outubro 15, 2008

Capítulo 322 – Encontro com o Dragão

Os dois grupos se levantaram, tirando a poeira dos corpos e sentindo as escoriações resultantes do desabamento do teto. Retornaram ao laboratório e encontraram destruição, escombros e poeira por todos os lados. Do outro lado das grades retorcidas e quebradas, os cinco corpos permaneciam intactos. Glorin e seu grupo foram até a outra metade do cômodo e, cuidadosamente, recolheram os corpos das cinco elfas. Nailo entrou rapidamente no local e recolheu do chão a cabeça de seu amigo Sam. Os demais elfos continuavam paralisados.

_ Sei que estão sofrendo, amigos! E sei que palavras não adiantarão para consolá-los! Mas tenham fé, pois esse mal será desfeito e suas amadas terão a uma segunda chance! – disse Lars. Enquanto trazia Deedlit nos braços, o clérigo se aproximou de Squall. – Como penitência pela morte de Jack, eu recebi a missão de ajudá-los nesta hora de necessidade, a missão de trazer suas esposas de volta pela graça de Thyatis! – enquanto falava, Lars parou diante de Squall, pegou uma pequena sacola de tecido no bolso da camisa e a entregou ao feiticeiro. – E também vim para lhe devolver isto, Squall, e para agradecê-lo. Isto salvou minha vida quando eu fugia de goblinóides e uma flecha envenenada veio certeira em meu peito, em meu coração. Não fosse por isso em meu bolso, hoje eu não estaria aqui!

Squall pegou a pequena bolsa, ainda tentando se refazer do choque, abriu-a e encontrou lá dentro um pó negro misturado a pequenas lascas de igual tonalidade. Eram os pedaços do Carvão da Noite da Alegria, guardado um ano atrás, quando os heróis repousavam ao redor de uma fogueira ao som do alaúde de Sam enquanto estavam a caminho de Follen.

_ Vamos para a Vila – disse Glorin. Seelan recitou um feitiço e teleportou todos para Carvalho Quebrado. Já de volta à taverna, Glorin pediu um quarto grande a Norgar e todos rumaram para lá, com exceção de Legolas, Nailo e Lucano. O arqueiro glacial pegou seu fiel cavalo Rassufel e saiu com ele pela vila, cavalgando sem rumo, tentando voltar a si, compreender aquela situação e tudo que tinha acontecido. Da mesma maneira que Legolas, Lucano caminhava pela vila, pensativo, e parou no riacho para lavar o rosto, desejando acordar daquele terrível pesadelo. Nailo limpava a cabeça de Sam, escondido no pequeno estábulo atrás da taverna de Norgar. Quando em meio às lágrimas o guardião terminou seu laborioso trabalho, colocou a cabeça morta em sua mochila e entro na taverna, indo ao encontro dos amigos.

_ E então? Encontraram o Sam? – perguntou Lana, ao ver Nailo passando por ela.

_ Não, não o encontramos! – respondeu Nailo, desviando o olhar da elfa e subindo as escadas que conduziam ao segundo andar.

Lá em cima, no quarto indicado por Norgar, estavam Anix e Squall, bem como Glorin e seu grupo todos reunidos. As elfas estavam deitadas sobre camas macias, com as mãos juntas sobre o peito. Tinham uma expressão serena e agora era possível ver o ferimento de faca que lhes tirara a vida exatamente sobre seus corações. Nailo retirou a cabeça de Sam da mochila e a entregou a Lars, com cuidado.

_ Não se preocupem, amigos. Em breve as pessoas que amam estarão de volta, sorrindo ao lado de vocês. – disse Lars. E, batendo a mão em uma bolsa que pendia do seu cinto, continuou. – E já tenho comigo tudo o que preciso para realizar esta tarefa! – da bolsa veio o som de pedras se chocando. Diamantes.

