março 28, 2005

Capítulo 8 - Batalha na gruta da esperança

Roryn mostrou o túnel secreto ao grupo e disse que poderiam ocultar a ausência de cerca de seis ou sete pessoas, usando bonecos feitos de palha para simularem prisioneiros dormindo. Entretanto, além dos monstros, haviam vários outros problemas a serem resolvidos para que o navio pudesse ser usado em uma possível fuga. O navio precisava ser reparado e para que isso fosse feito, precisavam de ferramentas, que deveriam ser roubadas da mina sem que os genasis percebessem. Além das ferramentas, precisariam equipar o navio com mapas e bússola para poderem se orientar na viagem de volta ao continente. Isso sem falar na comida e na água que precisaria ser armazenada no navio para alimentar os escravos durante a longa viagem de volta. Também era preciso encontrar um jeito de levar todos os escravos na fuga, pois, além de ser um ato nobre, os homens seriam necessários para remarem a embarcação e pô-la em movimento. Como se não bastasse tudo isso, ainda precisariam descobrir uma maneira de impedir que o navio de Guncha não os seguisse pelo mar quando fugissem. E o principal. Precisavam descobrir uma maneira de distrair Teztal para impedir que ele destruísse o navio com seus raios solares, que podiam alcançar qualquer um a quilômetros de distância. Todos esses problemas precisavam ser resolvidos antes que o navio da fuga pudesse partir de Ortenko, caso contrário, todos estariam condenados à morte.
As ferramentas, poderiam ser roubadas da mina com relativa facilidade, esse era o menor dos problemas. Água também podia ser conseguida na mina com facilidade e a comida, bem como mapas e bússola, teriam que ser roubados do navio de Guncha. Para todos os outros problemas, as soluções ainda deveriam ser pensadas e calculadas com calma. Entretanto, o mais importante naquele momento, era descobrir um meio de recuperarem suas armas, para poderem eliminar os monstros que viviam no cemitério de navios.
Para isso, precisariam da ajuda de Batloc, um genasi de cobre que, segundo Roryn, não concordava com as maldades praticadas por Teztal e seus homens. Teriam que aguardar até que Batloc passasse em seu turno de ronda para tentarem convencê-lo a ajudá-los a fugir. Para isso, só o que podiam oferecer em troca da ajuda era uma vaga no navio que levaria os escravos para fora daquele inferno.
Enquanto aguardavam que o genasi aparecesse, Legolas seguiu pelo túnel secreto acompanhado de um dos escravos para fazer o reconhecimento do cemitério de navios. Os dois rastejaram por um túnel apertado que se abria em uma caverna natural bem maior, com tamanho suficiente para que andassem em pé. Chegaram a uma enorme gruta natural, esculpida pela ação das ondas do mar. Um estreito beiral de pedra permitia que se circulasse por todo o lugar. Embaixo, na água, carcaças de navios destroçados dividiam o espaço com estalagmites. Um navio a remos, que podia, com poucos reparos, tornar-se navegável novamente, era a grande esperança dos escravos de Ortenko. A luz da lua em arco, refletida pela água, fornecia iluminação suficiente para que Legolas, com seus olhos élficos, pudesse ver as duas criaturas esguias deslocando-se pelas estalactites. Com seus braços longos que se projetavam vários metros para frente, como se não possuíssem ossos, os monstros foram aproximando-se lentamente do elfo até que este pôde ver suas presas afiadas brilhando sob o luar. Legolas retornou junto com o guia para a cela dentro da mina para relatar o que tinha visto aos seus companheiros.
Ao mesmo tempo em que estes fatos aconteciam, Nailo tentava fazer amizade com Yczar, seu companheiro de cela, e um possível aliado. O ranger tentava convencer o prisioneiro a ajudá-los a fugir, mas Yczar parecia não ter mais vontade de sair dali ou sequer de viver. Yczar, um paladino do deus Khalmyr, representante da ordem e da justiça em Arton, mostrava-se sem fé na justiça. O paladino, acostumado a ver tantas injustiças ocorridas dentro da mina e acostumado a levar surras cada vez que tentava uma fuga, foi perdendo aos poucos a fé na justiça e em seu deus. Não acreditava ser possível fugir dali e tampouco tinha vontade de fazê-lo. Após tanta insistência de Nailo, Yczar concordou em ajudar os escravos numa possível fuga, mais para fazer o elfo se calar do que por concordar com os seus argumentos. Yczar vivia como que num transe, entorpecido pelo longo tempo que passara presenciando espancamentos e torturas. Seria preciso algum evento extremamente forte, algo que provocasse um choque na mente do paladino para que ele voltasse a si e agisse novamente como um verdadeiro defensor da justiça.
Várias horas se passaram, já era madrugada quando Batloc adentrou na mina fazendo sua ronda noturna. Roryn chamou o genasi para perto da cela. Olhando em volta, desconfiado, Batloc aproximou-se do local de cativeiro dos heróis e soube pelas bocas de Roryn e dos aventureiros, sobre o plano de fuga. Batloc concordou em ajudá-los no que fosse possível, desde que o levassem embora dali também. O genasi aproximou-se da grade da cela, enfiou sua mão feita de cobre dentro de sua armadura e retirou um medalhão de madeira com um entalhe de uma espada e uma balança sobrepostas. Era o símbolo de Khalmyr, o deus da justiça, todos sabiam agora que Batloc estava do lado deles. O servo da justiça pediu aos heróis que aguardassem por uns trinta minutos, quando ele retornaria trazendo as armas e os equipamentos de todos. Porém, ele não poderia libertar os animais presos, pois a ausência dos mesmos levantaria suspeitas entre os outros genasis.
