dezembro 12, 2005

Capítulo 154 - Turbilhão de fogo. O fim do pesadelo

Legolas se afastava cada vez mais de seus amigos, obcecado por chegar ao esconderijo de Draco. A cada passo que dava, caminhando de costas, disparava suas flechas no peito de seu velho amigo de infância, Arwind. Legolas já estava sobre a segunda ponte de pedras, um local traiçoeiro e perigoso caso ele fosse atacado. Lá longe, distante de seus amigos, Legolas não poderia contar com a ajuda de ninguém caso viesse a ficar no mesmo estado de Lucano. Vendo isso, Nailo guardou suas espadas e recolheu seu arco do chão para poder dar cobertura para seu amigo, mesmo à distância. Enquanto isso, Sam trazia Lucano de volta ao mundo dos vivos com sua canção mágica. Nailo entregou a Sam a poção que havia pegado de Anix e preparou seu arco para atacar.
Então, aquilo que Nailo temia aconteceu. Escamas da Noite surgiu de dentro da fria e escura água do lago num salto e caiu sobre os pilares de pedra que se alinhavam na superfície da água. A criatura se colocou entre Legolas e o lugar que o elfo pretendia alcançar. Suas presas penetraram na no crânio do arqueiro, rasgando sua pele e derramando seu sangue quente.
_ Aonde pensa que vai, seu verme? – rugiu a dragonesa, com os dentes manchados de sangue élfico.
Legolas pensou em recuar, mas não havia como fazê-lo. Logo atrás dele estava Arwind, cercando-o e obedecendo cegamente às ordens do monstro. Lucano se levantou e, da mesma forma que Sairf, usou seus poderes para invocar auxílio. Sairf, por sua vez, fez surgir um grande tubarão branco que avançou na direção da dragonesa deslocando-se pela água. Sairf disparou sua besta para tentar ajudar Legolas, mas Escamas da Noite desviou o virote com sua poderosa asa novamente. As outras criaturas invocadas pelo mago avançaram, prontas para atacar assim que possível. Entretanto, isso gerou um problema inesperado. O gigantesco corpo da centopéia ocupou totalmente a única passagem que Sairf e Anix tinham. Anix tentou subir no corpo do inseto, mas não conseguia avançar. Nevan tentava ajudar seu amigo, mas não havia como transpor aquele monstro. Era preciso esperar que ele saísse do caminho.
O único em condições de ajudar Legolas era Squall. O feiticeiro já estava muito perto de seu companheiro e continuou correndo pelo caminho de pedras até chegar à ilha. Uma rajada de energia mágica foi suficiente para eliminar Arwind e liberar espaço para que Legolas pudesse recuar. O segundo disparo explodiu o peito do morto-vivo, deixando-o aos pedaços diante de Legolas. O terceiro tiro atingiu o rosto da dragonesa.
_ Vermelho maldito! Revele-se logo de uma vez e venha me enfrentar! Se não o fizer eu irei destruí-lo do jeito que está mesmo! – gritou Escamas da Noite para Squall.
Legolas aproveitou a distração criada por Squall e sacou uma flecha. Recuou para a pedra de trás ao mesmo tempo em que disparava. A flecha atingiu o peito do monstro mas, ficou em pedaços ao se chocar nas poderosas escamas negras. A criatura voltou sua atenção novamente para o guerreiro, no exato instante em que a segunda flecha atingia seu pescoço. O projétil penetrou fundo no corpo do monstro, arrancando um grito de dor que podia ser ouvido a muitos metros de distância. A dragonesa se irritou com o insulto causado pelo arqueiro e o ameaçou.
_ Você será o primeiro a morrer! Maldito! – gritou o monstro, abrindo sua boca e exibindo seus dentes afiados para Legolas.