Diante de todos Lars começou o intrincado ritual de ressurreição. Retirou um diamante de sua bolsa, enquanto murmurava preces a Thyatis e acendia velas ao redor da cabeça de Sam. Depois juntou as mãos sobre a cabeça morta, proferindo orações e clamando pelo deus da ressurreição. O valioso diamante transformou-se em um fino pó, que chovia das mãos de Lars e se precipitava sobre a cabeça como uma chuva de estrelas brilhantes. Um longo tempo se passou, todos observavam ansiosos e maravilhados, quando, de repente...

_ NÃO!!! NÃÃÃOOOO!!! De novo não! Não, Thyatis, me ajude! – gritou Lars, em pranto. O grito pode ser ouvido à distância e em pouco tempo, Legolas e Lucano estavam de volta à taverna, para testemunhar o que acontecia.

_ O que aconteceu! – perguntavam todos, assustados.

_ Está acontecendo novamente! Outra vez, Glorin! Está acontecendo tudo de novo! – repetia o clérigo, inconsolável.

_ O que, homem? Fale? – gritou Glorin, já sabendo qual seria a resposta.

_ Não consigo trazê-lo de volta! Não posso ressuscitá-lo! A mesma coisa já aconteceu antes, com a mulher de Glorin! – respondeu Lars, encarando o anão como se pedisse ajuda. Glorin permanecia calado e apenas pousou a mão sobre o ombro do amigo, demonstrando confiança.

_ Não pode ser! – gritou Seelan. – Todd! Depressa! Vá até o forte! Traga minhas pesquisas aqui! Suas almas deixaram os corpos há pouco tempo! Deve haver algo que possamos fazer! – o mago entregou um par de pergaminhos mágicos ao goblin e o apressou. – Sabe o que fazer com isso, certo?

_ Deixe comigo! Já volto! – respondeu Todd Flathead. O goblin abriu um dos pergaminhos, lendo as palavras mágicas, traçando desenhos no chão e no ar, fazendo gestos complexos e desapareceu, teletransportando-se para Forte Rodick.

_ Vou tentar de novo, com uma das mulheres! – disse Lars, reiniciando o ritual de ressurreição em Deedlit. Kuran e Seelan o auxiliavam e apoiavam. Momentos depois, entregava-se novamente ao pranto. – Não pode ser!!! Thyatis! O que está acontecendo? – gritava ele.

_ Glórienn! Será que elas não querem voltar à vida? – indagou Anix.

_ Não! Não é isso! Não consigo sequer contato com as almas delas! É como se suas almas não existissem! – respondeu Lars.

_ Fique calmo, Lars! Todd voltará em breve! Com minhas anotações tentaremos localizar as almas delas! Foi tudo muito recente! Creio que iremos conseguir! – disse Seelan, tentando acalmar a todos. Então, após um momento de silêncio, um portal mágico se formou diante de todos. – Ai vem ele! Todd está de volta! – completou o mago, esboçando um sorriso.

Entretanto, não era Todd quem vinha pelo portal. Era Mão Necro, um dos soldados treinados por Anix. Estava esbaforido, ferido e assustado.

_ Necro? O que está fazendo aqui? – perguntou Seelan, já prevendo algo muito ruim.

_ O forte, capitão! O forte foi atacado! – disse o soldado. Todos ficaram espantados e exigiram explicações. E as respostas de Necro os deixaram ainda mais alarmados. – Uma bruxa! Uma bruxa invadiu o forte, lançando magia por todos os lados, destruindo tudo e matando quem entrasse em seu caminho. O capitão Todd a enfrentou, lutou contra ela, conseguiu feri-la. Mas... Mas ela o matou! A bruxa matou o capitão Todd. Ela arrastou o seu corpo pelo forte, foi até o túmulo de Jack e o desenterrou. Mexeu no corpo do pobre Jack, fuçou em suas roupas até encontrar algo que ela parecia procurar. Do bolso da calça de Jack ela tirou uma pedra, uma jóia, e a guardou. Depois ela foi embora, levando o corpo do capitão junto, mas não sem antes destruir o que restava do forte. Eu consegui pegar um pergaminho no laboratório arcano e vir para cá, buscar ajuda, conforme o capitão Todd tinha me instruído. Mas agora é tarde demais, o forte já era, e o capitão está morto, muitos soldados morreram também.

