dezembro 05, 2005

Capítulo 144 - Cuidado onde pisa Nailo

Pensando nisso, Nailo e Sairf seguiram juntos para o início do corredor. Com o mesmo pensamento, Lucano se dirigiu à porta em frente da sala onde o manequim estava. Duas outras portas se abriram. Uma pelas mãos do clérigo. A outra, sob os pés de Nailo. Lucano entrou num pequeno quarto, onde encontrou mais alguns corpos de anões e orcs, mortos há séculos, e totalmente despidos. Rumou para a sala ao lado, onde encontrou cena parecida com a anterior. Começou a vasculhar tudo, em busca de algo que pudesse levá-lo até a noiva de seu amigo, mas nada encontrou. Enquanto isso, Nailo e Sairf entravam em outro quarto para também revistá-lo em busca de pistas que conduzissem ao paradeiro de Liodriel.
Era um aposento espaçoso e ricamente decorado. Nele havia uma grande cama, coberta com lençóis requintados já desgastados pelo tempo. Um grande armário ficava no canto esquerdo e ao lado dele havia um balcão de pedra polida que lembrava um pequeno altar. Sobre ele havia alguns papéis empoeirados e sujos. Dois candelabros prateados ficavam ao lado deste altar, e tinham pequenos resquícios de velas presos a ele. Ao lado da cama havia uma pequena cômoda de carvalho, recoberta de teias de aranha, assim como todo o restante do aposento. Uma bela escrivaninha, finamente entalhada na mais nobre madeira ficava diante da cama. E cobrindo quase todo o chão do quarto havia um maravilhoso tapete alto e felpudo, todo vermelho e com desenhos exóticos bordados em fios azul turquesa.
O lugar parecia intocado há séculos. O estado dos objetos, a camada de poeira e as teias que cobriam o lugar davam a entender que ninguém entrava ali há muito tempo. Receosos, os dois aventureiros resolveram investigar com cautela. Sairf usou sua mágica e, apontando sua mão direita para dentro do quarto, tentou detectar a existência de alguma armadilha mágica. Mas, nenhuma aura foi sentida pelo mago. Não havia nenhum perigo aparente, nenhuma ameaça a temer. Então, Nailo entrou no quarto.
O ranger foi em direção ao fundo do aposento, caminhando cautelosamente sobre o macio tapete que recobria o piso de rocha polida. Então, quando Nailo estava exatamente sobre o centro do quarto, o tapete o atacou.
_ Cuidado Nailo! – gritou Sairf a partir da porta.
Mas, já era tarde. As quatro pontas do tapete, que media uns seis metros de comprimento e largura, se fecharam sobre Nailo. Uma das pontas golpeou com força o rosto pálido do ranger, deixando nele uma marca rubra. As outras três fizeram um movimento rápido e sincronizado e enrolaram-se ao redor do aventureiro que lutava contra aquele estranho ser.
Nailo ficou preso dentro do tapete, totalmente indefeso, e começou a ser esmagado por ele. O ar ia sendo retirado de seus pulmões à força, deixando em seu lugar apenas a poeira que revestia o tapete e agora sufocava Nailo, enquanto Sairf tentava ajudar o amigo de todas as formas.
Sairf invocou seus poderes mágicos e concentrou sua mente em seu amigo. Dentro do tapete, Nailo começou a ser revestido por um líquido viscoso e escorregadio. Mas também ficava cada vez mais difícil para ele respirar, pois o líquido quase cobria sua cabeça, impedindo-o de sorver o pouco ar que havia dentro do tapete. Com a ajuda do mago, Nailo tentou se livrar do tapete, mas ainda assim, mesmo deslizando como um peixe ensaboado, era muito difícil escapar daquela situação.
Sairf gritou por ajuda e correu até o Tapete. Abriu um buraco nele com sua adaga e Nailo assistiu, imóvel, à ponta da lâmina penetrando poucos centímetros acima de sua cabeça. Graças à ajuda de seu amigo, Nailo conseguiu finalmente escapar, deslizando para fora do tapete por baixo dele.
Mas, aquele grotesco monstro de tecido não desistiria assim tão fácil. O tapete atingiu Nailo novamente e o segurou, erguendo-o do chão. Nailo se debatia, tentando se livrar do inimigo. Sairf arremessou sua adaga entre as pernas de Nailo, ferindo o tapete. Mesmo assim o monstro não o largava. Finalmente os outros chegaram para ajudar. Lucano usou seus poderes para dissipar a magia que havia dado vida àquele objeto. Mas nem isso funcionou.