Escamas da Noite avançou sobre Legolas, sem nem se importas com as flechas disparadas por Nailo. A ajuda do ranger parecia ser insuficiente para deter a fúria daquela besta. Os dentes rasgaram o peito de Legolas de tal forma que era como se ele não vestisse armadura alguma. As duas asas vieram tão rápidas quando a mandíbula e se fecharam sobre o corpo do arqueiro, escurecendo seus olhos. Os membros se chocaram com tamanha força que o chão estremeceu. Quando Escamas da Noite recolheu as asas, Legolas estava caído, completamente indefeso. O monstro ergueu sua pata direita, fazendo suas poderosas garras refletirem a luz das tochas, e atacou o corpo desfalecido de Legolas. Todos fecharam os olhos, desejando não ver o fim de seu grande amigo, quando olharam novamente, a dragonesa exibia o corpo do elfo e sua mão.
_ Segure isso, vermelho! Olhe bem o estado em que você irá ficar! Você será o próximo! – Escamas da Noite desafiou Squall mais uma vez e arremessou o corpo de Legolas sobre o feiticeiro. – Meu ácido irá corroê-los por completo! – a saliva corrosiva da fera já voltava a transbordar de sua boca.
Squall abriu os braços e agarrou Legolas. A cabeça do arqueiro se chocou na boca de Squall, deixando-o zonzo. Os dois caíram no chão com a força do impacto. Para sua felicidade, Squall ainda ouvia o coração de Legolas pulsando.
_ O Legolas está vivo! – gritou Squall, protegendo-se e a seu amigo atrás da mureta de rocha.
Lucano abriu os olhos, seus lábios se moveram lentamente, formando as últimas palavras mágicas para concluir sua evocação. Sam o interrompeu.
_ Lucano! O Legolas ainda está vivo, mas o monstro vai atacá-lo novamente! Corra até lá e o salve com sua magia de cura!
_ Sim! Itimali dieü! Ae ü dürdüdü! – Lucano concluiu o feitiço chamando ajuda em seu idioma. Um enorme cachorro surgiu em sua frente. – Vamos, corra o mais rápido que puder! – gritou Lucano para o animal ao saltar sobre seu dorso.
O cão correu conforme ordenado, carregando Lucano em suas costas. Lucano levantou-se e, quando o animal alcançou a passarela de pedras, saltou de seu lombo. O clérigo passou sobre a mureta que cercava a ilha, caindo em pé sobre ela. Aproveitou o impulso dado pelo salto e se atirou de joelhos sobre o chão. Lucano deslizou de joelhos sobre as peles que cobriam o lugar, parando diante do corpo de Legolas. Estendeu suas mãos sobre o amigo e orou por ele.
_ Tüliamüji Glórien, liea liüj aneüj, dema ajga düjjü eonü igmideij lia lorij lieüj! – (poderosa Glórien, mãe dos elfos, cure este vosso filho através de minhas mãos!) as mãos de Lucano emitiram um brilho dourado que envolveu todo o corpo de Legolas. O arqueiro despertou agradecendo ao fiel amigo e deslizou sua mão para dentro de sua bolsa, retirando dela um frasco com um líquido verde-escuro. Legolas tomou a poção mágica, enquanto Lucano o puxava para trás do muro de pedras. Enquanto isso, longe dali, os heróis preparavam o contra-ataque decisivo.
_ Sairf, Anix, preparem seus feitiços de ataque mais poderosos! Nevan, Nailo, preparem seus arcos! Todos vocês vão atacar ao meu sinal! – Sam tinha um tom de voz firme e decidido. Enquanto falava, suas mãos corriam ligeiras sobre seu alaúde, ajustando suas cordas uma a uma. - Squall! Você ainda tem aquela magia sonora? – gritou o bardo.
_ Sim, Sam! Por que pergunta? – respondeu o feiticeiro que se encolhia atrás das pedras.
_ Proteja-se bem e prepare-se para usá-la ao meu sinal! Você vai usá-la quando vir meu sinal no céu! Quando você estiver no céu! – ordenou Sam, deixando todos confusos.
Sem entender o que o bardo pretendia, mas também sem perder tempo com perguntas, todos atenderam ao seu pedido. Nevan e Nailo prepararam seus arcos e apontaram na direção de Escamas da Noite. Sairf já tinha usado todas as suas magias mais poderosas, mas Anix lhe entregou o colar mágico de Kaarghaz e os dois se prepararam para lançar suas bolas de fogo quando o bardo desse o sinal. Squall se encolheu ainda mais atrás do muro e ficou a olhar para cima, esperando pelo misterioso sinal de Sam.
Escamas da Noite continuou avançando sem se importar com o plano do bardo. Esticou seu pescoço sobre a mureta e viu Legolas terminando de ingerir sua poção. Seu peito ganhou volume enquanto a dragonesa tomava fôlego e encarava o arqueiro.
_ Não adianta tomar essa poção! Você não escapará maldito! – rugiu a dragonesa, cuspindo uma rajada de ácido sobre o peito de Legolas. O elfo tentou se proteger, mas não havia meios para isso. A saliva cáustica do monstro queimou seu corpo e corroeu toda a parte de frente de sua armadura, deixando Legolas totalmente desprotegido e muito enfraquecido. – Vou dar o último golpe! É o seu fim! – continuou o monstro.
_ É agora! – Sam tocou seu alaúde. Era uma melodia que todos conheciam, a mesma música que Sam havia tocado no caminho para Tollon, fazendo surgir uma dama ilusória no meio da estrada. A mesma música usada para fazer surgir um homem nu diante dos trogloditas e permitir a fuga de todos. Mas agora ela estava diferente, era um som mais grave e mais rápido, que chegava a ferir os ouvidos. Todos viram então a figura de um dragão vermelho surgir voando sobre o lago. Imediatamente, Squall compreendeu o sinal e agiu.
_ Você queria enfrentar o vermelho? Pois então venha maldita! – gritou Squall, usando sua magia para fazer sua voz parecer sair do dragão que pairava no céu. Ao mesmo tempo, Sam dedilhava seu alaúde fazendo com que a boca do dragão ilusório se movesse em sincronia com a voz de Squall.
_ Então resolveu se mostrar?! Vermelho maldito! Agora eu vou destruí-lo por completo! – gritou escamas da noite, batendo suas asas e levantando vôo.
A dragonesa voou na direção da ilusão, afastando-se de Legolas e dos outros. Suas garras foram direto na direção da garganta de seu inimigo rubro, atravessando a ilusão como se fosse um fantasma. Quando ela percebeu a armadilha em que caíra era tarde demais.
_ AGORA!!! – gritou Sam para seus amigos ao seu lado.
Anix apontou sua mão na direção do monstro. Uma esfera voou pela caverna, acompanhada de uma conta avermelhada arremessada por Sairf. Duas flechas seguiram lado a lado. Uma em chamas, disparada por Nailo, e a outra disparada por Nevan. Quando se aproximaram do monstro os objetos desviaram sua rota, como que atraídos pelo corpo da dragonesa, colidindo diretamente sobre seu coração. Uma enorme explosão se formou, iluminando toda a caverna. Todos ficaram espantados com o poder do ataque. Junto com a explosão vieram as chamas, que envolveram o corpo da fera, criando um turbilhão incandescente. O redemoinho de fogo se desfez numa nova explosão, fazendo tremer todo o teto da gruta. Quando tudo se acalmou, todos viram o corpo negro de Escamas da Noite caindo, já sem vida, em direção ao lago. A terrível dragonesa, que há tempos tirava o sono dos heróis com pesadelos horríveis, deu seu último e definitivo mergulho nas águas escuras. Escamas da Noite afundou lentamente, levando consigo suas ameaças e seus desafios. Seu couro negro desapareceu completamente, submergindo sob as dentadas e os poderosos golpes desferidos pelo tubarão e pelo elemental de água invocados por Sairf.
_ Nãããããooo!!! Malditos! Mataram minha mulher! Vou matar todos vocês! Desgraçados!!!
Saindo de dentro da caverna secreta do tesouro, estava Draco. O elfo vestia um manto esverdeado sobre uma armadura feita do mais refinado metal. Um arco branco como a neve emitia um brilho frio em suas mãos. Sacando suas flechas com os olhos vermelhos de ódio, Draco avançou na direção dos heróis.

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