_ MAAAALDIIIIITAAAAAA!!!!!! – um grito fez estremecer toda a estrutura da taverna, e foi ouvido por todos na vila. Era Glorin. – Jonathan, vamos precisar de suas habilidades de rastreador! Seelan, transporte-nos. – ordenou o anão, assumindo a liderança do grupo, após o despertar de sua fúria. Desta vez ele não era um anão melancólico, alcoólatra e suicida. Nem o capitão sorridente em que se transformara nos últimos dias. Glorin era um leão, uma besta assassina e sanguinária, e já tinha escolhido sua presa.

Seelan já preparava a magia e todos os capitães reuniam seus equipamentos. Da porta do quarto entre aberta, Norgar e outros aldeões observavam assustados.

_ Amigos, é em tristeza e dor que nossa sociedade se desfaz! – começou Glorin. – Infelizmente não poderemos ajudá-los em sua missão, pois agora também temos uma outra missão a cumprir! Mas, assim que os deuses permitirem, nos reencontraremos novamente! E quando este dia chegar, iremos sorrir ao invés de chorar! Squall, parta com todos para encontrar você sabe quem! Conte a ele tudo o que aconteceu, com detalhes minuciosos. Não deixe escapar nada, por mais inútil que possa parecer! Com sua enorme sabedoria, tenho certeza que ele poderá ajudá-los! Adeus e boa sorte a todos! – e, despedindo-se uma vez mais, Glorin atravessou o portal mágico criado por Seelan e desapareceu.

_ Boa sorte amigos! – disse Jonathan, acenando da entrada do portal. – É uma pena nos separarmos nesta hora de necessidade, mas, sigam o conselho de Glorin e tudo acabará bem. Aquele goblin era o que mantinha nosso grupo unido. E aquela bruxa irá pagar pelo que fez! Espero poder reencontrá-los novamente em breve. Adeus! – o coronel desapareceu pelo portal, já com as armas em punho.

_ Não se desesperem, amigos! Nunca percam a fé, jamais deixem de confiar! E um dia tudo terminará bem e poderemos nos reencontrar antes do fim! Adeus e que os deuses continuem guiando-os! – era Kuran, partindo pela abertura mágica.

_ Bem, eu não tenho muito o que dizer! Apenas desejar boa sorte a todos! Adeus! – e Seelan também se despediu e partiu, deixando um pergaminho mágico sob os cuidados de Squall.

Lars, o último a partir, terminava a conjuração de uma poderosa magia sobre os corpos das elfas e a cabeça de Sam. Quando completou sua tarefa, dirigiu-se aos heróis.

_ Vocês confiam nas pessoas daqui, amigos? – perguntou o clérigo.

_ Sim! – respondeu Anix.

_ Ótimo! – continuou Lars, dirigindo-se a Norgar e aos aldeões. – Amigos! Peço que guardem e vigiem os corpos que aqui repousam, até o nosso retorno! O poder de Thyatis preservará cada um, para que a podridão não tome conta de seus corpos. Um dia nós retornaremos para reviver essas jovens elfas e seu amigo bardo! – depois, Lars foi até o portal e, voltando-se para os cinco elfos, disse. – Adeus, amigos, e boa sorte em sua jornada! Que Thyatis os abençoe e que nós possamos nos reencontrar em breve! E, lembrem-se sempre! Não há mal que não possa ser desfeito e não há pessoa que não mereça uma segunda chance! Adeus!

