setembro 07, 2006

Capítulo 228 – Zulil, o traidor

Capítulo 228 Zulil, o traidor

“Cuidado com o de fala mansa. Aquele de fala suave poderá matá-los.” As palavras da ninfa pulsavam como tambores nas mentes dos heróis. O terrível inimigo que eles estavam fadados a confrontar, aquele com quem eles sonhavam constantemente e que era motivo de temor e ódio para todos eles estava ali, diante de seus olhos. Ele era Zulil Alvane, um elfo calmo e culto que aparentava possuir grande sabedoria. Era Zulil, aquele que eles haviam conhecido em Malpetrim. O mesmo que ficara amigo do grupo e que ouvira entusiasmado a história da aventura em Ortenko. O mesmo elfo que prometeu torcer por Legolas no torneio de arquearia de Malpetrim. O mesmo elfo que se despediu de todos sorridente e saudoso, quando partiram de Petrinya para Tollon. Ele era Zulil, o inimigo da fala mansa, o traidor que os apunhalava pelas costas.

Zulil estava em uma torre circular de quinze metros de diâmetro. Tochas davam uma luminosidade sombria ao local, já que as janelas estavam cobertas por uma ilusão mágica. Estava atrás de uma bancada de madeira, sobre a qual havia uma pessoa acorrentada. Velta. A misteriosa vidente estava acorrentada sobre a mesa, gritando e se debatendo como uma louca. À esquerda deles havia outra bancada, sobre a qual repousava uma jovem adormecida. Era Tábata. A menina estava inconsciente, mas viva. Estava acorrentada, e ao lado dela havia instrumentos ensangüentados como facas e serras, instrumentos das experiências macabras de Zulil. Havia ainda outra mesa, à direita de Zulil, onde um cadáver de um homem apodrecido exalava um odor fétido. No lado oposto da torre, havia uma estante com livros, e, espalhados por todo lugar, havia cadáveres amontoados, encostados nas paredes e nos móveis. Acima de sua cabeça, cerca de uns seis metros longe do chão, estava uma gaiola, presa ao teto por uma corrente. Dentro dela, havia um pássaro sem consciência, era Cloud.

_ Por essa eu não esperava! Mas são vocês! Essa velha maluca me avisou que alguém viria aqui, mas nunca pude imaginar que seriam vocês! – Zulil estava espantado, era possível notar isso na sua voz e no seu olhar. – Vocês são meus amigos! Eu não quero matá-los! Vocês destruíram minhas criações, mas se forem embora agora, vou esquecer tudo que aconteceu e deixá-los partir em paz! – continuou, ainda atordoado.

_ Isso não será possível, Zulil! Nós viemos pará-lo! – respondeu Legolas, com pesar.

_ Por que você está fazendo tudo isso? – perguntou Nailo, ainda sem acreditar no que via.

_ Porque é necessário! Para deter um mal maior! – respondeu Zulil. Seu olhar e sua voz já se modificavam completamente, da surpresa para a insanidade.

_ E que mal é esse que pra ser destruído exige o sacrifício de pessoas inocentes, até mesmo crianças? – gritou Anix, inconformado.

_ Vocês não entendem! Vocês não viram o que eu vi! Não estavam lá quando tudo aconteceu! Aqueles goblinóides nojentos, matando o povo de Lenórien! Vocês não compreendem o sofrimento pelo qual o nosso povo passou! E Glórien não fez nada! Não tentou sequer impedir que tudo ocorresse! Aquela prostituta de Ragnar não fez nada! Deixou que a Aliança Negra destruísse e matasse tudo e todos! – Zulil já não tinha o seu ar de sábio, ao invés disso, parecia transtornado ao lembrar dos horrores que tinham acontecido aos elfos quando seu reino no continente sul foi destruído por uma horda de goblinóides chamada de Aliança Negra.

_ E por causa disso você se tornou tão podre quanto os goblinóides? O que você está fazendo não é melhor do que o que aconteceu em Lenórien! – gritou Lucano, tentando trazer o elfo de volta para o caminho da luz, ao mesmo tempo em que se segurava para não voar no pescoço dele.

