setembro 26, 2006

Capítulo 239 – Retorno

Capítulo 239 Retorno

Enquanto os soldados amarravam Mepisto, Anix foi vasculhar o covil da bruxa. Sobre uma mesa havia o corpo de um homem morto, provavelmente um aventureiro que havia sido vítima da emboscada de Zenóbia antes dos heróis. Junto ao seu corpo, além de suas armas e armaduras, havia uma bolsa de couro, uma caixa de madeira trancada com um cadeado enferrujado, e alguns pergaminhos que pertenciam à feiticeira. Depois Anix foi até o corpo da bruxa e, com a ajuda de Jack, decapitou-a, guardando a sua cabeça enrolada num pedaço de pano. Enquanto ajudava seu comandante, Jack notou que havia dois anéis brilhantes na mão de Zenóbia. Furtivamente, o pirata recolheu os anéis e os escondeu. Depois, derramou com pesar um pouco de rum sobre o cadáver decapitado e ateou fogo na velha bruxa.

Os heróis retornaram para Rutorn em segundos, com a ajuda da magia de teletransporte de Anix. Lá reuniram todos os moradores na taverna para contar sobre a presença da bruxa e dizer-lhes que ao menos um dos problemas da vila, um que eles sequer desconfiavam que existia, estava solucionado. Ainda faltava a Morta do Bosque.

Mas, Mepisto sugeriu que talvez a própria bruxa estivesse se disfarçando de Morta para enganar os aldeões. Zenóbia não se parecia nem um pouco com a descrição dada pelos aldeões, mas então, Silmara entrou na taverna, no momento em que Anix mostrava a todos a cabeça arrancada da bruxa. A jovem deu um grito.

_ É ela! Essa é a Morta que arrancou meus olhos! Eu me lembro bem dela, desses cabelos verdes! Foi ela! Ela é a Morta! – disse a jovem, apontando para a cabeça na mão de Anix.

_ Como você pode saber? Você não é cega, Silmara? – perguntou um dos moradores.

_ Sim, mas graças a esse gentil senhor, eu voltei a enxergar com isto aqui! – respondeu ela, apontando para Jack e depois para o próprio rosto.

Silmara estava usando uma gema azul no lugar do olho direito. Era a mesma jóia que Zenóbia usava como olho, e que havia sido pega pelo pirata. Enquanto todos prestavam atenção em Anix dentro da taverna, Jack presenteou Silmara com a pedra, dando a ela a chance de poder enxergar novamente. De posse de seu novo olho mágico, a garota reconheceu o rosto de Zenóbia como a criatura que havia lhe arrancado os olhos. Agora não restavam mais dúvidas. Se era verdade que a Morta do Bosque arrancava os olhos dos animais e já que Zenóbia havia feito o mesmo com Silmara, então provavelmente ela e a Morta deveriam ser a mesma pessoa. E com a morte da bruxa pelas mãos dos soldados, a vila de Rutorn poderia finalmente ficar em paz.

Como oficial responsável pelo caso, Anix tratou de explicar aos moradores da vila toda aquela intrincada trama. Tranqüilizou-os, dizendo que agora não correriam mais perigo. E assim, o pequeno povoado pode enfim retomar a sua vida normal. Os heróis se alojaram na casa de Tomas, a Taverna do Ogro Roxo e descansaram seus corpos para retornarem ao forte do dia seguinte.

Na manhã seguinte, o grupo se levantou por volta das 10:00 horas. Tomas e Silmara serviram-lhes um delicioso café da manhã, com frutas, pães e vinho. Enquanto seus amigos comiam, Jack levou a moça novamente para fora da taverna, onde ficaram conversando por longos minutos. Jack parecia um adolescente, estava inseguro e ansioso. Já Silmara era o mais perfeito retrato da alegria. Ter novamente a capacidade de enxergar, ainda que através da misteriosa gema de Zenóbia, era uma verdadeira bênção. Enquanto conversava com ela, o pirata aproveitou um momento de distração de Silmara e lhe roubou um beijo. Jack contraiu os músculos do rosto, esperando pelo costumeiro tapa, como sempre acontecia. Mas, foi surpreendido quando a moça retribuiu o gesto do pirata com um novo e apaixonado beijo.

Os heróis despediram-se dos novos amigos e receberam sua gratidão. Jack e Silmara trocaram juras de amor, e o grupo de soldados finalmente deixou o vilarejo de Rutorn para trás. A missão havia sido cumprida. A vila estava novamente segura, e os jovens recrutas agora contavam com novas e importantes experiências em seus currículos. Junto com eles, ia Mepisto, acusado de tentativa de roubo, e de resistir à prisão. O caçador estava revoltado com sua condição e a todo o momento ofendia os oficiais com palavras e gestos de baixo calão. Quando já estavam longe da vila, cavalgando entre as vastas florestas de Tollon, Jack novamente imitou a voz de Seelan, tirando o sossego de seu sargento.

