setembro 12, 2006

Capítulo 231 – Festa de boas vindas

Capítulo 231 Festa de boas vindas

Era o 19º dia do mês de lunaluz. Já havia se passado um dia desde que Legolas e Anix tinham chegado ao forte Rodick. Durante esse período, cuidaram apenas de repousar seus corpos cansados e feridos. Ficaram alojados num dos dormitórios coletivos, onde receberam comida e água. Um jovem soldado, desprovido de armas ou armaduras, ficou encarregado de vigiar e prover os recém chegados. Tinha descendência tamuraniana, como Legolas percebeu ao notar traços como olhos pequenos e pele amarelada, também existentes em seu antigo mestre. O rapaz passava todo o tempo calado, vigiando a entrada do alojamento. Quando chegava a hora do almoço ele trazia pratos para os heróis se alimentarem, bem como rações para o rato, o falcão e moscas para a lagartixa, sem desconfiar que ele era um elfo. Assim eles passaram o dia todo, calados, pensativos e ansiosos pela volta dos companheiros.

Era por volta das 16:00hr, quando um tumulto dentro do quartel chamou a atenção de todos. Os soldados que treinavam interromperam seus exercícios repentinamente e correram para a entrada do forte. Legolas e Anix também foram ver o que acontecia, sempre acompanhados de perto pelo tamuraniano. Atravessaram toda a extensão do quartel e se juntaram à multidão que se aglomerava diante do portão que se abria lentamente. Em meio às dezenas de soldados amontoados, Legolas viu que chegava alguém a cavalo. Eram duas pessoas, dividindo uma mesma montaria.Uma delas era um elfo, o outro, um anão, que eles conheciam muito bem. Eram Glorin e Squall.

Legolas correu em disparada, acotovelando as pessoas que estavam na sua frente, derrubando alguns até. Estava ansioso para saber por onde os dois tinham andado, o que tinha acontecido com eles.

_ Capitão! Capitão! O que aconteceu, onde vocês estavam! Sentimos sua falta, estávamos preocupados! Vocês estão bem? – gritava Legolas, freneticamente.

_ Calma, garoto! Deixe de frescuras parece que está no cio! Elfos...! Está tudo bem! Só que o Cloud morreu! – respondeu Glorin, sorrindo.

Legolas baixou a cabeça e começou a recuar, entristecido. Glorin começou a gargalhar e desmentiu o que tinha dito.

_ Está tudo bem, seu idiota! Cloud está vivo! Eu só estava brincando! – riu o anão.

_ Isso não é brincadeira que se faça, capitão! Eu estava preocupado! – vociferou o arqueiro, enfurecido.

_ Ora, dane-se, moleque! Não pode reclamar, aprendi isso com vocês! Agora deixe de frescura e levem Squall para o alojamento! Eu tenho que me reportar ao general, e encontro com vocês depois! – concluiu o anão, descendo do cavalo e indo até o prédio que era o centro de comando do forte.

Squall se juntou aos amigos no alojamento. Contou sobre o que acontecera, que um amigo de Glorin tinha salvado a vida de seu amigo falcão, mas não deu detalhes sobre o que acontecera. Temia quebrar a promessa feita ao misterioso Segê e resolveu evitar falar muito sobre o ocorrido. Seus amigos também não se preocuparam em saber dos detalhes. Squall estava bem, Cloud estava vivo, era isso que importava para eles, embora tivessem estranhado o estado do animal, especialmente seus olhos reptilianos.

Após a metade de uma hora, Glorin chegou ao alojamento e convidou os três a darem uma volta no forte e conhecer o lugar. Caminharam por quase todos os lugares da base, enquanto o anão ia explicando sobre cada prédio, cada detalhe.

_ Bem, aqui nós temos a cozinha, o refeitório dos oficiais, ali adiante fica o dos soldados! Lá são os dormitórios dos soldados, ali dos sargentos e tenentes e aqui dos altos oficiais, com eu, por exemplo! Esse é o centro de comando, lá fica a cadeia e ali o laboratório alquímico e a capela! Esse forte foi construído numa região de fronteira com as Montanhas Uivantes! Existem várias vilas pequenas nas redondezas, e nossa função é protegê-los do ataque de monstros e de forasteiros! De vez em quando aparece algum troll por essas bandas e nossa missão é acabar com criaturas como eles! São quase cem soldados dentro do forte, 83 pra ser mais exato! Agora com a chegada de vocês 5, somos 88 loucos trancados nesse quartel! Só sendo muito louco mesmo pra ficar trancado no meio de um monte de machos, ou sendo muito elfo, hahaha! – o anão ia explicando com muito bom humor todos os detalhes da base. Não perdia uma oportunidade de zombar da masculinidade dos elfos, pra irritação dos heróis.