_ Não seja tolo! Eu percebi que não havia outro caminho a seguir! Glórien, aquela prostituta nos abandonou nas mãos da Aliança Negra! Além disso, há outra coisa ainda pior! A Tormenta! Chegará um dia em que os exércitos da Aliança Negra marcharão pelo continente norte devastando tudo que encontraram! Na direção oposta virá a Tormenta, causando ainda mais destruição! Somente os mortos restarão! O único meio de sobreviver a isso tudo é superar a morte, tornando-se um morto-vivo! Meu exército de mortos-vivos será a única força no mundo capaz de deter a Tormenta e a Aliança Negra! Somente com o poder de Tenebra poderemos sobreviver! Juntem-se a mim vocês também e vamos formar o maior exército de Arton! - gritava o elfo insano, renegando sua deusa criadora.

_ Não! Você está errado! Matar pessoas inocentes da forma como está fazendo não levará a nada! – gritou Squall.

_ Eles são um sacrifício necessário para se conseguir um bem maior! Respondeu Zulil, encarando o feiticeiro com um olhar frio.

_ Não! Parem! Eu avisei! Vocês vão se matar! A desgraça virá para todos! Eu avisei! Eu avisei! – gritava, enlouquecida, a velha amarrada sobre a mesa.

_ Cale-se, velha maldita! E então? O que me dizem? Vão se juntar a mim, vão embora, ou preferem a morte? – Zulil encarou Velta como se a odiasse, depois se voltou para os heróis sorrindo tranqüilamente, como se nada estivesse acontecendo.

_ Zulil, eu tinha você como um amigo! Mas, você não me deixa outra opção! Eu farei o que deve ser feito! – respondeu Legolas, entristecido, retesando a corda do arco, já com uma flecha apontada para o peito de Zulil.

_ Você vai tentar! – retrucou Zulil, erguendo os braços e murmurando algo que parecia ser um feitiço. – Que o poder das trevas avance como um mar revolto, carregando suas forças para as profundezas! Wellen der Erschöpfung!!! – gritou o elfo.

Uma onda de energia negativa, tão negra quanto o manto de Tenebra, atravessou a torre em direção dos heróis ao mesmo tempo em que a flecha partia do arco de gelo. A flecha atingiu o peito de Zulil, perfurando-o levemente e despencou no chão. A onda negra atingiu os heróis, sem que eles pudessem ter tempo para reagir, e levou embora suas forças. Todos se sentiam exaustos, como se tivessem lutado por horas seguidas, vestindo armaduras pesadas e portando armas gigantescas. Sentiam os braços e as pernas fraquejarem, suas armas começavam a pesar como chumbo. Mover-se, por si só já era um desafio para eles. Legolas tinha as mãos trêmulas e percebeu que até mesmo sua mira fora prejudicada pelo poder nefasto de Zulil. Os heróis ofegavam como se tivessem corrido vários quilômetros sem descanso.

Legolas usou novamente seu arco, mas já não conseguia sequer esticar o fio da arma, quanto mais mirar com a costumeira precisão. Os projéteis passaram longe do alvo, provocando risos em Zulil, que zombava dos heróis. Velta, continuava a se debater sobre a mesa, gritando enlouquecidamente.

Enquanto Zulil gargalhava, Nailo correu o mais que podia para alcançá-lo. O simples ato de andar já era um martírio para oi ranger, após os efeitos da magia do inimigo. Nailo parou ao lado de Zulil e golpeou com todas as forças que lhe restavam. Sua espada se chocou em algo, mas não feriu o inimigo. Zulil se virou para Nailo, ameaçando-o de morte e todos puderam perceber que ele estava protegido por um escudo mágico de energia.

Os heróis estavam fracos e lentos, e o inimigo contava com grandes proteções mágicas. Somente segurando-o parado eles teriam alguma chance de atingi-lo. Foi o que Anix tentou fazer. Murmurando um feitiço, o elfo fez com que um denso feixe de teias de aranha surgisse do teto e do chão, entrelaçando-se e engolfando Zulil e Nailo. Os dois ficaram cercados por centenas de fios pegajosos, mas, ainda assim, podiam se movimentar dentro das teias. Era o que Anix temia.

­_ Poderes das trevas, destruam a força de meus inimigos! Ich Streinfen der Schwäche! – gritou Zulil encarando Nailo. Um raio de energia escura saiu de sua mão e atravessou o peito do ranger. As pernas de Nailo fraquejaram e suas espadas quase escaparam de suas mãos. Sua força estava reduzia à metade. – Hehehehahahaha!!! Vou matar todos vocês!!! – gargalhava o necromante.

