dezembro 15, 2005

Capítulo 160 - Lágrimas de uma deusa

Então, algo mágico aconteceu. O corpo de Draco foi envolvido por uma luz muito forte e brilhante, mas que não ofuscava quem olhasse para ela. Todos ficaram paralisados vendo aquele fenômeno. Não poderiam se mover um centímetro sequer, mesmo se tentassem. Apesar disso, sentiam uma grande sensação de paz e tranqüilidade. A luz vinha do alto, surgindo do nada no céu da caverna. De repente, os heróis ouviram o som de passos atrás deles. Viraram suas cabeças para olhar e testemunharam, maravilhados, o caminhar de uma bela dama élfica que pisava sobre as pedras do lago.
Tinha cabelos lisos e curtos, num tom roxo que ressaltava o brilho de seus belos olhos amendoados. Trajava um vestido verde como a mais bela esmeralda, e seu corpo era adornado com pulseiras, colares e brincos de ouro. A bela elfa passou entre os heróis, indo em direção a Draco. Todos ficaram espantados e muito emocionados quando ela se curvou sobre o corpo do elfo morto e beijou-lhe a testa com doçura.
_ É claro que eu o perdôo, meu filho! – disse a bela elfa com uma voz tão suave a ponto de ser capaz de amolecer o mais duro e gélido coração. Os heróis não contiveram a emoção, ao entender que quem estava diante deles era ninguém menos que a mãe de todos os elfos. Diante deles estava a deusa dos elfos, Glórien.
_ Eu o perdôo meu filho amado! No último instante você se arrependeu de ter traído seus irmãos, por isso, você terá um lugar em meu reino! Eu o levarei para Nivenciuén!
Glórien se levantou, e voltou seus olhos para os aventureiros que testemunhavam a tudo com temor e admiração. Calmamente, a deusa dos elfos se aproximou de Legolas e Liodriel, que se abraçavam com ternura, e continuou.
_ Estou orgulhosa de você meu filho! Seu amor puro e verdadeiro lhe deu forças para superar todos os desafios e chegar até este lugar, para salvar sua amada e ser salvo por ela! O amor de vocês é belo e verdadeiro, e nada pode vencer este amor! Agora que tudo acabou, vocês poderão viver seu amor em paz!
A deusa se afastou do casal sorrindo, e se virou para Nailo, com seus belos olhos amendoados expressando tristeza.
_ Sua coragem, e o amor por seus irmãos são qualidades a serem louvadas! Por diversas vezes você arriscou sua própria vida para protegê-los! Mas essa coragem fez com que você agisse imprudentemente algumas vezes e corresse riscos desnecessários! Tome mais cuidado daqui para frente e valorize sua vida, a vida que eu lhe dei! Você tem uma longa vida pela frente ainda! Não gostaria de vê-lo tão cedo em meu reino!
Nailo compreendeu as palavras de sua deusa mãe e baixou sua cabeça em sinal de respeito. Glórien se afastou dele e foi até Anix.
_ Meu filho querido! Meu doce Anix! Se coração é puro e bondoso! Por diversas vezes você liderou seus amigos, encerrando as discussões que tiveram em momentos de crise. Sua bondade é muito bonita, mas também é perigosa! Você é puro e ingênuo! Deve tomar muito cuidado com a maldade que existe neste mundo! Para não cair em novas armadilhas! Aquela mulher que lhe beijou lá em cima, era uma demônia disfarçada. Ela havia sido convocada há muito tempo por um mago que tentou invadir estas cavernas e padeceu sob os ataques dos monstros que infestam esse lugar! Antes de morrer, porém, o mago lançou um último feitiço aprisionando aquela mulher-demônio! Ela só poderia se libertar caso uma pessoa bondosa ousasse atacá-la, ou fosse estúpido o bastante para lhe dar permissão para sair! E você Anix, caiu na sua armadilha diabólica, se deixou iludir por todas as mentiras que ela disse e a libertou de seu cativeiro! Deves tomar mais cuidado para não ser enganado novamente!
Anix baixou a cabeça, compreendendo as palavras de sua deusa e entendendo o erro que cometera. Glórien se afastou de Anix, e foi na direção de seu irmão Squall.
