outubro 07, 2008

Capítulo 316 – Assaltantes na estrada


Raiava o primeiro dia do ano de 1398. O sol já estava alto e quente quando os portões de Forte Rodick se abriram. Uma carroça partiu rumo ao sul a fim de investigar os assaltos que ocorriam há alguns dias próximo a Forte Novo. Mas, desta vez não era Nailo que rumava para a pequena vila, era Squall.

O feiticeiro viajava disfarçado, trajado como um comerciante. Esperava atrair a atenção dos criminosos para, assim, surpreendê-los quando tentassem assaltar sua carroça. Squall era acompanhado por um pequeno grupo de soldados que ajudava a treinar em seus dias no forte. Eram eles: Kataro, um descendente do povo de Tamura, versado nas artes de combate do povo do Império de Jade e que havia nascido em uma pequena vila de Tollon chamada Shimei; Andrew, um druida elfo, aprendiz de Kuran e que seria o guia do grupo caso precisassem se aventurar por regiões selvagens; Ass Hole e Ícaro, uma dupla de meio-orcs truculentos e furiosos, que seriam a força bruta na hora do confronto com os criminosos; por fim havia Lunar, um humano franzino, assustadiço e de orelhas grandes e que não aparentava ter qualquer habilidade, de forma que era difícil imaginar o que diabos aquele homem fazia no exército.

Viajaram por cinco dias inteiros rumo ao sul quando, na manhã do sexto dia de Altossol, chegaram a uma encruzilhada. A estrada se dividia em três. O caminho leste conduzia a Rutorn, enquanto que a oeste havia a estrada que levava a Forte Novo. A estrada principal ainda continuava para o sul indefinidamente, passando pela região onde o eremita Laurelin vivia e seguindo além dela.

_ Vamos para o oeste – disse Squall. – Vamos até Forte Novo, e lá conversaremos com os moradores para saber o que está acontecendo.

Assim a carroça tomou o caminho da direita e viajou por mais um dia inteiro antes de parar para um aguardado descanso. Ao redor de uma fogueira aconchegante um acampamento foi levantado. Os cavalos foram soltos para pastarem e os soldados foram repousar. Dormiam todos ao redor da fogueira, à luz das estrelas, exceto por Kataro que preferiu montar uma barraca de lona para se abrigar da noite e por Lunar, que estranhamente se amarrou a uma árvore antes de cair num profundo sono sem dar qualquer explicação sobre suas estranhas atitudes.

A noite já era velha quando Ícaro acordou seus companheiros, alertando-os do perigo que os rondava. Flechas voaram na madrugada, alvejando os soldados que ainda despertavam de seu merecido sono. De trás das árvores e da escuridão surgiu um bando hobgoblins, armados, atacando freneticamente os que ainda se levantavam.

Os monstros estavam em maior número, mas atacavam à maneira dos monstros, de forma caótica e ineficaz. Já os soldados, ainda que em menor número e surpreendidos, eram treinados e habilidosos na arte do combate. Com um feitiço de Squall o negrume da noite se desfez e a vantagem que ele proporcionava às criaturas que atacavam. Os heróis lutaram com ferocidade e em pouco tempo até mesmo a vantagem numérica do inimigo foi revertida. Squall disparava raios flamejantes, fritando a carne dos adversários. Andrew comandava o poder de Allihanna e a natureza se erguia contra os invasores. Kataro saltava de um lado para outro em acrobacias mortais que terminavam em golpes de seus punhos treinados, tão poderosos quando golpes de espada. E choviam lâminas sobre os hobgoblins. Lunar os atacava com golpes rápidos e precisos, já Ass Hole e Ícaro usavam a força para trucidar os inimigos com seus machados. Em poucos instantes, a horda goblinóide estava reduzida a uns poucos sobreviventes.

Um líder hobgoblin gritava ordens aos seus comandados, em seu idioma grotesco e incompreensível. Mas os monstros não respondiam aos seus apelos, pois estavam encurralados pelos soldados, de modo que o chefe ordenou uma retirada apressada.

Mas o próprio comandante das criaturas não pode fugir. Caiu fulminado pelas chamas de Squall e de seu corpo restou apenas um amontoado de carne queimada. Outro inimigo tombou com seu corpo dilacerado pelo poder da natureza, após Andrew jogar um punhado de grama dentro de sua boca e evocar o nome de Allihanna. Por fim, outro hobgoblin caiu partido em dois pelo machado de Ícaro. Ainda restou um último inimigo que se embrenhou na mata, fugindo em grande desespero.

_ Deixem-no ir embora! – ordenou o sargento Squall. – Nós seguiremos o rastro dele pela manhã!

Ass ficou aguardando na entrada da floresta, mas não desobedeceu seu superior. Apenas tentava seguir o fugitivo com seus aguçados olhos de meio-orc. Lunar, entretanto, ignorou as ordens de Squall e correu no encalço do hobgoblin. Quando já estava dentro da selva escura, bem distante dos companheiros, Lunar sentiu que poderia agir e usar seus poderes secretos. O homem contorceu seu corpo em estranhos espasmos, pelos cresceram por todos os lados e seus membros, tronco e crânio começaram a se transformar em algo não humano. Ao final do processo, Lunar havia se transformado em um enorme roedor.

Lunar era um licantropo, esse era o seu segredo. Era alguém amaldiçoado, metade homem, metade rato, um monstro temido pela grande maioria das pessoas em Arton. Mas Lunar tinha adquirido recentemente o domínio sobre sua transformação, sendo capaz de mudar de forma conforme sua vontade. Entretanto, ainda assim temia transformar-se durante a noite e por essa razão ele se amarrava ao dormir, para proteger as pessoas ao seu redor e evitar que sua maldição pudesse novamente trazer desgraça à sua vida e àqueles que o cercavam.

Em forma de rato, Lunar tentou alcançar o fugitivo, mas seus esforços foram em vão. O hobgoblin já estava distante demais para ser alcançado e já havia encontrado algum esconderijo para se proteger dos seus perseguidores. Lunar desistiu e retornou, ainda transformado em rato, para junto de seus companheiros.

_ Sargento! Tem um monstro aqui! Um rato do tamanho de um cão de caça! – gritou Ass Hole, assustado.

_ É só um rato atroz! Dê logo uma machadada nesse bicho nojento e volte pro acampamento. Ele não será páreo para você! – respondeu Squall.

Ouviu-se o som do golpe certeiro que partiu carne e osso, seguido de um grunhido e do silêncio. Após alguns instantes, Ass Hole retornou espantado.

_ Sargento! Eu matei o rato! – disse o meio-orc.

_ Ótimo vamos dormir então. Espere, falta um. Onde está o Lunar? – respondeu o feiticeiro.

_ Esse é o problema, sargento. O rato era ele!!!

Squall e seus soldados correram até o local indicado pelo bárbaro. Lá encontraram o corpo de Lunar, já novamente na forma humana, com o crânio partido em duas partes e afogado em uma poça de sangue e miolos.

_ Droga! Então era por isso que ele agia daquele jeito esquisito!? Porque esse burro não me avisou? Droga! Bem, soldados, cavem um buraco e enterrem-no! E pela manhã iremos atrás daquele hobgoblin! – Squall se abaixou enquanto distribuía as ordens aos seus comandados. Pegou sua espada e, com um golpe rápido e limpo, cortou um dos braços de Lunar e o guardou. – Imbecil! Se tivesse me avisado que era um licantropo, teria poupado todo esse trabalho! – pensou Squall por fim.

Finalmente, após a batalha e um penoso trabalho para sepultar Lunar, os soldados finalmente foram repousar.

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