_ Eu avisei, eu avisei! Vocês vão se desgraçar! A desgraça virá para todos! – Velta continuava gritando.

Zulil mandava que a velha se calasse, entre uma risada e outra. Um grande chapéu, feito de palha surgiu sobre sua cabeça, ficando enroscado nas teias de aranha. Era Squall, tentando distrair o inimigo com um truque mágico simples, mas que poderia ter sido eficiente se ele não tivesse esquecido das teias. Zulil riu novamente, humilhando Squall e provocando a todos. Irritado, Lucano atirou sua espada no inimigo, mas esta também ficou presa nos fios que o cercavam. Então Anix percebeu seu erro. Ao invés de atrapalhar, a sua magia estava fornecendo proteção para o inimigo.

Mesmo assim, Nailo continuava atacando-o com suas espadas que eram facilmente evitadas pelo elfo. Legolas desceu as escadas da torre, esperando que os efeitos da magia do inimigo desaparecessem ao se afastar dele. Mas, mesmo longe de Zulil, Legolas continuava exausto e fraco. O arqueiro começou uma longa e penosa subida de volta a torre, enquanto Anix preparava uma de suas magias mais poderosas para atingir o inimigo.

_ Squall! Prepare seu enxofre! – gritou Anix para o irmão.

_ Enxofre? Pretende fazer o que? Vai me atirar uma bola de fogo? Não vou permitir! Que as trevas o atinjam e seus poderes sejam drenados! Um vorläufig abzutropfen!!! – clamou Zulil. Um raio negro foi disparado na direção do mago e por pouco não o atingiu. Anix sabia que se fosse pego por aquela magia o inimigo lhe tiraria seus poderes, como se ele desaprendesse cada um deles. E a velha Velta continuava a gritar.

Estavam encurralados. O inimigo era extremamente poderoso, eles estavam enfraquecidos e não contavam com a ajuda do poderoso Glorin. Precisavam pensar em alguma coisa. Squall começou a olhar em volta, procurando por algo que pudesse ajudá-los. Um pergaminho, uma varinha, uma arma, qualquer coisa serviria para tentar deter Zulil. Mas, só havia corpos naquele lugar, a única coisa diferente disso era a estante de livros. Livros! Era isso, Squall se lembrou de seu livro mágico e do que estava com Nailo. Nenhum deles poderia ser usado contra o inimigo, mas Lucano possuía um livro que eles ainda não sabiam o que fazia. O feiticeiro enfiou a mão na bolsa do companheiro e puxou o livro de lá de dentro. O manual do dragão. Squall abriu o livro e começou a folheá-lo rapidamente, em busca de algo que pudesse ajudar naquele momento. Entretanto, seria necessário um longo período de estudo para conseguir descobrir os segredos daquele tomo.

Lucano tentou ajudá-lo, mas mesmo unidos, os dois não obtiveram sucesso. Legolas chegou de volta ao alto da torre, esbaforido, e viu Nailo enroscando-se nas teias e não conseguindo sequer atacar Zulil. O inimigo sorriu mais uma vez, um sorriso macabro, maléfico, e evocou outra de suas magias.

_ Que os espíritos das trevas cedam-me suas mãos para vencer meus inimigos! Gräbliche Hand!!! – Zulil gritou as palavras mágicas e uma mão surgiu do além próxima de Legolas e Anix. Era uma mão brilhante e translúcida como um fantasma que flutuava no ar acima dos heróis. Zulil deu outra gargalhada, e os heróis sentiram que o perigo aumentava a cada instante.

Squall desistiu do livro, jogando-o no chão. Para sua surpresa, o livro mágico ficou flutuando a um metro do solo. Squall tentou atacar Zulil com seus dardos de energia mágica. Entretanto, os projéteis mágicos foram absorvidos pelo escudo mágico que cercava o inimigo, frustrando os planos de Squall.

Legolas tentou novamente atingir o inimigo com flechas, mas estas paravam presas nas teias antes de alcançarem o alvo. Nailo tentou agarrá-lo, mas as teias o atrapalharam também. Anix se viu forçado a dissipar sua magia, para não prejudicar o grupo ainda mais. Os fios desapareceram, e o chapéu criado por Squall despencou sobre Zulil. O elfo se desviou facilmente do objeto e novamente riu dos heróis. E Velta continuava a gritar como louca.