_ Estou muito triste meu filho! Vocês venceram um grande desafio hoje e eu me orgulho disso! Mas sinto que eu o estou perdendo! Essa marca em sua cabeça é um sinal de que em suas veias corre o sangue dracônico! Sim, você descende dos filhos de Megalokk, e você também Anix! Um de seus antepassados de muitas eras atrás era um dragão vermelho! Essa marca é o símbolo da herança deste ancestral! Essa herança é muito mais forte em você do que no seu irmão! Agora, meu filho, cabe somente a você decidir se irá seguir a herança de Megalokk, ou se permanecerá ao meu lado! Você deve escolher entre ele e eu! Espero não me decepcionar com você Squall! Espero que você não me renegue, não quero perder outro de meus filhos!
Glórien se afastou de Squall. Os olhos da deusa estavam cheios de lágrimas prateadas como a lua. Squall abaixou a cabeça, deixando cair suas lágrimas. Ele não desejava magoar sua deusa, mas já havia feito sua escolha. Squall estava decidido a despertar e dominar seus novos poderes, herdados de seu antepassado dragão. Squall agora era um filho que dava as costas para sua própria mãe.
_ Você meu filho querido, meu amado Nevan! Você passou por diversas provações dentro desta montanha! Foi capturado por aqueles orcs nojentos e desprezíveis, foi espancado por eles, torturado e violentado diversas vezes! Mesmo assim, você nunca perdeu sua fé e sempre confiou em mim! Agora seu sofrimento acabou e você poderá descansar e viver feliz!
Glórien foi até os únicos dois humanos presentes no lugar. Humanos, aqueles que no passado deram as costas aos elfos quando sua cidade sagrada caiu nas mãos das hordas hobgoblin. Humanos, aqueles que se espalhavam como ervas daninhas por todo o território artoniano. Mas Glórien não sentia nenhum rancor por aqueles dois humanos.
_ Vocês dois humanos, são um exemplo a ser seguido pelos da sua raça! Corajosos e leais, vocês nunca abandonaram seus amigos e protegeram as vidas de meus filhos arriscando as suas próprias! Você, bardo, até chegou a dar sua vida para salvá-los! Esta marca em sua testa é o símbolo de Allihanna! Agora sua alma pertence a ela, quando partir deste mundo, você irá para os bosques dela! Ela lhe trouxe de volta do mundo dos mortos, através da maçã mágica que a invocou e selou esse pacto! Ela lhe deu uma nova vida, portanto agora sua vida pertence a ela! A vocês dois, humanos de grande valor, eu agradeço por tudo que fizeram pelos meus filhos! Serei eternamente grata a vocês dois!
Sairf e Sam choraram emocionados ao ouvir as palavras de agradecimento da deusa. Não imaginavam serem capazes de um dia estar diante de um deus ou dois, quanto mais receber dele sua gratidão e reconhecimento. Chegava agora a vez de Lucano ter com sua senhora.
_ Lucano meu filho! Meu amado filho, meu devoto fiel e querido! Estou feliz e triste com você ao mesmo tempo! Feliz porque você sempre cuidou de seus irmãos como se cuidasse de sua própria vida! Isso me deixa muito orgulhosa! Por outro lado, estou triste por vê-lo atacar um de seus irmãos! Mais do que os outros, você deveria zelar pela paz e harmonia entre os elfos, essa é sua missão sagrada! Mas, ao invés de impedir, você participou desta batalha sangrenta e cruel, na qual um de seus irmãos perdeu a vida! Isso me entristece! Lembre-se disso no futuro e não me deixe triste novamente!
Glórien se afastou de Lucano deixando lágrimas sagradas caírem sobre Arton, e ficou no centro do grupo. Olhou para todos com ternura, secando suas lágrimas e prosseguiu.
_ Antes que eu me vá, eu lhes contarei a história deste lugar. Há mais de duzentos anos, o ferreiro anão Durgedin vivia aqui, forjando suas armas que eram famosas e apreciadas em muitos reinos. Um dia, um bando de orcs vindos do oeste tentou invadir este local, mas foi impedido pelos anões. Os orcs tramaram, planejaram e, muito tempo depois da primeira batalha, eles escavaram um túnel para invadir Khundrukar, o salão do esplendor! Os orcs entraram pelo túnel, o mesmo túnel por onde vocês viram os trogloditas fugindo, e mataram todos os anões, conquistando assim a montanha! Os orcs amaldiçoaram o ferreiro Durgedin para que ele nunca mais retornasse a vida, e deixaram um de seus guerreiros vigiando-o por toda a eternidade. Se Durgedin se levantasse, o orc também retornaria para destruí-lo mais uma vez. Anos se passaram e um bando de trogloditas também invadiu a montanha, pelo mesmo túnel escavado pelos orcs e uma nova guerra começou! Os orcs e os trogloditas dividiram o território, ficando cada povo com um andar. Depois chegaram os Duergar, vindos das profundezas da terra. Os anões cinzentos, que podem magicamente aumentar seu tamanho, tomaram para si a antiga forja de Durgedin e lá eles permanecem até hoje, forjando armas e tentando resgatar as técnicas secretas e lendárias do famoso ferreiro para usá-las em seu favor. Então chegou Escamas da Noite e conquistou o território do lago, terminando de repovoar a montanha. Anos atrás, um grupo de aventureiros tentou invadir Khundrukar em busca de tesouros! Vocês encontraram a mochila de um deles ao lado de um dos túmulos. Um destes aventureiros era um mago que durante o combate contra os mortos-vivos, invocou uma súcubo para ajudá-lo na batalha. O mago morreu mas antes disso, aprisionou Idalla. Você Anix, a libertou e agora ela irá procurar pelo mago que a prendeu. Entretanto, o mago já morreu há muitos anos! Você encontrou o corpo dele Nailo, no andar de cima. Aquele homem barbado, que jazia ao lado de um Duergar, era o tal mago!
Glórien deu uma breve pausa, caminhou para perto de Draco entristecida e continuou sua história.
_ Vocês chegaram aqui, destruíram todos os orcs, expulsaram os trogloditas, superaram os duergar, os mortos-vivos e Escamas da Noite! Estou orgulhosa de todos vocês, meus filhos! Agora é hora de eu ir!
A deusa se aproximou de cada um de seus filhos elfos e lhes presenteou com um beijo na testa. A cada beijo, os heróis percebiam que todos os ferimentos e todos os males que haviam sofrido dentro da montanha desapareciam. Glórien tomou as mãos de Sair e Sam, agradecendo-os e curou-os também. Depois da despedida, a deusa foi até onde estava o corpo de Draco.
_ Vamos, meu filho! É hora de irmos embora! – disse a deusa.
O corpo de Draco brilhou como o sol e seu espírito o abandonou para ficar em pé ao lado da deusa.
_ Agora eu irei libertar as almas daqueles que aqui morreram e que ainda não encontraram seu descanso! Quanto a vocês, meus filhos! Sua missão aqui terminou! Partam pelas águas, conforme Draco lhes disse e sigam seus destinos! – continuou a deusa.
Glórien se afastou dos heróis caminhando sobre as águas mansas do lago subterrâneo. Draco a acompanhava de perto.
_ Glórien! O que significam aquelas visões que nós tivemos? – perguntou Anix.
_ Isso, somente Allihanna poderá lhes dizer! – respondeu a divindade.
Draco parou junto com Glórien ao lado dos corpos de Isaulas, Celilmir e Saudriel. Ela os olhou com ternura e fez um delicado gesto com suas mãos.
_ Levantem-se meus filhos queridos! É hora de partir!
As almas dos elfos derrotados pela dragonesa saíram de seus corpos amaldiçoados e ficaram ao lado de Glórien.
_ Você também, meu filho! Venha! – a deusa acenou com a mão, para o local onde Arwind havia sido despedaçado pela magia de Squall. O espírito do elfo caminhou sorridente por entre os heróis e por sobre as águas e se juntou aos seus companheiros.
_ Tomem muito cuidado, meus filhos! Tenham uma vida longa e próspera! E lembrem-se, estarei sempre olhando por vocês! Nos encontraremos novamente no futuro! Adeus! – Glórien acenou para os heróis, despedindo-se com um sorriso e os olhos cobertos por lágrimas.
_ Perdão amigos! E Adeus! – Despediu-se Draco – Perdão amigo bardo! Não me sobrou mais nenhum presente para lhe dar! – concluiu, dirigindo-se a Sam.
_ Não se preocupe com isso meu amigo! Você acaba de me dar o melhor presente que um bardo poderia receber! Esta é a mais bela canção que já ouvi em toda a minha carreira! Sua história será contada por mim onde quer que eu vá! E seu nome, e o de todos que participaram desta história, será levado aos quatro cantos de Arton! Todos vocês serão conhecidos como verdadeiros heróis! – respondeu Sam.
Uma forte luz envolveu Glórien e as almas que estavam ao seu lado. O brilho foi aumentando e se tornando cada vez mais intenso, até tomar conta de toda a caverna. Quando o brilho mágico desapareceu, e a caverna foi novamente entregue às trevas, a deusa e seus filhos já não estavam mais lá. Somente quando Legolas e os outros elfos ali presentes morressem e fossem para Nivenciuén, o reino de Glórien, é que eles poderiam reencontrar Draco e os outros.

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