Lars sumiu através do portal que se fechou logo a seguir. Ficaram no quarto apenas os moradores de Carvalho Quebrado, Mão Necro e os heróis. Squall pegou o pergaminho deixado por Seelan, pronto para teleportar todos. Nailo argumentou, pedindo para irem a Vectora, tentar falar com o arquimago dono da cidade voadora em busca de ajuda. Squall apenas respondeu:

_ Confie em mim, Nailo! Vamos para o lugar indicado por Glorin. Vou levar todos a um lugar melhor que Vectora! Lá encontraremos a ajuda que precisamos! – então o feiticeiro abriu o pergaminho e começou a conjuração da magia.

_ Por favor, amigos! Cuidem de nossas mulheres! – pediu Lucano aos aldeões.

_ E de nosso amigo, Sam! - continuou Nailo.

_ E de nossos cavalos! – era Legolas.

_ E cuidem da Heart para mim! E cuidem-se Também! – completou Anix. E, com um gesto de Squall, todos desapareceram de Carvalho Quebrado, levados magicamente a muitos quilômetros ao norte dali, a um lugar frio e inóspito, onde uma criatura de enorme poder os aguardava.

Estavam todos em uma caverna toda branca e fria, ocultos sob uma montanha congelada no território das Montanhas Uivantes. Squall começou a chamar por Segê, enquanto avançava túnel adentro. Sem notar, o feiticeiro pisou em uma placa de gelo solta no chão e, ao som de um discreto clique, todo o teto branco veio abaixo, sobre os heróis.

_ Era esse o lugar melhor para onde ia nos trazer? – perguntou Nailo a Squall, segundos antes de ser soterrado e perder a consciência.

Despertaram tempos depois, sem ter noção de quanto tempo tinham ficado desmaiados sob toneladas de gelo e neve. Estavam vestidos com mantos brancos, trancados dentro de uma jaula feita de gelo. Sentiam frio, muito frio, com exceção de Legolas, que se sentia à vontade naquela temperatura extremamente baixa, graças ao meses de treinamento que tivera com Glorin. Olharam ao redor e, em meio àquela brancura quase cegante, viram um elfo alto e esguio, de longos cabelos brancos como a neve, metido em um manto de peles alvo como sua cabeleira. O elfo segurava o arco de Legolas em suas mãos e diante dele havia um balcão feito de gelo preso à parede, sobre o qual estavam todas as coisas dos aventureiros.

_ Chrishe! – disse o elfo, usando uma palavra no idioma dos dragões que significava flecha. O arco brilhou de maneira diferente. O Elfo puxou a corda e uma flecha de luz se formou. Disparada, a flecha deixou o arco num raio alvo e gélido, indo se chocar contra uma parede.

_ Segê! – chamou Squall, reconhecendo a misteriosa figura. Segê se voltou, fitando-os com seu olhar frio e cruel.

_ Então já despertaram? Três perguntas eu tenho e exijo as respostas agora! – disse Segê. – Primeira, o que você veio fazer aqui? Segunda, por que os trouxe com você? E, terceira, onde conseguiram este arco? – vociferou o elfo, aproximando-se do grupo aprisionado.

_ Bem, Segê, eu sei que você me mandou não voltar mais aqui, mas nós precisamos de sua ajuda. Glorin me mandou aqui, pois só você pode nos ajudar. – gaguejou Squall.

_ Minhas três perguntas, Squall! Responda-as sem rodeio! – urrou Segê.

_ Está bem, desculpe! – recomeçou o feiticeiro. – Primeiro, vim aqui em busca de ajuda, a mando de Glorin! Segundo, trouxe meus amigos porque eles também precisam da sua ajuda, tanto quanto eu. Terceiro, encontramos este arco em uma mina abandonada, com uma drago negra chamada Escamas da Noite!

_ Escamas da Noite?! Escamas da Noite?! Então vocês tomaram este arco dela? Me digam, o que fizeram a Escamas da Noite? Responda, Squall e não tente me enganar! – rugiu Segê. Os heróis estremeceram.