_ Cale-se velha maldita! Desta vez você não me escapa, desgraçado! Um vorläufig abzutropfen!!! – gritou Zulil, disparando novamente na direção de Anix. O raio de energia negativa atravessou o corpo do mago, Anix empalideceu e por pouco não caiu no chão. Sentia seus poderes sendo drenados. Sua força, sua vitalidade, seu poder mágico, tudo se ia como água escorrendo ladeira abaixo. Anix sabia que agora só possuía metade de seu poder total. Suas magias mais poderosas, que ele havia preparado pela manhã, haviam desaparecido. E energia tinha se ido como uma brisa. Anix estava desarmado.

_ Meu irmão!!! ­– gritou Squall, saltando em cima de Zulil. O inimigo desviou e escapou dos pés do feiticeiro que passaram na altura de sua cabeça. Logo em seguida veio uma flecha, disparada por Lucano, que o inimigo também desviou com facilidade. As espadas de Nailo, as flechas de Legolas, nada parecia capaz de afetar Zulil, ele parecia ser invencível. Vendo isso, e vendo-se privado de seus poderes para ajudar seus companheiros, Anix se entregou, atirando-se ao chão, pedindo perdão a Glórien, aos seus amigos, e desistindo de viver. E Velta, continuava a gritar, feito a louca que era.

_ Eu avisei! Eu avisei! A desgraça para todos! Vocês atraem a desgraça! Eu disse, eu vi!!! – gritava a velha vidente.

_ Eu já mandei você calar essa boca! Velha imprestável! Morraaaa!!! – Zulill abandonou o combate, indo na direção da bancada onde Velta estava. Nailo e Squall tentaram segurá-lo, mas nada parecia capaz de detê-lo. O elfo necromante sacou uma adaga da cintura e a enterrou profundamente no peito da velha. Velta tossiu e gemeu, o sangue vermelho escorreu de sua boca, ela fechou os olhos, sua cabeça tombou e finalmente ela parou de gritar. Para sempre.

Zulil gargalhou. Estava em êxtase por ter assassinado a pobre velha. Nailo não se conformava com a atitude do ex-amigo, preparou sua espada para o ataque e exigiu explicações.

_ Por que você fez isso, maldito? – gritava o ranger.

_ Eu já não suportava mais a voz dessa nojenta! Mas agora está tudo bem! Hehehehahahaha!!! – respondeu Zulil, rindo.

_ Mas ela não era sua aliada? Ela não o estava ajudando? Por que então matá-la? – insistia Nailo.

­_ Sim! De fato ela veio até aqui me avisar que viria um grupo de pessoas me matar! Pediu-me para fugir, antes que fosse tarde demais! Disse que se eu não fugisse, a desgraça chegaria para todos! Velha insolente! Não preciso ter medo de ninguém! Vocês jamais poderiam me derrotar, seus vermes! Vocês e essa velha servirão de matéria-prima para minhas experiências! Hehehehahahaha!!! – respondeu o necromante.

Enquanto os dois discutiam, a jovem Tábata, que estava acorrentada numa das mesas, despertou, ainda atordoada, chamando a atenção dos heróis. Squall e Lucano correram para tentar libertá-la. Se não pudessem derrotar o inimigo, ao menos fugiriam com a garota. Era o que esperavam. Anix ouviu os gemidos da menina e se levantou. Não podia se entregar ainda, tinha que resgatar a garota, mesmo que isso lhe custasse a vida. O mago levantou e correu para ajudar a libertá-la com sua adaga em mãos. Lucano forçava as correntes, sem conseguir sequer afrouxá-las. Squall disparava seus mísseis mágicos nas algemas, mas nada disso conseguia quebrá-las. Legolas também aproveitou o momento de distração do inimigo, para mirar com calma e paciência. Usando sua técnica secreta, as Flechas Infalíveis, o arqueiro cravou profundamente uma flecha no peito de Zulil e comemorou ao ver que o inimigo sofrera considerável dano com o ataque.

Zulil deu um gemido de dor, e pela primeira vez os heróis viram seu sangue. O elfo amaldiçoou Legolas e começou a recitar um feitiço para atingir o arqueiro. Nailo desferiu um golpe de espada no estômago dele, abrindo um grande rasgo. Zulil se enfureceu e se voltou para Nailo, com o olhar cheio de ódio e a boca cheia de sangue.