Sem hesitar, o tapete se curvou para trás, fazendo com que os pés de Nailo resvalassem no teto da sala, e o atirou com força sobre Lucano. Os dois heróis se chocaram com violência e caíram no chão. Lucano gemeu e amaldiçoou o objeto animado. Nailo nada disse. Estava inconsciente.
Sairf disparou sua besta contra o tapete e se colocou entre a criatura e seu amigo desmaiado. Sam usou sua explosão sonora para segurar o objeto que caminhava na direção de todos, enquanto Squall se atirou na direção de Nailo, com uma poção mágica nas mãos, para tentar salvá-lo da morte. Caído e com o companheiro deitado sobre si, Lucano orou a Glórien, pedindo sua ajuda para seu amigo. Nailo despertou, muito fraco, rolou de lado, saindo de cima de Lucano. Pegou um vidro em sua algibeira e rapidamente engoliu uma poção mágica, refazendo-se do susto.
Legolas gritou, e uma flecha atravessou o tapete, que parecia nada sentir. O objeto cercou os heróis dentro do quarto e golpeou Legolas com força. O monstro se encolheu, enrolando-se nos heróis que estavam diante dele. Numa fração de segundo, todos curvaram seus corpos para trás, enquanto golpeavam o tapete com as mãos e os pés. Todos conseguiram se livrar do ataque do monstro e escapar de seu abraço assassino. Todos menos Legolas. No lugar onde o elfo estava restava apenas seu arco caído no chão. Sam também não estava presente. Dentro do tapete, que formava um rolo que atingia quase a altura do quarto, havia uma saliência volumosa grande o bastante para caberem duas pessoas. No pequeno espaço que havia entre o chão e o tapete, os pés de Sam e Legolas se entrelaçavam numa dança desesperadora. O tapete começo a esmagar os dois, que pediam ajuda aos amigos enquanto suas costelas eram esmagadas.
Squall atendeu ao apelo dos amigos e lançou um raio de chamas mágicas no topo do tapete. O objeto, feito de tecido, certamente não resistiria às chamas do feiticeiro. O monstro se incendiou, e as chamas começaram a descer rapidamente, consumindo a estranha criatura que saltitava desesperada. Agora, Legolas e Sam corriam mais perigo ainda. Além de terem seus ossos esmagados, poderiam morrer asfixiados pela fumaça ou carbonizados.
Todos ficaram aflitos. As chamas avançavam rapidamente em direção aos seus amigos. Era preciso fazer algo rápido ou os dois queimariam até os ossos. Lucano se concentrou e pediu ajuda para sua deusa novamente. A espada abençoada por Glórien surgiu ao lado de Lucano, brilhando como o sol e disparou contra o tapete. Um enorme buraco se abriu entre as chamas e as cabeças de Legolas e Sam. O ar entrou pela fenda, refrescando os dois heróis presos, mas também alimentou as chamas que começaram a consumir com maior rapidez o tecido. Lucano e Squall perceberam o engano que haviam cometido e se arrependeram. Agora seus amigos estavam em situação critica por causa de suas tentativas de ajudar.
Anix, que só agora chegava com Nevan, pegou um amuleto de madeira que até então mantinha guardado e pronunciou uma palavra mágica. O medalhão, que ele havia retirado do covil do kopru quando ainda estavam sob ameaça dos sahuagins no Mar Negro, se transformou em um grande leque, quase tão grande quanto uma pá. Anix tomou o leque em suas mãos e o agitou com força. Um verdadeiro turbilhão de ar se formou dentro da sala, capaz de jogar todos contra as paredes. A cama foi arrastada, as portas do armário abriam e fechavam freneticamente. O tapete foi jogado contra a parede, junto com Legolas e Sam. Com a força do golpe, o objeto se abriu, libertando os dois aventureiros. Tudo estava escuro agora e, quando Sairf finalmente reacendeu sua vela, todos puderam ver o tapete sem vida, caído no canto do quarto.

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