_ Ah, droga! Parece que aquele afeminado tá me perseguindo! Maldito! – praguejou Anix. Os outros sorriram, disfarçadamente.

Três dias se passaram desde a partida de Rutorn. Já no final da manhã do dia 17 de pace, um kalag, o pelotão finalmente alcançou os portões do forte Rodick. As sentinelas brincaram com o sargento Anix, fingindo que não o reconheciam. Após a brincadeira, abriram os pesados portões e deram passagem para os soldados. Anix dispensou seus soldados, que correram para a taverna do forte, e se dirigiu até o alojamento dos oficiais, onde iria relatar todos os eventos ocorridos em Rutorn. Junto com ele estava Mepisto, ainda amarrado e reclamando. Enquanto caminhava na direção do prédio, Anix viu seu irmão, Squall, saindo de lá de dentro, um tanto irritado.

_ Mas que ele é, é! Isso eu tenho certeza! – resmungou o feiticeiro, saindo da casa sem ao menos notar a presença de seu irmão. Squall tinha ido conversar com Glorin, sobre o misterioso Segê.

_ Capitão! Quem é o Segê? Ele é um dragão, não é? Pode falar, eu já sei! – perguntou o feiticeiro.

­_ Ora moleque! Não me amole! Não vê que estou ocupado com meu amigo aqui?­ – respondeu o anão, abraçando um barril de cerveja.

_ Não me enrola não, capitão! Eu sei muito bem que o Segê é um dragão! Senão, por que ele teria ficado tão nervoso quando descobriu que eu tenho sangue de dragão! Eu sei muito bem que os dragões não gostam de outros dragões! Vamos capitão, responda!

_ Ah! Não me encha, garoto! Você está delirando! De onde tirou uma asneira dessa! Acho que você andou tomando cerveja demais!

_ Não tente mudar de assunto não, capitão! Se o senhor não quiser falar, tudo bem, mas eu já sei de toda a verdade! Além do mais, eu acho que o arco do Legolas era dele! A Escamas da Noite disse que tinha tirado aquele arco de um dragão branco, e o senhor ficou todo espantado quando viu o arco do Legolas pela primeira vez! Não tem como me enganar, capitão! É melhor confessar logo!

_ Rere! Pois é garoto! Você descobriu meu segredo! Agora terei que te matar por isso! - o anão acionou sua espada elétrica e avançou pra cima do elfo. Squall fechou os olhos, assustado. Pensou que era seu fim. O anão deu um sorriso sarcástico, desativou a magia de sua espada e continuou. - Ora, não me amole! E fique longe da cerveja! Você está mais bêbado do que eu pensei! Nunca ouvi tanta besteira vinda da boca de um único elfo!

­_ Não vai contar né? Tudo bem! Mas eu ainda vou fazer o senhor falar a verdade! – Squall saiu, deixando o anão sozinho. Quando estava do lado de fora da casa, deu meia-volta e retornou para dentro. – Chega de enrolação, capitão! Conta logo tudo pra mim! Fala quem é o Segê, e conta como vocês se conheceram!

Squall foi atingido em cheio na cabeça pela caneca de cerveja de Glorin. O feiticeiro se zangou e ameaçou destruir a caneca, mas foi impedido pelo anão.

_ Devolva minha caneca logo, garoto! E pare de me atormentar! – pediu o anão.

_ Toma sua caneca! Mas conta a verdade pra mim! Cada segredo que o senhor me contar, eu lhe pago um barril de cerveja!

_ Feito, moleque! O Seelan não é veado coisa nenhuma! Ele faz aquilo pra enganar os novatos todas as vezes! Agora vai buscar o barril que esse aqui tá acabando!

_ Não era isso que eu queria saber! Aliás eu já sabia disso! Eu quero saber sobre o Segê!!! O senhor tem que me contar! Não se esqueça que eu o ajudei no castelo! Lembre-se que fui eu quem descobriu como a sua espada e o seu escudo funcionam!

_ Tá certo, você tem razão! Já que é assim, vou lhe dar um conselho! Pare por ai! Não cave muito mais fundo, ou você não poderá sair do buraco que cavou! Para seu próprio bem, esqueça esse assunto! Lembre-se o que eu lhe disse sobre o Segê! Ele é muito poderoso! E não gosta que fiquem bisbilhotando na vida dele! Agora, esqueça isso e vá caçar alguma coisa útil pra fazer! – concluiu o anão. Sua expressão era séria e sua voz grave e sombria.