Anix se afastou dos demais, entrando no laboratório. Sentia-se em casa naquele lugar cercado de frascos, pergaminhos e livros empoeirados. Tentou fazer amizade com um elfo que tomava conta do local, um tal Mao Necro, que não se mostrou muito amistoso. Anix resolveu deixá-lo em paz e retornou para seu grupo, que já voltava para o dormitório.

_ Capitão! Estou fraco! – queixou-se Legolas.

­_ Ora, e por que não comeu melhor? Por acaso não te deram comida? – indagou Glorin.

_ Não é isso! Aquele Zulil fez alguma magia maléfica em mim e me deixou muito fraco! Além disso, o Nailo e o Lucano não voltaram ao normal ainda! Precisamos de ajuda! O senhor disse que aqui teria alguém pra cuidar disso! – explicou o arqueiro.

_ Está certo, já entendi! Pode deixar que eu vou cuidar disso! Ei você, soldado! Qual seu nome? – disse o anão, tentando tranqüilizar Legolas e depois se dirigindo para o tamuraniano na entrada do alojamento.

_ Soldado Lee Wood, capitão! – respondeu o rapaz.

_ Ô Lee, me faz um favor! Vá chamar o capitão Lars! – ordenou Glorin.

_ Ele não está, capitão! Está fora do forte, em missão!

_ Mas que droga! Sem aquele bastardo, ninguém aqui no forte poderá ajudar! Os outros clérigos daqui são muito inexperientes ainda, não vão dar conta do recado! – resmungou o anão.

_ Bom, senhor, há um outro clérigo aqui no forte, que chegou recentemente! Ele é um viajante que está de passagem, um clérigo do panteão! Pelos rumores que eu ouvi, ele parece ser poderoso! Se quiser, eu posso ir procurá-lo! – disse o soldado.

_ Mas que ótimo, talvez ele possa nos ajudar! Você está fazendo o que agora, soldado?

_ Estou cumprindo pena por ter me envolvido numa briga! Por isso estou aqui cuidando dos recém chegados, senhor!

_ Ótimo, não está fazendo nada! Então vá até lá e traga esse tal clérigo aqui! Está dispensado do castigo, soldado!

_ Sim senhor! – o jovem fez continência ao capitão e saiu apressado pelo forte, em busca do clérigo que desfaria os danos causados por Zulil.

Encontrou-o diante do prédio de comando, conversando com o general Wally Dold. Lee se aproximou respeitosamente dos dois, bateu continência para o seu superior e pediu para que o homem o acompanhasse.

_ Com licença, senhor! O senhor é um clérigo, certo? O capitão Glorin deseja falar com o senhor e pediu para que eu o viesse buscar! Senhor...?

_Tamamaru! Sou Tamamaru, muito prazer! Mas quem é esse Glorin e o que ele quer comigo?

_ Ah não, esse anão outra vez! Tudo bem senhor Tamamaru, ele é um dos meus soldados! Pode ir ver o que ele quer, depois terminaremos nossa conversa! – respondeu o general.

Lee retornou para o dormitório, acompanhado de Tamamaru. O clérigo, assim como o soldado, tinha feições típicas do povo de Tamura. Vestia um manto vermelho e carregava uma longa espada curvilínea na cintura, uma katana. Tinha cabelos longos e negros com algumas mechas brancas na frente. Eram soltos e lisos, agitando-se de forma revoltosa ao sabor do vento frio. Embora não soubessem, ambos tinham mais coisas em comum que imaginavam. Lee, assim como Tamamaru, eram oriundos de uma pequena aldeia no meio de Tollon chamada Shimei. Uma pequena vila de agricultores, todos de origem tamuraniana. Tamamaru Aoagi era filho do antigo senhor da vila, que tivera, anos atrás, uma morte trágica justamente por causa do filho que agora estava em busca de vingança pela morte do pai. Mais que isso, Tamamaru almejava retomar aquilo que ele considerava seu por direito, o controle de Shimei. Sem que ninguém desconfiasse de nada, ele viajava incógnito, disfarçado de clérigo do panteão, quando na verdade servia a Leen, o deus da morte, ou, como diziam os goblinóides, Ragnar. Tamamaru dizia orar a todos os deuses, sem desagradar a nenhum, o que não era verdade. Alegava estar recuperando itens roubados de seu templo em Valkaria, quando na verdade os estava reunindo para si, para sua vingança. Mas, ninguém além dele mesmo sabia disso, e seus planos maléficos só seriam desmascarados anos mais tarde, por outro grupo de aventureiros.