_ Maldito! Seu rato imundo, você vai me pagar! Antigos espíritos do mal, atendam ao meu chamado e transformem meu inimigo em um rato! Gühende Metamorphose!!! – Zulil gritou em fúria, enquanto recitava um feitiço poderoso, e tocou o peito de Nailo com a mão coberta de uma energia maléfica. Nailo se contorceu e recuou para trás, sua mochila caiu de suas costas enquanto ele encolhia pouco a pouco. O pequeno tentacute soltou um grunhido de dor, e saiu de dentro da bolsa para testemunhar a transformação de Nailo. O ranger foi encolhendo aos poucos, seu corpo foi sendo tomado de pelos até que ele se tornou um pequeno camundongo. Nailo caiu no chão, transformado em um rato e, com suas forças drenadas pelo inimigo, não se movia mais.

Zulil ria da situação de Nailo. Então, um corvo entrou pela janela, revelando a ilusão a todos os que ainda não a haviam detectado, e começou a olhar para o rato no chão com olhar faminto.

_ Venha Galgameth! Tem um ratinho suculento aqui para você comer! Aproveite bem o seu jantar! Hehehehahahaha!!! – disse Zulil ao seu familiar.

Squall entendeu que aquele corvo tinha com Zulil o mesmo tipo de ligação que ele possuía com Cloud. O corvo era o ponto fraco de Zulil. Sem perder tempo, Squall disparou seus projéteis de energia no animal. Penas negras voavam enquanto o pássaro era ferido pela magia. Zulil ficou desesperado ao ver seu familiar sendo atacado e se distraiu. Lucano saltou por cima dele, jogando-o no chão. Tentacute aproveitou para pegar Nailo do chão e fugir com ele para o centro do salão. Squall chutou Zulil, que estava caído e sob Lucano. Legolas atingiu-o duas vezes com suas flechas, enquanto Anix se encarregava de tentar libertar Tábata.

Relâmpago, que havia sido deixado do lado de fora da sala por Nailo, entrou correndo e parou ao lado de tentacute para proteger seu amo. O lobo rosnava para o corvo de Zulil, furiosamente, enquanto cercava rato indefeso nas mãos do tentacute. Squall também mirava o corvo com seus olhos e se aproximava lentamente dele, armando suas garras e dentes para o bote. Aos poucos, Squall deixava aflorar sua ascendência dracônica e se tornava cada vez mais animalesco. Cloud, que até então estava desmaiado, finalmente despertou e fez contato mental com Squall, deixando-o ainda mais motivado para vencer o inimigo.

Mesmo caído, Zulil ainda era uma grande ameaça. Recitou as mesmas palavras mágicas de antes e fez com que Lucano se transformasse em uma pequena e inofensiva lagartixa. O clérigo rapidamente saltou do peito do mago e correu para perto de Relâmpago, onde, achava, estaria seguro.

Legolas o atingiu mais uma vez, enquanto ele se levantava. Squall retirou uma tiara prateada que estava na cabeça de Zulil e a colocou. O feiticeiro sentiu sua capacidade mental aumentando e sabia que agora o inimigo estava mais fraco sem o item. Agora talvez eles tivessem uma chance.

Anix tentava desesperadamente romper as algemas que prendiam Tábata, mas, sem suas forças, destruídas pelo poder de Zulil, era incapaz de sequer afrouxar os grilhões. Então, ele ouviu um grito de fúria. Olhou para trás e viu Ramits entrando na torre. O garoto trazia nas mãos a espada que ganhara de Lucano e correu até onde estava a moça prisioneira.

_ Tio Anix! Eu vim ajudar! Eu vou quebrar essas correntes! – gritou o rapaz.

_ Não, Ramits! Saia daqui depressa! É perigoso demais! – ordenou Anix.

_ Não posso! Não vou abandonar a Tábata! Eu a amo! E não vou embora daqui sem antes salvá-la! – respondeu o jovem. Seus olhos brilharam se cobriram de lágrimas. Tábata estava igualmente emocionada. Os dois pareciam feitos um para o outro. Ramits colocou a espada numa das algemas e começou a forçá-la, estourando a primeira delas, que já estava enfraquecida pelos mísseis mágicos de Squall.