A espera de minutos era longa e parecia não ter fim. Nailo pediu a um dos guardas que o deixasse retornar para a cela junto com os outros. Como estava se comportando bem nas últimas horas, o vigia concedeu o pedido e o conduziu de volta para junto de seus amigos, deixando Yczar sozinho novamente. De volta à cela principal, ficou sabendo do plano de fuga e enfim percebeu qual o caminho que tinha a seguir.
No tempo combinado, Batloc retornou trazendo consigo todo o equipamento do grupo de heróis, depositou os itens na cela rapidamente e continuou a circular pela mina como se nada tivesse acontecido. Os escravos, liderados por Roryn, retiraram do túnel os bonecos de palha que enganariam os guardas e os colocaram no lugar dos aventureiros. Sairf e Anix foram os primeiros a entrar no túnel. Permaneceram cerca de uma hora preparando-se para lançar magias e quando estavam prontos, seguiram, acompanhados dos demais, até o cemitério de navios.
Caminhando em fila dupla, os bravos chegaram à gruta. Legolas e Nailo, à frente do grupo, avistaram as duas criaturas grotescas esgueirando-se entre as estalactites e revelaram sua localização aos demais.
Os dois elfos alvejaram sem sucesso os inimigos com suas flechas. Uma das criaturas, movendo-se habilmente, parou quase sobre o ranger. Atirou-se ao chão e antes muito rapidamente projetou um de seus braços na direção de Nailo, rasgando sua armadura e ferindo-o no peito. O outro monstro aproximou-se de Legolas e pôs-se a atacá-lo do alto mesmo com suas garras afiadas.
Ainda no túnel, sem penetrar na gruta, Squall começou a atacar o inimigo que lutava com Nailo com seus mísseis mágicos, causando grandes danos ao monstro. Sairf, conjurou uma de suas magias, abrindo um portal no chão, de onde surgiu um rato atroz que atacou com ferocidade o ser combatido pelo ranger.
Lucano repetiu o gesto de Sairf, e o monstro viu-se cercado por Nailo e dois ratos atrozes conjurados pelo grupo.
Nailo abandonou seu arco e passou a lutar com sua espada, lado a lado com as criaturas invocadas por seus amigos. Cercada por todos os lados, a criatura defendia-se como podia até que os animais conjurados desapareceram quando o tempo das magias se esgotou. O monstro passou a deslocar-se pelo campo de batalha e a atacar seus oponentes com suas garras afiadas. Sairf tentava congelar a criatura com suas magias, enquanto Anix e Squall a atingiam com seus mísseis mágicos. Lucano correu para ajudar Legolas, que travava uma luta desigual com o outro inimigo e estava preso por uma de suas garras e seriamente ferido. Em desespero, Nailo tentou acertar uma flecha na criatura, mas esta deslocava-se com muita agilidade entre as pedras. O ranger errou o ataque e o alvo atingido foi Sairf, que caiu inconsciente e à beira da morte, com a flecha de Nailo cravada em sua nuca. Entretanto, os ferimentos que o monstro recebera haviam lhe deixado muito debilitado e este não resistiu aos ataques de tantos inimigos. Quando o último míssil mágico de Squall despedaçou o crânio da besta, todos correram para ajudar Legolas.
O arqueiro que havia realizado uma grande proeza, equilibrando-se na beirada da gruta para passar por trás de Nailo e chegar ao segundo monstro, encontrava-se em sérias dificuldades. O monstro saltara do teto, quase sobre o elfo e com um de seus braços conseguiu agarrar Legolas. As garras afiadas rasgavam a carne do arqueiro que, sem nada poder fazer, urrava de dor e pedia ajuda aos amigos. A morte estava próxima e sua visão começou a turvar-se quando Lucano aproximou-se e começou a curar os ferimentos de Legolas com o poder de Glórien.
Nailo surgiu de trás do clérigo e com um giro rápido de espada, decepou o braço que prendia seu amigo. Agora livre, Legolas sacou a espada e partiu pra cima de seu oponente, cheio de ira. O monstro ainda rebatia os ataques das espadas dos elfos com a mão que havia lhe restado. Então os outros heróis chegaram, e suas magias fizeram a diferença. A criatura começou a ceder aos muitos ataques que recebia, ficando seriamente ferida. Surgindo de trás de Legolas em grande velocidade, Lucano avançou contra o monstro evocando o nome de sua deusa com sua espada em mãos. A lâmina desceu sobre a criatura, atravessando seu corpo de cima a baixo e pondo fim ao combate. Todos puderam respirar aliviados, agora o caminho para o navio que os levaria para fora dali estava livre. Usando suas magias restantes, Lucano curou os ferimentos de Sairf que recobrou a consciência, embora ainda estivesse muito debilitado. A primeira tarefa para reconquistar a liberdade estava cumprida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário