setembro 18, 2006

Capítulo 235 – A Morta do Bosque

Capítulo 235 A Morta do Bosque

_ Venha comigo, senhorita, deixe-me ajudá-la! – disse Jack, tomando a moça nos braços e a segurando de encontro ao peito. Sua expressão era de pura felicidade, ao ter em seus braços a bela garota.

­_ Obrigada, gentil senhor! Muito obrigada! – respondeu a moça, entregando-se nos braços de Jack. O soldado, um ex-pirata cumprindo pena em Rodick acariciava os cabelos da jovem, admirando seu belo corpo, sem, no entanto, ter visto seu rosto ou conhecer seu nome.

­_ Senhor, está bem? – era Anix, ajudando o velho homem a se recompor do susto.

_ Muito obrigado, senhores! Eu lhes devo minha vida e a de minha neta! Obrigado. - o homem caiu em prantos, desesperado, e agradeceu aos heróis por terem salvado a sua vida e a de sua neta.

_ Não precisa agradecer! Estamos aqui para isso mesmo! Nós somos do exército, viemos ajudá-los!

_ Oh! Pelos deuses! Abençoados sejam vocês! Agora teremos uma esperança!

_ Eu sou o sargento Anix, e esses são meus soldados, Jack, Dragnus, Necro e Lee! Agora, conte-nos quem é o senhor, e o que está acontecendo por aqui! – Anix apresentou-se e a seus subordinados, conduziu o homem até uma cadeira e ajudou-o a sentar gentilmente.

_ Eu sou Tomas Connely! E essa é minha neta Silmara! È uma graça e uma honra tê-los aqui em minha taverna! O que está acontecendo, é que nossos pesadelos têm se tornado realidade! – o homem se recompôs, e ajeitou seu cabelo grisalho com as mãos enrugadas. Seus olhos se arregalaram e uma expressão de pavor tomou conta de seu rosto, quando ele começou a falar.

_ Como assim, seus pesadelos viraram realidade? – perguntou Anix. – Ei Jack! Ajude essa senhorita a se levantar, ao invés de ficar ai se aproveitando dela! Senhor, Tomas, não seria melhor sua neta ir tomar um banho? Ela está encharcada de vinho!

_ Sim, tem razão, senhor sargento Anix! Silmara, minha querida, vá se lavar e trocar de roupa! – disse o velho.

Jack ajudou Silmara a se levantar, contrariado e irritado com o sargento. A jovem, ficou em pé, segurou seu vestido com as pontas dos dedos e se abaixou, fazendo um gesto de agradecimento.

_ Muito obrigada pela ajuda, gentil senhor! – disse a jovem. Tinha longos e sedosos cabelos negros, e uma voz melodiosa e bela. Seu rosto era formoso e delicado, mas alguma coisa estava errada, seus olhos. Silmara não possuía os olhos. No lugar deles, apenas as pálpebras murchas cobrindo as órbitas vazias. Jack recuou, assustado, e tomou um gole de rum. Esfregou os olhos para ter certeza de que estava acordado e confirmou a triste condição da menina. Silmara pediu licença gentilmente e se retirou, saindo por uma porta atrás do balcão. Andava lentamente, apoiando-se nas paredes e nos móveis e comovendo a todos.

_ Senhor, não seria melhor ajudá-la? – perguntou Jack.

_ Não está tudo bem! Ela consegue fazer isso sozinha! Agora, sentem-se por favor! Eu vou servir-lhes algo para beber e comer e contarei com detalhes o que vem acontecendo em nossa vila. – respondeu o ancião. Os soldados se sentaram ao redor de uma mesa, enquanto Tomas lhes servia uma garrafa de vinho, pão e queijo. Jack, olhou com desdém para a garrafa do homem, e continuou a tomar o seu rum.

_ Bem! – continuou Tomas – Há muito tempo, quando este vilarejo foi criado, esta era uma região isolada e cercada por densas florestas de tollon! Havia monstros, como esses kobolds que vocês derrotaram, vivendo nas matas ao redor da vila e, para evitar que as crianças daqui entrassem na floresta sozinhas, e corressem o risco de serem atacadas, nós inventamos uma história para assustá-las! Assim surgiu a Morta do Bosque! Durante anos nós dissemos às crianças de Rutorn que uma menina de uns 12 anos um dia saiu para a floresta sem a permissão de seus pais e foi atacada por monstros e bandidos! A menina, foi morta violentamente, e desde então, seu espírito vaga pelo bosque buscando a paz! Nós a chamamos de A Morta do Bosque! Vez ou outra, algum dos anciões se disfarçava com um lençol branco para parecer um fantasma, e corria pela mata gritando, para que as crianças acreditassem na história! Isso as manteve afastadas do bosque e do perigo durante anos! Mas, recentemente, cerca de uns quatro meses atrás, quando alguns lenhadores trabalhavam extraindo madeira no bosque, o que era apenas uma história para assustar crianças se tornou real! Os lenhadores viram fantasmas flutuando sobre um pântano a oeste daqui! Depois de uns dias, no mesmo local, eles viram o espírito da Morta do Bosque! Uma menina sem pés, toda pálida, e com a garganta cortada! Desde então, todas as noites em que a lua está em treva, a Morta do Bosque ataca nossa vila! Ela rouba os nossos animais durante a noite, enquanto seus fantasmas invadem a vila gritando e gemendo! No dia seguinte, os animais são encontrados mortos, secos, e com os olhos arrancados!

_ Então quer dizer que... – Anix não teve tempo de terminar sua pergunta.

_ Sim, isso mesmo! Minha neta Silmara teve os olhos arrancados pela Morta! Disse Tomas, interrompendo o mago, e voltando a chorar. – Entendem agora o que nos acontece? Nós inventamos uma história, para manter nossas crianças a salvo! Mas agora essa história se tornou real, e minha netinha querida foi uma vítima dela!

Jack se levantou, exaltado, acusando o velho de ser o culpado pela desgraça da neta. Sugeriu que ele, assim como os outros anciões, fosse enforcado. Anix conteve com firmeza a reação de Jack e acalmou Tomas. O sargento mandou que o soldado se contivesse, e Jack se calou, mesmo contrariado.

_ Não se preocupe, senhor! Nós estamos aqui para ajudar a desvendar esse mistério! Por favor, diga-me quem são as pessoas que viram a Morta, para que eu possa conversar com elas! Preciso saber com detalhes como é essa morta, para poder encontrar uma forma de detê-la! – disse o mago.

_ Bem, senhor sargento Anix! Tem um caçador aqui que foi a pessoa que teve maior contato com a Morta! Ele a viu bem de perto, acho que é quem pode fornecer a descrição mais detalhada! Seu nome é Mepisto, ele mora há quatro casas daqui! – disse o velho.

_ Está certo então! Vou falar com esse Mepisto e ver o que ele sabe sobre a morta! E pode me chamar apenas de Anix, dispenso essas formalidades! Lee e Dragnus ficarão aqui na taverna para consertar os estragos que fizemos! Jack os ajudará também! Mao Necro e eu iremos até a casa desse Mepisto! Venha Necro! – disse o mago, dando ordens a seus homens, e saindo pela porta acompanhado pelo necromante.

_ Aniiiix!!! Aniiiix!!! Aniiiix!!! – uma voz afeminada e estridente ecoou pela rua do vilarejo.

_ Ah não! Esse veado do Seelan continua me seguindo! Vamos logo daqui Necro! – disse Anix, irritado. Dentro da taverna, Jack e os outros soldados riam por ver o sargento ser novamente enganado pela imitação de Jack.

Fora da taverna, o clima era de desolação. As ruas estavam vazias, e os moradores se escondiam dentro de suas casas. Os poucos que podiam ser vistos, se ocupavam em reforçar suas portas e janelas com tábuas. Foi um desses moradores, chamado Erappy, quem levou os dois aventureiros até a casa de Mepisto.

O caçador atendeu à porta, trazendo nas mãos várias ferramentas que usava para proteger sua casa. Um pequenino camundongo caminhava sobre seu ombro, mostrando que, apesar de ser um caçador, tinha grande apreço pelos animais. Anix se apresentou, como oficial do exército, e explicou a natureza de sua visita. O homem, os acompanhou até a taverna para contar o que tinha visto no bosque, enquanto que Erappy ia de casa em casa convocando os moradores para se reunirem na taverna para uma reunião com os soldados. Ao chegarem de volta ao Ogro Roxo, Anix pediu a Tomas que preparasse comida para todos os moradores da vila, e se comprometeu a pagar as despesas. Mepisto, então, contou-lhes a sua história.

_ Bom, tudo aconteceu quando eu estava no bosque, perto do pântano! Eu escutei o barulho de animais e vi luzes flutuando entre as árvores! Pareciam fantasmas! Elas gemiam e gritavam como almas penadas! Eu fui seguindo as luzes, escondido, até a beira do pântano! Quando estava lá, eu vi a Morta do Bosque! Ela estava no meio do pântano, me olhando com um olhar frio e muito assustador! Ela era branca como uma vela, e não tinha pés! As luzes voavam ao redor dela, e os gritos e gemidos ficaram mais altos! Ela se virou para ir embora, e sua cabeça pendeu para o lado! O pescoço estava cortado, era um corte tão grande quanto o de um machado! Então ela foi se afastando de mim, e desapareceu no ar, sem deixar vestígios! Foi assustador! – contou o homem, gesticulando e fazendo caretas enquanto falava.

_ E você pode nos levar até o lugar onde você a viu? – pediu Anix.

_ Sim, claro! – respondeu Mepisto.

_ Está certo, hoje à noite a lua estará em treva, do jeito que essa morta gosta! Quando a noite cair, nós iremos investigar esse bosque! – completou Anix. Mepisto, e os soldados concordaram com a decisão e logo após, os moradores de Rutorn foram pouco a pouco chegando à taverna para a reunião, até que toda a vila se reunisse no estabelecimento.

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