livro, cego por sua ambição. Tinha em mente que não devolveria aquele grimório enquanto o arco não fosse seu. Nesse momento, não havia bondade, compaixão ou sequer amor naquele elfo. Naquele coração só havia espaço para a cobiça, a ganância. Uma ambição tão grande quanto a dos filhos da esquecida deusa Valkaria. Uma ambição tão grande que, ao menos por alguns instantes, superou o amor pela jovem Liodriel. Sim, naquele momento Legolas se esqueceu de sua amada. Em sua mente só havia lugar para uma coisa. O arco. A imagem daquele arco branco como o leite ocupava sua mente sem deixar espaço para mais nada.
Legolas atravessou a passagem secreta que acabara de descobrir e foi até o portão da montanha. Saiu do complexo subterrâneo e correu até onde estava seu cavalo. Legolas escondeu o livro que havia roubado de seus amigos dentro da bolsa carregada pelo animal. Usando gestos e as pouquíssimas palavras que conhecia no idioma silvestre, instruiu o animal a fugir em disparada, caso qualquer pessoa que fosse se aproximasse dele. Legolas retornou para dentro da montanha, sorrindo como um algoz que acabara de eliminar mais uma vítima inocente, e foi ao encontro dos amigos que havia traído, como se nada tivesse acontecido. Legolas, que até então todos pensavam ser um grande amigo, começava a se revelar como uma pessoa perigosa e pouco confiável.

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