_ Bem, nós a matamos! – respondeu Squall, receoso.

_ Mas essa é uma ótima notícia! Uma das melhores que recebo em séculos! Quero ouvir essa história completa! Contem-me todos os detalhes! – Segê gargalhou de forma inesperada. Com um estalar de seus dedos, uma pequena pilastra de gelo se formou sobe ele, criando um banco no qual ele se sentou para ouvir o relato.

_ Senhor! Desculpe interromper, mas estamos congelando! – falou Anix, tremendo.

_ Ah, sim! Está certo! Em minha empolgação acabei esquecendo que vocês eram tão frágeis! – Segê estalou os dedos novamente e as roupas dos heróis flutuaram magicamente até eles. Outro estalar de dedos e do chão emergiram bancos de gelo para cada um dos presentes se sentar. Com tudo preparado, os heróis começaram a falar.

A Balada da Forja da Fúria foi completamente relatada em prosa pelos elfos. Segê ouvia cada detalhe com entusiasmo, especialmente quando os relatos chegaram à parte do encontro com Escamas da Noite e a batalha que culminou com a morte da dragonesa. Segê deleitou-se ao ouvir o relato da ruína de Escamas da Noite, gargalhando como Squall jamais pensaram vê-lo.

_ Bem, essa história me agradou bastante. Saber que aquela traiçoeira da Escamas da Noite teve o fim que merecia me alegrou. Isso me deixa em dívida com vocês, já que me fizeram o favor de punir aquela fêmea desprezível! Como aquilo que foi dado não deve ser tomado de volta, tome seu arco novamente, Legolas! – e com um novo estalar de dedos, o arco flutuou até seu dono.

_ Senhor! - chamou Nailo. – Se essa história o agradou, talvez gostaria de ouvir uma outra interessante, que envolve uma criatura chamada de Destruidor de Mundos, com o qual nos deparamos tempos atrás.

_ Pois se for tão interessante quanto esta, pode começar a contar, jovem! – disse Segê.

Nailo, com a ajuda dos amigos, relatou tudo o que se passou em Ortenko, da queda de Teztal à aparição do Tarrasque e o desaparecimento do colosso de pedra. Segê novamente ouviu com entusiasmo. Ao final, Nailo perguntou:

_ Senhor! Com sua experiência e sabedoria, acredita que o Destruidor de Mundos e o Colosso ainda estão vivos?

_ É possível que ambos ainda caminhem nas profundezas do mar! – respondeu Segê.

_ E o senhor acha que conseguiria derrotar algum deles? – perguntou novamente o ranger.

_ Isso eu não sei dizer. – respondeu o anfitrião, contrariando a arrogância típica que se esperava que alguém como ele possuísse. – Agora chega de histórias! Digam-me a que vieram! Digam em que posso ajudá-los, pois estou em dívida com vocês e pretendo pagá-la! – disse Segê.

Os heróis começaram então o triste relato da batalha contra Zulil, de sua traição e vingança e da morte de suas esposas e amigo. Segê ouviu a história com atenção e entusiasmo e ao final, falou.

_ Pelo que vocês me relataram só posso deduzir uma coisa! Suas fêmeas e seu amigo foram mortos e tiveram suas almas aprisionadas dentro das seis jóias que vocês viram na torre! Nenhum deles poderá retornar a este mundo, ou mesmo ir para o além, enquanto suas almas não forem libertadas. Enquanto isso não acontecer, eles estarão fadados ao sofrimento eterno! Vocês devem encontrar essa tal Zulil o quanto antes, tomar-lhe as gemas e libertar as almas de dentro delas! Só assim as pessoas que vocês amam poderão reviver ou descansar! – disse o elfo.

_ E onde é que nós o encontraremos? Por acaso você conhece o lugar para onde ele foi através do portal? – perguntou Nailo.

_ Sim! E jamais poderia me esquecer de um lugar exótico como aquele. Sua presa está em Galrasia, o Mundo Perdido! – respondeu Segê.