Os dois chegaram ao alojamento dos soldados. Glorin explicou a situação e contou, resumidamente, tudo o que havia acontecido no confronto com Zulil. Tamamaru, se prontificou a ajudá-los, sem cobrar nada, fazendo-se passar facilmente por uma pessoa bondosa.

_ Venha aqui meu rapaz, deixe-me tentar restaurar sua força! Que os deuses canalizem seu poder e livrem-no da maldição que o aflige! – disse o clérigo, estendendo suas mãos sobre Legolas. Sua voz era suave, e transmitia uma sensação de paz. Seu disfarce era praticamente perfeito.

O corpo do arqueiro foi tomado pelo brilho que emanava das mãos do clérigo. As forças de Legolas foram totalmente restauradas. O arqueiro agradeceu ao clérigo e comemorou o retorno de seus poderes.

_ Pronto, agora, quanto aos outros dois, somente um deles receberá minha ajuda! Só poderei usar novamente este tipo de poder amanhã, e amanhã eu não estarei mais aqui! Estou de partida! Logo, vocês terão que escolher quem terá sua forma restaurada! – Tamamaru continuava a falar de maneira suave, mas demonstrava frieza em suas palavras ao sequer se dispor a ajudar os heróis na manhã seguinte.

Os aventureiros pensaram e repensaram em qual dos dois deveria permanecer mais tempo como um animal. Então, Anix chegou a uma conclusão que não foi contestada pelos outros.

_ Restaure o Lucano! Assim o Nailo fica um pouco de boca fechada! – sorriu o mago.

Instruído pelo elfo, Tamamaru lançou uma magia sobre a lagartixa, fazendo com que ela aos poucos voltasse a ser novamente o sacerdote de Glórienn. Squall viu a oportunidade tão esperada e foi falar com o clérigo.

_ Senhor Tamamaru, será que o senhor poderia me ajudar também! Eu tenho um amigo que morreu e eu gostaria que ele fosse ressuscitado! – disse o feiticeiro.

_ Ressuscitar alguém?! Não posso fazer esse tipo de coisa! Os mortos pertencem a Leen! Quero dizer, aos deuses! E eu jamais iria contra a vontade deles! – respondeu o homem, exaltado.

_ Leen? Quem é Leen? É o deus a quem você serve? – perguntou Legolas.

_ Sim! Quero dizer, também! Eu sou um clérigo do panteão, um sacerdote que presta tributo a todos os deuses do panteão! Tudo que eu quis dizer é que os motos pertencem aos deuses! E Leen é o deus da morte, também conhecido como Ragnar entre os goblinóides! Então é natural que a maioria dos mortos pertençam a ele! – explicou Tamamaru.

_ Entendo! E o senhor é daqui de Tollon mesmo? Ouvi dizer que é um viajante! – perguntou Glorin.

_ Não, eu venho de Valkaria! Estou numa missão para meu templo! Alguns itens foram roubados por ladrões e eu vim recuperá-los! Já consegui quase todos! Vejam! – Tamamaru hesitou ao responder seu local de origem, depois rapidamente falou de sua missão. Mostrou um colar que tinha por baixo do manto, ao qual estava presa uma mão mumificada. Pelo formato esguio e delicado dos dedos, devia ter pertencido a um elfo. O clérigo apontou para o rato em cima da cama, para Nailo, e com um comando o pequeno animal veio flutuando diretamente para sua mão. Assustado, o rato começou a se debater na mão do homem, que o apertava de forma esmagadora, enquanto tentava acalmar o rato com suas palavras. Entretanto, seu olhar e sua voz estavam mudados. Ele parecia sentir prazer com o sofrimento do pobre animal que fora um ranger. Parecia tentar matá-lo. Assustados, os heróis o impediram, gritando para que parasse de machucar o amigo.