Squall se deu por vencido e saiu do alojamento do capitão ainda resmungando. Sem nem se dar conta da presença de seu irmão que acabava de chegar, Squall foi para seu quarto, enxugar a cerveja de seu corpo. Anix entrou logo em seguida, junto com Mepisto.

_ Olá capitão! Já estamos de volta! – anunciou o mago, orgulhoso.

_ Ai não! Outro elfo! Espera ai que agora estou ocupado! – resmungou Glorin, enchendo novamente a caneca com cerveja. Tomou todo o líquido dum gole só e continuou. – Pronto! Terminei! Pode falar agora!

Anix entregou ao anão um relatório escrito por ele, contando sobre a briga de Mao Necro e Dragnus. O anão leu todo o pergaminho, e depois pediu a Anix que lhe explicasse com detalhes o que tinha acontecido. O mago contou calmamente tudo que havia ocorrido em Rutorn, inclusive sobre a luta com a bruxa Zenóbia. O anão observava, calado, e coçava a barba, pensativo. Seus olhos estavam semicerrados, como se estivesse com sono. Ou, muito embriagado.

_ Está certo! Depois iremos falar com esses brigões e dar a devida punição a eles! Agora, diga-me! Quem é esse ai com você? – disse o anão.

_ Esse é Mepisto! Ele nos ajudou a lutar contra a bruxa! Ele mora em Rutorn! Eu o trouxe comigo assim porque ele é suspeito de tentar roubar minhas coisas! – explicou o elfo.

_ Eu não roubei nada! Sou inocente! Eu apenas queria te dar uma poção mágica! Você estava caído, quase morrendo, e vocês falaram que aquelas tais poções podiam curar! Então, eu só queria te ajudar com uma delas! Só por isso mexi nas suas coisas! – gritou Mepisto, irritado com a acusação.

_ Vamos com calma garotos! Então quer dizer que o poderoso sargento Anix foi a nocaute! Há! Há! Há! Há! Mas que vexame! Você era o mais forte do pelotão e, ao invés de proteger os mais fracos, teve que ser protegido por eles! Há! Há! Há! Elfos...!!! – Glorin zombou de Anix, rindo de seu infortúnio, sem no entanto lembrar que ele próprio já havia passado por situação semelhante.

_ É, eu quase morri! Mas foi pra ajudar os recrutas! Eles estavam muito fracos, e eu tive que tomar a linha de frente pra que eles não morressem! Se fosse algum deles no meu lugar, a essa altura já estaria morto! – respondeu Anix, zangado.

_ Bom! Deixa isso pra lá! Agora me conte exatamente o que aconteceu! – ordenou o anão.

Anix contou tudo o que havia acontecido, que Mepisto havia ajudado o grupo, que fora acusado de tentativa de roubo pelos soldados e que resistira à prisão. A todo instante, Mepisto o interrompia, desmentindo-o e ofendendo-o. Glorin o repreendeu, dizendo que ele teria a chance de se defender. Mas, como Mepisto ignorou o capitão, Glorin sacou sua espada, e a cada interrupção de Mepisto, ele golpeava a cabeça do caçador com a lateral da lâmina como punição. Mepisto passou então a ofender Glorin, que não se intimidou e continuou batendo a cada xingamento, até que Mepisto caiu desmaiado.

_ Moleque insolente! Humanos...!!! Vamos, Anix! Vamos trancar esse cara numa cela até ele esfriar a cabeça...e acordar! Ai a gente resolve o que fazer com ele! – disse Glorin.

Os dois saíram e foram até a prisão do forte, onde deixaram Mepisto, trancado numa cela. Enquanto os dois se afastavam, Anix convidou o capitão para um drinque na taverna, e prometeu que tentaria tomar cerveja junto com o anão. Feliz, o guerreiro comemorou por poder tomar mais uma cerveja de graça. De repente, a conversa amigável dos dois foi interrompida por gritos.

_ Aniiiix!!! Aniiiix!!! Você voltou, amiguinho! Que bom, eu já estava com saudades! – era Seelan. O elfo veio correndo, acenando com a mão freneticamente, e saltou no pescoço de Anix, abraçando-o.

_ Para com isso Seelan! Me solta! Socorro, capitão Glorin! Me ajude! – gritou Anix, tentando se livrar de Seelan.