_ E como chegamos até lá? – indagou Anix.

_ Galrasia fica no Mar Negro. É uma enorme ilha tomada por monstros gigantes que os humanos chamam de dinossauros. Há outros povos habitando a ilha, povos diferentes de vocês elfos, dos humanos, anões e outros. São chamados de sauróides. – explicou Segê. – Se vocês não conhecem o lugar, é melhor que sigam para lá de barco, com alguém que conheça o caminho.

­_ Segê! Não temos mais magias de teletransporte para usar hoje! Por acaso você teria algo para nos ajudar a chegar ao litoral? – pediu Squall.

_ Está bem! Se for para vocês me deixarem em paz e partirem daqui, vou lhes dar um de meus pergaminhos! E, por todas as avalanches, pare de me chamar assim! Pare de me chamar de Segê! Isso é coisa daquele imbecil do Glorin! Anão imprestável! – ralhou Segê.

_ Obrigado, e desculpe, Segê! Mas não sei como chamá-lo! Por qual nome devo tratá-lo? – perguntou Squall.

_ Pois se você não sabe qual o meu nome, ouça com atenção! – gritou Segê. Sua sombra cresceu atrás dele, tomando conta da caverna, seus olhos brilharam sem pupilas como estrelas brancas e ofuscantes e, então, ele revelou seu nome. – Eu sou Coração de Gelo, o portador do frio absoluto! Jamais esqueça meu nome outra vez, elfo.

Todos ficaram espantados. Legolas olhou para seu arco e viu as mesmas palavras gravadas nele, no idioma dos dragões. Antes que algum deles pudesse dizer qualquer coisa, Coração de Gelo, ou, como diria Glorin, C. G., voltou a falar.

_ E já que vocês estão a caminho de Galrasia, precisarão estar preparados! Já visitei aquele lugar séculos atrás e sei que poderá ser perigoso para vocês pisarem naquela terra! Com isso pagarei minha dívida! Legolas, empreste-me seu arco! Empreste-me Sopro Gelado! – disse o elfo. Legolas entregou-lhe a arma, ainda assustado. Agora lhe ensinarei como usar todos os poderes deste arco!

E Coração de Gelo ensinou a Legolas tudo o que ele precisava saber, demonstrando um conhecimento gigantesco sobre a arma e confirmando as suspeitas de todos. A seguir, foi a vez de Nailo.

_ Você, Nailo! Pelo que pude perceber, também traz belas armas com você! Não seriam essas as famosas Rosas Gêmeas de Livara Austini?

_ Sim, são elas mesmas! – respondeu o ranger.

_ Pois eu pesquisei muito sobre essas armas! Sou um estudioso da arte da forja e da criação de armas e tenho por hábito forjar minhas próprias criações. Conheço as espadas que carrega de renome, e lhe ensinarei tudo que elas podem fazer! – E Nailo conheceu os fabulosos poderes de suas espadas e aprendeu a usá-los.

_ E você, Lucano, trás com você uma arma lendária! Dê-me essa espada! – Coração de Gelo pegou Dililiümi das mãos de Lucano e começou a admirá-la. – Estudei sobre essa espada também, sei tudo sobre ela, mas nunca imaginei poder botar minhas mãos nela algum dia! Dililiümi Tmigailïi, caçadora prateada dos elfos, ouça meu chamado! Estes que aqui estão são fiéis seguidores dos costumes da raça dos elfos! Abandone sua arrogância e sirva-os como se deve! – E, após falar com a espada, devolveu-a a Lucano. Nas mãos do clérigo, a espada emitiu um brilho e uma voz ecoou de sua lâmina.

_ Perdo-me, ó Lucano, por meu silêncio até o momento! Sei de sua necessidade e coloco-me sob suas ordens para ajudá-lo em sua missão! – falou a espada mágica.