Zulil finalmente se levantou. Seu manto branco estava todo sujo de sangue e terra. Seus olhos transbordavam o ódio que sentia pelos heróis. O elfo correu, esgueirando-se entre os aventureiros indo até perto da porta. Legolas, Squall e Relâmpago não conseguiram impedi-lo. Zulil estava quase fugindo. Galgameth, o corvo do necromante, voou para o outro lado da torre, afastando-se de Squall e confirmando a intenção do inimigo de escapar.

Squall se concentrou e lançou uma poderosa bola de fogo no pássaro, quase o matando. Zulil começou a ficar desesperado, e cada vez mais furioso e descuidado. Relâmpago avançava no corvo com suas presas afiadas, enquanto o mago gritava maldições e injúrias para os heróis. Legolas aproveitou o momento, saltou a mesa onde estava o corpo de velta e disparou uma flecha certeira no peito de Zulil. O mago amaldiçoou o arqueiro. Anix atirou sua adaga no inimigo, mas não conseguiu atingi-lo. Zulil desviou da adaga e encarou Legolas, enfurecido.

_ Maldito! Eu o tinha como um amigo! Eu ia torcer por você no torneio de Malpetrim! Mas agora eu vou acabar com você! Que as forças das trevas o amaldiçoem! Um fluch zu fragen!!! – Zulil recitou o feitiço ao mesmo tempo em que amaldiçoava o arqueiro. A mão espectral criada por sua magia desceu e tocou no peito de Legolas, antes que ele pudesse tentar escapar do ataque. O corpo do arqueiro foi cercado por uma energia escura, e ele cambaleou para trás. Legolas estava quase sem forças para nada. Quase toda sua força física havia sido drenada. Mas, Zulil não teve tempo de comemorar o ataque.

Squall correu, realizando um esforço sobrenatural. Alcançou o corvo que tentava voar para longe do lobo, e o atacou com sua espada. A lâmina de aço partiu o peito do animal que tentou fugir. Relâmpago o mordeu, fazendo com que ele perdesse velocidade e ficasse vulnerável. Squall disparou seus mísseis mágicos, derrubando o corvo no chão, já inconsciente. O pássaro caiu no chão diante do lobo. Relâmpago abocanhou o pássaro indefeso com suas presas poderosas e o dilacerou. Penas e pedaços do animal voaram por todos os lados. Zulil gritou, desesperado, como se sentisse a dor sofrida pelo animal. Estava visivelmente mais fraco. Legolas tentou acertá-lo com outra flecha, mas ele conseguiu se esquivar, obrigando o arqueiro a recuar.

_ Malditos! Vou matá-los! Vou usar minha magia mais poderosa e acabar com vocês todos! – gritou Zulil, enquanto murmurava um feitiço. Anix foi mais veloz, completando rapidamente a conjuração de uma magia. Correu até o inimigo e tocou-o no peito, descarregando uma forte corrente elétrica. Zulil, finalmente cambaleou.

_ Desgraçados! Malditos! Derrotaram-me, vermes inúteis! Ao menos levarei um de você comigo! Morram! – as pernas do elfo fraquejaram e ele quase caiu no chão. Deu um passo para frente enquanto falava com dificuldade e apontou sua mão na direção de Legolas e Anix. Zulil tombou para trás, com a mão estendida enquanto gritava suas últimas palavras. Legolas o apanhou antes que ele caísse. Zulil levantou a mão direita, e um raio negro saiu dela indo em direção ao teto e atingindo a gaiola onde estava falcão de Squall. Cloud caiu pesadamente no fundo da gaiola, e Squall deixou de sentir a sua presença, como se ele estivesse morto.

Legolas olhou profundamente nos olhos de Zulil e ouviu suas últimas palavras: “Vou matar...”. Zulil não conseguiu terminar a frase, morreu nos braços de Legolas, para alívio de todos. Mais um inimigo, desta vez o terrível inimigo da voz suave que poderia matá-los, estava finalmente derrotado. Mas, a vitória tinha um alto preço para os heróis. Nailo e Lucano estavam transformados em animais indefesos, e Cloud deveria estar morto.

Anix sacou sua espada e, com as poucas forças que lhe restavam, decapitou o corpo de Zulil. Se restavam dúvidas quanto a morte do inimigo, agora elas não mais existiam. Restava aos heróis cuidar daqueles que estavam vivos e sair daquele lugar maldito.

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