_ Não vou me meter nisso não! Isso é coisa de elfos! Vou deixar vocês dois a sós! Encontro você na taverna, Anix! Se vira, garoto! – Glorin saiu dando passos tortos e fartas risadas.

Jack, que estava próximo dali, viu tudo e se aproximou, divertindo-se com a situação humilhante de seu sargento.

_ Ae, sargento! Mandou bem! Ah! Desculpe pelas brincadeiras! – disse o pirata, rindo do seu superior.

_ Droga, do que você tá falando Jack? Que brincadeiras?

_ Dessa aqui! Aniiiix!!! Aniiiix!!! – o soldado imitou Seelan, desta vez sem se esconder do sargento.

_ Nossa! Ele tá me imitando direitinho! E até que ele é bem bonitinho! Vem aqui amiguinho! – e com um movimento rápido, Seelan agarrou Jack também.

Jack esperneou e bateu, até que Seelan finalmente o soltou. O pirata saiu correndo, afastando-se dos dois rapidamente. Seelan continuava agarrado a Anix.

_ Olhe Anix! Até que ele tem um belo bumbum! Não acha? – disse Seelan.

_ Af...!!! Me larga Sélan! Por acaso você gosta de homens, é? – reclamou Anix.

_ Claro que não, amiguinho! Não gosto de homens nem de anões! Eu gosto mesmo é de elfos! E meu nome é Seelan! Seelan!

_ Ai, droga, mas é uma bicha mesmo! Olha aqui Seelan! Se você gosta de elfos, eu não tenho nada com isso, eu não gosto! Eu gosto é da Enola! Eu a amo e nós vamos nos casar um dia! – gritou Anix, empurrando Seelan para longe dele.

_ Ah! Não tem problema! Eu não sou ciumento! – sorriu Seelan.

Anix se afastou dele, indo na direção da taverna. Seelan acenada com delicadeza, prometendo se encontrar com ele mais tarde, no laboratório. Anix foi até a taverna para beber um pouco e se acalmar. Todos os seus amigos já estavam lá, inclusive Glorin, que esperava ansioso por aquele que lhe pagaria mais uma cerveja. Todos menos Legolas, que ainda não tinha voltado de sua missão com seu pelotão. Anix tomou cerveja junto com seu capitão, mas reclamou do gosto da bebida. Glorin, mais uma vez, zombou da masculinidade dos elfos e riu.

O dia passou, e quando a tarde caiu, Glorin reuniu os outros oficiais, o grupo de Anix e Mepisto para interrogá-los. Lars Sween lançou sobre todos eles uma magia que os impediria de mentir, e assim, todos foram obrigados a contar a verdade sobre o que tinha acontecido em Rutorn.

Ficou decidido que Mepisto era inocente da acusação de roubo. Entretanto, ele ficaria por três dias preso no forte, por ter desacato à autoridade. As ofensas proferidas contra Anix e Glorin, por fim, não passaram em branco. Quanto aos demais, foram condenados a passar uma semana realizando trabalhos pesados no forte. Contra os soldados pesou a acusação de indisciplina, tanto pela briga de Necro e Dragnus, quanto pelo fato de eles não terem curado Anix, quando este estava caído, para ficar cantando e dançando, enquanto Mepisto tentava curar o elfo por sua conta, causando toda a confusão. Anix recebeu a punição por ter confessado abusar de sua autoridade como sargento. Embora ele tivesse agido corretamente na maioria das ocasiões, o elfo sentia-se culpado também, e aceitou a punição sem questionar.

No final do terceiro dia, o major Jonathan Wilkes dispensou os soldados e seu sargento da punição, para que na manhã seguinte eles conduzissem Mepisto de volta a Rutorn. Ao receber a notícia, Anix pediu permissão ao major para levar algumas provisões para o vilarejo, já que muitos animais da vila haviam sido mortos, e quase toda a comida da taverna havia sido consumida nas reuniões convocadas por Anix. Jack procurou por o capitão Lars, e foi pedir a ele sua ajuda. Jack pediu a Lars que os acompanhasse e usasse seu poder divino para curar os olhos da jovem Silmara. Lars ouviu atentamente a história contada pelo pirata, deu um grande sorriso e respondeu com sua mais famosa frase:

_ Não há mal que não possa ser desfeito, e não há pessoa que não mereça uma segunda chance! Eu irei com vocês, e verei como posso ajudar essa moça, soldado Jack!

Assim, na manhã do dia 21 de pace, um jetag, eles partiram novamente de forte Rodick, rumo ao vilarejo de Rutorn.

Um comentário:

  1. As venturas muito bem feitas e jogadas.
    Estigante!!!
    E cada vez esta melhor!

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