E Coração de Gelo contou a Lucano a história de sua espada e todos os poderes que ela possuía.

_ Quanto a vocês dois, vejo que não possuem artefatos de grande poder como seus amigos, mas, como considero que minha dívida ainda não está paga, tenho algo a lhes dar! – E o forjador de armas entregou a Squall um magnífico anel prateado em formato de cabeça de dragão, que envolvia todo o seu dedo. E a Anix deu um imponente cajado com entalhes de dragões se entrelaçando e tornou a falar. – A você, Squall O Vermelho, entrego este anel, para que você se torne um vermelho por completo e assim possa cumprir sua missão. A você, Anix, entrego o Cajado do Poder Dracônico, para que utilize com parcimônia a força das criaturas mais poderosas já criadas! – E Coração de Gelo ensinou a Anix e Squall como usar os poderes dos presentes que tinham recebido.

_ Coração de Gelo! Tenho uma pergunta a lhe fazer! – disse Nailo. – Se o senhor forja armas, poderia forjar para mim uma adaga de gelo, igual ao machado que o capitão Glorin possui? Eu estaria disposto a lhe pagar qualquer quantia!

_ Ora! Meus talentos não se compram com dinheiro algum neste mundo! Mas, se deseja uma arma feita de Gelo Eterno, tome! – E o forjador presenteou Nailo com uma bela adaga.

_ Senhor, também tenho uma pergunta! Treinei muito com Glorin para me tornar um guerreiro do gelo e aprendi muito com ele. Pretendo me aprimorar cada vez mais nas habilidades que ele me ensinou e, se algum dia tiver a oportunidade, gostaria de possuir uma armadura tão poderosa quanto o próprio frio. Se, por acaso, algum dia eu encontrar o corpo de algum dragão branco, eu poderia aproveitar suas escamas para fazer sua armadura. Isso claro, se eu encontrá-lo já morto, pois eu jamais me atreveria a enfrentar um de sua espécie. – pediu Legolas.

_ Pois se você encontrar um dragão morto, não me importarei com o que você quiser fazer com sua carcaça, desde que o corpo não seja o meu ou o de minha rainha, Belugha! Aliás, saibam vocês, elfos, que as histórias contadas pelos humanos a respeito das Montanhas Uivantes são todas mentiras. Não existe demônio do gelo, fenômeno atmosférico ou qualquer outra dessas tolices. É a presença da rainha Belugha que mantém estas terras eternamente congeladas! E, se um dia, você encontrar o corpo de um dragão branco, Legolas, e tiver histórias tão interessantes para contar quanto as que me relataram hoje, traga-me o couro do dragão que eu próprio forjarei uma armadura para você!

_ Senhor! – disse Squall, ajoelhando-se diante de C. G. – Também tenho um pedido! Quero ser seu discípulo! Quero que me ensine sobre os dragões, já que em minhas veias corre o sangue de um deles!

_ Ora, essa é nova para mim! Um descendente de vermelhos pedindo a um branco para ser seu mestre! O mundo é mesmo cheio de surpresas! Pensarei em seu pedido, Squall! Agora partam todos vocês, pois tenho muito a fazer, e se um dia tiverem novas histórias para me contar, terei prazer em ouvi-las! Adeus elfos, e boa sorte a todos! Disse Coração de Gelo, despedindo-se dos heróis. Squall abriu o pergaminho mágico, evocando o feitiço de teletransporte e, antes de desaparecer, fez um último pedido a Coração de Gelo.

_ Coração de Gelo! Antes de partir, mostre-me como é sua verdadeira aparência!

E o elfo revelou sua verdadeira forma e era a de um terrível dragão branco. E num piscar de olhos, os heróis foram transportados para muito longe dali, para o único lugar que conheciam no mundo onde poderiam encontrar alguém que os guiasse até Galrasia. A cidade portuária de Malpetrim, o lugar onde anos antes a jornada dos heróis tinha se iniciado.

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