_ Calma, meus jovens! Não ia fazer nada com ele! Pronto, está de volta à sua cama! – disse o clérigo, sorrindo. Sua expressão mudara novamente, desta vez ele era de novo aquele homem pacífico de fala mansa. Tamamaru mostrou outro item, uma maça estrela, que segundo ele era amaldiçoada. – É uma arma maligna! Ela precisa ser banhada e sangue todos os dias! Quando retornar para Valkaria, eu irei destruí-la!

Legolas puxou Glorin para um canto isolado (o anão novamente questionou a masculinidade do elfo), dizendo achar muito estranho o comportamento do clérigo. O arqueiro não poderia imaginar que suas suspeitas estavam mais do que corretas. Entretanto, o capitão não levou em consideração as suspeitas do elfo, e tratou de tirar aquelas idéias de sua cabeça.

_ Bom, agora se me dão licença, tenho que me retirar! Devo preparar minhas coisas para minha partida amanhã cedo! Adeus, que Le...que os deuses os abençoem! – Tamamaru se despediu, quase revelando sua fé, e deixou o alojamento dos soldados.

_ Bem, está na hora do rango! Lee, leve todos pro refeitório! Vamos jantar! – anunciou Glorin.

O soldado mostrou a todos onde era o refeitório. Receberam uma farta refeição, javali assado com batatas, legumes, verduras e pão. Sentiam falta daquilo, todos já estavam cansados de comer apenas rações secas e sem gosto. Após o jantar, o capitão puxou Anix pelo braço, levando-o para fora do refeitório.

_ Venha comigo, garoto! Você está me devendo um barril de cerveja! Chegou a hora de pagar! – disse o anão, com um sorriso malicioso, levando o elfo para a casa em frente, a taverna.

_ Belie Wines! Há quanto tempo não o vejo! Dê-me um barril de cerveja! Meu amigo elfo aqui irá pagar! – pediu o anão.

O taverneiro, um homem magro e baixo, de cabelos negros curtos e lisos atendeu prontamente ao pedido, trazendo uma barrica de uns vinte litros, recheada de cerveja. Glorin sorriu, girou a torneira e derramou o líquido dourado numa caneca de madeira. E, começou a beber. Aos poucos o local foi se enchendo. Com exceção dos soldados que ficavam de plantão nas muralhas do forte e dos que não bebiam, praticamente todos estavam na taverna. Legolas se sentou junto com um tal Jack, cuja mesa estava coberta de garrafas de rum. Juntos, os dois começaram a secar, uma a uma, as garrafas. Anix começou a conversar com o capitão, sobre sua ida ao laboratório.

_ Capitão, quem era aquele cara que estava no laboratório hoje à tarde? Ele era super estranho! Mal falou comigo, aliás, apenas balançava a cabeça pra dizer sim e não! Achei muito estranho isso! – disse o mago.

_ E como ele era? Por acaso era algum elfo? – perguntou o anão, já com segundas intenções.

_ Sim, por que?

_ Está explicado então! Elfos...não passam de uns frescos!

_ Ei, capitão, pare de falar isso! Você fica falando mal dos elfos, mas se não fosse por nós, você teria morrido naquele castelo! – rosnou Anix.

_ Ora, não diga besteiras garoto! Agora pare de falar asneiras e encha logo sua caneca! Essa cerveja está muito boa!

_ Não quero cerveja! Prefiro vinho!

_ Elfos...! Depois, reclama, vem dizer que não é fresco! Vocês elfos não passam de um bando de afrescalhados! – disse o anão, dando uma gargalhada.

_ Ora, rapaz! Não deixe que esse cotoco de tocha fale assim com você! – disse uma voz na entrada da taverna. Era um elfo de longos cabelos negros. Vestia um manto aveludado de cor azul e andava e falava com ar de nobreza, ou frescura, na visão do capitão Glorin. O elfo atravessou toda a taverna, indo até o balcão onde estava o anão. – Não deixe que esse cotoco de tocha o agrida assim! Ele tem é inveja de nossa superioridade élfica!

