março 02, 2005

Capítulo 39 - Inferno subterrâneo

Permanecem vários minutos ali, calados, tensos, acuados. De repente, o som de passos e uma respiração ofegante quebram o silêncio. Alguém entra na caverna. É um homem, um soldado ferido, sua armadura destroçada e corroída pelo ácido. Ele se senta no chão, encosta-se em uma rocha e lá permanece.
Brazuzan vai até ele. O homem o saúda e lhe pergunta se ele faz parte do exército. O bardo nega e pergunta qual a situação da batalha. A resposta assusta a todos.
_ Estamos sendo massacrados, os demônios são muito mais fortes e numerosos do que tínhamos previsto. As magias de proteção, conjuradas por Talude e Vectorius, foram dissipadas com a mesma facilidade que se espanta um pássaro. Os magos do meu pelotão disseram sentir uma aura mágica muito poderosa dissipando nossa proteção. Um poder capaz de rivalizar com os deuses. – explica o soldado, demonstrando cansaço.
_ Cale-se! – Grita Adrian, irritado.
_ Não se preocupe meu amigo! Meu tempo está terminando, em breve me calarei para sempre. Não meu jovem, não disperdice sua mágic de cura comigo, pois aqui na Tormenta, nenhum tipo de cura funciona! – responde o homem, acenando negativamente com a mão para Brazuzan que se preparava para curá-lo com magia.
Todos perguntam a Elver se ele também recebeu a tal magia de proteção. Ele diz que sim, e Jack pede a ele para testar se a magia ainda está ativa. Elver põe a mão para fora da caverna, e a dor cauada pela chuva ácida comprova que as magias de proteção lançadas pelos maiores magos viventes foram dissipadas.
Adrian se levanta com seu machado em mãos, vai até o homem e num golpe só, arranca-lhe a cabeça. Como se fizesse um ritual, ele arranca o coração do infeliz homem e toma seu sangue. Recolhe parte do sangue em um frasco e o guarda. Desenha no tórax dilacerado um pentagrama com sangue do próprio cadáver. Todos ficam atônitos.
Ninguém esboça qualquer reação. Sabiam que, em breve, todos fariam companhia ao pobre soldado no além. O que o estranho ser fizera fora somente abreviar o sofrimento do pobre homem. Após algum tempo, Elver vai até o cadáver do homem e o examina. Nele, além de alguns frascos contendo líquidos desconhecidos, ele encontra um mapa parcialmente danificado, e os guarda consigo.
Ficaram em silêncio novamente, todos juntos no fundo da caverna, por muito tempo. Vez ou outra, ouviam os passos e viam o vulto de algum demônio passando em frente à caverna. Provavelmente procuravam sobreviventes para eliminá-los. Todos sabiam que seriam encontrados em breve, mas não podiam fazer nada além de esperar até que a chuva parasse.
Então o momento aguardado chegou. Um demônio com um dos braços em forma de arco e o outro com poderosas garras invade a caverna. Um Shimay. Arrancando um espinho de quase um metro das costas e o posicionando-o no arco, com a ponta gotejando uma secreção espessa. Todos se prepararam, era a primeira batalha deles na Tormenta.
Legolas reage mais rápido, disparando seu arco com empenho, beneficiando-se de sua técnica Flecha Infalível, e atinge o inimigo na cabeça. O tiro do elfo não é suficiente para aniquilar a criatura que revida o ataque com uma de suas flechas-espinho. O ácido secretado pelo monstro dissolve o local atingido da armadura de Legolas, deixando nela um enorme buraco. Ao mesmo tempo, Adrian entra em estado de fúria, sem sequer se mover, apenas aguardando o momento para atacar. Brazuzan evoca seus poderes mágicos, e com sua bandola entoa uma canção para inspirar coragem em seus aliados. Jack Ripper sente os efeitos do encanto do menestrel e a flecha disparada de seu arco fere a besta mortalmente. Feanor avalia a situação cautelosamente, mas, num ímpeto de coragem, Elver corre até a entrada da caverna e golpeia o demônio com seu punho, mesmo sabendo que a chuva corrosiva iria feri-lo. Embora tenha seu braço sido queimado pelo ácido, o monge consegue desferir um poderoso golpe, deixando o inimigo atordoado. Ele avisa seus companheiros para aproveitarem a chance, enquanto a criatura está indefesa. Legolas aproveita a oportunidade criada pelo monge e crava dois projéteis no Shimay, lançando-o ao chão, já quase sem vida. Brazuzan retira de sua bolsa mágica uma pequena esfera que se torna um leão assustador. O animal age sob o comando do bardo, e ataca o shimay, arrancando-lhe um pedaço do tórax. Adrian corre para a entrada, o machado pronto para dar o golpe final. Entretanto, o peso de seu corpo faz com que o chão, já bastante arruinado pelo ácido que invadira aquela caverna nos últimos tempos, ceda repentinamente. O bárbaro despenca cerca de seis metros, até finalmente chocar-se com o solo no subterrâneo.
Jack Ripper, com uma flecha amarrada a uma corda, trás o corpo sem vida do Shimay para dentro da caverna. Tenta armazenar o ácido secretado pelo cadáver, mas desiste da idéia ao ver o pequeno frasco de vidro sendo dissolvido como o sal na água. Enquanto Jack examina a estranha criatura e Brazuzan recolhe o leão para sua bolsa, Elver salta dentro da cratera para ajudar Adrian. Lá dentro os dois descobrem um túnel que se estende de leste a oeste e que talvez pudesse levá-los em segurança para fora da zona de Tormenta. Brazuzan segura a corda de Legolas enquanto o elfo desce no fosso. Depois, ele a amarra em uma rocha e desce, assim como os outros. Adrian corta a corda desnecessariamente, pois Flarow a solta da rocha e a joga no buraco. Adrian segue na direção leste, saindo da Tormenta, sem se importar com os outros. Após confabularem entre si, os demais optam por seguir o mesmo caminho do bárbaro.
Caminham vários minutos por um túnel sombrio que pouco a pouco, inclina-se em direção às profundezas de Arton. Adrian segue na frente, seguido de perto por Brazuzan que ilumina o caminho com uma tocha. O barbado esfrega o sangue do homem que matara há pouco em seu rosto bestial. O túnel termina à beira de um precipício subterrâneo. Nem mesmo a capacidade de enxergar no escuro de Adrian, permite que eles vejam o que há do outro lado do abismo, se é que o outro lado de fato existe. Sem conseguir ver o fundo ou o teto da gruta, os únicos caminhos a seguir, são dois estreitos beirais escavados na rocha, que parecem circundar o precipício.
O homem da face de bode segue pelo caminho da esquerda, atitude logo copiada por todos os outros. Eles sabem que separados, suas chances de sobreviver naquele ambiene hostil são mínimas. Assim, todos se unem para escapar com vida daquele inferno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário