outubro 14, 2005

Capítulo 114 - O feiticço de Squall

Legolas retornou depois de um longo tempo. Todos já estavam reunidos no acampamento aguardando pela chegada do ambicioso arqueiro. Squall era o mais impaciente de todos. O feiticeiro aguardava na porta, com um olhar que lembrava o de um dragão enraivecido. Quando Legolas chegou, Squall quis tirar satisfações com o traidor.
_ Legolas, onde está o livro? – a voz de Squall lembrava mais o sussurro de um dragão.
_ Eu guardei num lugar seguro! – respondeu Legolas.
_ Você não vai devolvê-lo? – insistiu Squall.
_ Não! Só quando eu tiver o arco! E saia da minha frente Squall! – Legolas empurrou Squall com força e foi para um canto da sala, sem falar com ninguém.
Squall baixou a cabeça, movendo-a de um lado para outro, desaprovando a atitude do “amigo”. Nailo assistia a tudo espantado, e viu Squall murmurar alguma coisa em voz baixa. Parecia um feitiço, porém, Squall não usava gestos para evocá-lo. O feiticeiro se voltou para o arqueiro e apontou o dedo indicador direito em sua direção, com um olhar desafiador.
_ Legolas! Eu quero que você vá buscar o livro para mim. Agora! – ordenou Squall.
Legolas se levantou e saiu, sem dizer uma palavra. O elfo saiu andando pelo corredor, calado, como se estivesse enfeitiçado. E estava. A magia sem gestos lançada por Squall havia surtido efeito. Legolas seria obrigado a obedecer praticamente todas as ordens de Squall durante horas.
O arqueiro foi até lá fora, hipnotizado pela magia de seu amigo traído. Desceu a encosta indo ao local onde eles haviam deixado os cavalos escondidos. Legolas se aproximou de seu cavalo para pegar o livro. Mas o animal saiu em disparada pela floresta, exatamente como havia sido instruído, e sumiu na mata. Legolas o seguiu correndo, durante longos minutos. Quando o alcançou, o animal estava parado diante de um belo lago de águas escuras que ficava atrás da montanha. Legolas foi até o cavalo sorrateiramente e o segurou pelas rédeas. O sol já estava alto nesse momento, e seu brilho forte conseguia amenizar os efeitos do início do inverno. Legolas aproveitou para banhar-se e também para lavar seu cavalo querido. Talvez por mero acaso, ou por maldade mesmo, Legolas acabou molhando todo o grimório que havia ido buscar. Ele pegou o livro e saiu puxando o animal pelas rédeas. Na areia que formava uma pequena praia ao redor do lago, Legolas viu estranhas pegadas do tamanho de pés humanos ou de criaturas semelhantes. Os rastros iam em direção à mata, onde desapareciam abruptamente. Próximo dessas pegadas haviam outras marcas enormes de alguma criatura dotada de garras afiadas que devia estar perseguindo os humanóides. Talvez algum monstro tivesse atacado os orcs, pensou ele. Na borda da selva, havia uma marca ainda mais estranha. Uma marca que parecia a junção das garras do monstro com alguma outra coisa. Parecia que o monstro havia pisado em algum dos que fugiam. Sem se preocupar muito com os rastros, Legolas retornou para a montanha.
_ Legolas! Me entregue esse livro! – ordenou Squall assim que Legolas retornou.
_ Agora sente-se no canto e fique calado! – continuou ele.
Squall pegou o livro ensopado e perguntou a Legolas o que tinha ocorrido. O arqueiro contou tudo que havia acontecido e sobre as pegadas que havia encontrado, deixando todos intrigado.
Sairf, Squall e Lucano espalharam os objetos que haviam pegado no depósito orc para fazer a partilha com os amigos. Usaram magia para procurar itens mágicos, mas somente itens mundanos estavam ali. Mostraram o arco, fruto da discórdia no grupo, e os outros objetos de valor encontrados a Nevan e perguntaram se aquilo também fazia parte de seu equipamento.
_ Oh não! Eu conheço essas coisas! É o arco de Saudriel! E a espada de Celilmir! E também a Lança de Arwind! E esse grimório era do Isaulas! – Nevan estava transtornado, quase em prantos ao dizer essas palavras.
_ Quem são essas pessoas Nevan? – perguntou Sairf.
_ Eles são de Darkwood! Vieram junto comigo e Draco para eliminarmos os orcs! Se as coisas deles estavam no depósito dos orcs e eles não estavam presos como eu, isso só pode significar uma coisa. Eles devem estar mortos! – Nevan não conteve as lágrimas.
O guerreiro poderia estar certo. Além do mais, as pegadas encontrada por Legolas poderiam pertencer ao grupo de Draco. Talvez eles tivessem sido atacados pelo tal monstro da floresta e tivessem sido mortos por ele. Mas restava saber o paradeiro de Draco. Os equipamentos dele não estavam ali. Somente os objetos dos dois irmãos, Saudriel e Celilmir, todos, inclusive suas mochilas, decorados com entalhes de rosas, que era o símbolo de sua família. Somente o grimório de Isaulas e a arma favorita de Arwind. Mas nenhum sinal das coisas de Draco. Será que ele havia sobrevivido? Ou será que havia tido um destino ainda mais trágico, que seria revelado mais à frente?
Enquanto todos divagavam, Legolas se aproximou furtivamente, e tentou novamente roubar o arco, que estava nas mãos de Anix. O mago segurou a arma com firmeza e seu irmão Squall conteve a ganância de Legolas com sua magia.
Para evitar novas desavenças, Anix se encarregou de dividir os espólios, já que Nevan havia se recusado a dividir os pertences de seus amigos supostamente mortos. Anix entregou o arco para Legolas, que finalmente sossegou, e a espada de Celilmir para Nailo, o melhor espadachim do grupo. Anix também dividiu o tesou que havia trazido do andar inferior, os objetos que pertenciam a Kaarghaz. Assim, Squall ganhou um anel mágico para proteger seu corpo, Nailo recebeu um anel que lhe fornecia extraordinária habilidade para saltar, Lucano ganhou um amuleto mágico de chicote, igual ao usado pelo troglodita, Sairf ficou com um bastão mágico que estava em posse do monstro, e que servia para aumentar o tempo de duração dos feitiços, Legolas ficou com o belo manto de Kaarghaz, que servia para aumentar sua autoconfiança, e Anix ficou com o colar mágico de bolas de fogo explosivas, que havia feito tantos estragos no grupo de aventureiros.
Finalmente com o objeto de sua ambição nas mãos, Legolas se retirou e foi descansar em outra sala.
Squall saiu para procurar os pertences de Draco dentro das caixas que ainda não haviam sido vasculhadas. O restante do grupo ficou descansando, enquanto Nailo e Anix contavam o que havia lhes acontecido no andar inferior.

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