Anix sorriu para o elfo que o defendia. Estava feliz, finalmente alguém que respeitasse e entendesse sua raça. O elfo também sorria, e ambos começaram a encarar o anão, com desdém.

_ Tá legal, seus frutas! Fiquem então com sua “superioridade”, que eu vou ficar com meu barril, que é muito melhor companhia! Já que você se intrometeu, Seelan, ajude seu amiguinho elfo a pagar minha cerveja! Eu vou embora daqui com meu barril! Tenham uma boa noite! – bufou o anão, retirando-se da taverna com o barril debaixo do braço e a caneca cheia na outra mão.

_ Não ligue pra ele! É só um ranzinza invejoso! Eu sou Seelan Fatoak, é um prazer conhecê-lo! – disse o elfo, estendendo a mão.

_ Muito prazer, eu sou Anix! – respondeu o herói.

_ O prazer é todo meu Anix! Belie, uma caneca de vinho! E então, Anix? O que você faz? Pelos trajes você deve ser um mago, certo? – perguntou Seelan

_ Sim, isso mesmo! E você? – respondeu Anix, entusiasmado.

_ Eu também! Sinto que vamos nos dar muito bem! – Seelan sorriu e jogou seu braço sobre o ombro de Anix, abraçando-o como se fossem velhos amigos. Sua mão massageava carinhosamente o ombro de Anix, de forma estranha.

_ Que bom! Será que você poderia me ensinar suas magias? A gente poderia aprender muito juntos! – perguntou o herói.

_ Que ótimo! Era nisso que eu estava pensando! Vou te ensinar muitas coisas sim! Tudo que você quiser!­ – Seelan deu um sorriso malicioso para Anix, que começou a ficar desconfiado das intenções do novo amigo.

_ E você faz o que aqui no forte? É soldado também?

_ Não, não! Eu sou capitão! E se você quiser, eu te ensino tudo que você precisa fazer para chegar a ser um capitão também! Sabe que eu simpatizei com você! Você é um encanto de rapaz! – os olhos do elfo brilharam, e sua voz se tornou melodiosa. Anix ganhara um pretendente.

Pouco depois, enquanto Anix tentava livrar-se da companhia afeminada de Seelan, e Legolas se embebedava junto com Jack, outras pessoas, aparentemente bem populares no forte, entraram na taverna. O primeiro a surgir foi um homem alto e corpulento, aparentando uns trinta anos de idade. Tinha cabelos castanhos na altura dos olhos. Ostentava um cavanhaque, também castanho e aparentemente muito bem cuidado. Trajava uma armadura de metal sólido e reluzente. Em seu peitoral, havia a bela figura de um pássaro alçando vôo das chamas, uma fênix. O homem entrou como se desfilasse entre as mesas da taverna, cumprimentando a todos os que ali bebiam. Chegando ao balcão, fez um cumprimento com a cabeça para Anix, e se dirigiu ao acompanhante do mago.

_ Então Seelan! Pelo que vejo, você já pegou mais um, não é? Belie, uma caneca de cerveja pra aplacar minha sede! – o homem sorriu com malícia para Seelan enquanto falava em tom debochado. Depois, gritou de modo que todos ouvissem, o seu pedido ao taverneiro, terminando com um largo sorriso no rosto. O homem se pôs a tomar sua bebida, enquanto observava o movimento no estabelecimento. Seelan apenas sorriu ao ouvir o comentário, sem responder e continuou sua conversa com Anix, aproximando-se cada vez mais dele. Anix sentia-se cada vez mais encurralado pelo seu novo amigo.

O segundo a entrar foi um pequeno, sujo e mal-encarado goblin. O pequeno monstro trajava uma armadura fina de couro e se movia furtivamente entre as mesas a passos curtos e rápidos. Caminhava tranqüilamente, com as mãos dentro dos bolsos da calça e o pescoço arqueado para frente. Tinha o topo da cabeça achatado, o que se destacava entre todas as suas peculiaridades. Em pouco tempo, ele já estava diante do balcão. O pequenino olhou para o homem de armadura e sorriu, dando um tapa amigável em suas costas.

_ Todd! Devolva! Devolva já minha bolsa de moedas, seu ladrãozinho safado! – ordenou o homem de armadura, furiosamente, mas ainda assim, sem perder o bom humor.

O goblin abriu a mão, mostrando uma bolsa de couro e fazendo uma careta de deboche. O homem de armadura tomou o pacote das mãos do pequenino e voltou a beber. Com um gesto, e pronunciando alguma coisa incompreensível no seu próprio idioma, o goblin pediu uma caneca de cerveja ao taverneiro.

Logo depois, saltou um homem, vestido com uma pesada e brilhante armadura metálica, dentro da taverna, com uma espada bastarda desembainhada apontada para os presentes. Tinha longos cabelos castanhos, presos num rabo de cavalo. De barba por fazer e pele levemente bronzeada, aparentava ter também uns trinta anos. Seu corpo era alto e frondoso como um carvalho, que impressionaria até o mais orgulhoso dos minotauros.

_ Vamos pessoal! Quem será o primeiro? Quem é que vai me encarar? – gritava o homem, fazendo caretas, como se estivesse irritado. Sua voz era altiva e carregada de confiança. Girava de um lado para outro com o corpo encurvado, encarando os presentes, fazendo caretas e despertando risos na multidão.

_ Quem vai ser o primeiro a fazer o que? – perguntou Legolas ao homem, com um ar de inocência e arrogância misturadas. Toda a taverna se calou. O homem parou diante de Legolas, ergue-se diante dele e começou a medi-lo e a olhá-lo com uma expressão séria. Após alguns segundos de tensão, o homem voltou a sorrir e a fazer caretas para o arqueiro.

_ O primeiro a pular de peito em minha poderosa espada, ora essa! Até parece que você não me conhece! Aliás, não conhece mesmo! Seu rosto é novo por aqui! Qual seu nome soldado? – disse o homem, debochadamente. Todos voltaram a beber e a conversar calmamente.

_ Sou Legolas Greenleaf! Cheguei aqui no forte ontem! E você, quem é? – disse o arqueiro, ainda sem perder a pose.

_ Eu sou o major Jonathan Wilkes, meu rapaz! É um prazer conhecê-lo! Seja bem vindo ao forte Rodick, soldado! – respondeu o homem, dando um caloroso aperto de mão no elfo.

Jonathan seguiu para o balcão, onde pediu uma caneca de vinho. Cumprimentou os outros três que haviam chegado antes dele e riu ao ver Anix, constrangido, envolto nos braços de Seelan.

Lee Wood, o jovem soldado que ficara responsável dos recém chegados nos últimos dois dias, saiu da taverna, apressado. Uma das pessoas que entrara na taverna era o clérigo que o capitão Glorin procurava quando retornou ao forte com Squall. Lee chegou ao alojamento dos oficiais e encontrou Glorin sentado numa cadeira bebendo. Tinha como única companhia o seu barril de cerveja e a chama solitária de uma vela que iluminava o lugar.

_ Capitão Glorin! Aquele que o senhor procurava já retornou! O capitão Lars está na taverna agora, junto com os outros! – disse o rapaz.

_ Ótimo, garoto! Vou terminar minha cerveja e vou lá falar com ele! Obrigado pela informação! – respondeu o anão, enchendo novamente a caneca.

Lee retornou para a taverna e a encontrou fervilhando de agitação. Havia um novo bardo, disposto a tentar agradar à platéia embriagada do local. O bardo era Squall. O feiticeiro pegou seu alaúde, conseguido no castelo de Zulil, e começou a tocá-lo laboriosamente. Os soldados estavam entusiasmados para vê-lo se apresentar, rapidamente juntaram quatro mesas para formar um palco e puseram o feiticeiro em cima dele. Squall era o assunto do momento na taverna.

_ Quem é esse bardo? É novo aqui também! Você o conhece, Anix? – perguntou Seelan.

_ Sim, conheço! Ele é meu irmão Squall! Mas ele não é bardo, é um feiticeiro! Mas ele sempre tenta tocar aquele alaúde! – respondeu Anix, tirando a mão de Seelan de seu ombro.

_ Quer dizer que ele não sabe tocar? Isso não é muito bom! Mas, sabe, até que ele é bonitinho! – disse Seelan, recolocando a mão sobre o ombro de Anix.

Squall começou a tocar. Estava nervoso e não contava com a presença encantadora da bela Lana para lhe dar confiança. Suas notas começaram desafinadas e foram piorando aos poucos. Não foi uma apresentação nem de longe bela, mas tampouco foi horrível a ponto de gerar o que se seguiu.

Um dos soldados se levantou, atirando uma garrafa em Squall. O feiticeiro ficou atordoado com o golpe e perdeu a noção daquilo que estava tocando. Um segundo ataque veio na direção do feiticeiro, desta vez uma caneca. O objeto passou direto, sem sequer resvalar em Squall, e atingiu outro soldado que assistia. Estava armada a confusão. Os soldados começaram atirar objetos uns nos outros. Quando as canecas, garrafas e pratos terminaram, partiram para o combate corpo a corpo. Socos, pontapés, cadeiradas, tudo era permitido.

Anix saltou para trás do balcão do bar, escondendo-se a salvo. Já seu irmão, era o que mais apanhava durante a luta. Acusado por vários soldados de ser o culpado de toda aquela bandalheira, Squall era o principal alvo dos soldados. Vários golpes o atingiam, outros tantos erravam o alvo para atingir algum outro brigão e aumentar ainda mais o clima de tensão no lugar.

Lee Wood invadiu o lugar, dando um salto mortal a partir do telhado e entrando na taverna dando piruetas no ar e aterrissando com os pés no rosto de um soldado. Legolas e Jack lutavam lado a lado, como dois grandes amigos, entre um gole e outro de rum. Lucano, estava no alojamento, estudando seu misterioso manual do dragão, sem nem desconfiar do que acontecia. E Nailo, ainda era um simples rato.

Os quatro oficiais, que haviam chegado por último, se entreolharam e decidiram ir embora dali. Saíram do local calmamente, como se nada estivesse acontecendo, e deixaram que a briga se desenrolasse sem interferência. Apenas um deles permaneceu no local, admirando a confusão. O clérigo, com quem Glorin deveria se encontrar. Então a porta da taverna se abriu bruscamente e um homem baixo, de aspecto ameaçador surgiu. Era Glorin.

_ Mas o que está acontecendo aqui? – gritou o anão, furioso, ao ver a confusão na taverna. – Uma briga! E ninguém me chamou! Droga, onde está mesmo aquela poção de Força de Touro? – completou o capitão, tomando uma poção que trazia no bolso e atirando-se como louco no meio da briga.

Minutos depois, a briga havia terminado. Garrafas, quebradas, mesas e cadeiras viradas, tudo estava um caos. Soldados que até então trocavam golpes violentos, agora cantarolavam juntos, enquanto comemoravam, embalados por goles de bebida, sem sequer se lembrar do motivo pelo qual tinham lutado. O clérigo amigo de Glorin se encarregava de cuidar dos feridos.

_ Ah, idiotas! Desse jeito vocês acabam com todas as minhas magias! Palermas! – resmungava ele, enquanto evocava o nome de Thyatis para curar as feridas dos soldados.

Entre os feridos, estava Squall, caído sob uma pilha de cadeiras. Anix saiu de trás do balcão e caminhou até o irmão lentamente, avaliando o estrago na taverna.

_ Ei Anix! Não se feriu na briga? – perguntou Glorin, sorrindo. O anão estava sentado em uma cadeira, com os pés sobre uma das poucas mesas que permaneceram em pé, enquanto tomava outra caneca de cerveja.

_ Claro que não, capitão! Eu fui esperto e me escondi atrás do balcão! – respondeu o elfo, orgulhoso.

_ Ah é?! Então tome! – o anão arremessou sua caneca, ainda cheia, na cabeça de Anix. A caneca se partiu e Anix ficou todo ensopado. Um pequeno corte se abriu em sua cabeça. – Pronto garoto! Agora você está batizado! Seja bem vindo ao forte Rodick! Aqui é sempre assim! Agora vá descansar! Amanhã começa o seu treinamento no exército! – completou.

Irritado, Anix descarregou sua cólera em cima do anão na forma de uma magia. Vários projéteis de luz saíram de suas mãos na direção do guerreiro. Os mísseis mágicos, ao invés de explodirem, desapareceram misteriosamente ao entrar em contato com o corpo do anão.

_ Hahahaha! Isso não funciona comigo, não, garoto! Agora vá dormir! Amanhã teremos um longo dia pela frente! – disse o capitão enquanto se levantava. Deu mais um gole em sua caneca, colocou-a em cima da mesa e saiu, alegre, pela porta.

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